Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1864

Allan Kardec

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Abril

À Venda - Imitação do evangelho segundo o Espiritismo
Contendo a explicação das máximas morais do Cristo, sua concordância com o Espiritismo e sua aplicação às várias posições da vida.



Por ALLAN KARDEC

Com esta epígrafe:

“Não há fé inabalável senão a que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade.”

Abstendo-nos de qualquer reflexão sobre esta obra, limitamo-nos a extrair da introdução a parte que indica o seu objetivo.

“Podem dividir-se as matérias contidas nos Evangelhos em quatro partes: Os atos comuns do vida do Cristo, os milagres, as predições, o ensino moral.[1] Se as primeiras foram objeto de controvérsias, a última ficou inatacável. Ante esse código divino, a própria incredulidade se inclina; é o terreno onde todos os cultos podem encontrar-se, a bandeira sob a qual todos podem abrigar-se, sejam quais forem suas crenças, pois jamais foi assunto de disputas religiosas, sempre e em toda parte levantadas por questões de dogmas. Aliás, discutindo-os, as seitas aí teriam encontrado sua própria condenação, porque em sua maioria se apegaram mais à parte mística do que à parte moral, que exige a reforma de si mesmo.

Para os homens, em particular, é uma regra de conduta que abraça todas as circunstâncias da vida, particular ou pública, o princípio de todas as relações sociais baseadas na mais rigorosa justiça; é, enfim, e acima de tudo, a rota infalível da felicidade futura, uma ponta do véu levantada sobre a vida futura. É esta parte que constitui o objeto exclusivo desta obra.

“Todos admiram a moral evangélica. Cada um proclama a sua sublimidade e a sua necessidade, mas muitos o fazem confiados no que ouviram dizer, ou na fé em algumas máximas tornadas proverbiais, mas poucos a conhecem a fundo, menos ainda a compreendem e lhe sabem deduzir as consequências. A razão disto está em grande parte na dificuldade apresentada pela leitura do Evangelho, ininteligível para o maior número. A forma alegórica, o intencional misticismo da linguagem, fazem que a maioria das pessoas o leiam por desencargo de consciência e por dever, como leem as preces sem compreendê-las, isto é, sem proveito. Os preceitos de moral, disseminados aqui e ali, confundidos na massa de outros relatos, passam despercebidos. Então é impossível apreendê-los em conjunto e deles fazer objeto de uma leitura e de uma meditação separadas.

“É verdade que fizeram tratados de moral evangélica, mas o arranjo em estilo literário moderno lhes tira a singeleza primitiva que constitui ao mesmo tempo o seu encanto e a sua autenticidade. Há, até, máximas destacadas, reduzidas à sua expressão mais simples de provérbio, que assim não passam de aforismos que perdem uma parte de seu valor e de seu interesse, pela ausência dos acessórios e das circunstâncias em que foram dados.

“Para obviar esses inconvenientes, reunimos nesta obra os versículos que podem constituir, a bem dizer, um código de moral universal, sem distinção de culto. Nas citações, conservamos tudo o que era útil ao desenvolvimento do pensamento, não eliminando senão o que era estranho ao assunto. Além disso, respeitamos escrupulosamente a tradução original de Sacy[2], bem como a divisão dos versículos. Mas, em vez de nos atermos a uma ordem cronológica impossível e sem vantagem real em tal assunto, as máximas foram agrupadas e classificadas metodicamente, segundo a sua natureza, de modo que, tanto quanto possível, umas se deduzam das outras. A referência dos números de ordem dos capítulos e dos versículos permite recorrer à classificação vulgar, se se quiser.

“Isto não passava de um trabalho material que, só, teria tido uma utilidade secundária. O essencial era o pôr ao alcance de todos, pela explicação das passagens obscuras e pelo desenvolvimento de todas as consequências visando a aplicação às diversas posições da vida. Foi o que tentamos fazer com o auxílio dos bons Espíritos que nos assistem.

“Muitos pontos da Bíblia, do Evangelho e de autores sacros em geral são ininteligíveis e até mesmo parecem irracionais apenas por falta da chave para compreender o seu verdadeiro sentido. Essa chave está inteiramente no Espiritismo, assim como já se puderam convencer os que o estudaram seriamente, e como, mais tarde, melhor será reconhecido.

“O Espiritismo se encontra por toda parte, na Antiguidade e em todos os períodos da Humanidade. Por toda parte se acham os seus traços escritos, nas crenças e nos monumentos. É por isso que, se ele abre horizontes novos para o futuro, ele lança uma luz não menos viva sobre os mistérios do passado.

“Como complemento de cada preceito, adicionamos algumas instruções escolhidas entre as que foram ditadas pelos Espíritos em diversos países e através de diversos médiuns. Se essas instruções tivessem saído de uma fonte única, elas poderiam ter sofrido uma influência pessoal ou do meio, ao passo que a diversidade de origens prova que os Espíritos dão o seu ensino em toda parte, e que ninguém, a esse respeito, é privilegiado.

“Esta obra é para uso de todos. Cada um pode aí colher os meios de conformar sua conduta à moral do Cristo. Além disto, os espíritas aí encontram as aplicações que mais especialmente lhes concernem. Graças às comunicações doravante estabelecidas de maneira permanente entre os homens e o mundo invisível, a lei evangélica ensinada em todas as nações pelos próprios Espíritos não mais será letra morta, porque cada um a compreenderá e necessariamente será solicitado a pô-la em prática, a conselho de seus guias espirituais.

As instruções dos Espíritos são verdadeiramente as vozes do céu que vêm esclarecer os homens e convidá-los à imitação do Evangelho.”



[1] Posteriormente, o Sr. Allan Kardec modificou a divisão em cinco partes, incluindo em quarto lugar os trechos que serviram à Igreja para o estabelecimento de seus dogmas. Vide a nossa tradução, edição de “O Pensamento”. N. do Tradutor.


[2] A tradução de Sacy é católica e corresponde, quanto à aceitação, à versão brasileira de Figueiredo, mas há entre elas ligeiras diferenças, que não alteram o sentido. Em nossa tradução da obra acima para “O Pensamento”, não havia razões para que traduzíssemos a tradução de Sacy. Então transpusemos a de Figueiredo. N. do T.



Controle universal do ensino dos Espíritos

Já abordamos esta questão em nosso último número, a propósito de um artigo especial (Da perfeição dos seres criados), mas ela é de tal importância, tem consequências de tal magnitude para o futuro do Espiritismo, que julgamos dever tratá-la de modo mais completo.

Se a Doutrina Espírita fosse uma concepção puramente humana, não teria como garantia senão as luzes de quem a tivesse concebido. Ora, ninguém aqui poderia ter a pretensão fundada de possuir, ele só, a verdade absoluta. Se os Espíritos que a revelaram se tivessem manifestado a um só homem, nada garantiria a sua origem, pois seria preciso crer sob palavra naquele que dissesse ter recebido seu ensino. Admitindo de sua parte uma perfeita sinceridade, quando muito poderia convencer as pessoas de seu ambiente. Poderia ter sectários, mas não conseguiria jamais atrair todo mundo.

Quis Deus que a nova revelação chegasse aos homens por uma via mais rápida e mais autêntica. Eis por que encarregou os Espíritos de levá-la de um a outro polo, manifestando-se por toda parte, sem dar a ninguém o privilégio exclusivo de ouvir a sua palavra. Um homem pode ser enganado, pode mesmo enganar-se, mas assim não poderia ser quando milhões de homens veem e ouvem a mesma coisa. É uma garantia para cada um e para todos. Ademais, pode-se fazer um homem desaparecer, mas não se pode fazer desaparecerem as massas; pode-se queimar livros, mas não se pode queimar os Espíritos. Ora, se se queimassem todos os livros, a fonte da doutrina não ficaria menos inesgotável, porque ela não está na Terra, surge por toda parte e cada um pode aproveitá-la. Na falta de homens para a espalhar, haverá sempre os Espíritos que atingem todo o mundo e que ninguém pode atingir.

Na realidade, são os próprios Espíritos que fazem a propaganda, auxiliados por inumeráveis médiuns que suscitam por todos os lados. Se eles tivessem tido um intérprete único, por mais favorecido que fosse, o Espiritismo mal seria conhecido. Esse intérprete mesmo, fosse de que classe fosse, teria sido objeto de prevenções por parte de muita gente. Nem todas as nações os teriam aceito, ao passo que os Espíritos, comunicando-se por toda parte, a todos os povos, a todas as seitas e a todos os partidos, são aceitos por todos.

O Espiritismo não tem nacionalidade. Ele é alheio a todos os cultos particulares; ele não é imposto por nenhuma classe da Sociedade, pois cada um pode receber instruções de parentes e amigos de além-túmulo. Era preciso que ele assim fosse, para que pudesse chamar todos os homens à fraternidade. Se ele não se tivesse colocado em terreno neutro, teria mantido dissensões, em vez de apaziguá-las.

Essa universalidade do ensino dos Espíritos constitui a força do Espiritismo. Aí também está a causa de sua propagação tão rápida, ao passo que a voz de um só homem, mesmo com o auxílio da imprensa, teria levado séculos para chegar a todos os ouvidos, eis que milhares de vozes se fazem ouvir simultaneamente em todos os pontos da Terra, para proclamar os mesmos princípios e transmiti-los aos mais ignorantes, como aos mais sábios, a fim de que ninguém fique deserdado. É uma vantagem de que não gozou nenhuma das doutrinas até hoje aparecidas. Se, pois, o Espiritismo é uma verdade, ele não teme nem a má vontade dos homens nem as revoluções morais nem os desmoronamentos físicos do globo, porque nenhuma dessas coisas pode atingir os Espíritos.

Mas esta não é a única vantagem resultante dessa posição excepcional. O Espiritismo aí encontra uma onipotente garantia contra os cismas que poderiam suscitar a ambição de certas pessoas ou as contradições de certos Espíritos. Seguramente essas contradições são um escolho, mas que leva em si o remédio ao lado do mal.

Sabe-se que os Espíritos, por força da diferença existente em suas capacidades, estão longe de estar individualmente na posse de toda a verdade; que nem a todos é dado penetrar certos mistérios; que seu saber é proporcional à sua depuração; que os Espíritos vulgares não sabem mais que os homens e até menos que certos homens; que entre eles, como entre estes, há presunçosos e pseudossábios que creem saber o que não sabem; sistemáticos que tomam suas ideias como verdades; enfim, que os Espíritos da ordem mais elevada, os que estão completamente desmaterializados, são os únicos que se despojaram das ideias e preconceitos terrenos. Mas sabe-se, também, que os Espíritos enganadores não têm escrúpulo em esconder-se sob nomes de empréstimo, para fazerem aceitas as suas utopias. Disso resulta que, para tudo quanto esteja fora do ensino exclusivamente moral, as revelações que cada um pode obter têm um caráter individual sem autenticidade; que elas devem ser consideradas como opinião pessoal de tal ou qual Espírito, e que seria imprudente aceitá-las e promulgá-las levianamente como verdades absolutas.

O primeiro controle é, sem sombra de dúvida, o da razão, ao qual é preciso submeter, sem exceção, tudo quanto vem dos Espíritos. Toda teoria em manifesta contradição com o bom-senso, com uma lógica rigorosa e com os dados positivos que se possui, por mais respeitável que seja a sua assinatura, deve ser rejeitada. Mas esse controle é incompleto em muitos casos, por força da insuficiência das luzes de certas pessoas e da tendência de muitos a tomar seu próprio julgamento por único árbitro da verdade. Em tal caso, que fazem os homens que não têm absoluta confiança em si próprios? Seguem a opinião da maioria, e a opinião da maioria é o seu guia. Assim deve ser a respeito do ensino dos Espíritos, que nos fornecem, eles próprios, os meios.

A concordância no ensino dos Espíritos é, pois, o melhor controle, mas ainda é preciso que ocorra em certas condições. A menos segura de todas é quando um médium interroga, ele próprio, vários Espíritos, sobre um ponto duvidoso. É evidente que se estiver sob o império de uma obsessão, e se ele tratar com um Espírito enganador, esse Espírito lhe pode dizer a mesma coisa com nomes diversos.

Também não há garantia suficiente na conformidade obtida pelos médiuns de um mesmo centro, porque eles podem sofrer a mesma influência. A única séria garantia está na concordância que existe entre as revelações espontâneas feitas por intermédio de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em diversas regiões.

Compreende-se que aqui não se trata de comunicações relativas a interesses secundários, mas do que se liga aos princípios mesmos da doutrina. Prova a experiência que quando um princípio novo deve ter a sua solução, é ensinado espontaneamente em diversos pontos ao mesmo tempo e de maneira idêntica, senão na forma, ao menos no fundo. Se, pois, a um Espírito agrada formular um sistema excêntrico, baseado em suas próprias ideias e fora da verdade, podemos estar certos de que o sistema ficará circunscrito e cairá ante a unanimidade das instruções dadas por toda parte, como já houve vários exemplos.

É essa unanimidade que faz caírem todos os sistemas parciais nascidos na origem do Espiritismo, quando cada um explicava os fenômenos à sua maneira, e antes que fossem conhecidas as leis que regem as relações entre o mundo visível e o invisível.

Tal a base em que nos apoiamos quando formulamos um princípio da doutrina. Não o damos como verdadeiro por estar em conformidade com as nossas ideias; não nos colocamos absolutamente como árbitro supremo da verdade, e a ninguém dizemos: “Crede nisto porque o dizemos.” Nossa opinião, aos nossos olhos, não passa de uma opinião pessoal que pode ser justa ou falsa, pelo simples fato de não sermos mais infalível que qualquer outro. Também não é por que um princípio nos é ensinado que para nós é a verdade, mas porque recebeu a sanção da concordância.

Esse controle universal é uma garantia para a futura unidade do Espiritismo e anulará todas as teorias contraditórias. É aí que, no futuro, será procurado o critério da verdade. O que fez o sucesso da doutrina formulada no Livro dos Espíritos e no Livro dos médiuns é que por toda parte cada um pôde receber dos Espíritos, diretamente, a confirmação do que eles encerram. Se de todos os lados os Espíritos tivessem vindo contradizê-los, de há muito esses livros teriam tido a sorte de todas as concepções fantásticas. O próprio apoio da imprensa não os teria salvo do naufrágio, ao passo que, privados desse apoio, nem por isto deixaram de fazer um caminho rápido, porque tiveram o dos Espíritos, cuja boa vontade compensou com sobra a má vontade dos homens. Assim será com todas as ideias emanadas dos Espíritos ou dos homens que não puderem suportar a prova desse controle cujo poder ninguém pode contestar.

Suponhamos, pois, que praza a certos Espíritos ditar, sob um título qualquer, um livro em sentido contrário. Suponhamos mesmo que, numa intenção hostil, e visando desacreditar a doutrina, a malevolência suscitasse comunicações apócrifas. Que influência poderiam ter esses escritos, se são desmentidos de todos os lados pelos Espíritos? É da adesão destes últimos que seria necessário assegurar-se, antes de lançar um sistema em seu nome. Do sistema de um só ao de todos há uma distância da unidade ao infinito.

Que podem todos os argumentos dos detratores sobre a opinião das massas, quando milhões de vozes amigas, partidas do espaço, vêm de todos os pontos do globo e no seio de cada família para contraditá-las? Sob esse ponto, a experiência já não confirmou a teoria? O que se tornaram todas as publicações que se diziam vir aniquilar o Espiritismo? Qual a que lhe deteve a marcha? Até hoje a questão não tinha sido encarada sob este ponto de vista, sem dúvida um dos mais sérios. Cada um contou consigo, mas não com os Espíritos.

Ressalta de tudo isto uma verdade capital: Qualquer pessoa que quisesse oporse à corrente das ideias estabelecidas e sancionadas, poderia bem causar uma pequena perturbação local e momentânea, mas nunca dominar o conjunto, mesmo no presente e ainda menos no futuro.

Ressalta, ainda, que as instruções dadas pelos Espíritos sobre pontos da doutrina ainda não elucidados não poderiam constituir lei enquanto ficassem isoladas, e que consequentemente não devem ser aceitas senão com todas as reservas e a título de informação.

Daí a necessidade de dar à sua publicação a maior prudência, e, caso se julgasse dever publicá-las, importa não apresentá-las senão como opiniões individuais, mais ou menos prováveis, mas tendo, em todo o caso, necessidade de confirmação. É essa confirmação que se deve esperar, antes de apresentar um princípio como verdade absoluta, se não se quiser ser acusado de leviandade ou de irrefletida credulidade.

Em suas revelações, os Espíritos superiores procedem com extrema sabedoria. Eles só abordam as grandes questões da doutrina gradativamente, à medida que a inteligência se torna apta a compreender verdades de uma ordem mais elevada, e que as circunstâncias sejam propícias à emissão de uma ideia nova. Eis por que, desde o começo, não disseram tudo, e até hoje não o disseram, jamais cedendo à impaciência de criaturas muito apressadas que querem colher os frutos antes de sua maturação. Seria, pois, supérfluo querer precipitar o tempo marcado a cada coisa pela Providência, porque então os Espíritos realmente sérios positivamente recusam o seu concurso. Os Espíritos levianos, no entanto, pouco se incomodando com a verdade, a tudo respondem. É por essa razão que sobre todas as questões prematuras, sempre há respostas contraditórias.

Os princípios acima não são fruto de uma teoria pessoal, mas a consequência forçosa das condições em que se manifestam os Espíritos. É evidente que se um Espírito diz uma coisa de um lado, enquanto milhões dizem o contrário alhures, a presunção de verdade não pode estar com aquele que é o único ou quase o único de sua opinião. Ora, pretender ser o único a ter razão contra todos seria tão ilógico da parte de um Espírito quanto da parte de um homem. Os Espíritos verdadeiramente sábios, se não se sentem suficientemente esclarecidos sobre uma questão, jamais a resolvem de maneira absoluta; declaram não tratá-la senão de seu ponto de vista, e aconselham mesmo a esperar a sua confirmação.

Por mais bela, justa e grande que seja uma ideia, é impossível que, desde o começo, alie todas as opiniões. Os conflitos daí resultantes são consequência inevitável do movimento que se opera; são mesmo necessários para melhor destacar a verdade, e é útil que ocorram no começo, para que as ideias falsas sejam mais prontamente descartadas. Os espíritas que concebessem alguns temores devem, pois, ficar perfeitamente seguros. Todas as pretensões isoladas cairão pela força das coisas, ante o grande e poderoso critério do controle universal. Não é à opinião de um homem que eles se aliarão, é a voz unânime dos Espíritos. Não é um homem, nem nós mais que outro, que fundará a ortodoxia espírita; também não é um Espírito vindo impor-se a quem quer que seja: é a universalidade dos Espíritos, comunicando-se em toda a Terra, por ordem de Deus. Aí está o caráter essencial da Doutrina Espírita. Aí está a sua força e a sua autoridade. Deus quis que a sua lei se assentasse numa base inabalável, por isso não a assentou sobre a cabeça frágil de um só.

É perante esse poderoso areópago que não conhece nem os grupelhos nem as rivalidades invejosas nem as seitas nem as nações, que virão quebrar-se todas as oposições, todas as ambições, todas as pretensões à supremacia individual; que nós mesmos nos quebraríamos se quiséssemos substituir os seus soberanos desígnios por nossas próprias ideias. Ele é o único que resolverá todas as questões litigiosas; que fará calarem-se as dissidências e dará ou não razão a quem de direito. Ante esse imponente acordo de todas as vozes do céu, que pode a opinião de um homem ou de um Espírito? Menos que a gota d’água que se perde no oceano. Menos que a voz da criança, abafada pela tempestade.

A opinião universal, eis o juiz supremo, o que se pronuncia em última instância. Ela se forma de todas as opiniões individuais; se uma delas for verdadeira, terá apenas o seu peso relativo na balança; se for falsa, não pode triunfar sobre todas as outras. Nesse imenso concurso, as individualidades se apagam, e aí está um novo revés para o orgulho humano.

Esse conjunto harmonioso já se desenha. Ora, este século não passará sem que ele resplandeça em todo o seu brilho, de maneira a fixar todas as incertezas, porque até lá, vozes poderosas terão recebido a missão de se fazer ouvir para aliar os homens sob a mesma bandeira, desde que o campo seja suficientemente trabalhado.

Enquanto espera, aquele que flutua entre dois sistemas opostos pode observar em que sentido se forma a opinião geral. Essa é a indicação correta do sentido em que se pronuncia a maioria dos Espíritos sobre os diversos pontos nos quais eles se comunicam. É um sinal não menos certo de qual dos dois sistemas triunfará.


Esta instrução é feita visando sobretudo pessoas que não possuem qualquer noção do Espiritismo e às quais se quer dar uma ideia sucinta em poucas palavras. Nos grupos ou reuniões espíritas onde se acham assistentes noviços, ela pode ser útil ao preâmbulo das sessões, conforme as necessidades.

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As pessoas estranhas ao Espiritismo, não compreendendo nem o seu fim nem os seus meios, quase sempre dele fazem uma ideia completamente falsa. Sobretudo o que lhes falta é o conhecimento do princípio, a primeira chave dos fenômenos. Na falta disto, o que elas veem e ouvem não tem aproveitamento nem interesse para elas. É fato comprovado pela experiência que a simples vista ou o relato dos fenômenos não basta para convencer. Aquele que testemunha fatos capazes de confundi-lo fica mais admirado que convencido. Quanto mais extraordinário lhe parece o efeito, tanto mais dele suspeita.

Um sério estudo prévio é o único meio de levar à convicção. Muitas vezes mesmo isto basta para mudar inteiramente o curso das ideias. Em todo caso, ele é indispensável para a compreensão dos mais simples fenômenos. Na falta de uma instrução completa, que não pode ser dada em poucas palavras, um resumo sucinto da lei que rege as manifestações bastará para fazer encarar a coisa sob sua verdadeira luz pelas pessoas ainda não iniciadas. É a primeira baliza que damos na curta instrução que segue. Contudo, é necessária uma observação prévia.

A propensão dos incrédulos geralmente é de suspeitar da boa-fé dos médiuns e supor o emprego de meios fraudulentos. Além de tal ponto de vista ser uma suposição injuriosa para certas pessoas, antes de tudo há que se perguntar qual o interesse que elas poderiam ter em enganar e representar, ou fazer representar uma comédia. A melhor garantia de sinceridade está no desinteresse absoluto, pois onde nada há a ganhar, o charlatanismo não tem razão de ser.

Quanto à realidade dos fenômenos, cada um pode constatá-la, se se coloca em condições favoráveis e se traz, para a observação dos fatos, a paciência, a perseverança e a imparcialidade necessárias.

1. ─ O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais decorrentes dessas relações.

2. ─ Os Espíritos não são, como por vezes os imaginam, seres à parte na criação. Eles são as almas dos que viveram na Terra e em outros mundos. As almas ou Espíritos são, pois, uma só e a mesma coisa, de onde se segue que todo aquele que crê na existência da alma, por isso mesmo crê na dos Espíritos.

3. ─ Geralmente as pessoas fazem uma ideia muito falsa do estado dos Espíritos. Eles não são, como alguns pensam, seres vagos e indefinidos, nem chamas, como fogos-fátuos, nem fantasmas, como nos contos de aparições. São seres semelhantes a nós, com um corpo como o nosso, mas invisível e fluídico em estado normal.

4. ─ Quando a alma está unida ao corpo, durante a vida, tem um envoltório duplo: um pesado, grosseiro e destrutível, que é o corpo; outro fluídico, leve e indestrutível, chamado perispírito. O perispírito é o elo que une a alma ao corpo. É por intermédio dele que a alma faz o corpo agir e que percebe as sensações experimentadas pelo corpo.

5. ─ A morte é apenas a destruição do envoltório grosseiro. A alma abandona esse envoltório como se deixa uma roupa velha, ou como a borboleta deixa a sua crisálida, mas ela conserva o seu corpo fluídico, ou perispírito. A união da alma, do perispírito e do corpo material constitui o homem. A alma e o perispírito, separados do corpo, constituem o ser chamado Espírito.

6. ─ A morte do corpo desembaraça o Espírito do envoltório que o ligava à Terra e o fazia sofrer. Uma vez livre desse fardo, ele tem apenas o seu corpo etéreo, que lhe permite percorrer o espaço e transpor distâncias com a rapidez do pensamento.

7. ─ O fluido que compõe o perispírito penetra todos os corpos e os atravessa, como a luz atravessa os corpos transparentes. Nenhuma matéria é obstáculo para ele. É por isso que os Espíritos penetram em toda a parte, nos lugares mais hermeticamente fechados. É uma ideia ridícula crer que eles entrem por uma pequena abertura, como o buraco de uma fechadura ou a chaminé.

8. ─ Os Espíritos povoam o espaço. Eles constituem o mundo invisível que nos rodeia, em meio ao qual vivemos, e com o qual estamos em contato incessante.

9. ─ Os Espíritos têm todas as percepções que tinham na Terra, mas em mais alto grau, porque suas faculdades não são amortecidas pela matéria; têm sensações que nos são desconhecidas; veem e ouvem coisas que os nossos sentidos limitados não nos permitem ver nem ouvir. Para eles não há escuridão, salvo para aqueles cuja punição é ficarem temporariamente nas trevas. Todos os nossos pensamentos repercutem neles e eles aí leem como num livro aberto, de sorte que aquilo que poderíamos ocultar a qualquer um quando vivos, não o podemos mais, se ele é Espírito.

10. ─ Os Espíritos conservam as afeições sérias que tinham na Terra. Eles sentem prazer em voltar para junto das pessoas que eles amaram, sobretudo quando são para elas atraídos pelo pensamento e pelos sentimentos afetuosos que lhes são dedicados, ao passo que são indiferentes em relação àqueles que lhes votam apenas indiferença.

11. ─ Os Espíritos podem manifestar-se de muitas maneiras diferentes: pela visão, pela audição, pelo tato, pelos ruídos, movimento de corpos, escrita, desenho, música, etc. Eles se manifestam por meio de pessoas dotadas de uma aptidão especial para cada gênero de manifestação, e que são designados pelo nome de médiuns. É assim que se distinguem os médiuns videntes, falantes, audientes, sensitivos, de efeitos físicos, desenhistas, tiptologistas, escreventes, etc. Entre os médiuns escreventes há numerosas variedades, conforme a natureza das comunicações que são aptos a receber.

12. ─ Posto que invisível para nós em estado normal, o perispírito não deixa de ser matéria etérea. Em certos casos, o Espírito pode fazê-lo sofrer uma espécie de modificação molecular que o torna visível e até tangível. É assim que se produzem as aparições. Esse fenômeno não é mais extraordinário que o do vapor, que é invisível quando muito rarefeito, e que se torna visível quando condensado. Os Espíritos que se tornam visíveis apresentam-se quase sempre sob a aparência que tinham em vida, pela qual podem ser reconhecidos.

13 ─ É auxiliado por seu perispírito que o Espírito age sobre o seu corpo vivo. É ainda com esse mesmo fluido que ele se manifesta agindo sobre a matéria inerte; que produz os ruídos, o movimento das mesas e de outros objetos que ergue, derruba ou transporta. Esse fenômeno nada tem de surpreendente se considerarmos que entre nós os mais poderosos princípios motores se acham nos fluidos mais rarefeitos e mesmo imponderáveis, como o ar, o vapor e a eletricidade. É igualmente com o auxílio de seu perispírito que o Espírito faz o médium escrever, falar ou desenhar. Não tendo corpo tangível para agir ostensivamente, quando quer manifestar-se, ele se serve do corpo do médium, cujos órgãos ocupa, fazendo-os agir como se fosse seu próprio corpo, e isto pelo eflúvio fluídico que sobre ele derrama.

14. ─ É pelo mesmo meio que o Espírito age sobre a mesa, quer para movê-la sem objetivo determinado, quer para fazê-la vibrar golpes inteligentes indicando as letras do alfabeto, para formar palavras e frases, fenômeno designado sob o nome de tiptologia. Aí a mesa não passa de um instrumento de que ele se serve, como do lápis para escrever. Dá-lhe uma vitalidade momentânea, pelo fluido com que a penetra, mas não se identifica com ela. As pessoas que, emocionadas, ao verem manifestar-se um ser que lhes é caro, beijam a mesa, praticam um ato ridículo, porque é absolutamente como se beijassem a bengala de que um amigo se serve para vibrar golpes. Dá-se o mesmo com as que dirigem a palavra à mesa, como se o Espírito estivesse encerrado na madeira, ou como se a madeira se tivesse tornado Espírito. Quando ocorrem comunicações por esse meio, é preciso imaginar o Espírito, não mesa, mas ao lado, como ele era em vida, e como ele seria visto se no momento se tornasse visível. O mesmo ocorre nas comunicações pela escrita. Ver-se-ia o Espírito ao lado do médium, dirigindo-lhe a mão, ou lhe transmitindo o pensamento por uma corrente fluídica. Quando a mesa se ergue do solo e flutua no espaço, sem ponto de apoio, o Espírito não a levanta pela força do braço, mas a envolve e a penetra de uma espécie de atmosfera fluídica que neutraliza a ação da gravidade, como faz o ar com os balões e papagaios. O fluido de que é penetrada lhe dá momentaneamente uma leveza específica maior. Quando ela está plantada ao solo, está numa situação análoga à da campânula pneumática, sob a qual se faz o vácuo. Estas são comparações para mostrar a analogia dos efeitos, e não a similitude absoluta das causas. Depois disto, compreende-se que a um Espírito não é mais difícil levantar uma pessoa do que uma mesa; transportar um objeto de um a outro lugar, ou atirá-lo em qualquer parte. Estes fenômenos são produzidos pela mesma lei. Quando a mesa persegue alguém, não é o Espírito que corre, pois pode ficar tranquilamente no mesmo lugar, mas que lhe dá o impulso por uma corrente fluídica com o auxílio da qual a faz mover-se à vontade. Quando os golpes são ouvidos na mesa ou noutro lugar, o Espírito não bate com sua mão, nem com um objeto qualquer. Ele dirige um jato de fluido para o ponto de onde parte o ruído, produzindo o efeito de um choque elétrico. Ele modifica o ruído, como podemos modificar os sons produzidos pelo ar.

15. ─ Por estas poucas palavras pode-se ver que as manifestações espíritas, sejam de que natureza forem, nada têm de sobrenatural ou maravilhoso. São fenômenos que se produzem em virtude da lei que rege as relações entre o mundo visível e o invisível, lei tão natural quanto as da eletricidade, da gravitação, etc. O Espiritismo é a ciência que nos dá a conhecer essa lei, como a mecânica nos dá a conhecer as do movimento e a óptica as da luz. Estando as manifestações espíritas em a Natureza, produziram-se em todas as épocas. A lei que as rege, quando conhecida, explica-nos uma porção de problemas olhados como insolúveis. É a chave de uma porção de fenômenos explorados e amplificados pela superstição.

16. ─ Afastado completamente o maravilhoso, tais fenômenos nada mais têm que repugne à razão, porque vêm tomar assento ao lado dos outros fenômenos naturais. Nos tempos de ignorância, todos os efeitos cujas causas não eram conhecidas eram reputados sobrenaturais. As descobertas científicas foram restringindo continuamente o círculo do maravilhoso. O conhecimento desta nova lei vem reduzi-lo a nada. Assim, os que acusam o Espiritismo de ressuscitar o maravilhoso, provam, por isto mesmo, que falam do que não conhecem.

17. ─ Uma ideia mais ou menos geral entre pessoas que não conhecem o Espiritismo é crer que os Espíritos, apenas porque são desprendidos da matéria, devem saber tudo e possuir a sabedoria suprema. Isto é um erro grave. Deixando seu envoltório corporal, não se despojam imediatamente de suas imperfeições. Só com o tempo se depuram e se melhoram. Sendo os Espíritos as almas dos homens, como há homens de todos os graus de saber e de ignorância, de bondade e de maldade, o mesmo acontece entre os Espíritos. Entre eles, há aqueles que são apenas levianos e brincalhões; outros que são mentirosos, trapaceiros, hipócritas, maus e vingativos; e outros, ao contrário, que possuem as mais sublimes virtudes e o saber em grau desconhecido na Terra. Essa diversidade na qualidade dos Espíritos é um dos mais importantes pontos a considerar, pois explica a natureza boa ou má das comunicações que se recebe. É preciso aplicar-se em distingui-las. Disto resulta que não basta dirigir-se a um Espírito qualquer para ter uma resposta justa para cada pergunta, porque o Espírito responderá conforme o que sabe, e muitas vezes dará apenas sua opinião pessoal, que pode estar certa ou errada. Se ele for prudente, confessará sua ignorância sobre o que não sabe; se for leviano ou mentiroso, responderá a tudo, sem se preocupar com a verdade; se for orgulhoso, dará sua ideia como verdade absoluta. É por isto que São João, o evangelista, diz: “Não creiais em todo o Espírito, mas experimentai se os Espíritos são de Deus.” A experiência prova a sabedoria deste conselho. Haveria, pois, imprudência e leviandade em aceitar sem controle tudo o que vem dos Espíritos. Os Espíritos só podem responder sobre o que sabem e, além do mais, sobre o que lhes é permitido responder, porque há coisas que eles não devem revelar, porque ainda não é dado ao homem tudo conhecer.

18. ─ A qualidade dos Espíritos é reconhecida pela linguagem. A dos Espíritos realmente bons e superiores é sempre digna, nobre, lógica, isenta de toda trivialidade, puerilidade ou contradição; respira sabedoria, benevolência e modéstia; é concisa e sem palavras inúteis. A dos Espíritos inferiores, ignorantes ou orgulhosos carece dessas qualidades; o vazio das ideias aí é quase sempre compensado pela abundância de palavras.

19. ─ Outro ponto a considerar, igualmente essencial, é que os Espíritos são livres. Eles se comunicam quando querem e com quem lhes convém, e também quando podem, pois têm as suas ocupações. Eles não estão às ordens e ao capricho de quem quer que seja, e a ninguém é dado fazê-los virem contra a sua vontade, nem lhes fazer dizer o que não querem, de sorte que ninguém pode afirmar que um certo Espírito virá a seu apelo em determinado momento ou responderá a esta ou àquela pergunta. Dizer o contrário é provar a absoluta ignorância dos princípios mais elementares do Espiritismo. Só o charlatanismo tem fontes infalíveis.

20. ─ Os Espíritos são atraídos pela simpatia, pela similitude dos gostos e dos caracteres e pela intenção que faz desejada a sua presença. Os Espíritos superiores não vão a reuniões fúteis, do mesmo modo que um cientista da Terra não iria a uma reunião de jovens estúrdios. Diz o simples bom-senso que não pode ser de outro modo; ou, se por vezes aí vão, é para dar um conselho salutar, combater os vícios, tentar reconduzir ao bom caminho. Se não forem escutados, retiram-se. Seria fazer uma ideia completamente falsa pensar que Espíritos sérios se comprazem em responder a futilidades, a perguntas ociosas, que nem provam interesse nem respeito por eles, nem real desejo de instruir-se e, ainda menos, que possam vir dar espetáculo para divertir curiosos. Se não o fizeram em vida, não farão depois de mortos.

21. ─ Do que precede resulta que toda reunião espírita, para ser proveitosa, deve, como primeira condição, ser séria e recolhida; que aí tudo deve passar-se respeitosamente, religiosamente, com dignidade, se se quiser obter o concurso habitual dos bons Espíritos. É preciso não esquecer que se esses mesmos Espíritos aí se tivessem apresentado quando vivos, teriam tido por eles considerações às quais têm ainda mais direito depois de mortos. Em vão alegam a necessidade de certas experiências curiosas, frívolas e divertidas para convencer os incrédulos: o que acontece é de resultado negativo. O incrédulo, já inclinado a troçar das mais sagradas crenças, não pode ver uma coisa séria naquilo de que fazem pilhérias; não pode ser levado a respeitar aquilo que lhe não é apresentado de modo respeitável. Assim, reuniões fúteis e levianas, dessas onde não há ordem nem seriedade nem recolhimento, ele sempre leva uma impressão má. O que pode convencê-lo é, sobretudo, a prova da presença de seres cuja memória lhe é cara. É diante de suas palavras graves e solenes, diante de revelações íntimas que o vemos empalidecer e comover-se. Mas, pelo próprio fato de que há mais respeito, veneração e apego à pessoa cuja alma se lhe apresenta, ele fica chocado de vê-la vir a uma assembleia irreverente, entre mesas que dançam e chocarrices de Espíritos levianos. Por mais incrédulo que ele seja, sua consciência repele essa aliança entre o sério e o frívolo, entre o religioso e o profano, razão por que taxa tudo de palhaçada, e por vezes sai menos convencido do que quando entrou. As reuniões desse gênero sempre fazem mais mal do que bem, porque afastam da doutrina mais gente do que atraem, sem contar que oferecem o flanco à crítica dos detratores, que aí acham fundados motivos para troça.

22. ─ É um erro transformar as manifestações físicas em divertimento. Se elas não têm a importância do ensino filosófico, têm sua utilidade do ponto de vista dos fenômenos, porque são o á-bê-cê da ciência da qual deram a chave. Posto que hoje menos necessárias, ainda ajudam na convicção de certas pessoas. Mas não excluem, absolutamente, a ordem e a compostura nas reuniões onde se fazem experiências com elas. Se fossem sempre praticadas de maneira conveniente, convenceriam mais facilmente e, sob todos os aspectos, produziriam resultados muito melhores.

23. ─ Sem dúvida estas explicações são muito incompletas e necessariamente podem provocar numerosas perguntas, mas não se deve perder de vista que isto não é um curso de Espiritismo. Tais quais são, bastam para mostrar a base sobre a qual ele repousa, o caráter das manifestações e o grau de confiança que podem inspirar, conforme as circunstâncias. Quanto à utilidade das manifestações, ela é imensa, por suas consequências. Entretanto, ainda que só tivessem como resultado dar a conhecer uma nova lei da Natureza e demonstrar materialmente a existência da alma e a sua imortalidade, já seria muito, porque seria uma larga via aberta à filosofia.

SOCIEDADES DE ANVERS E DE MARSELHA

Antuérpia, 27 de fevereiro de 1864.

Caro mestre, temos a honra de vos informar que acabamos de constituir em Antuérpia uma nova sociedade, sob a denominação de Círculo Espírita Amor e Caridade.

Como vereis pelo Art. 2º do regulamento, nós nos colocamos sob o patrocínio da sociedade central de Paris, assim como sob o vosso. Em consequência, declaramos ligar-nos à doutrina emitida no Livro dos Espíritos e no Livro dos médiuns.

Temos a firme vontade de nos mantermos na via dos verdadeiros espíritas, e dizer-vos que a caridade é o objetivo principal de nossas reuniões.

A fim de que fiqueis bem convencido da sinceridade de nossos sentimentos, tende a bondade de consultar o presidente espiritual de vossa sociedade. Por mais frágeis que até aqui tenham sido os nossos esforços, eles têm sido sinceros, e sob esse ponto de vista, temos a convicção que para ele não mais somos estranhos.

Em anexo temos a honra de vos remeter uma das comunicações obtidas em nosso círculo, através de um médium falante, a fim de que possais julgar nossas tendências... etc.


OBSERVAÇÃO: Com efeito, esta carta foi acompanhada por uma comunicação muito extensa, que testemunha o bom caminho em que se encontra essa sociedade.


No mesmo sentido recebemos outra carta da parte da Sociedade Espírita de Marselha.

Marselha, 21 de março de 1864.

Senhor Presidente, temos a felicidade de vos anunciar a formação de nossa nova sociedade, que toma o título de Sociedade Marselhesa dos Estudos Espíritas, cuja autorização acaba de ser concedida pelo Senhor Senador encarregado da administração do departamento das Bouches-du-Rhône.

Ajudados por vossos bons conselhos, caro mestre, faremos todos os esforços para marchar nas pegadas de nossos irmãos de Paris, cujo regulamento adotamos para a ordem de nossas sessões. Colocando-nos sob o patrocínio da Sociedade de Paris, como ela inscreveremos em nossa bandeira: Fora da caridade não há salvação.

O Sr. Dr. C..., nosso presidente, também terá a honra de vos escrever logo depois da inauguração.

No interesse da causa, senhor, nós vos rogamos a fineza de dar à nossa sociedade a publicidade que julgardes útil, a fim de aliar os adeptos sinceros.

Recebei, etc.

Já dissemos que entre as sociedades espíritas que tanto se formam na França quanto no estrangeiro, em sua maioria declaram colocar-se sob o patrocínio da Sociedade de Paris. Todas as cartas que nos são dirigidas a propósito são concebidas no mesmo espírito que as publicadas acima. Essas adesões, comunicadas espontaneamente, testemunham os princípios que prevalecem entre os espíritas, e a Sociedade de Paris não pode deixar de sensibilizar-se com estes sinais de simpatia, que provam a séria intenção de marchar sob a mesma bandeira. Isto não quer dizer que outras, que não fizeram essa declaração oficial, sigam outra orientação, longe disto. A correspondência que mantêm conosco é uma garantia suficiente de seus sentimentos e da boa direção de seus estudos. Um grandíssimo número de reuniões, aliás, não têm o caráter de sociedades propriamente ditas, e em grande parte não passam de simples grupos. Fora das sociedades e dos grupos regulares, as reuniões de família, onde só recebem pessoas íntimas, são inumeráveis e se multiplicam diariamente, sobretudo nas classes altas.




Instruções do Espíritos

(Comunicação espontânea - sociedade de Paris, 19 de fevereiro de 1864 - Médium: Sr. Leymarie)

No século quinze é que foi inventada a imprensa. Como tantos outros inventos conhecidos e desconhecidos, foi-lhe preciso tomar a taça e beber o fel. Não venho a vós, espíritas, vos contar meus dissabores ou sofrimentos, porque naqueles tempos de ignorância e de tristeza em que os vossos pais tinham no peito o pesadelo chamado feudalidade e uma teocracia cega e ciosa de seu poder, todo homem de progresso tinha a cabeça demais. Quero apenas dizer-vos algumas palavras sobre a minha invenção, sobre seus resultados e a sua afinidade espiritual convosco, com os elementos que fazem a vossa força expansiva.

A revolução mãe, aquela que trazia no flanco o modo de expressão da Humanidade, o pensamento humano despojando-se do passado, de sua pele simbólica, é a invenção da imprensa. Sob essa forma, o pensamento mistura-se no ar, espiritualiza-se, será indestrutível. Senhora dos séculos futuros, ela alça seu voo inteligente para ligar todos os pontos do espaço e, a partir desse dia, domina a velha maneira de falar.

Para os povos primitivos eram necessários monumentos representando um povo, montanhas de pedra dizendo aos que sabem ver: Eis a minha religião, minha lei, minhas esperanças, minha poesia.

Com efeito, a imprensa substitui o hieróglifo. Sua linguagem a todos é accessível, sua atração é leve. É que um livro apenas pede um pouco de papel e de tinta e algumas mãos, enquanto uma catedral exige várias vidas de um povo e toneladas de ouro.

Permiti, aqui, uma digressão. O alfabeto dos primeiros povos foi composto de lascas de rocha que o ferro não havia tocado. As pedras erguidas pelos celtas também se encontram na Sibéria e na América. Eram as confusas lembranças humanas, escritas em monumentos duráveis. O galgal hebreu, os crombels, os dolmens, os túmulos, mais tarde exprimiram palavras.

Depois vieram a tradição e o símbolo. Não mais bastando esses primeiros monumentos, criaram o edifício, e a arquitetura tornou-se monstruosa; fixou-se como um gigante, repetindo às gerações novas os símbolos do passado. Tais foram os pagodes, as pirâmides, o templo de Salomão.

Era o edifício que encerrava o Verbo, essa ideia mãe das nações. Sua forma e sua situação representavam todo um pensamento, e é por isso que todos os símbolos têm suas grandes e magníficas páginas de pedra.

A maçonaria é a ideia escrita, inteligente, pertencente a esses homens que se tornaram unidos por um símbolo, tomando Iram por patrono e constituindo essa franco-maçonaria tão conspurcada que levou em si o germe da liberdade. Ela soube semear seus monumentos e os símbolos do passado no mundo inteiro, substituindo a teocracia das primeiras civilizações pela democracia, essa lei da liberdade.

Depois dos monumentos teocráticos da Índia e do Egito, vêm suas irmãs, as arquiteturas grega e romana, depois o estilo românico, tão sombrio, representando o absoluto, a unidade, o sacerdote. As cruzadas nos trazem a ogiva, e o senhor quer partilhar, esperando o povo que saberá tomar o seu lugar. O feudalismo vê nascer a comuna e a face da Europa muda, porque a ogiva destrona o românico; o pedreiro torna-se artista e poetiza a matéria: dá-lhe o privilégio da liberdade na arquitetura, porque então o pensamento só tinha esse modo de expressão. Quantas sedições escritas na fachada dos monumentos! E é por isto que os poetas, os pensadores, os deserdados, tudo quanto era inteligente cobriu a Europa de catedrais!

Como vedes, até o pobre Guttemberg, a arquitetura é a escrita universal. Por sua vez, a imprensa derruba o gótico; a teocracia é o horror do progresso, a conservação mumificada dos tipos primitivos; a ogiva é a transição da noite para o crepúsculo, em que cada um pode ler a pedra facilmente e compreender, mas a imprensa é o pleno dia, derrubando o manuscrito, pedindo mais espaço, que daí em diante nada poderia restringir.

Como o sol, a imprensa fecundará o mundo com seus raios benéficos. A arquitetura não representará mais a Sociedade, porque será clássica e renascentista, e esse mundo de artistas, divorciando-se do passado, abre grandes brechas nas teogonias humanas para seguir a via traçada por Deus; cansa-se de ser simples artífice dos monumentos da Renascença, para se fazer estatuário, pintor, músico. A força da harmonia se gasta em livros, e já no século dezesseis é tão robusta, tão forte essa imprensa de Nuremberg, que é o advento de um século literário. Ela é, ao mesmo tempo, Lutero, Jean Goujon, Rousseau, Voltaire. À velha Europa, ela dá esse combate lento, mas seguro, que sabe reconstruir depois de haver destruído.

E agora que o pensamento está emancipado, qual o poder que poderia escrever o livro arquitetural de nossa época? Todos os milhões de nosso planeta não bastariam e ninguém poderá reerguer o que está no passado e lhe pertence exclusivamente.

Sem desdenhar o grande livro da arquitetura que é o passado e o seu ensino, agradeçamos a Deus que sabe, nas épocas adequadas, pôr em nosso poder uma arma tão forte que se torna o pão do Espírito, a emancipação do corpo, o livre-arbítrio do homem, a ideia comum a todos, a Ciência, um á-bê-cê que fecunda a Terra, tornando-nos melhores. Mas se a imprensa vos emancipou, a eletricidade vos fará verdadeiramente livres e destronará a imprensa de Guttemberg para pôr em vossas mãos um poder muito mais temível, e isto em breve.

A ciência espírita, essa salvaguarda da Humanidade, vos ajudará a compreender a nova força de que vos falo. Guttemberg, a quem Deus deu missão providencial, sem dúvida fará parte da segunda, isto é, da que vos guiará no estudo dos fluidos.

Em breve estareis prontos, caros amigos. Mas também não se trata somente de ser Espíritos fervorosos. Também é preciso estudar, para que tudo o que foi ensinado sobre a eletricidade e todos os fluidos em geral seja para vós uma gramática sabida de cor. Nada é estranho à ciência dos Espíritos. Quanto mais sólida for a vossa bagagem intelectual, menos vos admirareis com as novas descobertas. Devendo ser os iniciadores de novas formas de pensamento, deveis ser fortes e seguros de vossas faculdades espirituais.

Portanto, eu tinha razão de vos falar da minha missão, irmã da vossa. Sois os eleitos entre os homens. Os bons Espíritos vos dão um livro que dá a volta à Terra, mas sem a imprensa nada seríeis. Para vós, a obsessão que vela a verdade aos homens desaparecerá. Mas, repito, preparai-vos e estudai para não serdes indignos do novo benefício, e para, ao contrário, saberdes mais inteligentemente que os outros a espalhá-lo e torná-lo aceito.

GUTTEMBERG


OBSERVAÇÃO: Pela difusão das ideias que ela tornou imperecíveis e que espalha aos quatro cantos do mundo, a imprensa produziu uma revelação intelectual que ninguém pode ignorar. Porque tal resultado era entrevisto, ela foi inicialmente qualificada por alguns de invenção diabólica. É uma afinidade a mais que ela tem com o Espiritismo, e da qual Guttemberg deixou de falar.

Se se desse ouvidos a certas pessoas, na verdade pareceria que o diabo tem o monopólio de todas as grandes ideias, porquanto todas as que fazem a Humanidade dar um passo lhe são atribuídas.

Sabe-se que o próprio Jesus foi acusado de agir por intermédio do demônio que, na verdade, deve orgulhar-se de todas as boas e belas coisas que retiram de Deus para lhe atribuir. Não foi ele que inspirou Galileu e todas as descobertas científicas que fizeram a Humanidade progredir? Conforme isto, seria preciso que ele fosse muito modesto para não se julgar dono do Universo. No entanto, o que pode parecer estranho é a sua inabilidade, pois não há um só progresso da Ciência que não tenha por efeito a ruína do seu império. Este é um detalhe sobre o qual não pensaram o bastante.

Se tal foi o poder desse meio de propagação absolutamente material, quão maior não será o do ensino dos Espíritos que se comunicam em toda parte, penetrando onde é defeso o acesso dos livros, fazendo-se ouvir até pelos que não querem escutar! Que poder humano poderia resistir a tal força?

Esta notável dissertação provocou no seio da Sociedade as reflexões seguintes, por parte outro Espírito.


(Sociedade espírita de Paris - Médium: Sr. A. Didier)

O Espírito de Guttemberg definiu muito poeticamente os efeitos positivos e tão universalmente progressivos da imprensa e do futuro da eletricidade. Nada obstante, permito-me, como antigo construtor de castelos, torreões, terraços e catedrais, expor certas teorias sobre o caráter e o objetivo da arquitetura da Idade Média.

Todos sabem, e em nossos dias ilustres arqueólogos ensinaram que a religião, a fé ingênua, ergueu com o gênio do homem esses soberbos monumentos góticos espalhados por toda a superfície da Europa, e aqui, mais do que nunca, a ideia expressa por Guttemberg é cheia de elevação.

Contudo, sentimo-nos na obrigação de emitir a nossa opinião, não contra, mas a favor.

A ideia, essa luz da alma, centelha real que infunde a vontade e o movimento ao organismo humano, manifesta-se de diversas maneiras, quer pela arte, quer pela filosofia, etc. A arquitetura, essa arte elevada que talvez melhor exprima a índole e o gênio de um povo, nas nações impressionáveis e crentes foi consagrada ao culto de Deus e às cerimônias religiosas.

A Idade Média, sustentáculo do feudalismo e da crença, teve a glória de fundar duas artes essencialmente diferentes em seu objetivo e sua consagração, mas que exprimem perfeitamente o estado de sua civilização: o castelo fortificado, habitado pelo senhor ou pelo rei; a abadia, o mosteiro e a igreja; numa palavra, a arte arquitetônica militar e a religiosa.

Os Romanos, essencialmente administradores, guerreiros, civilizadores e colonizadores universais, forçados que eram pela extensão de suas conquistas, jamais tiveram uma arquitetura inspirada por sua fé religiosa. Só a avidez, o amor ao ganho e ao poder executivo lhes fizeram construir esses formidáveis montes de pedras, símbolo de sua audácia e de sua capacidade intelectual.

A poesia do Norte, contemplativa e nebulosa, unida à suntuosidade da arte oriental, criou o gênero gótico, a princípio austero e discretamente florido. Com efeito, vemos na arquitetura a realização das tendências religiosas e do despotismo feudal.

Essas ruínas famosas de muitas das revoluções humanas, mais do que o tempo, ainda se impõem por seu aspecto grandioso e formidável. Parece que o século que as viu erguer-se era duro, sombrio e inexorável como elas. Mas daí não se deve concluir que a descoberta da imprensa, por mais que distenda o pensamento, tenha simplificado a arte da arquitetura.

Não, a Arte, que é uma parte da ideia, será sempre uma manifestação religiosa ou política, ou militar, ou democrática, ou principesca.

A Arte tem o seu papel, a imprensa tem o dela. Sem ser exclusivamente especialista, não se deve confundir o objetivo de cada coisa. É preciso dizer apenas que não se deve misturar as diferentes faculdades e as diversas manifestações da ideia humana.

ROBERT DE LUZARCHES


(Sociedade espírita de Paris, 25 de fevereiro de 1864)


NOTA: Nesta sessão foram dirigidos agradecimentos ao Espírito de Guttemberg, com o pedido de participar de nossas conversas, quando julgasse oportuno.

Na mesma sessão, a presença de vários dignitários estrangeiros da Ordem Maçônica motivou esta pergunta: Que concurso pode o Espiritismo encontrar na Franco-Maçonaria?

Várias dissertações foram obtidas sobre o assunto.



I



Senhor Presidente, agradeço o vosso amável convite. É a primeira vez que uma de minhas comunicações é lida na Sociedade Espírita de Paris, e espero que não seja a última.

Talvez tenhais achado as minhas reflexões um pouco longas sobre a imprensa, alguns pensamentos que não aprovais completamente, mas, refletindo sobre a dificuldade que experimentamos ao nos pormos em relação com os médiuns e utilizar as suas faculdades, tereis a bondade de relevar certas expressões ou certas formas de linguagem que nem sempre dominamos. Mais tarde a eletricidade fará a sua revolução mediúnica, e como tudo será mudado na maneira de reproduzir o pensamento do Espírito, não mais encontrareis essas lacunas por vezes lamentáveis, sobretudo quando as comunicações são lidas diante de estranhos.

Falastes da franco-maçonaria, e tendes razão de esperar nela encontrar bons elementos. O que é que se pede a todo maçom iniciado? Que ele creia na imortalidade da alma e no Divino Arquiteto; que ele seja benevolente, devotado, sociável, digno e humilde. Ali se pratica a igualdade na mais larga escala. Há, pois, nessas sociedades, uma afinidade com o Espiritismo de tal modo evidente que salta aos olhos.

A questão do Espiritismo foi posta na ordem do dia em várias lojas, e eis o resultado: Leram volumosos relatórios muito confusos a esse respeito, mas não o estudaram a fundo, o que fez que ali, como em muitos outros lugares, discutissem matéria que não conheciam, julgando por ouvir dizer, mais do que pela realidade. Contudo, muitos maçons são espíritas e trabalham muito na propagação desta crença. Todos escutam, e se o hábito diz não, a razão diz sim.

Esperai, então, porque o tempo é um recrutador sem igual. Por ele as impressões se modificam e, necessariamente, no vasto campo dos estudos abertos nas lojas, o estudo espírita entrará como complemento, porque isto já está no ar. Riram e falaram, mas não riem mais. Agora meditam.

Assim, então, tereis uma seara espírita nessas sociedades essencialmente liberais. Por elas entrareis plenamente neste segundo período, que deve preparar as vias prometidas. Os homens inteligentes da maçonaria vos bendirão, por sua vez, pois a moral dos Espíritos dará um corpo a essa seita tão comprometida, tão temida, mas que fez mais bem do que se pensa.

Tudo tem um parto laborioso, uma afinidade misteriosa, e se isto existe para o que perturba as camadas sociais, é muito mais verdadeiro para o que conduz ao progresso moral dos povos.

GUTTEMBERG

(Médium, SR. LEYMARIE)



II

Meu caro irmão em doutrina (o Espírito se dirige a um dos franco-maçons espíritas presentes), venho com felicidade responder ao benévolo apelo que fazes aos Espíritos que amaram e fundaram as instituições franco-maçônicas.

Para cimentar essa instituição generosa, duas vezes derramei o meu sangue; duas vezes as praças públicas desta cidade ficaram tintas de sangue do pobre Jacques Molé. Caros irmãos, seria preciso dá-lo uma terceira vez? Direi, feliz: não. Já vos foi dito: Quanto mais sangue, mais despotismo e mais carrascos! Uma sociedade de irmãos, de amigos, de homens cheios de boa vontade que só desejam conhecer a verdade para fazer o bem!

Eu não me havia ainda comunicado nesta assembleia. Enquanto falastes de ciência espírita, de filosofia espírita, cedi o lugar aos Espíritos que são mais aptos a vos dar conselhos sobre esses vários pontos e esperava pacientemente, sabendo que chegaria a minha vez. Há tempo para tudo, como há um momento para cada um. Assim, creio que soou a hora e é o momento oportuno. Posso, portanto, dar-vos a minha opinião acerca do Espiritismo e da franco-maçonaria.

As instituições maçônicas foram para a Sociedade um encaminhamento à felicidade. Numa época em que toda ideia liberal era considerada um crime, os homens necessitavam de uma força que, inteiramente submissa às leis, não fosse menos emancipada por suas crenças, por suas instituições e pela unidade de seu ensino.

Nessa época a religião ainda era, não mãe consoladora, mas força despótica que pela voz de seus ministros ordenava, feria, fazia tudo curvar-se à sua vontade. Ela era motivo de pavor para quem quisesse, como livre pensador, agir e dar aos homens sofredores alguma coragem e ao infeliz, algum consolo moral.

Unidos pelo coração, pela fortuna e pela caridade, nossos templos foram os únicos altares onde não se havia ignorado o verdadeiro Deus; onde o homem ainda podia dizer-se homem; onde a criança podia esperar encontrar, mais tarde, um protetor, e o abandonado, amigos.

Vários séculos se passaram e todos acrescentaram algumas flores à coroa maçônica. Foram mártires, homens letrados, legisladores que aumentaram a sua glória, tornando-se seus defensores e conservadores.

No século dezenove o Espiritismo vem, com seu facho luminoso, dar a mão aos comendadores, aos rosa-cruzes, e com voz trovejante lhes diz: Vamos, meus irmãos! Eu sou verdadeiramente a voz que se faz ouvir no Oriente e à qual o Ocidente responde: Glória, honra, vitória aos filhos dos homens! Ainda alguns dias, e o Espiritismo terá transposto o muro que separa a maioria do recinto do templo dos segredos, e nesse dia a Sociedade verá florescer em seu seio a mais bela flor espírita que, deixando suas pétalas caírem, dará uma semente regeneradora da verdadeira liberdade.

O Espiritismo fez progressos, mas no dia em que tiver dado a mão à francomaçonaria, todas as dificuldades serão vencidas; todo obstáculo será retirado; a verdade brilhará e o maior progresso moral será realizado. Ele terá transposto os primeiros degraus do trono, onde em breve deverá reinar.

A vós, saudação fraterna e amizade.

JACQUES DE MOLÉ

(Médium: SRTA. BÉGUET)



III

Foi com grande encanto que participei das discussões deste centro tão profundamente espiritualista, e retorno atraído por Guttemberg, como o fora outro dia por Jacquard.

A maior parte da dissertação do grande tipógrafo tratou da questão de um ponto de vista do ofício, e singularmente ele não viu nessa bela invenção senão o lado prático, material, utilitário. Alarguemos o debate e examinemos a questão de mais alto.

Seria um erro crer que a imprensa veio substituir a arquitetura, pois esta permanecerá para continuar seu papel de historiógrafo, por meio de monumentos característicos marcados pelo espírito de cada século, de cada geração, de cada revolução humanitária. Dizemos bem alto que não, a imprensa nada veio derrubar. Ela veio para completar, por sua obra especial, grande e emancipadora. Ela chegou à sua hora, como todas as descobertas que nascem providencialmente aqui na Terra. Contemporâneo do monge que inventou a pólvora, e que com isso transformou a velha arte das batalhas, Guttemberg trouxe uma nova alavanca à expressão das ideias. Não o esqueçamos: A imprensa não podia ter sua legítima razão de ser senão pela emancipação das massas e pelo desenvolvimento intelectual dos indivíduos. Sem essa necessidade a satisfazer, sem esse alimento, esse maná espiritual a distribuir, longamente a imprensa ainda se teria debatido no vazio e não teria sido considerada senão um sonho de louco ou uma utopia sem importância. Não é assim que foram tratados os primeiros inventores, ou melhor, os primeiros que descobriram e constataram as propriedades do vapor? Fazei Guttemberg nascer nas ilhas de Andamã e a imprensa fatalmente aborta.

A ideia, portanto, eis a alavanca primordial a considerar. Sem a ideia, sem o trabalho fecundo dos pensadores, dos filósofos, dos ideólogos, e até mesmo dos monges sonhadores da Idade Média, a imprensa teria ficado letra morta. Guttemberg pode, pois, acender mais de uma vela em honra aos dialéticos da escola que fizeram germinar a ideia e desbastar as inteligências.

A ideia febril, que reveste uma forma plástica no cérebro humano, é e sempre continuará sendo o maior motor das descobertas e das invenções. Criar uma necessidade nova no meio das sociedades modernas é abrir um novo caminho à ideia perpetuamente inovadora; é impelir o homem inteligente à busca do que satisfaça essa nova necessidade da Humanidade. Eis por que, por toda parte onde a ideia for soberana, onde for acolhida com respeito, enfim, onde os pensadores forem honrados, têm-se certeza de progredir para Deus.

A franco-maçonaria, contra a qual tanto gritaram, contra a qual a Igreja romana não teve bastante anátemas, e que nem por isto deixou de sobreviver, a francomaçonaria abriu de par em par as portas de seus templos ao culto emancipador da ideia. Em seu seio, todas as questões mais sérias foram levantadas, e antes que o Espiritismo tivesse aparecido, os veneráveis e os grão-mestres sabiam e professavam que a alma é imortal e que os mundos visível e invisível se intercomunicam. Foi ali, nos santuários onde os profanos não são admitidos, que os Swedenborg, os Pasqualis, os Saint-Martin obtiveram resultados fulminantes. Foi ali que a grande Sofia, essa etérea inspiradora, veio ensinar aos primogênitos da Humanidade os dogmas emancipadores onde o ano de 1789 bebeu seus princípios fecundos e generosos. Foi ali, muito antes dos vossos médiuns contemporâneos, que precursores da vossa mediunidade, grandes desconhecidos, tinham evocado e feito aparecerem os sábios da Antiguidade e dos primeiros séculos desta era. Foi ali... Mas eu me detenho. O quadro restrito de vossas sessões, o tempo que se escoa, não me permitem alongar-me, como desejava, sobre esse assunto interessante. A ele voltaremos mais tarde.

Tudo o que direi é que o Espiritismo encontrará no seio das lojas maçônicas numerosa falange compacta de crentes, não de crentes efêmeros, mas sérios, resolutos e inabaláveis em sua fé.

O Espiritismo realiza todas as aspirações generosas e caridosas da francomaçonaria; sanciona as crenças que esta professa, dando provas irrecusáveis da imortalidade da alma; conduz a Humanidade ao objetivo que ela se propõe: a união, a paz, a fraternidade universal, pela fé em Deus e no futuro.

Será que os espíritas sinceros de todas as nações, cultos e classes não se olham como irmãos? Não há entre eles uma verdadeira franco-maçonaria, com a diferença que, em vez de secreta, é praticada abertamente? Homens esclarecidos, como os que ela congrega, que põem suas luzes acima dos preconceitos de camarilhas e de castas, não podem ver com indiferença o movimento que essa nova doutrina, essencialmente emancipadora, produz no mundo. Repelir um elemento tão poderoso de progresso moral seria abjurar os seus princípios e pôr-se ao nível dos retrógrados. Não, eu tenho certeza, eles não se deixarão desviar, pois vejo que, sob a nossa influência, vão encarregar-se desse grave problema.

O Espiritismo é uma irresistível corrente de ideias, que deve ganhar todo o mundo. É uma questão de tempo. Ora, seria desconhecer o caráter da instituição maçônica, crer que esta concorde em se anular e representar um papel negativo em meio ao movimento que impele a Humanidade para a frente; crer que ela apague o facho, como se temesse a luz. É bem entendido que aqui falo da alta francomaçonaria, e não dessas lojas feitas para a ilusão, onde se reúnem mais para comer e beber ou para rir da perplexidade que inocentes provas causam aos neófitos do que para discutir questões morais e filosóficas.

Era mesmo necessário, para que a franco-maçonaria pudesse continuar sua ampla missão sem entraves, que houvesse, de espaço a espaço, de raio em raio, de meridiano em meridiano, templos fora do templo, lugares profanos fora dos lugares sagrados, falsos tabernáculos fora da arca. É nesses centros que os adeptos do Espiritismo têm tentado inutilmente se fazerem entendidos.

Em resumo, a franco-maçonaria ensinou o dogma precursor do vosso, e professou em segredo o que proclamais bem alto.

Eu disse que voltarei a tratar destes problemas, se os altos Espíritos que presidem os vossos trabalhos o permitirem. Enquanto espero, eu vos afirmo que a Doutrina Espírita pode perfeitamente fundir-se à das grandes lojas do Oriente.

Agora, glória ao Grande Arquiteto.

Um antigo franco-maçon, VAUCANSON

(Médium: SR. D’AMBEL)


(Sociedade espírita de Paris, 17 de janeiro de 1864 - Médium: Sra. Costel)

Meus amigos, venho a vós, que sois os experimentados e os proletários do sofrimento. Venho saudar-vos, bravos e dignos operários, em nome da caridade e do amor.

Sois os bem-amados de Jesus, do qual fui amigo. Repousai na crença espírita, como repousei no seio do enviado divino. Operários, sois os eleitos na via dolorosa da provação, onde marchais de pés sangrentos e coração desencorajado. Esperai, irmãos! Todo sofrimento leva consigo o seu salário; toda jornada laboriosa tem sua noite de repouso. Crede no futuro, que será vossa recompensa, e não busqueis o esquecimento, que é ímpio. O esquecimento, meus amigos, é a embriagues egoísta ou brutal; é a fome para vossos filhos e o choro para vossas esposas. O esquecimento é uma covardia.

Que pensaríeis de um operário que, sob pretexto de leve fadiga, deixasse a oficina e interrompesse covardemente a jornada iniciada? Meus amigos, a vida é a jornada da eternidade. Cumpri bravamente o seu labor; não sonheis com um repouso impossível; não adianteis o relógio do tempo; tudo vem na devida hora: a recompensa pela coragem e a bênção para o coração comovido que se confia à eterna justiça.

Sede espíritas e tornar-vos-eis fortes e pacientes, porque aprendereis que as provas são uma garantia de progresso, e que elas vos abrirão a entrada do repouso feliz, onde bendireis os sofrimentos que vos terão aberto o seu acesso.

A vós todos, operários e amigos, minhas bênçãos. Assisto às vossas reuniões, porque sois os bem-amados daquele que foi

JOÃO, O EVANGELISTA




DITADO ESPONTÂNEO, PARTE DAS INSTRUÇÕES SOBRE A TEORIA DOS FLUIDOS

(PARIS, 11 DE NOVEMBRO DE 1863 — MÉDIUM: SRTA. A. C.)


A progressão de todas as coisas conduz necessariamente à transubstanciação, e a mediunidade espiritual é uma das forças da Natureza que lá fará chegar mais rapidamente o nosso planeta, porque ele deve, como todos os mundos, sofrer a lei da transformação e do progresso.

Não só o seu pessoal humano, mas todas as suas produções minerais, vegetais e animais, seus gases e seus fluidos imponderáveis, também devem aperfeiçoar-se e se transformar em substâncias mais depuradas. A Ciência, que já trabalhou essa questão tão interessante da formação deste mundo, reconheceu que ele não foi criado por uma palavra, como diz a Gênese, numa sublime alegoria, mas que ela sofreu, numa longa série de séculos, transformações que produziram camadas minerais de diversas naturezas. Seguindo a gradação dessas camadas, vê-se aparecerem sucessivamente e se multiplicarem as produções vegetais; mais tarde encontram-se traços dos animais, o que indica que somente nessa época os corpos organizados tinham encontrado a possibilidade de ali viver.

Estudando a progressão dos seres animados, como se fez com os minerais e os vegetais, reconhece-se que esses seres, a princípio mariscos, elevaram-se gradualmente na escala animal e que a sua progressão acompanhou a das produções e da depuração do solo.

Nota-se, ao mesmo tempo, o desaparecimento de certas espécies, desde que as condições físicas necessárias à sua vida não mais existem. Foi assim que, por exemplo, os grandes sáurios, monstros anfíbios, e os mamíferos gigantes, dos quais hoje só se encontram os fósseis, desapareceram completamente da Terra com as condições de existência que as inundações haviam criado para eles.

Sendo os dilúvios um dos meios de transformação da Terra, eles foram quase gerais, isto é, durante um certo período, eles revolveram o globo e assim determinaram produções vegetais e fluidos atmosféricos diferentes.

Assim como todos os seres orgânicos, o homem apareceu na Terra quando aí pôde encontrar as condições necessárias à sua existência.

Aí a criação natural cessa, tão somente pelas forças da Natureza. Aí começa o papel do Espírito encarnado no homem para o trabalho, porque ele deve concorrer para a obra comum. Trabalhando para si próprio, ele deve trabalhar para a melhora geral. Assim, vemo-lo, desde as primeiras raças, cultivar a terra e fazê-la produzir para suas necessidades corporais, determinando, desse modo, transformações em seu solo, em seus produtos, em seus gases e em seus fluidos.

Quanto mais se povoa a Terra, tanto mais os homens a trabalham, a cultivam, a saneiam, e tanto mais abundantes e variados são os seus produtos.

A depuração de seus fluidos pouco a pouco leva ao desaparecimento das espécies vegetais e animais venenosas e nocivas ao homem, pois não podem subsistir num ar muito depurado e muito sutil para a sua organização, e que não mais lhes fornece os elementos necessários à sua manutenção.

O estado sanitário do globo melhorou sensivelmente, desde a sua origem, mas como ainda deixa muito a desejar, é o indício de que melhorará ainda mais, pelo trabalho e pela indústria do homem. Não é sem desígnio que ele é levado a estabelecer-se nas regiões mais ingratas e insalubres. Ele já tornou habitáveis regiões infestadas por animais imundos e miasmas deletérios. Pouco a pouco, as transformações a que ele submete o solo conduzirão à depuração completa.

Pelo trabalho, o homem aprende a conhecer e dirigir as forças da Natureza. Pode-se acompanhar na História o fio das descobertas e das conquistas do espírito humano, bem como a aplicação que delas fez para as suas necessidades e sua satisfação.

Mas, seguindo essa fieira, deve-se notar, também, que o homem se desbastou, se desmaterializou, e se quisermos fazer um paralelo entre o homem de hoje e os primeiros habitantes do globo, constataremos o progresso já realizado; veremos que quanto mais o homem progride, mais é excitado a progredir, e que a progressão está na razão do progresso realizado. Hoje o progresso marcha a grande velocidade e forçosamente arrasta os retardatários.

Acabamos de falar do progresso físico, material, inteligente. Mas, vejamos o progresso moral e a influência que ele deve ter sobre o primeiro.

O progresso moral despertou ao mesmo tempo que o desenvolvimento material, mas foi mais lento, porque achando-se o homem em meio a uma criação exclusivamente material, tinha necessidade e aspirações em harmonia com o que o cercava. Avançando, sentiu o espiritual desenvolver-se e crescer em si, e, ajudado pelas influências celestes, começou a compreender a necessidade da direção inteligente do Espírito sobre a matéria. O progresso moral continuou o seu desenvolvimento e, em diferentes épocas, Espíritos adiantados vieram guiar a Humanidade e dar um maior impulso à sua marcha ascensional. Tais são Moisés, os profetas, Confúcio, os sábios da Antiguidade e o Cristo, o maior de todos, posto que o mais humilde na Terra.

O Cristo deu ao homem uma ideia maior de seu próprio valor, de sua independência e de sua personalidade espiritual. Seus sucessores, entretanto, muito inferiores a ele, não compreenderam a ideia grandiosa que brilha em todos os seus ensinamentos. Eles materializaram o que era espiritual, daí a espécie de status quo moral, no qual parou a Humanidade.

O progresso científico e intelectual continua a sua marcha, mas o progresso moral arrasta-se lentamente. Não é certo que, se desde o Cristo todos os que professaram a sua doutrina a tivessem praticado, os homens teriam evitado muitos males e hoje estariam moralmente mais adiantados?

O Espiritismo vem acelerar o progresso, desvendando à Humanidade o seu destino, e já vemos a sua força pelo número de adeptos e pela facilidade com que é compreendido. Ele vai conduzir a uma transformação moral ativa e, pela multiplicidade das comunicações mediúnicas, o coração e o Espírito de todos os encarnados serão trabalhados pelos Espíritos amigos e instrutores. Dessa instrução vai surgir um novo impulso científico, porque novas vias vão ser abertas à Ciência, que orientará suas pesquisas para as novas forças da Natureza que se revelam. As faculdades humanas que já se desenvolvem, desenvolver-se-ão ainda mais pelo trabalho mediúnico.

Inicialmente acolhido pelas almas ternas e inconsoláveis pela perda de parentes e amigos, o Espiritismo foi em seguida acolhido pelos infelizes deste mundo, cujo número é grande, e que foram encorajados e sustentados em suas provações por sua doutrina ao mesmo tempo tão suave e tão confortadora. Assim, ele propagou-se rapidamente, e muitos incrédulos admirados, que a princípio o estudaram como curiosos, se convenceram quando, por si mesmos, encontraram esperanças e consolações.

Hoje os sábios começam a abalar-se, e alguns deles, que o estudam seriamente e o admitem como força natural até agora desconhecida, a ele aplicando sua inteligência e seus conhecimentos já adquiridos, farão a Humanidade dar um imenso passo científico.

Mas os Espíritos não se limitam à instrução científica. Seu dever é duplo, e eles devem, sobretudo, cultivar a vossa moral. Ao lado dos estudos da Ciência, eles vos farão, e já fazem desde agora, trabalhar o vosso próprio eu. Os encarnados inteligentes e desejosos de progredir compreenderão que sua desmaterialização é a melhor condição para o estudo progressivo, e que sua felicidade presente e futura a isso está ligada.


OBSERVAÇÃO: É assim que o mundo, depois de haver atingido um certo grau de elevação no progresso intelectual, vai entrar no período do progresso moral, cuja rota lhe é aberta pelo Espiritismo. Esse progresso realizar-se-á pela força das coisas e conduzirá naturalmente à transformação da Humanidade, pelo alargamento do círculo das idéias no sentido espiritual, e pela prática inteligente e raciocinada das leis morais ensinadas pelo Cristo. A rapidez com que as idéias espíritas se propagam no próprio meio do materialismo que domina a nossa época, é o indício certo de uma pronta mudança na ordem das coisas. Basta para isto a extinção de uma geração, pois a que se ergue já se anuncia sob auspícios muito diversos.



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