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Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1864 > Janeiro
Janeiro
Aos assinantes da Revista espírita.
A época de renovação das assinaturas da Revista é, para muitos de nossos leitores, cujo número este ano aumentou em notável proporção, ocasião para testemunhar seu devotamento à causa e, a nosso respeito, testemunhar sentimentos que nos tocam vivamente. As cartas que contêm essas expressões são muito numerosas para que nos seja possível responder a cada uma em particular.
Assim, nós lhes dirigimos, coletivamente, os nossos agradecimentos sinceros pelas coisas obsequiosas que nos dizem e pelos votos que fazem por nós e pelo futuro do Espiritismo. Nossa conduta passada lhes é um penhor de que não desertaremos de nossa tarefa, por mais pesada que seja, e de que sempre nos encontrarão na vanguarda, em plena atividade. Até hoje suas preces foram ouvidas, razão por que os convidamos a agradecer aos bons Espíritos que nos assistem e nos secundam da mais evidente maneira, afastando os obstáculos que poderiam entravar nossa marcha e nos mostrando cada vez mais claramente o objetivo que devemos atingir.
Muito tempo estivemos mais ou menos só, mas eis que novos lutadores entram na liça, de todos os lados, trabalhando com o ardor, a perseverança e a abnegação que dá a fé, na defesa e na propagação de nossa santa doutrina, sem desanimar pelos obstáculos e sem temer a perseguição. Assim, sua maioria viu a má vontade dobrar-se ante a sua firmeza. Que recebam, aqui, nossas sinceras felicitações, em nome de todos os espíritas atuais e futuros na memória dos quais certamente viverão. Em breve eles terão a satisfação de ver numerosos imitadores marchando em suas pegadas, porque, uma vez dado o impulso, não mais se deterá. Em breve, também, ver-se-ão sustentados por homens de autoridade que corajosamente tomarão nas mãos a causa do Espiritismo, que é a do progresso e do bem-estar material e moral da humanidade.
Saudação cordial e fraterna a todos os nossos irmãos espíritas de todos os países.
Assim, nós lhes dirigimos, coletivamente, os nossos agradecimentos sinceros pelas coisas obsequiosas que nos dizem e pelos votos que fazem por nós e pelo futuro do Espiritismo. Nossa conduta passada lhes é um penhor de que não desertaremos de nossa tarefa, por mais pesada que seja, e de que sempre nos encontrarão na vanguarda, em plena atividade. Até hoje suas preces foram ouvidas, razão por que os convidamos a agradecer aos bons Espíritos que nos assistem e nos secundam da mais evidente maneira, afastando os obstáculos que poderiam entravar nossa marcha e nos mostrando cada vez mais claramente o objetivo que devemos atingir.
Muito tempo estivemos mais ou menos só, mas eis que novos lutadores entram na liça, de todos os lados, trabalhando com o ardor, a perseverança e a abnegação que dá a fé, na defesa e na propagação de nossa santa doutrina, sem desanimar pelos obstáculos e sem temer a perseguição. Assim, sua maioria viu a má vontade dobrar-se ante a sua firmeza. Que recebam, aqui, nossas sinceras felicitações, em nome de todos os espíritas atuais e futuros na memória dos quais certamente viverão. Em breve eles terão a satisfação de ver numerosos imitadores marchando em suas pegadas, porque, uma vez dado o impulso, não mais se deterá. Em breve, também, ver-se-ão sustentados por homens de autoridade que corajosamente tomarão nas mãos a causa do Espiritismo, que é a do progresso e do bem-estar material e moral da humanidade.
Saudação cordial e fraterna a todos os nossos irmãos espíritas de todos os países.
Allan Kardec.
Estado do Espiritismo em 1863.
O ano que passou não foi mais fecundo que os anteriores, para o Espiritismo, mas se distingue por vários traços particulares. Mais que todos os outros, ele foi marcado pela violência de certos ataques, sinal característico cuja dimensão a ninguém escapou. Todos disseram: Se eles se encolerizam, é porque têm medo; se têm medo é porque algo há de sério.
Como hoje está bem constatado que essas agressões fizeram progredir o Espiritismo, em vez de detê-lo, naturalmente ver-se-ão diminuir os ataques forçados, mas não se deve dormir sobre esta calma aparente, nem crer que os inimigos do Espiritismo logo vão disto tirar partido. Então é necessário nos persuadirmos que a luta não está terminada, mas haverá uma mudança tática. Eis por que dizemos aos espíritas que estejam constantemente atentos sobre o que se passa em seu redor e se lembrem do que dissemos no número de dezembro último, sobre o período da luta, da guerra surda e dos conflitos; que, assim, não se admirem se o inimigo se infiltra em suas fileiras; que Deus o permite, para experimentar a fé, a coragem, a perseverança dos verdadeiros servidores. De agora em diante, seu objetivo será procurar todos os meios possíveis de comprometer o Espiritismo, a fim de desacreditá-lo; de impelir os grupos, sob a aparência de zelo e sob o pretexto de que é preciso ir avante; a se ocuparem de coisas estranhas ao objeto da doutrina; a tratarem de questões políticas ou de outras de natureza a provocar discussões irritantes e a semear a divisão, tudo para ter pretextos de pedir o seu fechamento. A moderação dos espíritas é o que mais causa admiração e mais contraria os seus adversários. Eles tentarão tudo para afastá-los dela, inclusive a provocação, mas os espíritas saberão desviar essas manobras por sua prudência, como já o fizeram em várias ocasiões, e não cairão nas armadilhas que lhe prepararem; aliás, eles verão os instigadores se embaraçarem em suas próprias teias, pois é impossível que, mais cedo ou mais tarde, não ponham as unhas de fora. Este será um momento mais difícil de passar do que o da guerra aberta, no qual se vê o inimigo face a face; no entanto, quanto mais dura é a prova, maior é o triunfo.
Aliás, esta campanha teve um imenso resultado, o de provar a impotência das armas dirigidas contra o Espiritismo. Os homens mais capazes do partido contrário entraram na liça; todos os recursos da argumentação foram empregados e, não tendo sofrido o Espiritismo, cada um ficou convencido de que não se lhe podia opor nenhuma razão peremptória, e a maior prova da falta de boas razões é que eles recorreram ao triste e ignóbil expediente da calúnia. Mas em vão quiseram fazer com que o Espiritismo dissesse o contrário do que diz, pois a doutrina aí está, escrita em termos tão claros que desafiam toda falsa interpretação, razão pela qual o odioso da calúnia recai sobre os que a empregam e os convence de sua impotência. Eis aí um fato considerável no ano findo, e se só tivéssemos obtido esse resultado, deveríamos estar satisfeitos, mas outros há não menos positivos.
O ano de 1863 foi marcado sobretudo pelo aumento do número de grupos e sociedades formadas numa porção de localidades onde não os havia ainda, tanto na França quanto no estrangeiro, sinal evidente do aumento do número de adeptos e da difusão da doutrina. Paris, que havia ficado na retaguarda, cede ao impulso geral e começa a mover-se. Todos os dias veem-se novos grupos particulares se formando, com objetivo eminentemente sério e em excelentes condições.
A sociedade que presidimos vê com alegria multiplicarem-se em seu redor os rebentos vivazes, capazes de espalhar a boa semente. Os grupos particulares, quando bem dirigidos, são muito úteis à iniciação de novos adeptos. Em razão da extensão de suas relações, a sociedade principal, como centro de convergência dos grupos de todas as partes do mundo, não pode nem deve ocupar-se senão do desenvolvimento da ciência e das questões gerais, que lhe absorvem todo o tempo. Assim, deve forçosamente abster-se de tudo quanto seja elementar e pessoal. Os grupos particulares vêm, assim, preencher a lacuna que ela forçosamente deixa na prática, e por isso ela encoraja e secunda com seus conselhos e com seu apoio moral as pessoas que se dedicam a essa obra de propagação.
Se por alguns instantes foi possível um certo receio quanto aos efeitos de algumas dissidências na maneira de encarar o Espiritismo, o número sempre crescente das sociedades que em todos os países se colocam espontaneamente sob o patrocínio da de Paris e erguem a sua bandeira é um fato que dissipa completamente esse receio.
É notório que a doutrina do Livro dos Espíritos é hoje o ponto de convergência da imensa maioria dos adeptos. A máxima Fora da caridade não há salvação reuniu todos os que veem o lado moral do Espiritismo, porque não há duas maneiras de interpretá-lo, e ela satisfaz a todas as aspirações.
Desde a constituição do Espiritismo em corpo de doutrina, já caíram muitos sistemas isolados, e os poucos traços que ainda deixam não têm influência na opinião geral. As bases sólidas em que ele se apoia triunfarão sem dificuldade das divisões que seus adversários não deixarão de suscitar, porque eles não contam com Espíritos que protegem a sua obra, e se servem de seus próprios inimigos para garantirem o sucesso.
Teria sido sem precedentes o estabelecimento de uma doutrina sem dissidências, e se de alguma coisa nos podemos admirar, é de se ver, em relação ao Espiritismo, a unidade formar-se tão prontamente.
Seja como for, o Espiritismo ainda não penetrou em toda parte e em muitos lugares é apenas conhecido de nome. Os raros adeptos aí encontrados atribuem esse fato a duas causas: primeiro, ao caráter das populações muito absorvidas pelos interesses materiais; depois, à ausência de pregações contrárias. Eis por que apelam com todas as veras por sermões do gênero dos que foram pregados alhures, ou de alguma manifestação brilhante de hostilidade, que chame a atenção e desperte a curiosidade. Mas, que eles tenham paciência. Como é preciso que todos lá cheguem, os Espíritos saberão muito bem como suprir essa necessidade através de outros meios.
Mas o traço mais característico do ano de 1863 foi o movimento que se produziu na opinião, no que concerne à doutrina espírita. Fica-se surpreendido com a facilidade com que o princípio é aceito por pessoas que até há pouco tê-lo-iam repelido e levado ao ridículo.
As resistências — e falamos das que não são sistemáticas e interessadas — diminuem sensivelmente. Citam-se vários escritores de boa-fé que combateram violentamente o Espiritismo, e que hoje, dominados por seu meio social, sem se confessarem vencidos, renunciam a uma luta considerada inútil. É que a necessidade de uma transformação moral se faz sentir mais e mais. A ruína do velho mundo é iminente, porque as ideias que ele preconiza não mais estão à altura a que chegou a humanidade inteligente. Tudo parece a ele conduzir, mas, por outro lado, se reconhecem vagamente novos horizontes; sente-se que há necessidade de algo de melhor do que aquilo que existe e busca-se inutilmente no mundo atual. Alguma coisa circula no ar como uma corrente elétrica precursora, e todos esperam, mas todos dizem para si mesmos que não é a humanidade que deve retroceder.
Outro fato não menos significativo que muitos notaram, e que é consequência do atual estado de ânimo, é o prodigioso número de escritos, sérios ou ligeiros, feitos fora, e provavelmente sem o conhecimento do Espiritismo, nos quais se encontram pensamentos espíritas. O princípio da pluralidade das existências, sobretudo, tem uma tendência a entrar na opinião das massas e na filosofia moderna. Muitos pensadores a isto são conduzidos pela lógica dos fatos e em pouco essa crença tornar-se-á popular. Evidentemente são os precursores da adoção do Espiritismo, cujas vias assim são preparadas e cujo caminho é plainado. Estas ideias são todas semeadas de diversos lados, em escritos que caem nas mãos de todos, tornando cada vez mais fácil a sua aceitação.
O estado do Espiritismo em 1863 pode, pois, assim resumir-se: Ataques violentos; multiplicação de escritos pró e contra; movimento nas ideias; notável expansão da doutrina, mas sem sinais exteriores de natureza a produzir uma sensação geral; as raízes se estendem, crescem os rebentos, esperando que a árvore desenvolva os seus ramos. Ainda não chegou o momento da sua maturidade.
Entre as publicações que no ano passado vieram participar da luta e concorrer para a defesa do Espiritismo, colocamos em primeira linha La Ruche, de Bordeaux, e La Vérité, de Lyon, cujos redatores merecem o reconhecimento e o encorajamento de todos os verdadeiros espíritas pela perseverança, devotamento e desinteresse de que deram provas. No centro espírita mais numeroso da França, e talvez do mundo inteiro, La Vérité veio postar-se como um atleta temível, por seus artigos de uma lógica tal que não deixam margem à crítica.
O Espiritismo terá em breve, — assim nos fazem esperar — um novo e importante órgão na Itália, que, como os seus mais velhos da França, marchará de comum acordo com os grandes princípios da doutrina.
Como hoje está bem constatado que essas agressões fizeram progredir o Espiritismo, em vez de detê-lo, naturalmente ver-se-ão diminuir os ataques forçados, mas não se deve dormir sobre esta calma aparente, nem crer que os inimigos do Espiritismo logo vão disto tirar partido. Então é necessário nos persuadirmos que a luta não está terminada, mas haverá uma mudança tática. Eis por que dizemos aos espíritas que estejam constantemente atentos sobre o que se passa em seu redor e se lembrem do que dissemos no número de dezembro último, sobre o período da luta, da guerra surda e dos conflitos; que, assim, não se admirem se o inimigo se infiltra em suas fileiras; que Deus o permite, para experimentar a fé, a coragem, a perseverança dos verdadeiros servidores. De agora em diante, seu objetivo será procurar todos os meios possíveis de comprometer o Espiritismo, a fim de desacreditá-lo; de impelir os grupos, sob a aparência de zelo e sob o pretexto de que é preciso ir avante; a se ocuparem de coisas estranhas ao objeto da doutrina; a tratarem de questões políticas ou de outras de natureza a provocar discussões irritantes e a semear a divisão, tudo para ter pretextos de pedir o seu fechamento. A moderação dos espíritas é o que mais causa admiração e mais contraria os seus adversários. Eles tentarão tudo para afastá-los dela, inclusive a provocação, mas os espíritas saberão desviar essas manobras por sua prudência, como já o fizeram em várias ocasiões, e não cairão nas armadilhas que lhe prepararem; aliás, eles verão os instigadores se embaraçarem em suas próprias teias, pois é impossível que, mais cedo ou mais tarde, não ponham as unhas de fora. Este será um momento mais difícil de passar do que o da guerra aberta, no qual se vê o inimigo face a face; no entanto, quanto mais dura é a prova, maior é o triunfo.
Aliás, esta campanha teve um imenso resultado, o de provar a impotência das armas dirigidas contra o Espiritismo. Os homens mais capazes do partido contrário entraram na liça; todos os recursos da argumentação foram empregados e, não tendo sofrido o Espiritismo, cada um ficou convencido de que não se lhe podia opor nenhuma razão peremptória, e a maior prova da falta de boas razões é que eles recorreram ao triste e ignóbil expediente da calúnia. Mas em vão quiseram fazer com que o Espiritismo dissesse o contrário do que diz, pois a doutrina aí está, escrita em termos tão claros que desafiam toda falsa interpretação, razão pela qual o odioso da calúnia recai sobre os que a empregam e os convence de sua impotência. Eis aí um fato considerável no ano findo, e se só tivéssemos obtido esse resultado, deveríamos estar satisfeitos, mas outros há não menos positivos.
O ano de 1863 foi marcado sobretudo pelo aumento do número de grupos e sociedades formadas numa porção de localidades onde não os havia ainda, tanto na França quanto no estrangeiro, sinal evidente do aumento do número de adeptos e da difusão da doutrina. Paris, que havia ficado na retaguarda, cede ao impulso geral e começa a mover-se. Todos os dias veem-se novos grupos particulares se formando, com objetivo eminentemente sério e em excelentes condições.
A sociedade que presidimos vê com alegria multiplicarem-se em seu redor os rebentos vivazes, capazes de espalhar a boa semente. Os grupos particulares, quando bem dirigidos, são muito úteis à iniciação de novos adeptos. Em razão da extensão de suas relações, a sociedade principal, como centro de convergência dos grupos de todas as partes do mundo, não pode nem deve ocupar-se senão do desenvolvimento da ciência e das questões gerais, que lhe absorvem todo o tempo. Assim, deve forçosamente abster-se de tudo quanto seja elementar e pessoal. Os grupos particulares vêm, assim, preencher a lacuna que ela forçosamente deixa na prática, e por isso ela encoraja e secunda com seus conselhos e com seu apoio moral as pessoas que se dedicam a essa obra de propagação.
Se por alguns instantes foi possível um certo receio quanto aos efeitos de algumas dissidências na maneira de encarar o Espiritismo, o número sempre crescente das sociedades que em todos os países se colocam espontaneamente sob o patrocínio da de Paris e erguem a sua bandeira é um fato que dissipa completamente esse receio.
É notório que a doutrina do Livro dos Espíritos é hoje o ponto de convergência da imensa maioria dos adeptos. A máxima Fora da caridade não há salvação reuniu todos os que veem o lado moral do Espiritismo, porque não há duas maneiras de interpretá-lo, e ela satisfaz a todas as aspirações.
Desde a constituição do Espiritismo em corpo de doutrina, já caíram muitos sistemas isolados, e os poucos traços que ainda deixam não têm influência na opinião geral. As bases sólidas em que ele se apoia triunfarão sem dificuldade das divisões que seus adversários não deixarão de suscitar, porque eles não contam com Espíritos que protegem a sua obra, e se servem de seus próprios inimigos para garantirem o sucesso.
Teria sido sem precedentes o estabelecimento de uma doutrina sem dissidências, e se de alguma coisa nos podemos admirar, é de se ver, em relação ao Espiritismo, a unidade formar-se tão prontamente.
Seja como for, o Espiritismo ainda não penetrou em toda parte e em muitos lugares é apenas conhecido de nome. Os raros adeptos aí encontrados atribuem esse fato a duas causas: primeiro, ao caráter das populações muito absorvidas pelos interesses materiais; depois, à ausência de pregações contrárias. Eis por que apelam com todas as veras por sermões do gênero dos que foram pregados alhures, ou de alguma manifestação brilhante de hostilidade, que chame a atenção e desperte a curiosidade. Mas, que eles tenham paciência. Como é preciso que todos lá cheguem, os Espíritos saberão muito bem como suprir essa necessidade através de outros meios.
Mas o traço mais característico do ano de 1863 foi o movimento que se produziu na opinião, no que concerne à doutrina espírita. Fica-se surpreendido com a facilidade com que o princípio é aceito por pessoas que até há pouco tê-lo-iam repelido e levado ao ridículo.
As resistências — e falamos das que não são sistemáticas e interessadas — diminuem sensivelmente. Citam-se vários escritores de boa-fé que combateram violentamente o Espiritismo, e que hoje, dominados por seu meio social, sem se confessarem vencidos, renunciam a uma luta considerada inútil. É que a necessidade de uma transformação moral se faz sentir mais e mais. A ruína do velho mundo é iminente, porque as ideias que ele preconiza não mais estão à altura a que chegou a humanidade inteligente. Tudo parece a ele conduzir, mas, por outro lado, se reconhecem vagamente novos horizontes; sente-se que há necessidade de algo de melhor do que aquilo que existe e busca-se inutilmente no mundo atual. Alguma coisa circula no ar como uma corrente elétrica precursora, e todos esperam, mas todos dizem para si mesmos que não é a humanidade que deve retroceder.
Outro fato não menos significativo que muitos notaram, e que é consequência do atual estado de ânimo, é o prodigioso número de escritos, sérios ou ligeiros, feitos fora, e provavelmente sem o conhecimento do Espiritismo, nos quais se encontram pensamentos espíritas. O princípio da pluralidade das existências, sobretudo, tem uma tendência a entrar na opinião das massas e na filosofia moderna. Muitos pensadores a isto são conduzidos pela lógica dos fatos e em pouco essa crença tornar-se-á popular. Evidentemente são os precursores da adoção do Espiritismo, cujas vias assim são preparadas e cujo caminho é plainado. Estas ideias são todas semeadas de diversos lados, em escritos que caem nas mãos de todos, tornando cada vez mais fácil a sua aceitação.
O estado do Espiritismo em 1863 pode, pois, assim resumir-se: Ataques violentos; multiplicação de escritos pró e contra; movimento nas ideias; notável expansão da doutrina, mas sem sinais exteriores de natureza a produzir uma sensação geral; as raízes se estendem, crescem os rebentos, esperando que a árvore desenvolva os seus ramos. Ainda não chegou o momento da sua maturidade.
Entre as publicações que no ano passado vieram participar da luta e concorrer para a defesa do Espiritismo, colocamos em primeira linha La Ruche, de Bordeaux, e La Vérité, de Lyon, cujos redatores merecem o reconhecimento e o encorajamento de todos os verdadeiros espíritas pela perseverança, devotamento e desinteresse de que deram provas. No centro espírita mais numeroso da França, e talvez do mundo inteiro, La Vérité veio postar-se como um atleta temível, por seus artigos de uma lógica tal que não deixam margem à crítica.
O Espiritismo terá em breve, — assim nos fazem esperar — um novo e importante órgão na Itália, que, como os seus mais velhos da França, marchará de comum acordo com os grandes princípios da doutrina.
Médiuns curadores.
Um oficial de caçadores, espírita de longa data, e um dos numerosos exemplos de reformas morais que o Espiritismo pode operar, nos transmite estes detalhes:
“Caro mestre,
“Aproveitamos as longas horas de inverno para nos entregarmos com ardor ao desenvolvimento de nossas faculdades mediúnicas. A tríade do 4.º regimento de caçadores, sempre unida, sempre viva, inspira-se em seus deveres, e ensaia novos esforços. Sem dúvida desejais conhecer o objeto de nossos trabalhos, a fim de saber se o campo que cultivamos não é estéril. Podereis julgá-lo pelos detalhes seguintes:
“De alguns meses para cá, nossos trabalhos têm por objeto o estudo dos fluidos. Esse estudo desenvolveu em nós a mediunidade curadora, de forma que agora a aplicamos com sucesso. Há alguns dias, uma simples emissão fluídica de cinco minutos, com minha mão, bastou para tirar uma nevralgia violenta.
“Há vinte anos a Sra. P... estava afetada por uma hiperestesia aguda ou exagerada sensibilidade da pele, moléstia que há quinze anos a retinha em seu quarto. Ela mora numa pequena cidade vizinha, e tendo ouvido falar de nosso grupo espírita, veio buscar alívio junto de nós. Ao cabo de trinta e cinco dias ela voltou para casa completamente curada. Durante esse tempo ela recebeu diariamente um quarto de hora de emissão fluídica, com o concurso de nossos guias espirituais.
“Ao mesmo tempo estendíamos os nossos cuidados a um epiléptico, afetado por esse mal há vinte e sete anos. As crises se repetiam quase todas as noites, durante as quais sua mãe passava longas horas à sua cabeceira. Trinta e cinco dias bastaram para essa cura importante, e como ficou feliz aquela mãe, levando seu filho radicalmente curado! Nós nos revezávamos os três de oito em oito dias. Para a emissão do fluido, ora colocávamos a mão no vazio do estômago do doente, ora sobre a nuca, na raiz do pescoço. Cada dia o doente podia constatar alguma melhora. Nós mesmos, após a evocação e durante o recolhimento, sentíamos o fluido exterior nos invadir, passar em nós e escapar-se dos dedos estirados e do braço distendido para o corpo do paciente que tratávamos.
“Neste momento estamos prestando atendimento a um segundo epiléptico. Desta vez a moléstia talvez seja mais rebelde, por ser hereditária. O pai deixou nos quatro filhos o germe dessa afecção. Enfim, com a ajuda de Deus e dos bons Espíritos, esperamos reduzi-la nos quatro.
“Caro mestre, reclamamos o socorro de vossas preces e das preces dos irmãos de Paris. Esse auxílio será para nós um encorajamento e um estimulante para os nossos esforços. Depois, vossos bons Espíritos podem vir em nosso auxílio, tornar o tratamento mais salutar e abreviar a sua duração.
“Não aceitamos como recompensa, como podeis imaginar, e ela deve ser suficiente, senão a satisfação de ter feito o nosso dever e de ter obedecido ao impulso dos bons Espíritos. O verdadeiro amor ao próximo trás consigo uma alegria sem mescla e deixa em nós algo de luminoso, que encanta e eleva a alma. Assim procuramos, tanto quanto nos permitem nossas imperfeições, compenetrarmo-nos dos deveres do verdadeiro espírita, que não devem ser senão a aplicação dos preceitos evangélicos.
“O Sr. G… de L… deve trazer-nos o seu cunhado, que um Espírito malévolo subjuga há dois anos. Nosso guia espiritual Lamennais nos encarrega do tratamento dessa rebelde obsessão. Deus nos daria também o poder de expulsar os demônios? Se assim fosse, teríamos que nos humilhar ante tão grande favor, em vez de nos orgulharmos. Quanto maior ainda não seria para nós a obrigação de nos melhorarmos, para testemunhar-lhe o nosso reconhecimento e para não perdermos dons tão preciosos?”
Lida esta carta tão interessante na Sociedade Espírita de Paris, na sessão de 18 de dezembro de 1863, um dos nossos bons médiuns obteve espontaneamente as duas comunicações seguintes:
“Existindo no homem a vontade em diferentes graus de desenvolvimento, em todas as épocas, ela tanto serviu para curar quanto para aliviar. É lamentável sermos forçados a constatar que ela também foi fonte de muitos males, mas isto é uma das consequências do abuso que muitas vezes as pessoas têm feito de seu livre-arbítrio.
“A vontade tanto desenvolve o fluido animal quanto o espiritual, porque, como todos sabeis agora, há vários gêneros de magnetismo, em cujo número estão o magnetismo animal e o magnetismo espiritual que, conforme a ocorrência, pode pedir apoio ao primeiro. Um outro gênero de magnetismo, muito mais poderoso ainda, é a prece que uma alma pura e desinteressada dirige a Deus.
“A vontade muitas vezes foi mal compreendida. Em geral o que magnetiza não pensa senão em desdobrar sua força fluídica, em derramar seu próprio fluido sobre o paciente submetido aos seus cuidados, sem se preocupar se há ou não uma Providência interessada no caso tanto ou mais que ele. Agindo sozinho, ele não pode obter senão o que a sua força sozinha pode produzir, ao passo que nossos médiuns curadores começam por elevar sua alma a Deus e por reconhecer que por si mesmos nada podem. Eles fazem, por isto mesmo, um ato de humildade, de abnegação, e então, confessando-se fracos por si mesmos, Deus, em sua solicitude, lhes envia poderosos socorros que o primeiro não pode obter, porque ele se julga suficiente para o empreendimento. Deus sempre recompensa a humildade sincera, elevando-a, ao passo que rebaixa o orgulho. Esse socorro que ele envia, são os bons Espíritos que vêm penetrar o médium com seu fluido benéfico, que este transmite ao doente. Também é por isto que o magnetismo empregado pelos médiuns curadores é tão potente e produz essas curas qualificadas de miraculosas, e que são devidas simplesmente à natureza do fluido derramado sobre o médium. Enquanto o magnetizador ordinário se esgota, por vezes em vão, a fazer passes, o médium curador infiltra um fluido regenerador pela simples imposição das mãos, graças ao concurso dos bons Espíritos. No entanto, esse concurso só é concedido à fé sincera e à pureza de intenção.”
“Caro mestre,
“Aproveitamos as longas horas de inverno para nos entregarmos com ardor ao desenvolvimento de nossas faculdades mediúnicas. A tríade do 4.º regimento de caçadores, sempre unida, sempre viva, inspira-se em seus deveres, e ensaia novos esforços. Sem dúvida desejais conhecer o objeto de nossos trabalhos, a fim de saber se o campo que cultivamos não é estéril. Podereis julgá-lo pelos detalhes seguintes:
“De alguns meses para cá, nossos trabalhos têm por objeto o estudo dos fluidos. Esse estudo desenvolveu em nós a mediunidade curadora, de forma que agora a aplicamos com sucesso. Há alguns dias, uma simples emissão fluídica de cinco minutos, com minha mão, bastou para tirar uma nevralgia violenta.
“Há vinte anos a Sra. P... estava afetada por uma hiperestesia aguda ou exagerada sensibilidade da pele, moléstia que há quinze anos a retinha em seu quarto. Ela mora numa pequena cidade vizinha, e tendo ouvido falar de nosso grupo espírita, veio buscar alívio junto de nós. Ao cabo de trinta e cinco dias ela voltou para casa completamente curada. Durante esse tempo ela recebeu diariamente um quarto de hora de emissão fluídica, com o concurso de nossos guias espirituais.
“Ao mesmo tempo estendíamos os nossos cuidados a um epiléptico, afetado por esse mal há vinte e sete anos. As crises se repetiam quase todas as noites, durante as quais sua mãe passava longas horas à sua cabeceira. Trinta e cinco dias bastaram para essa cura importante, e como ficou feliz aquela mãe, levando seu filho radicalmente curado! Nós nos revezávamos os três de oito em oito dias. Para a emissão do fluido, ora colocávamos a mão no vazio do estômago do doente, ora sobre a nuca, na raiz do pescoço. Cada dia o doente podia constatar alguma melhora. Nós mesmos, após a evocação e durante o recolhimento, sentíamos o fluido exterior nos invadir, passar em nós e escapar-se dos dedos estirados e do braço distendido para o corpo do paciente que tratávamos.
“Neste momento estamos prestando atendimento a um segundo epiléptico. Desta vez a moléstia talvez seja mais rebelde, por ser hereditária. O pai deixou nos quatro filhos o germe dessa afecção. Enfim, com a ajuda de Deus e dos bons Espíritos, esperamos reduzi-la nos quatro.
“Caro mestre, reclamamos o socorro de vossas preces e das preces dos irmãos de Paris. Esse auxílio será para nós um encorajamento e um estimulante para os nossos esforços. Depois, vossos bons Espíritos podem vir em nosso auxílio, tornar o tratamento mais salutar e abreviar a sua duração.
“Não aceitamos como recompensa, como podeis imaginar, e ela deve ser suficiente, senão a satisfação de ter feito o nosso dever e de ter obedecido ao impulso dos bons Espíritos. O verdadeiro amor ao próximo trás consigo uma alegria sem mescla e deixa em nós algo de luminoso, que encanta e eleva a alma. Assim procuramos, tanto quanto nos permitem nossas imperfeições, compenetrarmo-nos dos deveres do verdadeiro espírita, que não devem ser senão a aplicação dos preceitos evangélicos.
“O Sr. G… de L… deve trazer-nos o seu cunhado, que um Espírito malévolo subjuga há dois anos. Nosso guia espiritual Lamennais nos encarrega do tratamento dessa rebelde obsessão. Deus nos daria também o poder de expulsar os demônios? Se assim fosse, teríamos que nos humilhar ante tão grande favor, em vez de nos orgulharmos. Quanto maior ainda não seria para nós a obrigação de nos melhorarmos, para testemunhar-lhe o nosso reconhecimento e para não perdermos dons tão preciosos?”
Lida esta carta tão interessante na Sociedade Espírita de Paris, na sessão de 18 de dezembro de 1863, um dos nossos bons médiuns obteve espontaneamente as duas comunicações seguintes:
“Existindo no homem a vontade em diferentes graus de desenvolvimento, em todas as épocas, ela tanto serviu para curar quanto para aliviar. É lamentável sermos forçados a constatar que ela também foi fonte de muitos males, mas isto é uma das consequências do abuso que muitas vezes as pessoas têm feito de seu livre-arbítrio.
“A vontade tanto desenvolve o fluido animal quanto o espiritual, porque, como todos sabeis agora, há vários gêneros de magnetismo, em cujo número estão o magnetismo animal e o magnetismo espiritual que, conforme a ocorrência, pode pedir apoio ao primeiro. Um outro gênero de magnetismo, muito mais poderoso ainda, é a prece que uma alma pura e desinteressada dirige a Deus.
“A vontade muitas vezes foi mal compreendida. Em geral o que magnetiza não pensa senão em desdobrar sua força fluídica, em derramar seu próprio fluido sobre o paciente submetido aos seus cuidados, sem se preocupar se há ou não uma Providência interessada no caso tanto ou mais que ele. Agindo sozinho, ele não pode obter senão o que a sua força sozinha pode produzir, ao passo que nossos médiuns curadores começam por elevar sua alma a Deus e por reconhecer que por si mesmos nada podem. Eles fazem, por isto mesmo, um ato de humildade, de abnegação, e então, confessando-se fracos por si mesmos, Deus, em sua solicitude, lhes envia poderosos socorros que o primeiro não pode obter, porque ele se julga suficiente para o empreendimento. Deus sempre recompensa a humildade sincera, elevando-a, ao passo que rebaixa o orgulho. Esse socorro que ele envia, são os bons Espíritos que vêm penetrar o médium com seu fluido benéfico, que este transmite ao doente. Também é por isto que o magnetismo empregado pelos médiuns curadores é tão potente e produz essas curas qualificadas de miraculosas, e que são devidas simplesmente à natureza do fluido derramado sobre o médium. Enquanto o magnetizador ordinário se esgota, por vezes em vão, a fazer passes, o médium curador infiltra um fluido regenerador pela simples imposição das mãos, graças ao concurso dos bons Espíritos. No entanto, esse concurso só é concedido à fé sincera e à pureza de intenção.”
Mesmer.
(Médium, Sr. Albert.)
(Médium, Sr. Albert.)
“Uma palavra sobre os médiuns curadores, dos quais acabais de falar. Eles estão todos nas mais louváveis disposições; eles têm a fé que transporta montanhas, o desinteresse que purifica os atos da vida e a humildade que os santifica.
“Que eles perseverem na obra de beneficência que empreenderam; que se lembrem bem que aquele que pratica as leis sagradas que o Espiritismo ensina, aproxima-se constantemente do Criador. Que, ao empregarem sua faculdade, a prece, que é a vontade mais forte, seja sempre o seu guia, seu ponto de apoio.
“Em toda a sua existência, o Cristo vos deu a mais irrefutável prova da mais firme vontade, mas era a vontade do bem e não a do orgulho. Quando, por vezes, ele dizia eu quero, essa palavra estava cheia de unção. Seus apóstolos, que o cercavam, sentiam abrir-se seus corações a esta palavra santa.
“A doçura constante do Cristo, sua submissão à vontade de seu Pai, sua perfeita abnegação, são os mais belos modelos de vontade que se pode propor como exemplo.”
“Que eles perseverem na obra de beneficência que empreenderam; que se lembrem bem que aquele que pratica as leis sagradas que o Espiritismo ensina, aproxima-se constantemente do Criador. Que, ao empregarem sua faculdade, a prece, que é a vontade mais forte, seja sempre o seu guia, seu ponto de apoio.
“Em toda a sua existência, o Cristo vos deu a mais irrefutável prova da mais firme vontade, mas era a vontade do bem e não a do orgulho. Quando, por vezes, ele dizia eu quero, essa palavra estava cheia de unção. Seus apóstolos, que o cercavam, sentiam abrir-se seus corações a esta palavra santa.
“A doçura constante do Cristo, sua submissão à vontade de seu Pai, sua perfeita abnegação, são os mais belos modelos de vontade que se pode propor como exemplo.”
Paulo, apóstolo.
(Médium: Sr. Albert.)
(Médium: Sr. Albert.)
Algumas explicações facilmente darão a compreender o que se passa nesta circunstância. Sabe-se que o fluido magnético ordinário pode dar a certas substâncias propriedades particulares ativas. Neste caso, ele age de certo modo como agente químico, modificando o estado molecular dos corpos. Não há, pois, nada de extraordinário no fato de ele ter a capacidade de modificar o estado de certos órgãos, mas compreende-se igualmente que sua ação, mais ou menos salutar, deve depender de sua qualidade, daí as expressões “bom ou mau fluido; fluido agradável ou penoso.”
Na ação magnética propriamente dita, é o fluido pessoal do magnetizador que é transmitido, e sabe-se que esse fluido, que não é senão o perispírito, participa sempre, mais ou menos, das qualidades materiais do corpo, ao mesmo tempo que sofre a influência moral do Espírito. É, pois, impossível que o fluido próprio de um encarnado seja de uma pureza absoluta, razão pela qual sua ação curativa é lenta, por vezes nula, outras vezes até nociva, porque ele pode transmitir ao doente princípios mórbidos.
Considerando-se que um fluido é suficientemente abundante e enérgico para produzir efeitos instantâneos de sono, de catalepsia, de atração ou de repulsão, absolutamente não se segue que ele tenha as necessárias qualidades para curar. É a força que derruba, mas não o bálsamo que suaviza e restaura. Dessa forma, há Espíritos desencarnados de ordem inferior cujo fluido pode até mesmo ser muito maléfico, o que os espíritas a cada passo têm ocasião de constatar.
Somente nos Espíritos superiores o fluido perispiritual está despojado de todas as impurezas da matéria; está, de certo modo, quintessenciado; sua ação, por conseguinte, deve ser mais salutar e mais pronta: é o fluido benfazejo por excelência. Como ele não pode ser encontrado entre os encarnados, nem entre os desencarnados vulgares, então é preciso pedi-lo aos Espíritos elevados, como se vai procurar em terras distantes os remédios que se não encontram na própria.
O médium curador emite pouco de seu próprio fluido. Ele sente a corrente do fluido estranho que o penetra e para a qual serve de condutor. É com esse fluido que ele magnetiza, e aí está o que caracteriza o magnetismo espiritual e o distingue do magnetismo animal: um vem do homem, o outro, dos Espíritos. Como se vê, aí nada existe de maravilhoso, mas um fenômeno resultante de uma lei da natureza que não era conhecida.
Para curar pela terapêutica ordinária não bastam os primeiros medicamentos que surgem. São necessários medicamentos puros, não avariados ou adulterados, e convenientemente preparados. Pela mesma razão, para curar pela ação fluídica, os fluidos mais depurados são os mais saudáveis. Como esses fluidos benéficos são uma propriedade dos Espíritos superiores, então é o concurso deles que é preciso obter, por isso a prece e a invocação são necessárias. Mas para orar, e sobretudo para orar com fervor, é preciso ter fé. Para que a prece seja escutada, é preciso que seja feita com humildade e ditada por um real sentimento de benevolência e de caridade. Ora, não há verdadeira caridade sem devotamento, nem devotamento sem desinteresse. Sem estas condições, o magnetizador, privado da assistência dos bons Espíritos, fica reduzido às suas próprias forças, por vezes insuficientes, ao passo que com o concurso deles, elas podem ser centuplicadas em poder e em eficácia. Entretanto, não há licor, por mais puro que seja, que não se altere ao passar por um vaso impuro. Assim acontece com o fluido dos Espíritos superiores, ao passar pelos encarnados. Daí, para os médiuns nos quais se revela essa preciosa faculdade, e que querem vê-la crescer e não se perder, a necessidade de trabalhar por seu melhoramento moral.
Entre o magnetizador e o médium curador há, pois, uma diferença capital, porque o primeiro magnetiza com o seu próprio fluido, e o segundo com o fluido depurado dos Espíritos. Daí se segue que os Espíritos dão o seu concurso a quem querem e quando querem; que podem recusá-lo e, consequentemente, tirar a faculdade daquele que dela abusasse ou a desviasse de seu fim humanitário e caridoso para dela fazer comércio.
Quando Jesus disse aos apóstolos: “Ide! Expulsai os demônios, curai os doentes”, ele acrescentou: “Dai de graça o que de graça recebestes.”
Os médiuns curadores tendem a multiplicar-se, como anunciaram os Espíritos, e isto com o objetivo de propagar o Espiritismo, pela impressão que esta nova ordem de fenômenos não pode deixar de produzir nas massas, porque não há quem não ligue para a sua saúde, mesmo os mais incrédulos. Assim, pois, quando virem que é possível obter com a intervenção dos Espíritos o que a ciência não pode dar, hão de convir que há uma força fora do nosso mundo. Dessa forma, a ciência será conduzida a sair da via exclusivamente material em que permaneceu até hoje. Quando os magnetizadores antiespiritualistas ou antiespíritas virem que existe um magnetismo mais poderoso que o seu, eles serão forçados a remontar à verdadeira causa.
Contudo, importa premunir-se contra o charlatanismo, que não deixará de tentar explorar em proveito próprio esta nova faculdade. Há para isto um meio simples, o de lembrar-se que não há charlatanismo desinteressado, e que o desinteresse absoluto, material e moral, é a melhor garantia de sinceridade. Se há uma faculdade dada por Deus com esse objetivo santo, sem a menor dúvida é esta, porque ela exige imperiosamente o concurso dos Espíritos superiores, e esse concurso não pode ser adquirido pelo charlatanismo. É para que se fique bem conscientizado quanto à natureza toda especial desta faculdade que a descrevemos com alguns detalhes.
Conquanto tenhamos podido constatar-lhe a existência por fatos autênticos, muitos dos quais passados aos nossos olhos, pode-se dizer que ela ainda é rara, e que só existe parcialmente nos médiuns que a possuem, quer por não terem todas as qualidades requeridas para a sua posse em toda a plenitude, quer por estar ela ainda em seu começo. É por isto que até hoje os fatos não tiveram muita repercussão, no entanto, não tardarão a tomar desenvolvimentos de natureza a chamar a atenção geral. Daqui a poucos anos ela se revelará nalgumas pessoas predestinadas para isto, com uma força que triunfará de muitas obstinações, mas estes não são os únicos fatos que o futuro nos reserva, e pelos quais Deus confundirá os orgulhosos e os convencerá de sua impotência. Os médiuns curadores são um dos mil meios providenciais para atingir este objetivo e apressar o triunfo do Espiritismo.
Compreende-se facilmente que esta qualificação não pode ser dada aos médiuns escreventes que recebem receitas médicas de certos Espíritos.
Aqui tratamos da mediunidade curadora somente do ponto de vista fenomênico e como meio de propagação, mas não, ainda, como recurso habitual. Num próximo artigo trataremos de sua possível aliança com a medicina e com o magnetismo ordinários.
Na ação magnética propriamente dita, é o fluido pessoal do magnetizador que é transmitido, e sabe-se que esse fluido, que não é senão o perispírito, participa sempre, mais ou menos, das qualidades materiais do corpo, ao mesmo tempo que sofre a influência moral do Espírito. É, pois, impossível que o fluido próprio de um encarnado seja de uma pureza absoluta, razão pela qual sua ação curativa é lenta, por vezes nula, outras vezes até nociva, porque ele pode transmitir ao doente princípios mórbidos.
Considerando-se que um fluido é suficientemente abundante e enérgico para produzir efeitos instantâneos de sono, de catalepsia, de atração ou de repulsão, absolutamente não se segue que ele tenha as necessárias qualidades para curar. É a força que derruba, mas não o bálsamo que suaviza e restaura. Dessa forma, há Espíritos desencarnados de ordem inferior cujo fluido pode até mesmo ser muito maléfico, o que os espíritas a cada passo têm ocasião de constatar.
Somente nos Espíritos superiores o fluido perispiritual está despojado de todas as impurezas da matéria; está, de certo modo, quintessenciado; sua ação, por conseguinte, deve ser mais salutar e mais pronta: é o fluido benfazejo por excelência. Como ele não pode ser encontrado entre os encarnados, nem entre os desencarnados vulgares, então é preciso pedi-lo aos Espíritos elevados, como se vai procurar em terras distantes os remédios que se não encontram na própria.
O médium curador emite pouco de seu próprio fluido. Ele sente a corrente do fluido estranho que o penetra e para a qual serve de condutor. É com esse fluido que ele magnetiza, e aí está o que caracteriza o magnetismo espiritual e o distingue do magnetismo animal: um vem do homem, o outro, dos Espíritos. Como se vê, aí nada existe de maravilhoso, mas um fenômeno resultante de uma lei da natureza que não era conhecida.
Para curar pela terapêutica ordinária não bastam os primeiros medicamentos que surgem. São necessários medicamentos puros, não avariados ou adulterados, e convenientemente preparados. Pela mesma razão, para curar pela ação fluídica, os fluidos mais depurados são os mais saudáveis. Como esses fluidos benéficos são uma propriedade dos Espíritos superiores, então é o concurso deles que é preciso obter, por isso a prece e a invocação são necessárias. Mas para orar, e sobretudo para orar com fervor, é preciso ter fé. Para que a prece seja escutada, é preciso que seja feita com humildade e ditada por um real sentimento de benevolência e de caridade. Ora, não há verdadeira caridade sem devotamento, nem devotamento sem desinteresse. Sem estas condições, o magnetizador, privado da assistência dos bons Espíritos, fica reduzido às suas próprias forças, por vezes insuficientes, ao passo que com o concurso deles, elas podem ser centuplicadas em poder e em eficácia. Entretanto, não há licor, por mais puro que seja, que não se altere ao passar por um vaso impuro. Assim acontece com o fluido dos Espíritos superiores, ao passar pelos encarnados. Daí, para os médiuns nos quais se revela essa preciosa faculdade, e que querem vê-la crescer e não se perder, a necessidade de trabalhar por seu melhoramento moral.
Entre o magnetizador e o médium curador há, pois, uma diferença capital, porque o primeiro magnetiza com o seu próprio fluido, e o segundo com o fluido depurado dos Espíritos. Daí se segue que os Espíritos dão o seu concurso a quem querem e quando querem; que podem recusá-lo e, consequentemente, tirar a faculdade daquele que dela abusasse ou a desviasse de seu fim humanitário e caridoso para dela fazer comércio.
Quando Jesus disse aos apóstolos: “Ide! Expulsai os demônios, curai os doentes”, ele acrescentou: “Dai de graça o que de graça recebestes.”
Os médiuns curadores tendem a multiplicar-se, como anunciaram os Espíritos, e isto com o objetivo de propagar o Espiritismo, pela impressão que esta nova ordem de fenômenos não pode deixar de produzir nas massas, porque não há quem não ligue para a sua saúde, mesmo os mais incrédulos. Assim, pois, quando virem que é possível obter com a intervenção dos Espíritos o que a ciência não pode dar, hão de convir que há uma força fora do nosso mundo. Dessa forma, a ciência será conduzida a sair da via exclusivamente material em que permaneceu até hoje. Quando os magnetizadores antiespiritualistas ou antiespíritas virem que existe um magnetismo mais poderoso que o seu, eles serão forçados a remontar à verdadeira causa.
Contudo, importa premunir-se contra o charlatanismo, que não deixará de tentar explorar em proveito próprio esta nova faculdade. Há para isto um meio simples, o de lembrar-se que não há charlatanismo desinteressado, e que o desinteresse absoluto, material e moral, é a melhor garantia de sinceridade. Se há uma faculdade dada por Deus com esse objetivo santo, sem a menor dúvida é esta, porque ela exige imperiosamente o concurso dos Espíritos superiores, e esse concurso não pode ser adquirido pelo charlatanismo. É para que se fique bem conscientizado quanto à natureza toda especial desta faculdade que a descrevemos com alguns detalhes.
Conquanto tenhamos podido constatar-lhe a existência por fatos autênticos, muitos dos quais passados aos nossos olhos, pode-se dizer que ela ainda é rara, e que só existe parcialmente nos médiuns que a possuem, quer por não terem todas as qualidades requeridas para a sua posse em toda a plenitude, quer por estar ela ainda em seu começo. É por isto que até hoje os fatos não tiveram muita repercussão, no entanto, não tardarão a tomar desenvolvimentos de natureza a chamar a atenção geral. Daqui a poucos anos ela se revelará nalgumas pessoas predestinadas para isto, com uma força que triunfará de muitas obstinações, mas estes não são os únicos fatos que o futuro nos reserva, e pelos quais Deus confundirá os orgulhosos e os convencerá de sua impotência. Os médiuns curadores são um dos mil meios providenciais para atingir este objetivo e apressar o triunfo do Espiritismo.
Compreende-se facilmente que esta qualificação não pode ser dada aos médiuns escreventes que recebem receitas médicas de certos Espíritos.
Aqui tratamos da mediunidade curadora somente do ponto de vista fenomênico e como meio de propagação, mas não, ainda, como recurso habitual. Num próximo artigo trataremos de sua possível aliança com a medicina e com o magnetismo ordinários.
Um caso de possessão.
Senhorita Júlia.
(2.º artigo; ver o número de dezembro de 1863.)
Senhorita Júlia.
(2.º artigo; ver o número de dezembro de 1863.)
No artigo anterior, descrevemos a triste situação dessa moça e as circunstâncias que provavam uma verdadeira possessão. Sentimo-nos felizes ao confirmar o que dissemos a respeito de sua cura, hoje completa.
Depois de liberta de seu Espírito obsessor, os violentos abalos que ela havia sofrido por mais de seis meses a haviam levado a grave perturbação da saúde. Agora ela está inteiramente recuperada, mas não saiu do estado sonambúlico, o que não a impede de ocupar-se de suas atividades habituais.
Vamos expor as circunstâncias dessa cura.
Várias pessoas tinham tentado magnetizá-la, mas sem muito sucesso, salvo leve e passageira melhora no estado patológico. Quanto ao Espírito, era cada vez mais tenaz, e as crises haviam atingido um grau de violência dos mais inquietantes. Ali teria sido necessário um magnetizador nas condições indicadas no artigo acima para os médiuns curadores, isto é, penetrando a doente com um fluido bastante puro para eliminar o fluido do mau Espírito. Se há um gênero de mediunidade que exige uma superioridade moral, é sem contradita o caso de obsessão, pois é preciso ter a faculdade de impor sua autoridade ao Espírito.
Os casos de possessão, segundo o que é anunciado, devem multiplicar-se com grande energia daqui a algum tempo, para que fique bem demonstrada a impotência dos meios empregados até agora para combatê-los.
Até mesmo uma circunstância da qual não podemos ainda falar, mas que tem uma certa analogia com o que se passou ao tempo do Cristo, contribuirá para desenvolver essa espécie de epidemia demoníaca. Não é de duvidar que surgirão médiuns especiais com o poder de expulsar os maus Espíritos, como os apóstolos tinham o de expulsar os demônios, seja porque Deus sempre põe o remédio ao lado do mal, seja para dar aos incrédulos uma nova prova da existência dos Espíritos.
Para a senhorita Júlia, como em todos os casos análogos, o magnetismo simples, por mais enérgico que fosse, era, assim, insuficiente. Era preciso agir simultaneamente sobre o Espírito obsessor, para dominá-lo, e sobre o moral da doente, perturbado por todos esses abalos. O mal físico era apenas consecutivo; era um efeito e não a causa. Assim, havia que tratar-se a causa antes do efeito. Destruído o mal moral, o mal físico deveria desaparecer por si mesmo. Mas para isto é preciso identificar-se com a causa; estudar com o maior cuidado e em todas as suas nuanças o curso das ideias, para lhe imprimir tal ou qual direção mais favorável, porque os sintomas variam conforme o grau de inteligência do paciente, o caráter do Espírito e os motivos da obsessão, motivos cuja origem remonta quase sempre a existências anteriores.
O insucesso do magnetismo com a senhorinha Júlia levou várias pessoas a tentar. Entre essas pessoas estava um jovem dotado de grande força fluídica, mas que infelizmente não tinha qualquer experiência e, sobretudo, os conhecimentos necessários em casos semelhantes. Ele se atribuía um poder absoluto sobre os Espíritos inferiores que, segundo ele, não podiam resistir à sua vontade. Tal pretensão, levada ao excesso e baseada em sua força pessoal e não na assistência dos bons Espíritos, deveria atrair-lhe mais de um insucesso. Só isto deveria ter bastado para mostrar aos amigos da jovem que a ele faltava a primeira das qualidades requeridas para ser um socorro eficaz. Mas o que, acima de tudo, deveria tê-los esclarecido, é que sobre os Espíritos em geral tinha ele uma opinião inteiramente falsa. Segundo ele, os Espíritos superiores têm uma natureza fluídica por demais etérea para poderem vir à Terra comunicar-se com os homens e assisti-los, pois isto só seria possível aos Espíritos inferiores, em razão de sua natureza mais grosseira. Mesmo nos momentos de crise, ele cometia o grave erro de sustentar diante da doente essa opinião, que não passa da doutrina da comunicação exclusiva dos demônios. Com esta maneira de ver, ele não devia contar senão consigo mesmo, e não podia invocar a única assistência que poderia ajudá-lo, assistência da qual, é verdade, ele julgava poder prescindir.
A consequência mais prejudicial era para a doente, que ele desencorajava, tirando-lhe a esperança da assistência dos bons Espíritos. No estado de enfraquecimento em que estava o seu cérebro, tal crença, que dava todo poder ao Espírito obsessor, poderia tornar-se fatal para a sua razão, podendo mesmo matá-la. Assim, ela repetia sem cessar, nos momentos de crise: “Louca… louca… ele me deixará louca… completamente louca… eu ainda não estou, mas ficarei.”
Falando de seu magnetizador, ela pintava perfeitamente sua ação, dizendo: “Ele me dá a força do corpo, mas não a força do espírito.” Esta expressão era profundamente significativa, contudo, ninguém lhe dava importância.
Quando vimos a senhorita Júlia, o mal estava no apogeu e a crise a que assistimos foi uma das mais violentas. Foi precisamente no momento em que procurávamos levantar-lhe o moral; em que tentávamos inculcar-lhe o pensamento de que ela podia dominar esse mau Espírito com a assistência dos bons e de seu anjo de guarda, cujo apoio era preciso invocar. Foi nesse momento, dizíamos, que o jovem magnetizador, que estava presente, por uma circunstância sem dúvida providencial, veio, sem qualquer provocação, afirmar e desenvolver sua teoria, destruindo por um lado o que fazíamos por outro. Tivemos que lhe expor com energia que ele praticava uma ação má e que assumia a terrível responsabilidade da razão e da vida dessa moça infeliz.
Um fato dos mais singulares, que todos tinham observado, mas ninguém lhe deduzira as consequências, se produzia na magnetização. Quando era feita durante a luta com o mau Espírito, ele sozinho absorvia todo o fluido, que lhe dava mais força, enquanto a doente enfraquecia e sucumbia aos seus ataques. Deve-se levar em conta que ela estava sempre em estado de sonambulismo; consequentemente, ela via o que se passava, e foi ela mesma que deu essa explicação. Eles não viram nesse fato senão uma malícia do Espírito, e contentaram-se em abster-se de magnetizar nesses momentos e ficar assistindo à luta.
Com o conhecimento da natureza dos fluidos, é fácil dar-se conta desse fenômeno. É evidente, para começar, que absorvendo o fluido para aumentar sua própria força em detrimento da doente, o Espírito queria convencer o magnetizador da inutilidade de sua pretensão. Se havia malícia de sua parte, era contra o magnetizador, pois ele se servia da mesma arma com a qual o outro pretendia vencê-lo. Pode-se dizer que lhe tomava o bastão das mãos. Era não menos evidente que a sua facilidade de apropriar-se do fluido do magnetizador denotava uma afinidade entre esse fluido e o seu próprio, ao passo que fluidos de natureza contrária se teriam repelido, como água e óleo. Só esse fato basta para demonstrar que havia outras condições a preencher. É, pois, um erro dos mais graves e, podemos dizer, dos mais funestos, não ver na ação magnética mais que simples emissão fluídica, sem levar em conta a qualidade íntima dos fluidos. Na maioria dos casos, o sucesso repousa inteiramente nessas qualidades, como na terapêutica depende da qualidade do medicamento. Não seria demais chamar a atenção para este ponto capital, demonstrado, ao mesmo tempo, pela lógica e pela experiência.
Para combater a influência da doutrina do magnetizador, que já havia influenciado as ideias da doente, dissemos a ela:
— Minha filha, tenha confiança em Deus! Olhe em sua volta. Você não vê bons Espíritos?
— É verdade, disse ela, vejo Espíritos luminosos, que Fredegunda não ousa encarar.
— Então! São eles que a protegem e não permitirão que o mau Espírito vença. Implore a sua assistência; ore com fervor; ore sobretudo por Fredegunda.
— Oh! Por ela jamais poderei.
— Cuidado! Veja que a estas palavras os bons Espíritos se afastam. Se você quer sua proteção, é preciso merecê-la por seus bons sentimentos, esforçando-se sobretudo para ser melhor que a sua inimiga. Como você quer que eles a protejam, se não for melhor que ela? Pense que em outras existências você também teve censuras a se fazer, e o que lhe acontece é uma expiação. Se você quer que ela cesse, terá que se melhorar, e para provar suas boas intenções, você terá que começar mostrando-se boa e caridosa para com seus inimigos. A própria Fredegunda será tocada, e talvez você faça o arrependimento penetrar seu coração. Reflita.
— Eu o farei.
— Faça-o agora mesmo, e diga comigo: “Meu Deus, eu perdoo a Fredegunda o mal que me fez; aceito-o como uma prova e uma expiação que mereci. Perdoai minhas próprias faltas, como eu perdoo as dela. E vós, bons Espíritos que me cercais, abri o seu coração a melhores sentimentos e dai-me a força que me falta.” Você promete orar por ela todos os dias?
— Prometo.
— Está bem. Por meu lado, vou cuidar de você e dela. Tenha confiança.
— Oh! Obrigada. Algo me diz que isto em breve vai acabar.
Tendo levado este fato ao conhecimento da Sociedade, foram dadas a respeito as seguintes instruções:
“O assunto de que vos ocupais comoveu os próprios bons Espíritos que, por sua vez, querem vir em auxílio dessa moça com seus conselhos. Com efeito, ela apresenta um caso de obsessão muito grave, e entre os que vistes e vereis ainda, pode-se pôr este entre os mais importantes, mais sérios, e sobretudo mais interessantes, pelas particularidades instrutivas já apresentadas e pelas novidades que ainda oferecerá.
“Como já vos disse, esses casos de obsessão renovar-se-ão frequentemente, e fornecerão dois assuntos distintos e de utilidade, primeiro para vós, depois para os que as sofrerem.
“Primeiro para vós, porque assim como vários eclesiásticos contribuíram poderosamente para divulgar o Espiritismo entre os que lhe eram completamente estranhos, assim esses obsedados, cujo número tornar-se-á bastante importante para que deles se ocupem de maneira não superficial, mas larga e profunda, abrirão bem as portas da ciência para que a filosofia espírita possa com eles nela penetrar e ocupar entre a gente de ciência e os médicos de todos os sistemas, o lugar a que ela tem direito.
“Depois para eles, porque no estado de Espírito, antes de encarnar-se entre vós, eles aceitaram essa luta que lhes proporciona a possessão que sofrem, em vista de seu adiantamento, e essa luta, acreditai, faz sofrer cruelmente seu próprio Espírito que, quando seu corpo, de certo modo, não é mais seu, têm a perfeita consciência do que se passa. Conforme tiverem suportado essa prova, cuja duração lhes podereis abreviar poderosamente por vossas preces, eles terão progredido mais ou menos. Porque, tende certeza disto, malgrado essa possessão, sempre momentânea, eles guardam suficiente consciência de si mesmos para discernir a causa e a natureza de sua obsessão.
“Para esta de que vos ocupais, é necessário um conselho. As magnetizações que lhe faz suportar o Espírito encarnado de que falastes lhe são funestas sob todos os aspectos. Aquele Espírito é sistemático. E que sistema! Aquele que não reporta todas as suas ações à maior glória de Deus e que se envaidece das faculdades que lhe foram concedidas, será sempre confundido. Os presunçosos serão rebaixados, às vezes neste mundo, infalivelmente no outro.
“Tratai, portanto, meu caro Kardec, de conseguir que essas magnetizações cessem imediatamente, ou os mais graves inconvenientes resultarão de sua continuação, não só para a moça, mas ainda para o imprudente que pensa ter às suas ordens todos os Espíritos das trevas e comandá-los como chefe.
“Eu vos afirmo que vereis esses casos de obsessão e de possessão se desenvolverem durante um certo tempo, porque eles são úteis ao progresso da ciência e do Espiritismo. É por aí que os médicos e os sábios enfim abrirão os olhos e compreenderão que há moléstias cujas causas não estão na matéria, e que não devem ser tratadas pela matéria. Esses casos de possessão vão igualmente abrir horizontes totalmente novos ao magnetismo, e fazer com que ele dê um grande passo para a frente, pelo estudo dos fluidos, até aqui tão imperfeito. Ajudado por esses novos conhecimentos e por sua aliança com o Espiritismo, ele obterá grandes coisas.
“Infelizmente, no magnetismo, como na medicina, durante muito tempo ainda, haverá homens que julgarão nada terem a aprender.
“Essas obsessões frequentes terão, também, um lado muito bom, pelo fato de que estando penetrado pela prece e pela força moral, pode-se fazê-las cessar e pode-se adquirir o direito de expulsar os maus Espíritos e, pelo melhoramento de sua conduta, cada um procurará adquirir esse direito, que o Espírito de Verdade, que dirige este globo, conferirá quando for merecido.
“Tende fé e confiança em Deus, que não permite que se sofra inutilmente e sem motivo”
Depois de liberta de seu Espírito obsessor, os violentos abalos que ela havia sofrido por mais de seis meses a haviam levado a grave perturbação da saúde. Agora ela está inteiramente recuperada, mas não saiu do estado sonambúlico, o que não a impede de ocupar-se de suas atividades habituais.
Vamos expor as circunstâncias dessa cura.
Várias pessoas tinham tentado magnetizá-la, mas sem muito sucesso, salvo leve e passageira melhora no estado patológico. Quanto ao Espírito, era cada vez mais tenaz, e as crises haviam atingido um grau de violência dos mais inquietantes. Ali teria sido necessário um magnetizador nas condições indicadas no artigo acima para os médiuns curadores, isto é, penetrando a doente com um fluido bastante puro para eliminar o fluido do mau Espírito. Se há um gênero de mediunidade que exige uma superioridade moral, é sem contradita o caso de obsessão, pois é preciso ter a faculdade de impor sua autoridade ao Espírito.
Os casos de possessão, segundo o que é anunciado, devem multiplicar-se com grande energia daqui a algum tempo, para que fique bem demonstrada a impotência dos meios empregados até agora para combatê-los.
Até mesmo uma circunstância da qual não podemos ainda falar, mas que tem uma certa analogia com o que se passou ao tempo do Cristo, contribuirá para desenvolver essa espécie de epidemia demoníaca. Não é de duvidar que surgirão médiuns especiais com o poder de expulsar os maus Espíritos, como os apóstolos tinham o de expulsar os demônios, seja porque Deus sempre põe o remédio ao lado do mal, seja para dar aos incrédulos uma nova prova da existência dos Espíritos.
Para a senhorita Júlia, como em todos os casos análogos, o magnetismo simples, por mais enérgico que fosse, era, assim, insuficiente. Era preciso agir simultaneamente sobre o Espírito obsessor, para dominá-lo, e sobre o moral da doente, perturbado por todos esses abalos. O mal físico era apenas consecutivo; era um efeito e não a causa. Assim, havia que tratar-se a causa antes do efeito. Destruído o mal moral, o mal físico deveria desaparecer por si mesmo. Mas para isto é preciso identificar-se com a causa; estudar com o maior cuidado e em todas as suas nuanças o curso das ideias, para lhe imprimir tal ou qual direção mais favorável, porque os sintomas variam conforme o grau de inteligência do paciente, o caráter do Espírito e os motivos da obsessão, motivos cuja origem remonta quase sempre a existências anteriores.
O insucesso do magnetismo com a senhorinha Júlia levou várias pessoas a tentar. Entre essas pessoas estava um jovem dotado de grande força fluídica, mas que infelizmente não tinha qualquer experiência e, sobretudo, os conhecimentos necessários em casos semelhantes. Ele se atribuía um poder absoluto sobre os Espíritos inferiores que, segundo ele, não podiam resistir à sua vontade. Tal pretensão, levada ao excesso e baseada em sua força pessoal e não na assistência dos bons Espíritos, deveria atrair-lhe mais de um insucesso. Só isto deveria ter bastado para mostrar aos amigos da jovem que a ele faltava a primeira das qualidades requeridas para ser um socorro eficaz. Mas o que, acima de tudo, deveria tê-los esclarecido, é que sobre os Espíritos em geral tinha ele uma opinião inteiramente falsa. Segundo ele, os Espíritos superiores têm uma natureza fluídica por demais etérea para poderem vir à Terra comunicar-se com os homens e assisti-los, pois isto só seria possível aos Espíritos inferiores, em razão de sua natureza mais grosseira. Mesmo nos momentos de crise, ele cometia o grave erro de sustentar diante da doente essa opinião, que não passa da doutrina da comunicação exclusiva dos demônios. Com esta maneira de ver, ele não devia contar senão consigo mesmo, e não podia invocar a única assistência que poderia ajudá-lo, assistência da qual, é verdade, ele julgava poder prescindir.
A consequência mais prejudicial era para a doente, que ele desencorajava, tirando-lhe a esperança da assistência dos bons Espíritos. No estado de enfraquecimento em que estava o seu cérebro, tal crença, que dava todo poder ao Espírito obsessor, poderia tornar-se fatal para a sua razão, podendo mesmo matá-la. Assim, ela repetia sem cessar, nos momentos de crise: “Louca… louca… ele me deixará louca… completamente louca… eu ainda não estou, mas ficarei.”
Falando de seu magnetizador, ela pintava perfeitamente sua ação, dizendo: “Ele me dá a força do corpo, mas não a força do espírito.” Esta expressão era profundamente significativa, contudo, ninguém lhe dava importância.
Quando vimos a senhorita Júlia, o mal estava no apogeu e a crise a que assistimos foi uma das mais violentas. Foi precisamente no momento em que procurávamos levantar-lhe o moral; em que tentávamos inculcar-lhe o pensamento de que ela podia dominar esse mau Espírito com a assistência dos bons e de seu anjo de guarda, cujo apoio era preciso invocar. Foi nesse momento, dizíamos, que o jovem magnetizador, que estava presente, por uma circunstância sem dúvida providencial, veio, sem qualquer provocação, afirmar e desenvolver sua teoria, destruindo por um lado o que fazíamos por outro. Tivemos que lhe expor com energia que ele praticava uma ação má e que assumia a terrível responsabilidade da razão e da vida dessa moça infeliz.
Um fato dos mais singulares, que todos tinham observado, mas ninguém lhe deduzira as consequências, se produzia na magnetização. Quando era feita durante a luta com o mau Espírito, ele sozinho absorvia todo o fluido, que lhe dava mais força, enquanto a doente enfraquecia e sucumbia aos seus ataques. Deve-se levar em conta que ela estava sempre em estado de sonambulismo; consequentemente, ela via o que se passava, e foi ela mesma que deu essa explicação. Eles não viram nesse fato senão uma malícia do Espírito, e contentaram-se em abster-se de magnetizar nesses momentos e ficar assistindo à luta.
Com o conhecimento da natureza dos fluidos, é fácil dar-se conta desse fenômeno. É evidente, para começar, que absorvendo o fluido para aumentar sua própria força em detrimento da doente, o Espírito queria convencer o magnetizador da inutilidade de sua pretensão. Se havia malícia de sua parte, era contra o magnetizador, pois ele se servia da mesma arma com a qual o outro pretendia vencê-lo. Pode-se dizer que lhe tomava o bastão das mãos. Era não menos evidente que a sua facilidade de apropriar-se do fluido do magnetizador denotava uma afinidade entre esse fluido e o seu próprio, ao passo que fluidos de natureza contrária se teriam repelido, como água e óleo. Só esse fato basta para demonstrar que havia outras condições a preencher. É, pois, um erro dos mais graves e, podemos dizer, dos mais funestos, não ver na ação magnética mais que simples emissão fluídica, sem levar em conta a qualidade íntima dos fluidos. Na maioria dos casos, o sucesso repousa inteiramente nessas qualidades, como na terapêutica depende da qualidade do medicamento. Não seria demais chamar a atenção para este ponto capital, demonstrado, ao mesmo tempo, pela lógica e pela experiência.
Para combater a influência da doutrina do magnetizador, que já havia influenciado as ideias da doente, dissemos a ela:
— Minha filha, tenha confiança em Deus! Olhe em sua volta. Você não vê bons Espíritos?
— É verdade, disse ela, vejo Espíritos luminosos, que Fredegunda não ousa encarar.
— Então! São eles que a protegem e não permitirão que o mau Espírito vença. Implore a sua assistência; ore com fervor; ore sobretudo por Fredegunda.
— Oh! Por ela jamais poderei.
— Cuidado! Veja que a estas palavras os bons Espíritos se afastam. Se você quer sua proteção, é preciso merecê-la por seus bons sentimentos, esforçando-se sobretudo para ser melhor que a sua inimiga. Como você quer que eles a protejam, se não for melhor que ela? Pense que em outras existências você também teve censuras a se fazer, e o que lhe acontece é uma expiação. Se você quer que ela cesse, terá que se melhorar, e para provar suas boas intenções, você terá que começar mostrando-se boa e caridosa para com seus inimigos. A própria Fredegunda será tocada, e talvez você faça o arrependimento penetrar seu coração. Reflita.
— Eu o farei.
— Faça-o agora mesmo, e diga comigo: “Meu Deus, eu perdoo a Fredegunda o mal que me fez; aceito-o como uma prova e uma expiação que mereci. Perdoai minhas próprias faltas, como eu perdoo as dela. E vós, bons Espíritos que me cercais, abri o seu coração a melhores sentimentos e dai-me a força que me falta.” Você promete orar por ela todos os dias?
— Prometo.
— Está bem. Por meu lado, vou cuidar de você e dela. Tenha confiança.
— Oh! Obrigada. Algo me diz que isto em breve vai acabar.
Tendo levado este fato ao conhecimento da Sociedade, foram dadas a respeito as seguintes instruções:
“O assunto de que vos ocupais comoveu os próprios bons Espíritos que, por sua vez, querem vir em auxílio dessa moça com seus conselhos. Com efeito, ela apresenta um caso de obsessão muito grave, e entre os que vistes e vereis ainda, pode-se pôr este entre os mais importantes, mais sérios, e sobretudo mais interessantes, pelas particularidades instrutivas já apresentadas e pelas novidades que ainda oferecerá.
“Como já vos disse, esses casos de obsessão renovar-se-ão frequentemente, e fornecerão dois assuntos distintos e de utilidade, primeiro para vós, depois para os que as sofrerem.
“Primeiro para vós, porque assim como vários eclesiásticos contribuíram poderosamente para divulgar o Espiritismo entre os que lhe eram completamente estranhos, assim esses obsedados, cujo número tornar-se-á bastante importante para que deles se ocupem de maneira não superficial, mas larga e profunda, abrirão bem as portas da ciência para que a filosofia espírita possa com eles nela penetrar e ocupar entre a gente de ciência e os médicos de todos os sistemas, o lugar a que ela tem direito.
“Depois para eles, porque no estado de Espírito, antes de encarnar-se entre vós, eles aceitaram essa luta que lhes proporciona a possessão que sofrem, em vista de seu adiantamento, e essa luta, acreditai, faz sofrer cruelmente seu próprio Espírito que, quando seu corpo, de certo modo, não é mais seu, têm a perfeita consciência do que se passa. Conforme tiverem suportado essa prova, cuja duração lhes podereis abreviar poderosamente por vossas preces, eles terão progredido mais ou menos. Porque, tende certeza disto, malgrado essa possessão, sempre momentânea, eles guardam suficiente consciência de si mesmos para discernir a causa e a natureza de sua obsessão.
“Para esta de que vos ocupais, é necessário um conselho. As magnetizações que lhe faz suportar o Espírito encarnado de que falastes lhe são funestas sob todos os aspectos. Aquele Espírito é sistemático. E que sistema! Aquele que não reporta todas as suas ações à maior glória de Deus e que se envaidece das faculdades que lhe foram concedidas, será sempre confundido. Os presunçosos serão rebaixados, às vezes neste mundo, infalivelmente no outro.
“Tratai, portanto, meu caro Kardec, de conseguir que essas magnetizações cessem imediatamente, ou os mais graves inconvenientes resultarão de sua continuação, não só para a moça, mas ainda para o imprudente que pensa ter às suas ordens todos os Espíritos das trevas e comandá-los como chefe.
“Eu vos afirmo que vereis esses casos de obsessão e de possessão se desenvolverem durante um certo tempo, porque eles são úteis ao progresso da ciência e do Espiritismo. É por aí que os médicos e os sábios enfim abrirão os olhos e compreenderão que há moléstias cujas causas não estão na matéria, e que não devem ser tratadas pela matéria. Esses casos de possessão vão igualmente abrir horizontes totalmente novos ao magnetismo, e fazer com que ele dê um grande passo para a frente, pelo estudo dos fluidos, até aqui tão imperfeito. Ajudado por esses novos conhecimentos e por sua aliança com o Espiritismo, ele obterá grandes coisas.
“Infelizmente, no magnetismo, como na medicina, durante muito tempo ainda, haverá homens que julgarão nada terem a aprender.
“Essas obsessões frequentes terão, também, um lado muito bom, pelo fato de que estando penetrado pela prece e pela força moral, pode-se fazê-las cessar e pode-se adquirir o direito de expulsar os maus Espíritos e, pelo melhoramento de sua conduta, cada um procurará adquirir esse direito, que o Espírito de Verdade, que dirige este globo, conferirá quando for merecido.
“Tende fé e confiança em Deus, que não permite que se sofra inutilmente e sem motivo”
Hahnemann.
(Médium: Sr. Albert)
(Médium: Sr. Albert)
“Serei breve. Será muito fácil curar essa infeliz possessa. Os meios estavam implicitamente contidos nas reflexões há pouco emitidas por Allan Kardec. Não só é necessária uma ação material e moral, mas ainda uma ação puramente espiritual.
“Para o Espírito encarnado que se acha, como Júlia, em estado de possessão, é necessário um magnetizador experimentado e perfeitamente convicto da verdade espírita. É necessário que ele seja, além disso, de uma moralidade irreprochável e sem presunção. Mas, para agir sobre o Espírito obsessor, é necessária a ação não menos enérgica de um bom Espírito desencarnado. Assim, pois, dupla ação: terrena e extraterrena; encarnado sobre encarnado; desencarnado sobre desencarnado; eis a lei. Se até agora tal ação não foi realizada, foi justamente para vos trazer ao estudo e à experimentação dessa interessante questão. É por isto que Júlia não se livrou mais cedo. Ela devia servir aos vossos estudos.
“Isto vos demonstra o que deveis fazer de agora em diante, nos casos de possessão manifesta. É indispensável chamar em vossa ajuda o concurso de um Espírito elevado, gozando ao mesmo tempo de força moral e fluídica, como, por exemplo, o excelente cura d’Ars, e sabeis que podeis contar com a assistência desse digno e Santo Vianney. Além disso, nosso concurso será dado a todos os que nos chamarem em seu auxílio, com pureza de coração e fé verdadeira.
“Resumindo: Quando magnetizarem Júlia, será preciso começar pela fervorosa evocação do cura d’Ars e de outros bons Espíritos que se comunicam habitualmente entre vós, pedindo-lhes que ajam contra os maus Espíritos que perseguem essa moça, os quais fugirão ante as falanges luminosas. Também é preciso não esquecer que a prece coletiva tem uma força muito grande, quando feita por certo número de pessoas agindo em sintonia, com uma fé viva e um ardente desejo de aliviar.”
“Para o Espírito encarnado que se acha, como Júlia, em estado de possessão, é necessário um magnetizador experimentado e perfeitamente convicto da verdade espírita. É necessário que ele seja, além disso, de uma moralidade irreprochável e sem presunção. Mas, para agir sobre o Espírito obsessor, é necessária a ação não menos enérgica de um bom Espírito desencarnado. Assim, pois, dupla ação: terrena e extraterrena; encarnado sobre encarnado; desencarnado sobre desencarnado; eis a lei. Se até agora tal ação não foi realizada, foi justamente para vos trazer ao estudo e à experimentação dessa interessante questão. É por isto que Júlia não se livrou mais cedo. Ela devia servir aos vossos estudos.
“Isto vos demonstra o que deveis fazer de agora em diante, nos casos de possessão manifesta. É indispensável chamar em vossa ajuda o concurso de um Espírito elevado, gozando ao mesmo tempo de força moral e fluídica, como, por exemplo, o excelente cura d’Ars, e sabeis que podeis contar com a assistência desse digno e Santo Vianney. Além disso, nosso concurso será dado a todos os que nos chamarem em seu auxílio, com pureza de coração e fé verdadeira.
“Resumindo: Quando magnetizarem Júlia, será preciso começar pela fervorosa evocação do cura d’Ars e de outros bons Espíritos que se comunicam habitualmente entre vós, pedindo-lhes que ajam contra os maus Espíritos que perseguem essa moça, os quais fugirão ante as falanges luminosas. Também é preciso não esquecer que a prece coletiva tem uma força muito grande, quando feita por certo número de pessoas agindo em sintonia, com uma fé viva e um ardente desejo de aliviar.”
Erasto.
(Médium: Sr. d’Ambel.)
(Médium: Sr. d’Ambel.)
Estas instruções foram seguidas. Vários membros da Sociedade se entenderam para agir pela prece nas condições desejadas. Um ponto essencial era levar o Espírito obsessor a emendar-se, o que necessariamente deveria facilitar a cura. Foi o que se fez, evocando-o e lhe dando conselhos. Ele prometeu não mais atormentar a senhorita Júlia, e manteve a palavra. Um dos nossos colegas foi especialmente encarregado por seu guia espiritual de sua educação moral, com o que ficou satisfeito. Hoje esse Espírito trabalha seriamente em sua melhora e pede uma nova encarnação para expiar e reparar as suas faltas.
A importância do ensinamento que decorre deste fato e das observações a que deu lugar, não escapará a ninguém, e cada um poderá aí colher úteis instruções sobre a ocorrência.
Uma observação essencial que o caso permitiu constatar, e que se compreende sem esforço, é a influência do meio. É evidente que, se o meio secunda pela unidade de vistas, de intenção e de ação, o doente se acha numa espécie de atmosfera homogênea de fluidos benéficos, o que deve necessariamente facilitar e apressar o sucesso. Mas se houver desacordo, oposição; se cada um quiser agir à sua maneira, resultarão choques, correntes contrárias que forçosamente paralisarão e por vezes anularão os esforços tentados para a cura. Os eflúvios fluídicos, que constituem a atmosfera moral, se forem maus, são tão funestos a certos indivíduos quanto as exalações das regiões pantanosas.
A importância do ensinamento que decorre deste fato e das observações a que deu lugar, não escapará a ninguém, e cada um poderá aí colher úteis instruções sobre a ocorrência.
Uma observação essencial que o caso permitiu constatar, e que se compreende sem esforço, é a influência do meio. É evidente que, se o meio secunda pela unidade de vistas, de intenção e de ação, o doente se acha numa espécie de atmosfera homogênea de fluidos benéficos, o que deve necessariamente facilitar e apressar o sucesso. Mas se houver desacordo, oposição; se cada um quiser agir à sua maneira, resultarão choques, correntes contrárias que forçosamente paralisarão e por vezes anularão os esforços tentados para a cura. Os eflúvios fluídicos, que constituem a atmosfera moral, se forem maus, são tão funestos a certos indivíduos quanto as exalações das regiões pantanosas.
Palestras de além-túmulo.
Fredegunda.
Fredegunda.
Damos a seguir as duas evocações do Espírito de Fredegunda, feitas na Sociedade, com um mês de intervalo, e que formam o complemento dos dois precedentes artigos sobre a possessão da senhorita Júlia.
O Espírito não se manifestou com sinais de violência, mas escrevia com grande dificuldade e fatigava extremamente o médium, que até ficou indisposto e cujas faculdades pareciam, de certo modo, paralisadas. Na previsão desse resultado, tínhamos tido o cuidado de não confiar essa evocação a um médium muito delicado.
Em outra circunstância, interrogado a respeito de Fredegunda, um outro Espírito disse que há muito tempo ela procurava reencarnar-se, mas que isso não lhe havia sido permitido, porque seu objetivo ainda não era melhorar-se, mas, ao contrário, ter mais facilidade para fazer o mal, auxiliado por um corpo material. Essa disposição deveria tornar sobremaneira difícil a sua conversão, no entanto não foi tão difícil quanto se esperava, graças, sem dúvida, ao concurso benevolente de todas as pessoas que participaram dos trabalhos, e talvez também porque já era chegado o momento em que esse Espírito deveria entrar na via do arrependimento.
(16 DE OUTUBRO DE 1863 ─ MÉDIUM: SR. LEYMARIE)
1. Evocação.
─ Não sou Fredegunda. Que quereis de mim?
2. ─
Então, quem sois?
─ Um Espírito que sofre.
3. ─
Desde que sofreis, deveis desejar não mais sofrer. Nós vos assistiremos, pois
lamentamos todos os que sofrem neste mundo e no outro. Mas é necessário que nos
acompanheis, e para isto é preciso que oreis.
─ Agradeço-vos, mas não posso orar.
4. ─
Nós vamos orar, e isto vos ajudará. Tende confiança na bondade de Deus, que
perdoa sempre àquele que se arrepende.
─ Eu acredito. Orai, orai. Talvez eu possa
converter-me.
5. ─
Mas não basta que oremos. É preciso que também oreis.
─ Eu quis orar e não pude. Agora vou tentar
com o vosso auxílio.
6. ─
Dizei conosco: Meu Deus, perdoai-me, pois pequei. Arrependo-me do mal que fiz.
─ Di-lo-ei depois.
7. ─
Isto não basta. É preciso escrever.
─ Meu... (Aqui o Espírito não consegue escrever a palavra
Deus. Só após muito encorajamento ele
consegue terminar a frase, de maneira irregular e pouco legível.)
8. ─
Não se deve dizer isto
pro forma. É
preciso pensar e tomar a resolução de não mais fazer o mal e vereis que logo
sereis aliviada.
─ Eu vou orar.
9. ─
Como orastes sinceramente, não experimentais melhora? ─ Oh! Sim!
10. ─
Agora dai-nos alguns detalhes sobre a vossa vida e as causas do vosso
encarniçamento contra Júlia!
─ Mais tarde... direi... mas não posso
hoje.
11. ─
Prometeis deixar Júlia sossegada? O mal que lhe fazeis cai sobre vós e aumenta
o vosso sofrimento.
─ Sim, mas sou levada por outros Espíritos
piores que eu.
12. ─
Esta é uma desculpa ruim, que dais para vos escusardes. Em todo caso, deveis
ter uma vontade, e com os recursos da vontade sempre se pode resistir às más
sugestões.
─ Se eu tivesse tido vontade não sofreria. Sou castigada
porque não soube resistir.
13. ─
Entretanto, demonstrastes muita vontade para atormentar Júlia. Como acabais de
tomar boas resoluções, nós aconselhamos a nelas persistirdes, e pediremos aos
bons Espíritos que vos ajudem.
OBSERVAÇÃO: Durante esta evocação um outro médium recebeu de
seu guia uma comunicação contendo, entre outras coisas, o seguinte: “Não vos
inquieteis com as recusas que notais nas respostas desse Espírito. Sua ideia
fixa de reencarnarse lhe faz repelir toda solidariedade com o passado, se bem
que suporta bem pouco os efeitos disso. Ela é o Espírito que foi evocado, mas
nem consigo mesmo quer concordar.”
(13 DE NOVEMBRO DE 1863)
14.
─ Evocação.
─ Estou pronta para responder.
15.
─ Persististes na boa resolução em que estáveis
da última vez?
─ Sim.
16.
─ Como vos achais?
─ Muito bem, porque orei, estou bem calma e
muito mais feliz.
17.
─ Com efeito, sabemos que Júlia não foi mais
atormentada. Como podeis comunicar-vos mais facilmente, quereis dizer por que
vos encarniçáveis contra ela?
─ Eu estava esquecida há séculos e desejava que a maldição
que cobre o meu nome cessasse um pouco, a fim de que uma prece, uma única, me
viesse consolar. Eu oro, eu creio em Deus; agora posso pronunciar o seu nome, e
certamente isto é mais do que eu podia esperar do benefício que me concedeis.
OBSERVAÇÃO: No intervalo das duas comunicações, o Espírito
era chamado todos os dias pelo nosso colega que ficou encarregado de
instruí-la. Um fato positivo é que, a partir desse momento, a senhorita Júlia
deixou de ser atormentada.
18.
─ É muito duvidoso que apenas o desejo de obter
uma prece tenha sido o móvel que vos levava a atormentar aquela moça. Sem
dúvida buscais ainda um paliativo para os vossos erros. Em todo caso, era uma
forma ruim de atrair a compaixão dos homens.
─ Contudo, se eu não tivesse atormentado tanto a Júlia, não
teríeis pensado em mim e eu não teria saído do miserável estado em que
languescia. Disso resultou uma instrução para vós e um grande bem para mim,
pois me abristes os olhos.
19.
─
(Ao guia
do médium).
Foi mesmo Fredegunda que deu esta resposta?
─ Sim, foi ela, um pouco auxiliada, é verdade, porque se
humilhou. Mas este Espírito é muito mais adiantado em inteligência do que
pensais; falta-lhe o progresso moral, no qual a ajudais a dar os primeiros
passos. Ela não vos disse que Júlia tirará grande proveito do que se passou
para o seu avanço pessoal.
20.
─
(A
Fredegunda.)
A senhorita Júlia vivia em vosso tempo? Poderíeis dizer quem
era ela?
─ Sim. Era uma do meu séquito, chamada Hildegarde. Uma alma
sofredora e resignada, que fez a minha vontade. Ela suportou o tormento de seus
serviços muito humildes e muito complacentes a meu respeito.
21.
─ Desejais uma nova encarnação?
─ Sim, desejo. Ó meu Deus! Sofri mil torturas, e se mereci
uma pena muito justa, ah! é tempo para que eu possa, com a ajuda de vossas
preces, começar uma existência melhor, a fim de me lavar das antigas sujeiras.
Deus é justo. Orai por mim. Até hoje eu tinha desconhecido toda a extensão de
minha pena. Eu tinha o olhar velado e como que uma vertigem, mas agora vejo, compreendo,
desejo o perdão do Senhor juntamente com o das minhas vítimas. Meu Deus! Como é
suave o perdão!
22.
─ Dizei-nos algo de Brunehaut!
─ Brunehaut!... Este nome me dá vertigem... Ela é o grande
erro de minha vida e senti o meu velho ódio despertar ao ouvir o seu nome!...
Mas meu Deus me perdoará, e de agora em diante poderei escrever esse nome sem
estremecer. Mais feliz do que eu, ela reencarnou pela segunda vez,
desempenhando um papel que desejo: o de uma irmã de caridade.
23.
─ Ficamos felizes com a vossa mudança. Nós vos
encorajaremos e sustentaremos com nossas preces.
─ Obrigada! Obrigada, bons Espíritos! Deus
vos pagará.
OBSERVAÇÃO: Um fato característico dos maus Espíritos à a impossibilidade em que muitas vezes se acham de escrever ou pronunciar o nome de Deus. Isto denota, sem dúvida, uma natureza má, mas, ao mesmo tempo, um fundo de medo e de respeito, que não sentem os Espíritos hipócritas, em aparência menos maus. Longe de recuar ante o nome de Deus, estes últimos dele se servem afrontosamente, para captar a confiança. São infinitamente mais perversos e mais perigosos que os Espíritos francamente maus. É nesta classe que são encontrados a maioria dos Espíritos fascinadores, dos quais é muito mais difícil desembaçar-se do que dos outros, porque é do Espírito mesmo que eles se apossam com o auxilio de uma falsa mostra de saber, de virtude ou de religião, ao passo que os outros só se apossam do corpo. Um Espírito que como o de Fredegunda, recua ante o nome de Deus, está mais próximo de sua conversão que os que se cobrem com a máscara do bem. Dá-se o mesmo entre os homens, onde encontrais estas duas categorias de Espíritos, encarnados.
As reuniões espíritas que surgem são tão numerosas que nos seria impossível citar todas as boas palavras ditas a respeito, testemunhando os sentimentos suscitados pela doutrina. O novo grupo que acaba de constituir-se na Ilha de Oléron é tanto mais digno de simpatia quanto o Espiritismo foi, nessas regiões, objeto de muito viva oposição. Transcrevemos uma das alocuções feitas na circunstância, para provar como os espíritas respondem aos adversários.
DISCURSO DO PRESIDENTE DA SOCIEDADE ESPÍRITA DE MARENNES
“Senhores e caros irmãos espíritas de Oléron,
“A extensão que diariamente toma o Espiritismo em nossa região é a mais evidente prova da impotência dos ataques de que ele é objeto. É como diz o Sr. Allan Kardec: ‘De duas uma: ou é um erro, ou uma verdade. Se é um erro, cairá por si mesmo, como todas as utopias, que têm existência efêmera, e morrem por falta da única base sólida que pode dar a vida; se é uma dessas grandes verdades que, por vontade de Deus, devem classificar-se na história do mundo e marcar uma era do progresso da Humanidade, nada deteria a sua marcha.
“Aqui está a experiência para mostrar em qual dessas duas categorias ele deve ser colocado. A facilidade com que é aceito pelas massas, digamos mais: a felicidade, a consolação, a coragem contra a adversidade que se adquire nesta crença, a incrível rapidez de sua propagação, não são marca de uma ideia sem valor. O mais excêntrico sistema pode fazer seita e agrupar em seu derredor alguns partidários, mas, como uma árvore sem raízes, se desfolha rapidamente e morre sem produzir rebentos. É assim com o Espiritismo? Não, vós o sabeis tão bem quanto eu. Desde seu aparecimento, ele não cessou de crescer, malgrado os ataques de que foi objeto, e hoje fincou sua bandeira em todos os pontos do globo; seus partidários se contam aos milhões, e se levarmos em consideração o caminho feito em dez anos, através dos inúmeros obstáculos semeados em sua rota, pode-se julgar o que será daqui a dez anos, tanto mais quanto mais se aplainam os obstáculos, à medida que ele avança e que aumenta o número de seus adeptos. Assim, pode-se dizer, com o Sr. Allan Kardec, que o Espiritismo é hoje um fato consumado. A árvore criou raízes. Só lhe resta desenvolver-se, e tudo concorre para lhe ser favorável, porque, malgrado as borrascas, o vento está a favor do Espiritismo. Seria preciso ser cego para não o reconhecer.
“Uma circunstância que contribuiu poderosamente para o seu desenvolvimento é que ele não é exclusivo de nenhuma religião. Sua divisa: Fora da caridade não há salvação pertence a todas; é, ao mesmo tempo, a bandeira da tolerância, da união e da fraternidade, em torno da qual todos podem ligar-se, sem renunciar à sua crença particular. Começa-se a compreender que é um penhor de segurança para a Sociedade.
“Quanto a mim, caros irmãos, vou mais longe e penso que concordareis comigo quando digo que quando todos os povos tiverem inscrito em sua bandeira: Fora da caridade não há salvação, a paz do mundo será garantida e todos os povos viverão como irmãos. Será apenas um belo sonho? Não, senhores, é a promessa feita pelo Cristo, e estamos nos dias de sua realização.
“Que somos nós, nós outros, no grande movimento que se opera? Somos obscuros obreiros, que levamos a nossa pedra ao edifício, mas quando milhões de obreiros tiverem levado milhões de pedras, o edifício estará concluído. Trabalhemos, pois, com zelo e perseverança, sem nos desencorajarmos com a pequenez do sulco que abrimos, pois inúmeros sulcos se traçam em redor de nós. “Permiti-me uma comparação material, que corresponde a este pensamento:
“No começo das estradas de ferro, cada pequena localidade queria ter o seu ramal. Cada um desses ramais pouco era em si mesmo, mas quando todos fossem interligados teríamos essa imensa rede que hoje cobre o mundo e derruba as barreiras dos povos.
“As estradas de ferro derrubaram as barreiras materiais. A palavra de ordem Fora da caridade não há salvação fará caírem as barreiras morais. Ela fará, acima de tudo, cessar o antagonismo religioso, causa de tantos ódios e de sangrentos conflitos, porque então, judeus, católicos, protestantes e muçulmanos estender-se-ão as mãos adorando, cada um à sua maneira, o único Deus de misericórdia e de paz que é o mesmo para todos.
“Como vedes, senhores e caros irmãos, o objetivo é grande. Restar-nos-ia examinar a organização de nossa pequena esfera, para transformá-la numa engrenagem útil ao conjunto. Para tanto, nossa tarefa é facilitada pelas instruções encontradas nas obras do nosso chefe venerando, e que, pode-se dizer, se tornaram as obras clássicas da doutrina. Seguindo-as pontualmente, estamos certos de não nos transviarmos numa falsa rota, porque essas instruções são o fruto da experiência. Assim, que cada um medite nessas obras cuidadosamente, e aí encontraremos tudo quanto nos é necessário. Aliás, tenho certeza que o apoio e os conselhos do mestre jamais nos faltarão.
“A nenhum de nós é permitido esquecer que se a esperança e a fé reentrarem na maioria dos corações; se muitos dentre nós fomos arrancados do materialismo e da incredulidade, devemo-lo a seu zelo e a sua coragem perseverante que nem as calúnias, nem as diatribes, nem os ataques de toda sorte abalaram. Ele foi o primeiro que soube compreender o imenso alcance do Espiritismo, e desde então tudo sacrificou para lhe espalhar os benefícios entre os seus irmãos na Terra. Digamo-lo: evidentemente ele foi escolhido para esse grande apostolado, pois é impossível desconhecer que cumpre entre nós uma missão moralizadora. Eu vos proponho, senhores, votar-lhe os agradecimentos que todos os verdadeiros e sinceros espíritas lhe devem. Ao mesmo tempo, peçamos a Deus que continue a sustentá-lo nesse empreendimento que somente ele tem condições de fazer frutificar em sua plenitude.
“Ainda algumas palavras, senhores, sobre o caráter desta reunião. A máxima que nos serve de guia é de natureza a tranquilizar aqueles a quem o nome do Espiritismo poderia afugentar. Com efeito, que se pode temer de pessoas que fazem do princípio da caridade para com todos, amigos e inimigos, a sua regra de conduta? E este princípio para nós é tão sério, que dele fazemos a condição expressa de nossa salvação. Não é o melhor penhor que possamos dar de nossas intenções pacíficas? Quem poderia ver com maus olhos, mesmo entre os que não compartilham de nossas crenças, pessoas que não pregam senão a tolerância, a união e a concórdia, e cujo único objetivo é o de reconduzir a Deus os que dele se afastam e de combater o materialismo e a incredulidade que invadem a Sociedade e a ameaçam em seus fundamentos?
“Dirijamo-nos, pois, aos que não creem, pois o campo da colheita é bastante vasto, como disse o Sr. Allan Kardec. Em virtude do princípio de caridade que nos serve de guia, guardemo-nos de perturbar qualquer consciência; acolhamos como irmãos os que vêm a nós, e não procuremos contrariar ninguém em sua fé religiosa. Não vimos erguer altar contra altar, mas levantar um onde não existe nenhum. Os que acharem bons os nossos princípios, adotá-los-ão. Os que os acharem maus, deixá-los-ão de lado, e nem por isso os consideraremos menos como irmãos. Se nos atirarem pedras, pediremos a Deus que lhes perdoe a falta de caridade e que lhes lembre o Evangelho e o exemplo de Jesus Cristo, Nosso Senhor, que orava por seus carrascos.
“Assim, pois, caros irmãos, oremos a fim de que Deus se digne estender sobre nós a sua misericórdia e nos perdoe as nossas faltas, como nós perdoarmos aos que nos querem mal. Digamos todos, do fundo do coração:
“Senhor Deus Todo-Poderoso, que ledes no íntimo das almas e vedes a pureza de nossas intenções, dignai-vos sustentar-nos em nossa obra e protegei o nosso chefe. Dai-nos a força de suportar com coragem e resignação, e como provas para a nossa Fé e nossa perseverança, as misérias que a malevolência poderia suscitar-nos. Fazei que, a exemplo dos primeiros mártires cristãos, estejamos prontos para todos os sacrifícios, para vos provar a nossa submissão à vossa santa vontade. Aliás, que são os sacrifícios dos bens deste mundo quando se tem, como devem tê-lo todos os espíritas sinceros, a certeza dos bens imperecíveis da vida futura! Fazei, Senhor, que as preocupações da vida terrena não nos desviem do caminho santo por onde nos conduzistes, e dignai-vos enviar-nos bons Espíritos para nos manterem no caminho do bem. Que a caridade, que é a vossa e a nossa lei, nos torne indulgentes para com as faltas dos nossos irmãos. Que ela abafe em nós todo sentimento de orgulho, de ódio, de inveja e de ciúme, e nos torne bons e benevolentes para com todos, a fim de que preguemos tanto pelo exemplo quanto pela palavra.”
Os delegados de diversos grupos da circunvizinhança se tinham reunido, nessa ocasião, aos seus novos irmãos em crença. Vários outros discursos foram pronunciados, todos testemunhando um perfeito entendimento do verdadeiro espírito do Espiritismo. Lamentamos que a carência de espaço não nos permita citá-los, assim como uma notável comunicação obtida na sessão e assinada por FrançoisNicolas Madeleine, que traça em termos simples e tocantes os deveres do verdadeiro espírita.
Em Lyon acaba de constituir-se um novo grupo em condições especiais que merecem ser assinaladas, como encorajamento e bom exemplo. Esse grupo tem um duplo objetivo: a instrução e a beneficência. Relativamente à instrução, ele se propõe consagrar uma parte menor que a geralmente destinada às comunicações mediúnicas, mas dedicar, em contrapartida, uma parte mais longa às instruções orais, visando desenvolver e explicar os princípios do Espiritismo. Relativamente à beneficência, a nova sociedade se propõe vir em auxílio às pessoas necessitadas, por meio de dádivas in natura de objetos usuais, tais como roupa branca, vestimenta, etc. Além do que ela puder recolher, as senhoras que dela fazem parte dão o seu contributo de trabalho pessoal na confecção de roupas, e por visitas domiciliares aos pobres doentes.
Um dos membros dessa sociedade nos escreve a respeito:
“Graças ao zelo da Sra. G..., em breve Lyon contará com mais uma reunião espírita. Alcançará ela o objetivo a que se propõe? O futuro decidirá. Se ela ainda é pouco numerosa, pelo menos conta com elementos devotados, cheios de fé e de caridade. Podemos fracassar no empreendimento, mas, aos menos, as intenções são boas. Para nós, bastará que a Sociedade de Paris, sob cuja égide nos colocamos, nos aprove e nos ajude com seus conselhos, para que perseveremos, ajudados por seu apoio moral.”
Este apoio jamais faltará a toda obra fundada no verdadeiro espírito do Espiritismo, e que tenha por objetivo a realização do bem. A Sociedade de Paris sempre se sente feliz ao ver a doutrina produzir bons frutos. Ela não declinará de toda a solidariedade senão em relação a grupos ou sociedades que, desconhecendo o princípio de caridade e de fraternidade, sem o qual não há verdadeiros espíritas, vissem as outras reuniões com maus olhos, lhes atirassem pedras ou procurassem denegri-las, sob um pretexto qualquer.
A caridade e a fraternidade se reconhecem pelas obras, e não pelas palavras. É uma medida de apreciação que não pode enganar senão aqueles que são cegos em relação a seu próprio mérito, mas não em relação a terceiros desinteressados. É a pedra de toque pela qual se reconhece a sinceridade de sentimentos. Em Espiritismo, quando se fala de caridade, sabe-se que não se fala apenas daquela que dá, mas também, e sobretudo, daquela que esquece e perdoa; que é benevolente e indulgente; que repudia todo sentimento de ciúme e rancor.
Toda reunião espírita que não se fundar sobre o princípio da verdadeira caridade, será mais prejudicial que útil à causa, porque tenderá a dividir, em vez de unir. Além do mais, ela conterá em si mesma o seu elemento destruidor.
Nossas simpatias pessoais serão sempre conquistadas por todos que provarem, por seus atos, o bom espírito que os anima, porque os bons Espíritos não podem inspirar senão o bem.
No próximo número falaremos de novas sociedades espíritas de Bruxelas, de Turim e de Esmirna, que igualmente se colocam sob o patrocínio da Sociedade de Paris.
DISCURSO DO PRESIDENTE DA SOCIEDADE ESPÍRITA DE MARENNES
“Senhores e caros irmãos espíritas de Oléron,
“A extensão que diariamente toma o Espiritismo em nossa região é a mais evidente prova da impotência dos ataques de que ele é objeto. É como diz o Sr. Allan Kardec: ‘De duas uma: ou é um erro, ou uma verdade. Se é um erro, cairá por si mesmo, como todas as utopias, que têm existência efêmera, e morrem por falta da única base sólida que pode dar a vida; se é uma dessas grandes verdades que, por vontade de Deus, devem classificar-se na história do mundo e marcar uma era do progresso da Humanidade, nada deteria a sua marcha.
“Aqui está a experiência para mostrar em qual dessas duas categorias ele deve ser colocado. A facilidade com que é aceito pelas massas, digamos mais: a felicidade, a consolação, a coragem contra a adversidade que se adquire nesta crença, a incrível rapidez de sua propagação, não são marca de uma ideia sem valor. O mais excêntrico sistema pode fazer seita e agrupar em seu derredor alguns partidários, mas, como uma árvore sem raízes, se desfolha rapidamente e morre sem produzir rebentos. É assim com o Espiritismo? Não, vós o sabeis tão bem quanto eu. Desde seu aparecimento, ele não cessou de crescer, malgrado os ataques de que foi objeto, e hoje fincou sua bandeira em todos os pontos do globo; seus partidários se contam aos milhões, e se levarmos em consideração o caminho feito em dez anos, através dos inúmeros obstáculos semeados em sua rota, pode-se julgar o que será daqui a dez anos, tanto mais quanto mais se aplainam os obstáculos, à medida que ele avança e que aumenta o número de seus adeptos. Assim, pode-se dizer, com o Sr. Allan Kardec, que o Espiritismo é hoje um fato consumado. A árvore criou raízes. Só lhe resta desenvolver-se, e tudo concorre para lhe ser favorável, porque, malgrado as borrascas, o vento está a favor do Espiritismo. Seria preciso ser cego para não o reconhecer.
“Uma circunstância que contribuiu poderosamente para o seu desenvolvimento é que ele não é exclusivo de nenhuma religião. Sua divisa: Fora da caridade não há salvação pertence a todas; é, ao mesmo tempo, a bandeira da tolerância, da união e da fraternidade, em torno da qual todos podem ligar-se, sem renunciar à sua crença particular. Começa-se a compreender que é um penhor de segurança para a Sociedade.
“Quanto a mim, caros irmãos, vou mais longe e penso que concordareis comigo quando digo que quando todos os povos tiverem inscrito em sua bandeira: Fora da caridade não há salvação, a paz do mundo será garantida e todos os povos viverão como irmãos. Será apenas um belo sonho? Não, senhores, é a promessa feita pelo Cristo, e estamos nos dias de sua realização.
“Que somos nós, nós outros, no grande movimento que se opera? Somos obscuros obreiros, que levamos a nossa pedra ao edifício, mas quando milhões de obreiros tiverem levado milhões de pedras, o edifício estará concluído. Trabalhemos, pois, com zelo e perseverança, sem nos desencorajarmos com a pequenez do sulco que abrimos, pois inúmeros sulcos se traçam em redor de nós. “Permiti-me uma comparação material, que corresponde a este pensamento:
“No começo das estradas de ferro, cada pequena localidade queria ter o seu ramal. Cada um desses ramais pouco era em si mesmo, mas quando todos fossem interligados teríamos essa imensa rede que hoje cobre o mundo e derruba as barreiras dos povos.
“As estradas de ferro derrubaram as barreiras materiais. A palavra de ordem Fora da caridade não há salvação fará caírem as barreiras morais. Ela fará, acima de tudo, cessar o antagonismo religioso, causa de tantos ódios e de sangrentos conflitos, porque então, judeus, católicos, protestantes e muçulmanos estender-se-ão as mãos adorando, cada um à sua maneira, o único Deus de misericórdia e de paz que é o mesmo para todos.
“Como vedes, senhores e caros irmãos, o objetivo é grande. Restar-nos-ia examinar a organização de nossa pequena esfera, para transformá-la numa engrenagem útil ao conjunto. Para tanto, nossa tarefa é facilitada pelas instruções encontradas nas obras do nosso chefe venerando, e que, pode-se dizer, se tornaram as obras clássicas da doutrina. Seguindo-as pontualmente, estamos certos de não nos transviarmos numa falsa rota, porque essas instruções são o fruto da experiência. Assim, que cada um medite nessas obras cuidadosamente, e aí encontraremos tudo quanto nos é necessário. Aliás, tenho certeza que o apoio e os conselhos do mestre jamais nos faltarão.
“A nenhum de nós é permitido esquecer que se a esperança e a fé reentrarem na maioria dos corações; se muitos dentre nós fomos arrancados do materialismo e da incredulidade, devemo-lo a seu zelo e a sua coragem perseverante que nem as calúnias, nem as diatribes, nem os ataques de toda sorte abalaram. Ele foi o primeiro que soube compreender o imenso alcance do Espiritismo, e desde então tudo sacrificou para lhe espalhar os benefícios entre os seus irmãos na Terra. Digamo-lo: evidentemente ele foi escolhido para esse grande apostolado, pois é impossível desconhecer que cumpre entre nós uma missão moralizadora. Eu vos proponho, senhores, votar-lhe os agradecimentos que todos os verdadeiros e sinceros espíritas lhe devem. Ao mesmo tempo, peçamos a Deus que continue a sustentá-lo nesse empreendimento que somente ele tem condições de fazer frutificar em sua plenitude.
“Ainda algumas palavras, senhores, sobre o caráter desta reunião. A máxima que nos serve de guia é de natureza a tranquilizar aqueles a quem o nome do Espiritismo poderia afugentar. Com efeito, que se pode temer de pessoas que fazem do princípio da caridade para com todos, amigos e inimigos, a sua regra de conduta? E este princípio para nós é tão sério, que dele fazemos a condição expressa de nossa salvação. Não é o melhor penhor que possamos dar de nossas intenções pacíficas? Quem poderia ver com maus olhos, mesmo entre os que não compartilham de nossas crenças, pessoas que não pregam senão a tolerância, a união e a concórdia, e cujo único objetivo é o de reconduzir a Deus os que dele se afastam e de combater o materialismo e a incredulidade que invadem a Sociedade e a ameaçam em seus fundamentos?
“Dirijamo-nos, pois, aos que não creem, pois o campo da colheita é bastante vasto, como disse o Sr. Allan Kardec. Em virtude do princípio de caridade que nos serve de guia, guardemo-nos de perturbar qualquer consciência; acolhamos como irmãos os que vêm a nós, e não procuremos contrariar ninguém em sua fé religiosa. Não vimos erguer altar contra altar, mas levantar um onde não existe nenhum. Os que acharem bons os nossos princípios, adotá-los-ão. Os que os acharem maus, deixá-los-ão de lado, e nem por isso os consideraremos menos como irmãos. Se nos atirarem pedras, pediremos a Deus que lhes perdoe a falta de caridade e que lhes lembre o Evangelho e o exemplo de Jesus Cristo, Nosso Senhor, que orava por seus carrascos.
“Assim, pois, caros irmãos, oremos a fim de que Deus se digne estender sobre nós a sua misericórdia e nos perdoe as nossas faltas, como nós perdoarmos aos que nos querem mal. Digamos todos, do fundo do coração:
“Senhor Deus Todo-Poderoso, que ledes no íntimo das almas e vedes a pureza de nossas intenções, dignai-vos sustentar-nos em nossa obra e protegei o nosso chefe. Dai-nos a força de suportar com coragem e resignação, e como provas para a nossa Fé e nossa perseverança, as misérias que a malevolência poderia suscitar-nos. Fazei que, a exemplo dos primeiros mártires cristãos, estejamos prontos para todos os sacrifícios, para vos provar a nossa submissão à vossa santa vontade. Aliás, que são os sacrifícios dos bens deste mundo quando se tem, como devem tê-lo todos os espíritas sinceros, a certeza dos bens imperecíveis da vida futura! Fazei, Senhor, que as preocupações da vida terrena não nos desviem do caminho santo por onde nos conduzistes, e dignai-vos enviar-nos bons Espíritos para nos manterem no caminho do bem. Que a caridade, que é a vossa e a nossa lei, nos torne indulgentes para com as faltas dos nossos irmãos. Que ela abafe em nós todo sentimento de orgulho, de ódio, de inveja e de ciúme, e nos torne bons e benevolentes para com todos, a fim de que preguemos tanto pelo exemplo quanto pela palavra.”
Os delegados de diversos grupos da circunvizinhança se tinham reunido, nessa ocasião, aos seus novos irmãos em crença. Vários outros discursos foram pronunciados, todos testemunhando um perfeito entendimento do verdadeiro espírito do Espiritismo. Lamentamos que a carência de espaço não nos permita citá-los, assim como uma notável comunicação obtida na sessão e assinada por FrançoisNicolas Madeleine, que traça em termos simples e tocantes os deveres do verdadeiro espírita.
Em Lyon acaba de constituir-se um novo grupo em condições especiais que merecem ser assinaladas, como encorajamento e bom exemplo. Esse grupo tem um duplo objetivo: a instrução e a beneficência. Relativamente à instrução, ele se propõe consagrar uma parte menor que a geralmente destinada às comunicações mediúnicas, mas dedicar, em contrapartida, uma parte mais longa às instruções orais, visando desenvolver e explicar os princípios do Espiritismo. Relativamente à beneficência, a nova sociedade se propõe vir em auxílio às pessoas necessitadas, por meio de dádivas in natura de objetos usuais, tais como roupa branca, vestimenta, etc. Além do que ela puder recolher, as senhoras que dela fazem parte dão o seu contributo de trabalho pessoal na confecção de roupas, e por visitas domiciliares aos pobres doentes.
Um dos membros dessa sociedade nos escreve a respeito:
“Graças ao zelo da Sra. G..., em breve Lyon contará com mais uma reunião espírita. Alcançará ela o objetivo a que se propõe? O futuro decidirá. Se ela ainda é pouco numerosa, pelo menos conta com elementos devotados, cheios de fé e de caridade. Podemos fracassar no empreendimento, mas, aos menos, as intenções são boas. Para nós, bastará que a Sociedade de Paris, sob cuja égide nos colocamos, nos aprove e nos ajude com seus conselhos, para que perseveremos, ajudados por seu apoio moral.”
Este apoio jamais faltará a toda obra fundada no verdadeiro espírito do Espiritismo, e que tenha por objetivo a realização do bem. A Sociedade de Paris sempre se sente feliz ao ver a doutrina produzir bons frutos. Ela não declinará de toda a solidariedade senão em relação a grupos ou sociedades que, desconhecendo o princípio de caridade e de fraternidade, sem o qual não há verdadeiros espíritas, vissem as outras reuniões com maus olhos, lhes atirassem pedras ou procurassem denegri-las, sob um pretexto qualquer.
A caridade e a fraternidade se reconhecem pelas obras, e não pelas palavras. É uma medida de apreciação que não pode enganar senão aqueles que são cegos em relação a seu próprio mérito, mas não em relação a terceiros desinteressados. É a pedra de toque pela qual se reconhece a sinceridade de sentimentos. Em Espiritismo, quando se fala de caridade, sabe-se que não se fala apenas daquela que dá, mas também, e sobretudo, daquela que esquece e perdoa; que é benevolente e indulgente; que repudia todo sentimento de ciúme e rancor.
Toda reunião espírita que não se fundar sobre o princípio da verdadeira caridade, será mais prejudicial que útil à causa, porque tenderá a dividir, em vez de unir. Além do mais, ela conterá em si mesma o seu elemento destruidor.
Nossas simpatias pessoais serão sempre conquistadas por todos que provarem, por seus atos, o bom espírito que os anima, porque os bons Espíritos não podem inspirar senão o bem.
No próximo número falaremos de novas sociedades espíritas de Bruxelas, de Turim e de Esmirna, que igualmente se colocam sob o patrocínio da Sociedade de Paris.
Progresso nas primeiras encarnações
Pergunta. Duas almas criadas simples e ignorantes não conhecem o bem nem o mal ao virem à Terra. Se, nessa primeira existência, uma segue o caminho do bem e a outra o do mal, como, de certo modo, é o acaso que as conduz, elas não merecem castigo nem recompensa. Essa primeira viagem terrestre não deve ter servido senão para dar a cada uma delas a consciência de sua existência, consciência que antes não tinham.
Para ser lógico, seria preciso admitir que os castigos e as recompensas não começariam a ser infringidos ou concedidas senão a partir da segunda encarnação, quando os Espíritos já sabem distinguir o bem do mal, experiência que lhes faltava quando de sua criação, mas que adquiriam por meio da primeira encarnação. Tal opinião tem fundamento?
Resposta. Posto a pergunta já esteja resolvida pela Doutrina Espírita, vamos responder, para instrução de todos.
Ignoramos absolutamente em que condições se dão as primeiras encarnações da alma, porque é um dos princípios das coisas que estão nos segredos de Deus. Apenas sabemos que são criadas simples e ignorantes, tendo todas, assim, o mesmo ponto de partida, o que é conforme à justiça. O que também sabemos é que o livre-arbítrio só se desenvolve pouco a pouco, e após numerosas evoluções na vida corpórea. Não é, pois, nem após a primeira, nem após a segunda encarnação que a alma tem consciência bastante nítida de si mesma para ser responsável por seus atos. Pode ser que só aconteça após a centésima ou talvez após a milésima. Dá-se o mesmo com a criança, que não goza da plenitude de suas faculdades nem um nem dois dias após o nascimento, mas depois de anos. Além disto, quando a alma goza do livre-arbítrio, a responsabilidade cresce em razão do desenvolvimento de sua inteligência. É assim, por exemplo, que um selvagem que come os seus semelhantes é menos castigado que o homem civilizado que comete uma simples injustiça. Sem dúvida os nossos selvagens estão muito atrasados em relação a nós, contudo, já estão bem longe de seu ponto de partida.
Durante longos períodos, a alma encarnada é submetida à influência exclusiva do instinto de conservação. Pouco a pouco esses instintos se transformam em instintos inteligentes, ou melhor, se equilibram com a inteligência, e só mais tarde, e sempre gradativamente, a inteligência domina os instintos. Só então é que começa a séria responsabilidade.
Além disso, o autor da pergunta comete dois erros graves. O primeiro é o de admitir que o acaso decide do bom ou do mau caminho que o Espírito segue em seu princípio. Se houvesse acaso ou fatalidade, toda responsabilidade seria injusta. Como dissemos, o Espírito fica num estado inconsciente durante numerosas encarnações; a luz da inteligência só se faz pouco a pouco e a responsabilidade real só começa quando o Espírito age livremente e com conhecimento de causa.
O segundo erro é o de admitir que as primeiras encarnações humanas ocorram na Terra. A Terra foi, mas não é mais um mundo primitivo. Os mais atrasados seres humanos que se encontram na face da Terra já se despojaram dos primeiros cueiros da encarnação, e nossos selvagens estão em progresso, comparativamente ao que eram antes que seu Espírito viesse encarnar neste globo. Julgue-se agora o número de existências necessárias a esses selvagens para transporem todos os degraus que os separam da mais adiantada civilização. Todos esses degraus intermediários se acham na Terra sem solução de continuidade, e podem ser seguidos observando-se as nuanças que distinguem os vários povos. Só o começo e o fim aí não se encontram, e o começo se perde, para nós, nas profundezas do passado, que não nos é dado penetrar. Aliás, isto pouco importa, pois tal conhecimento nada significaria para nós em termos de evolução.
Nós não somos perfeitos, eis o que é positivo. Sabemos que nossas imperfeições são o único obstáculo à nossa felicidade futura. Estudemos, pois, a fim de nos aperfeiçoarmos.
No ponto em que estamos, a inteligência está bastante desenvolvida para permitir ao homem julgar criteriosamente o bem e o mal, e é também neste ponto que a sua responsabilidade é mais seriamente empenhada, porque não mais se pode dizer o que dizia Jesus: “Perdoai-lhes, Senhor, pois não sabem o que fazem.”
Para ser lógico, seria preciso admitir que os castigos e as recompensas não começariam a ser infringidos ou concedidas senão a partir da segunda encarnação, quando os Espíritos já sabem distinguir o bem do mal, experiência que lhes faltava quando de sua criação, mas que adquiriam por meio da primeira encarnação. Tal opinião tem fundamento?
Resposta. Posto a pergunta já esteja resolvida pela Doutrina Espírita, vamos responder, para instrução de todos.
Ignoramos absolutamente em que condições se dão as primeiras encarnações da alma, porque é um dos princípios das coisas que estão nos segredos de Deus. Apenas sabemos que são criadas simples e ignorantes, tendo todas, assim, o mesmo ponto de partida, o que é conforme à justiça. O que também sabemos é que o livre-arbítrio só se desenvolve pouco a pouco, e após numerosas evoluções na vida corpórea. Não é, pois, nem após a primeira, nem após a segunda encarnação que a alma tem consciência bastante nítida de si mesma para ser responsável por seus atos. Pode ser que só aconteça após a centésima ou talvez após a milésima. Dá-se o mesmo com a criança, que não goza da plenitude de suas faculdades nem um nem dois dias após o nascimento, mas depois de anos. Além disto, quando a alma goza do livre-arbítrio, a responsabilidade cresce em razão do desenvolvimento de sua inteligência. É assim, por exemplo, que um selvagem que come os seus semelhantes é menos castigado que o homem civilizado que comete uma simples injustiça. Sem dúvida os nossos selvagens estão muito atrasados em relação a nós, contudo, já estão bem longe de seu ponto de partida.
Durante longos períodos, a alma encarnada é submetida à influência exclusiva do instinto de conservação. Pouco a pouco esses instintos se transformam em instintos inteligentes, ou melhor, se equilibram com a inteligência, e só mais tarde, e sempre gradativamente, a inteligência domina os instintos. Só então é que começa a séria responsabilidade.
Além disso, o autor da pergunta comete dois erros graves. O primeiro é o de admitir que o acaso decide do bom ou do mau caminho que o Espírito segue em seu princípio. Se houvesse acaso ou fatalidade, toda responsabilidade seria injusta. Como dissemos, o Espírito fica num estado inconsciente durante numerosas encarnações; a luz da inteligência só se faz pouco a pouco e a responsabilidade real só começa quando o Espírito age livremente e com conhecimento de causa.
O segundo erro é o de admitir que as primeiras encarnações humanas ocorram na Terra. A Terra foi, mas não é mais um mundo primitivo. Os mais atrasados seres humanos que se encontram na face da Terra já se despojaram dos primeiros cueiros da encarnação, e nossos selvagens estão em progresso, comparativamente ao que eram antes que seu Espírito viesse encarnar neste globo. Julgue-se agora o número de existências necessárias a esses selvagens para transporem todos os degraus que os separam da mais adiantada civilização. Todos esses degraus intermediários se acham na Terra sem solução de continuidade, e podem ser seguidos observando-se as nuanças que distinguem os vários povos. Só o começo e o fim aí não se encontram, e o começo se perde, para nós, nas profundezas do passado, que não nos é dado penetrar. Aliás, isto pouco importa, pois tal conhecimento nada significaria para nós em termos de evolução.
Nós não somos perfeitos, eis o que é positivo. Sabemos que nossas imperfeições são o único obstáculo à nossa felicidade futura. Estudemos, pois, a fim de nos aperfeiçoarmos.
No ponto em que estamos, a inteligência está bastante desenvolvida para permitir ao homem julgar criteriosamente o bem e o mal, e é também neste ponto que a sua responsabilidade é mais seriamente empenhada, porque não mais se pode dizer o que dizia Jesus: “Perdoai-lhes, Senhor, pois não sabem o que fazem.”
Variedades
Devemos à gentileza do Sr. Flammarion a informação acerca de uma carta que lhe foi dirigida e que contém a seguinte passagem:
Provavelmente vos imaginais, caro senhor, ser o primeiro astrônomo que se tenha ocupado de Espiritismo. Desenganai-vos. Há um século e meio Fontenelle fazia tiptologia com a senhorita Letard, médium. Divertindo-me esta manhã a folhear um velho manual epistolar publicado por Philipon de la Madeleine, há cinquenta anos, encontrei uma carta da senhorita de Launai, que foi mais tarde Madame de Staël, dirigida pela duquesa do Maine ao secretário da Academia de Ciências, relativamente a uma aventura, da qual eis o resumo:
Em 1713 uma moça chamada Letard pretendia comunicar-se com os Espíritos, tal como Sócrates com o seu demônio. O Sr. Fontenelle foi ver essa moça, e como na conversa ele deixava transparecer dúvidas sobre essa espécie de charlatanismo, a Sra. de Maine, que não duvidava, encarregou a senhorita de Launai de lhe escrever a respeito disso.
PHILIPON DE LA MADELEINE
Sobre o fato encontra-se esta nota numa edição das obras escolhidas de Fontenelle, publicadas em Londres em 1761.
Uma jovem, chamada senhorita Letard, no começo do século, excitou a curiosidade do público por um suposto prodígio. Todos aí acorriam, e o Sr. Fontenelle, aconselhado pelo duque de Orléans, também foi ver a maravilha. É a respeito disso que a senhorita de Launai lhe havia escrito. Eis a carta:
“A aventura da senhorita Letard faz menos barulho, senhor, que o testemunho que destes. Admiram-se, e talvez com alguma razão, que o destruidor dos oráculos; que aquele que derrubou o tripé das sibilas, se tenha ajoelhado ante a senhorita Letard. Qual! dizem os críticos. Este homem que pôs bem a claro as fraudes feitas a mil léguas de distância e mais de dois mil anos antes dele, não pôde descobrir uma astúcia tramada aos seus olhos! Os finórios pretendem que, como bom pirrônico, achando tudo incerto, vós achais tudo possível. Por outro lado, os devotos parecem muito edificados com as homenagens que prestastes ao diabo. Eles esperam que isto vá mais longe. Por mim, senhor, suspendo o julgamento até ser melhor esclarecida.”
Resposta do Sr. Fontenelle:
“Terei a honra, senhorita, de vos responder a mesma coisa que respondi a um de meus amigos, que me escreveu de Marly, no dia seguinte ao em que estive em casa do Espírito. Eu mandei dizer-lhe que tinha ouvido ruídos, cuja mecânica não conhecia, mas que, para decidir, seria necessário um exame mais exato do que aquele que eu havia feito, e repeti-lo. Não mudei de linguagem, mas porque não concluí absolutamente que era um artifício, acusaram-me de crer que fosse um duende, e como o público não se detém em tão belo caminho, a mim atribuíram o que eu não havia dito. Não há grande mal nisso. Se erraram atribuindo-me declarações que não fiz, fizeram-me a honra de chamar a atenção sobre mim, e uma coisa compensa a outra. Eu não imaginei que o fato de ter desacreditado as velhas profetizas de Delfos fosse um estímulo para destruir uma jovem viva e da qual só se tinha falado bem. Se, entretanto, acham que faltei ao meu dever, de outra vez terei um tom mais impiedoso e mais filosófico. Há muito censuram minha pouca severidade. É preciso que eu seja mesmo incorrigível, pois que a idade, a experiência e as injustiças do mundo nada fazem. Eis, senhorita, tudo quanto vos posso dizer sobre o Espírito que me atraiu com uma carta que eu suspeitava de boa vontade ter sido ditada, porque, enfim, eu não estou longe de crer nisto. Assim, quando me vier um demônio familiar, eu vo-lo direi com mais graça e num tom mais engenhoso, mas não mais sinceramente que sou, etc.”
OBSERVAÇÃO: Como se vê, Fontenelle não se pronuncia pró nem contra, mas limita-se a constatar o fato. Era a prudência, que falta à maioria dos negadores de nossa época, que cortam aquilo que nem mesmo se deram ao trabalho de observar, com o risco de mais tarde receberem o desmentido da experiência. Entretanto, é evidente que ele se inclina pela afirmativa, coisa notável para um homem da sua posição e no século do cepticismo por excelência. Longe de acusar a senhorita Letard de charlatanismo, ele reconhece que dela só falavam bem. Talvez ele estivesse mais convencido do que deixava transparecer e fosse detido apenas por medo do ridículo, tão poderoso naquela época. Contudo, era preciso que estivesse muito abalado para não dizer claramente que era uma charlatanice. Ora, sobre este ponto sua opinião é importante. Afastada a questão de charlatanismo, torna-se evidente que a senhorita Letard era médium espontânea do gênero das irmãs Fox.
Provavelmente vos imaginais, caro senhor, ser o primeiro astrônomo que se tenha ocupado de Espiritismo. Desenganai-vos. Há um século e meio Fontenelle fazia tiptologia com a senhorita Letard, médium. Divertindo-me esta manhã a folhear um velho manual epistolar publicado por Philipon de la Madeleine, há cinquenta anos, encontrei uma carta da senhorita de Launai, que foi mais tarde Madame de Staël, dirigida pela duquesa do Maine ao secretário da Academia de Ciências, relativamente a uma aventura, da qual eis o resumo:
Em 1713 uma moça chamada Letard pretendia comunicar-se com os Espíritos, tal como Sócrates com o seu demônio. O Sr. Fontenelle foi ver essa moça, e como na conversa ele deixava transparecer dúvidas sobre essa espécie de charlatanismo, a Sra. de Maine, que não duvidava, encarregou a senhorita de Launai de lhe escrever a respeito disso.
PHILIPON DE LA MADELEINE
Sobre o fato encontra-se esta nota numa edição das obras escolhidas de Fontenelle, publicadas em Londres em 1761.
Uma jovem, chamada senhorita Letard, no começo do século, excitou a curiosidade do público por um suposto prodígio. Todos aí acorriam, e o Sr. Fontenelle, aconselhado pelo duque de Orléans, também foi ver a maravilha. É a respeito disso que a senhorita de Launai lhe havia escrito. Eis a carta:
“A aventura da senhorita Letard faz menos barulho, senhor, que o testemunho que destes. Admiram-se, e talvez com alguma razão, que o destruidor dos oráculos; que aquele que derrubou o tripé das sibilas, se tenha ajoelhado ante a senhorita Letard. Qual! dizem os críticos. Este homem que pôs bem a claro as fraudes feitas a mil léguas de distância e mais de dois mil anos antes dele, não pôde descobrir uma astúcia tramada aos seus olhos! Os finórios pretendem que, como bom pirrônico, achando tudo incerto, vós achais tudo possível. Por outro lado, os devotos parecem muito edificados com as homenagens que prestastes ao diabo. Eles esperam que isto vá mais longe. Por mim, senhor, suspendo o julgamento até ser melhor esclarecida.”
Resposta do Sr. Fontenelle:
“Terei a honra, senhorita, de vos responder a mesma coisa que respondi a um de meus amigos, que me escreveu de Marly, no dia seguinte ao em que estive em casa do Espírito. Eu mandei dizer-lhe que tinha ouvido ruídos, cuja mecânica não conhecia, mas que, para decidir, seria necessário um exame mais exato do que aquele que eu havia feito, e repeti-lo. Não mudei de linguagem, mas porque não concluí absolutamente que era um artifício, acusaram-me de crer que fosse um duende, e como o público não se detém em tão belo caminho, a mim atribuíram o que eu não havia dito. Não há grande mal nisso. Se erraram atribuindo-me declarações que não fiz, fizeram-me a honra de chamar a atenção sobre mim, e uma coisa compensa a outra. Eu não imaginei que o fato de ter desacreditado as velhas profetizas de Delfos fosse um estímulo para destruir uma jovem viva e da qual só se tinha falado bem. Se, entretanto, acham que faltei ao meu dever, de outra vez terei um tom mais impiedoso e mais filosófico. Há muito censuram minha pouca severidade. É preciso que eu seja mesmo incorrigível, pois que a idade, a experiência e as injustiças do mundo nada fazem. Eis, senhorita, tudo quanto vos posso dizer sobre o Espírito que me atraiu com uma carta que eu suspeitava de boa vontade ter sido ditada, porque, enfim, eu não estou longe de crer nisto. Assim, quando me vier um demônio familiar, eu vo-lo direi com mais graça e num tom mais engenhoso, mas não mais sinceramente que sou, etc.”
OBSERVAÇÃO: Como se vê, Fontenelle não se pronuncia pró nem contra, mas limita-se a constatar o fato. Era a prudência, que falta à maioria dos negadores de nossa época, que cortam aquilo que nem mesmo se deram ao trabalho de observar, com o risco de mais tarde receberem o desmentido da experiência. Entretanto, é evidente que ele se inclina pela afirmativa, coisa notável para um homem da sua posição e no século do cepticismo por excelência. Longe de acusar a senhorita Letard de charlatanismo, ele reconhece que dela só falavam bem. Talvez ele estivesse mais convencido do que deixava transparecer e fosse detido apenas por medo do ridículo, tão poderoso naquela época. Contudo, era preciso que estivesse muito abalado para não dizer claramente que era uma charlatanice. Ora, sobre este ponto sua opinião é importante. Afastada a questão de charlatanismo, torna-se evidente que a senhorita Letard era médium espontânea do gênero das irmãs Fox.
A passagem seguinte, tirada de Santo Atanásio, patriarca de Alexandria, um dos pais da Igreja Grega, parece ter sido escrita sob a inspiração das ideias espíritas de hoje.
“A alma não morre, mas o corpo morre quando ela dele se afasta. A alma é para si mesma seu próprio motor; o movimento da alma é a vida. Mesmo quando prisioneira do corpo e como que a ele ligada, ela não se limita às suas estreitas proporções e aí não se encerra, mas, muitas vezes, quando o corpo jaz imóvel e como que inanimado, ela fica desperta por sua própria virtude; e, saindo da matéria, posto que a ela ainda ligada, ela concebe e contempla existências além do globo terrestre; ela vê os santos desprendidos do envoltório dos corpos; ela vê os anjos e a eles sobe, na liberdade de sua pura inocência.
“Inteiramente separada do corpo, e quando a Deus aprouver tirar-lhe a cadeia que ele lhe impõe, não terá ela, eu vos pergunto, uma visão muito mais clara de sua natureza imortal? Se hoje mesmo, e nos entraves da carne, ela já vive uma vida completamente exterior, viverá muito mais após a morte do corpo, graças a Deus que, por seu Verbo, a fez assim. Ela compreende, ela abarca em si as ideias de eternidade, as ideias de infinito, porque ela é imortal. Da mesma forma que o corpo, que é mortal, só percebe o material e perecível, a alma, que vê e medita sobre as coisas imortais, é necessariamente imortal e viverá sempre, porque os pensamentos e as imagens de imortalidade jamais a deixam e nela são como um foco vivo, que assegura e alimenta a sua imortalidade.”
(Sanct. Athan. Oper., tomo I, pág. 32. ─ VILLEMAIN, Quadro da eloquência cristã no século IV).
Com efeito, não está aí um quadro exato da radiação exterior da alma durante a vida corporal, e de sua emancipação no sono, no êxtase, no sonambulismo e na catalepsia? O Espiritismo diz exatamente a mesma coisa, e o prova pela experiência.
Com as ideias esparsas contidas na Bíblia, nos Evangelhos, nos Apóstolos e nos Pais da Igreja, sem falar dos escritores profanos, pode-se constituir toda a Doutrina Espírita moderna.
Os comentários feitos a esses escritos, geralmente o foram de um ponto de vista exclusivo e com ideias preconcebidas, e muitos neles não viram senão o que queriam ver, ou lhes faltava a chave necessária para ver outra coisa. Hoje, no entanto, o Espiritismo é a chave que dá o verdadeiro sentido das passagens mal compreendidas.
Até o presente, esses fragmentos são recolhidos parcialmente, mas dia virá em que homens de paciência e de saber, e cuja autoridade não poderá ser ignorada, farão desse estudo o objeto de um trabalho especial e completo que projetará luz sobre todas essas questões, e ante a evidência claramente demonstrada, será forçoso render-se.
Acreditamos poder dizer que esse trabalho considerável será obra de membros eminentes da Igreja, que receberão esta missão, porque compreenderão que a religião deve ser progressiva como a Humanidade, sob pena de ser superada, porque há ideias retrógradas em religião como em política. Em tal caso, não avançar é recuar.
Os incrédulos surgem precisamente porque a religião colocou-se fora do movimento científico e progressivo. Ela faz mais, porque declara que esse movimento é obra do demônio, e sempre o combateu. Disso resultou que a Ciência, repelida pela religião, por sua vez repeliu a religião. Daí resulta um antagonismo que não cessará senão quando a religião compreender que não só deve marchar com o progresso, mas ser um elemento do progresso. Todo mundo acreditará em Deus quando ela não o apresentar em contradição com as leis da Natureza, que são obra sua.
“A alma não morre, mas o corpo morre quando ela dele se afasta. A alma é para si mesma seu próprio motor; o movimento da alma é a vida. Mesmo quando prisioneira do corpo e como que a ele ligada, ela não se limita às suas estreitas proporções e aí não se encerra, mas, muitas vezes, quando o corpo jaz imóvel e como que inanimado, ela fica desperta por sua própria virtude; e, saindo da matéria, posto que a ela ainda ligada, ela concebe e contempla existências além do globo terrestre; ela vê os santos desprendidos do envoltório dos corpos; ela vê os anjos e a eles sobe, na liberdade de sua pura inocência.
“Inteiramente separada do corpo, e quando a Deus aprouver tirar-lhe a cadeia que ele lhe impõe, não terá ela, eu vos pergunto, uma visão muito mais clara de sua natureza imortal? Se hoje mesmo, e nos entraves da carne, ela já vive uma vida completamente exterior, viverá muito mais após a morte do corpo, graças a Deus que, por seu Verbo, a fez assim. Ela compreende, ela abarca em si as ideias de eternidade, as ideias de infinito, porque ela é imortal. Da mesma forma que o corpo, que é mortal, só percebe o material e perecível, a alma, que vê e medita sobre as coisas imortais, é necessariamente imortal e viverá sempre, porque os pensamentos e as imagens de imortalidade jamais a deixam e nela são como um foco vivo, que assegura e alimenta a sua imortalidade.”
(Sanct. Athan. Oper., tomo I, pág. 32. ─ VILLEMAIN, Quadro da eloquência cristã no século IV).
Com efeito, não está aí um quadro exato da radiação exterior da alma durante a vida corporal, e de sua emancipação no sono, no êxtase, no sonambulismo e na catalepsia? O Espiritismo diz exatamente a mesma coisa, e o prova pela experiência.
Com as ideias esparsas contidas na Bíblia, nos Evangelhos, nos Apóstolos e nos Pais da Igreja, sem falar dos escritores profanos, pode-se constituir toda a Doutrina Espírita moderna.
Os comentários feitos a esses escritos, geralmente o foram de um ponto de vista exclusivo e com ideias preconcebidas, e muitos neles não viram senão o que queriam ver, ou lhes faltava a chave necessária para ver outra coisa. Hoje, no entanto, o Espiritismo é a chave que dá o verdadeiro sentido das passagens mal compreendidas.
Até o presente, esses fragmentos são recolhidos parcialmente, mas dia virá em que homens de paciência e de saber, e cuja autoridade não poderá ser ignorada, farão desse estudo o objeto de um trabalho especial e completo que projetará luz sobre todas essas questões, e ante a evidência claramente demonstrada, será forçoso render-se.
Acreditamos poder dizer que esse trabalho considerável será obra de membros eminentes da Igreja, que receberão esta missão, porque compreenderão que a religião deve ser progressiva como a Humanidade, sob pena de ser superada, porque há ideias retrógradas em religião como em política. Em tal caso, não avançar é recuar.
Os incrédulos surgem precisamente porque a religião colocou-se fora do movimento científico e progressivo. Ela faz mais, porque declara que esse movimento é obra do demônio, e sempre o combateu. Disso resultou que a Ciência, repelida pela religião, por sua vez repeliu a religião. Daí resulta um antagonismo que não cessará senão quando a religião compreender que não só deve marchar com o progresso, mas ser um elemento do progresso. Todo mundo acreditará em Deus quando ela não o apresentar em contradição com as leis da Natureza, que são obra sua.
Num artigo político muito sério sobre a Polônia, assinado por Bonneau e publicado na Opinion Nationale de 10 de novembro de 1863, lê-se a seguinte passagem:
“Que Francisco José evoque a sombra de sua avó; que peça conselho a Maria Tereza, alma sofredora perseguida pelo remorso da Polônia desmembrada, e a luz far-se-á de repente aos seus olhos”.
Estas palavras dispensam comentários. Tínhamos razão de dizer, mais acima, que a ideia espírita manifesta-se por toda parte. As pessoas são arrastadas pare ela, e em breve ela transbordará.
“Que Francisco José evoque a sombra de sua avó; que peça conselho a Maria Tereza, alma sofredora perseguida pelo remorso da Polônia desmembrada, e a luz far-se-á de repente aos seus olhos”.
Estas palavras dispensam comentários. Tínhamos razão de dizer, mais acima, que a ideia espírita manifesta-se por toda parte. As pessoas são arrastadas pare ela, e em breve ela transbordará.
Lê-se na Histoire de Saint Martial[1], apóstolo das Gálias e notadamente da Aquitânia e do Limousin, pelo Rev. Pe. Bonaventure de Saint-Amable, carmelita descalço, 3ª parte, pág. 752:
“No ano de 1518, no mês de dezembro, em casa de Pierre Juge, negociante de Limoges, um Espírito, durante quinze dias, fazia grande barulho, batendo nas portas e nas tábuas do assoalho e mudando os utensílios de um lugar para outro. Vários religiosos ali foram dizer missa e velar à noite, com círios acesos e água benta, sem que ele se tivesse decidido a falar.
“Um rapaz de dezesseis anos, natural de Ussel, que servia àquele negociante, confessou que aquele Espírito o havia molestado muitas vezes, em sua casa e em vários outros lugares, e acrescentou que um seu parente, que o tinha feito herdeiro, havia morrido na guerra e tinha aparecido muitas vezes a diversos de seus parentes e havia batido em sua irmã, que faleceu três dias depois. Tendo o dito negociante Juge despedido o rapaz, todo esse barulho cessou”.
Evidentemente o jovem era médium inconsciente, de efeitos físicos, como sempre os houve. O conhecimento das leis que regem as relações do mundo visível com o mundo invisível faz com que todos esses fatos supostamente maravilhosos entrem no domínio das leis naturais.
“No ano de 1518, no mês de dezembro, em casa de Pierre Juge, negociante de Limoges, um Espírito, durante quinze dias, fazia grande barulho, batendo nas portas e nas tábuas do assoalho e mudando os utensílios de um lugar para outro. Vários religiosos ali foram dizer missa e velar à noite, com círios acesos e água benta, sem que ele se tivesse decidido a falar.
“Um rapaz de dezesseis anos, natural de Ussel, que servia àquele negociante, confessou que aquele Espírito o havia molestado muitas vezes, em sua casa e em vários outros lugares, e acrescentou que um seu parente, que o tinha feito herdeiro, havia morrido na guerra e tinha aparecido muitas vezes a diversos de seus parentes e havia batido em sua irmã, que faleceu três dias depois. Tendo o dito negociante Juge despedido o rapaz, todo esse barulho cessou”.
Evidentemente o jovem era médium inconsciente, de efeitos físicos, como sempre os houve. O conhecimento das leis que regem as relações do mundo visível com o mundo invisível faz com que todos esses fatos supostamente maravilhosos entrem no domínio das leis naturais.
[1] História de São Marcial, não traduzida para a nossa língua. N. do T.