Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1864

Allan Kardec

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Variedades

A data de 1º de maio de 1864 será marcada nos anais do Espiritismo, como a de 9 de outubro de 1862. Ela lembrará a decisão da sagrada congregação do índex concernente a nossas obras sobre o Espiritismo. Se uma coisa causou admiração aos espíritas, é que tal decisão não tenha sido tomada mais cedo. Aliás, há uma só opinião sobre os bons efeitos que ela deva produzir, já confirmados pelas informações que nos chegam de todos os lados. A essa notícia, a maioria das livrarias apressaram-se em pôr essas obras em mais evidência. Alguns livreiros mais tímidos, crendo numa proibição de sua venda, as tiraram das prateleiras, mas não deixaram de vendê-las por baixo do pano. Acalmaram-nos, observando que a lei orgânica diz que “Nenhuma bula, breve, decreto, mandato, provisão, assinatura servindo de provisão, nem outros expedientes da Corte de Roma, mesmo concernentes apenas a particulares, poderão ser recebidos, publicados, impressos nem de qualquer modo postos em execução sem autorização do governo.”

Quanto a nós, esta medida, que é uma das que esperávamos, é um indício do qual tiraremos proveito, e que nos servirá de guia para trabalhos ulteriores.


O Espiritismo conta com numerosos representantes no exército, entre oficiais de todos os graus, que lhe constatam a benéfica influência sobre si mesmos e sobre os subordinados. Nalguns regimentos, entretanto, entre os chefes superiores, encontra não negadores mas adversários declarados que interditam formalmente seus subordinados a dele se ocuparem. Conhecemos um oficial que foi riscado do quadro de propostas para a Legião de Honra e outros que foram a trabalhos forçados por causa do Espiritismo. Temos aconselhado que se submetam sem murmúrio à disciplina hierárquica, e que esperem pacientemente melhores dias, que não tardarão, pois será levado pela força da opinião. Temo-lhes mesmo aconselhado a se absterem de toda manifestação espírita exterior, se isto for absolutamente necessário, porque nenhum constrangimento pode ser exercido sobre a crença íntima, nem lhes tirar as consolações e o encorajamento que nele encontram. Essas pequenas perseguições são provações para sua fé e servem ao Espiritismo, em vez de prejudicá-lo. Eles devem julgar-se felizes por sofrer um pouco por uma causa que lhes é cara. Eles não se orgulham de deixar um membro no campo de batalha pela pátria terrestre? Que são, pois, alguns desgostos e desagrados suportados pela pátria eterna e pela causa da Humanidade?


Domingo, 3 de abril de 1864, foi um dia de grande festa para a comuna de Cempuis, perto de Grandvilliers - Oise. Muitos milhares de pessoas ali estavam reunidas para uma tocante cerimônia que deixará indeléveis lembranças no coração de todos os presentes. Nosso colega Sr. Prévost, membro da Sociedade Espírita de Paris, fundador da casa de retiro de Cempuis e das sociedades de auxílio mútuo do departamento, foi o modesto herói. Imenso cortejo, precedido pela banda de Grandvilliers, o conduziu à prefeitura, onde ele recebeu da autoridade departamental a medalha de honra por seu nobre devotamento à causa da humanidade sofredora. Do discurso pronunciado pelo delegado da prefeitura, destacamos esta passagem:

“Se neste exame sumário, senhores, consegui atribuir a cada um o mérito que cabe na consagração deste grande dia, seja-me permitido alegrar-me convosco pelo cumprimento de um dever que me era muito caro sob todos os pontos de vista.

“É, pois, com indizível alegria e legítimo orgulho que todos verão sobre o nobre peito do Sr. Prévost este signo honorífico que o Imperador quis ver ligar em seu nome, esperando, não duvidemos, que a estrela da honra aí venha brilhar com sua mais viva luz.

“Antes de terminar esta bela cerimônia, à qual a juventude está, de pleno direito, impaciente para substituir por sua alegre animação, façamos remontar a nossa alegria e a nossa gratidão até o seu autor augusto, o Imperador, bem como ao seu fiel intérprete, o Sr. Prefeito de Oise.”

A Sociedade Espírita de Paris também se orgulha com a honra prestada a um de seus membros altamente reconhecidos.

(Vide, para detalhes sobre a casa de retiro de Cempuis, a Revista Espírita de outubro de 1863).




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