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Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1864 > Fevereiro > Notícias bibliográficas
Notícias bibliográficas
Sob este título, novo órgão do Espiritismo acaba de surgir em Antuérpia, a partir de 1º de janeiro de 1864. Sabe-se que a Doutrina Espírita fez rápidos progressos nessa cidade, onde se formaram numerosas reuniões, compostas de homens eminentes pelo saber e pela posição social. Em Bruxelas, por mais tempo refratária, a ideia nova também ganha terreno, como noutras cidades da Bélgica. Uma sociedade espírita formada recentemente, pediu-nos aceitássemos a presidência de honra. Vê-se qual o caminho que pretende seguir.
O primeiro número da nova Revista contém um apelo aos espíritas de Antuérpia; dois artigos de fundo, um sobre os adversários do Espiritismo, outro sobre o Espiritismo e a loucura e um certo número de comunicações mediúnicas, algumas das quais na língua flamenga, tudo, temos a satisfação de dizer, em perfeita conformidade com os pontos de vista e os princípios da Sociedade de Paris. Essa publicação não pode deixar de ser acolhida favoravelmente num país onde as ideias novas têm uma tendência manifesta a se propagarem, se, como esperamos, se mantiver à altura da ciência, condição essencial do sucesso.
O Espiritismo cresce e vê, diariamente, novos horizontes se abrirem à sua frente. Ele aprofunda as questões que apenas tinha feito aflorar, em sua origem. Conformando-se com o desenvolvimento das ideias, por toda parte, em suas instruções, os Espíritos têm seguido esse movimento ascensional. Ao lado das produções mediúnicas de hoje, as de outrora são pálidas e quase pueris, posto então fossem julgadas magníficas. Há entre elas a diferença do ensino dado a estudantes e a adultos. É que, à medida que o homem cresce, sua inteligência, como o seu corpo, requer alimento mais substancial. Toda publicação espírita, periódica ou não, que ficasse para trás do movimento, necessariamente encontraria pouca simpatia, e seria ilusão supor agora os leitores se interessarem por coisas elementares ou medíocres. Por melhor que seja a intenção, toda recomendação seria impotente para lhes dar vida, se não a têm por si mesmas.
Há para publicações deste gênero outra condição de sucesso, ainda mais importante, a de marchar com a opinião da maioria. Na origem das manifestações espíritas, as ideias, ainda não fixadas pela experiência, deram lugar a muitas opiniões divergentes que caíram ante observações mais completas, ou que só contam com raros representantes.
Sabe-se a que bandeira e a que princípios está hoje ligada a imensa maioria dos espíritas do mundo inteiro. Tornar-se eco de opiniões retardatárias ou seguir um caminho errado, é condenar-se previamente ao isolamento e ao abandono. Os que o fizerem de boa-fé são lamentáveis; os que agirem premeditadamente, com a intenção de pôr travas nas rodas e semear a divisão, só colherão vergonha. Nem uns nem outros podem ser encorajados pelos que sabem de cor os verdadeiros interesses do Espiritismo. Quanto a nós, pessoalmente, e à Sociedade de Paris, nossas simpatias e nosso apoio moral são conquistados por antecipação, como se sabe, por todas as publicações, como por todas as reuniões úteis à causa que defendemos.
O primeiro número da nova Revista contém um apelo aos espíritas de Antuérpia; dois artigos de fundo, um sobre os adversários do Espiritismo, outro sobre o Espiritismo e a loucura e um certo número de comunicações mediúnicas, algumas das quais na língua flamenga, tudo, temos a satisfação de dizer, em perfeita conformidade com os pontos de vista e os princípios da Sociedade de Paris. Essa publicação não pode deixar de ser acolhida favoravelmente num país onde as ideias novas têm uma tendência manifesta a se propagarem, se, como esperamos, se mantiver à altura da ciência, condição essencial do sucesso.
O Espiritismo cresce e vê, diariamente, novos horizontes se abrirem à sua frente. Ele aprofunda as questões que apenas tinha feito aflorar, em sua origem. Conformando-se com o desenvolvimento das ideias, por toda parte, em suas instruções, os Espíritos têm seguido esse movimento ascensional. Ao lado das produções mediúnicas de hoje, as de outrora são pálidas e quase pueris, posto então fossem julgadas magníficas. Há entre elas a diferença do ensino dado a estudantes e a adultos. É que, à medida que o homem cresce, sua inteligência, como o seu corpo, requer alimento mais substancial. Toda publicação espírita, periódica ou não, que ficasse para trás do movimento, necessariamente encontraria pouca simpatia, e seria ilusão supor agora os leitores se interessarem por coisas elementares ou medíocres. Por melhor que seja a intenção, toda recomendação seria impotente para lhes dar vida, se não a têm por si mesmas.
Há para publicações deste gênero outra condição de sucesso, ainda mais importante, a de marchar com a opinião da maioria. Na origem das manifestações espíritas, as ideias, ainda não fixadas pela experiência, deram lugar a muitas opiniões divergentes que caíram ante observações mais completas, ou que só contam com raros representantes.
Sabe-se a que bandeira e a que princípios está hoje ligada a imensa maioria dos espíritas do mundo inteiro. Tornar-se eco de opiniões retardatárias ou seguir um caminho errado, é condenar-se previamente ao isolamento e ao abandono. Os que o fizerem de boa-fé são lamentáveis; os que agirem premeditadamente, com a intenção de pôr travas nas rodas e semear a divisão, só colherão vergonha. Nem uns nem outros podem ser encorajados pelos que sabem de cor os verdadeiros interesses do Espiritismo. Quanto a nós, pessoalmente, e à Sociedade de Paris, nossas simpatias e nosso apoio moral são conquistados por antecipação, como se sabe, por todas as publicações, como por todas as reuniões úteis à causa que defendemos.
(Pelo Rev. Pe. Blot da companhia de Jesus)
Um dos nossos correspondentes, o Dr. C..., assinala-nos este livrinho, e escreve o seguinte:
“Desde algum tempo, palavras que me abstenho de qualificar, como cristão e espírita, têm sido pronunciadas muitas vezes por homens que têm a missão de falar às criaturas sobre caridade e misericórdia. Para vos aliviar das penosas impressões que elas vos devem ter causado, como a todo verdadeiro cristão, permiti-me que vos fale de um volumezinho do Rev. Pe. Blot. Não acredito que ele seja espírita, mas encontrei em sua obra o que, no Espiritismo, leva a amar a Deus e esperar em sua misericórdia, bem como diversas passagens que muito se aproximam do que ensinam os Espíritos.”
Nele destacamos as passagens seguintes, que confirmam a opinião do nosso correspondente:
“No Século VII, o Papa São Gregório, o Grande, depois de haver contado que um religioso, ao morrer, vira os profetas aparecerem diante dele, e os designou pelos nomes, acrescentava: “Este exemplo nos faz compreender claramente como será grande o conhecimento que teremos uns dos outros na vida incorruptível do Céu, pois esse religioso, ainda numa carne corruptível, reconheceu os santos profetas que jamais tinha visto.”
“Os santos se veem uns aos outros, como o exigem a unidade do reino e a unidade da cidade onde vivem, em companhia do próprio Deus. Eles revelam espontaneamente uns aos outros os seus pensamentos e afeições, como as pessoas da mesma casa que são unidas por um sincero amor. Entre os seus concidadãos do Céu, conhecem até os que não conheceram aqui em baixo, e o conhecimento das belas ações os leva a um conhecimento mais completo dos que as realizaram. (Berti, De theologicis disciplinis).
“Perdestes um filho ou uma filha? Recebei as consolações que um Patriarca de Constantinopla dirigia a um pai desolado. Esse patriarca não pode mais ser contado entre os grandes homens, nem entre os santos: É Fócio, o autor do cisma cruel que separa o Oriente e o Ocidente, mas suas palavras apenas provam que, sobre este ponto, os gregos pensam como os latinos. Ei-las: ‘Se vossa filha vos aparecesse; se, pondo as suas mãos nas vossas e sua fronte feliz em vossa fronte ela vos falasse, não seria a descrição do Céu que ela vos faria?’ Depois ela acrescentaria: ‘Por que vos afligir, ó meu pai? Eu estou no paraíso, onde a felicidade não tem limites. Vireis um dia com minha querida mãe, e então constatareis que eu não disse demais deste lugar de delícias, pois a realidade ultrapassa as minhas palavras.’”
Os bons Espíritos podem, assim, manifestar-se, ser vistos, tocar os vivos, falarlhes, descrever sua própria situação, vir consolar e fortalecer os que eles amaram. Se podem falar e tomar a mão, por que não poderiam fazer escrever? Diz o Pe. Blot: “Sobre este ponto, os gregos pensam como os latinos.” Por que, então, hoje os latinos dizem que esse poder só é dado aos demônios para enganar os homens?
A passagem seguinte é ainda mais explícita:
“Numa de suas homilias sobre São Mateus, dizia São João Crisóstomo a cada um de seus ouvintes: ‘Desejais ver aquele que a morte levou? Levai a mesma vida que ele no caminho da virtude, e em breve fruireis essa santa visão. Mas quereis vêlo aqui mesmo? Ora! O que vo-lo impede? Isto vos é permitido e é fácil vê-lo, se fordes prudentes, porque a esperança dos bens futuros é mais clara que a própria vista.’”
O homem carnal não pode ver o que é puramente espiritual. Se, pois, pode ver os Espíritos, é que eles têm uma parte material acessível aos nossos sentidos. É o envoltório fluídico, que o Espiritismo designa sob o nome de perispírito.
Após uma citação de Dante sobre o estado dos bem-aventurados, acrescenta o Pe. Blot:
“Eis pois o princípio de solução para as objeções: No céu, que é menos um lugar do que um estado, tudo é luz, tudo é amor.”
Assim, o Céu não é um lugar circunscrito. É o estado das almas felizes. Em toda parte onde elas forem felizes, elas estarão no Céu, isto é, para elas tudo é luz, amor e inteligência. É o que dizem os Espíritos.
Fénelon, por ocasião da morte do Duque de Beauvilliers, seu amigo, escreveu à duquesa: “Não, só os sentidos e a imaginação perderam seu objetivo. Aquele que não mais podemos ver está conosco mais do que nunca. Encontramo-lo sem cessar em nosso centro comum. Ele aí nos vê e nos proporciona verdadeiro socorro. Aí conhece melhor que nós as nossas enfermidades, ele que não mais tem as suas; e pede os remédios necessários à nossa cura. Para mim, que estava privado de vê-lo há tantos anos, eu lhe falo e lhe abro o meu coração.”
Fénelon escrevia também à viúva do Duque de Chevreuse: “Unamo-nos de coração àquele a quem lamentamos. Ele não se afastou de nós ao tornar-se invisível. Ele nos vê, ele nos ama, ele é tocado por nossas necessidades. Chegado felizmente ao porto, ele ora por nós que ainda estamos expostos ao naufrágio. Diz-nos com uma voz secreta: ‘Apressai-vos para virdes ao nosso encontro.’ Os puros Espíritos veem, entendem, amam sempre os verdadeiros amigos no seu centro comum. Sua amizade é imortal como sua fonte. Os incrédulos só amam a si mesmos. Eles deveriam desesperar-se por perderem os amigos para sempre. No entanto, a amizade divina transforma a sociedade visível numa sociedade de pura fé. Ela chora, mas chorando, consola-se pela esperança de juntar-se a seus amigos no país da verdade e no seio do próprio amor.”
Para justificar o título de seu livro: Reconhecemo-nos no Céu, o Pe. Blot cita grande número de passagens de escritores sacros, de aparições e de manifestações diversas que provam a reunião, após a morte, daqueles que se amaram; as relações existentes entre os mortos e os vivos; o auxílio que se prestam mutuamente pela prece e pela inspiração. Em nenhuma parte fala da separação eterna, consequência da danação eterna, nem de diabos, nem do inferno. Ele mostra, ao contrário, as almas mais sofredoras libertadas pela força do arrependimento e da prece, e pela misericórdia de Deus.
Se o Pe. Blot lançasse anátema contra o Espiritismo, seria lançá-lo contra o seu próprio livro e contra todos os santos cujo testemunho ele invoca. Seja qual for sua opinião a esse respeito, nos dirão que se houvessem pregado sempre nesse sentido, haveria menos incrédulos.
“Desde algum tempo, palavras que me abstenho de qualificar, como cristão e espírita, têm sido pronunciadas muitas vezes por homens que têm a missão de falar às criaturas sobre caridade e misericórdia. Para vos aliviar das penosas impressões que elas vos devem ter causado, como a todo verdadeiro cristão, permiti-me que vos fale de um volumezinho do Rev. Pe. Blot. Não acredito que ele seja espírita, mas encontrei em sua obra o que, no Espiritismo, leva a amar a Deus e esperar em sua misericórdia, bem como diversas passagens que muito se aproximam do que ensinam os Espíritos.”
Nele destacamos as passagens seguintes, que confirmam a opinião do nosso correspondente:
“No Século VII, o Papa São Gregório, o Grande, depois de haver contado que um religioso, ao morrer, vira os profetas aparecerem diante dele, e os designou pelos nomes, acrescentava: “Este exemplo nos faz compreender claramente como será grande o conhecimento que teremos uns dos outros na vida incorruptível do Céu, pois esse religioso, ainda numa carne corruptível, reconheceu os santos profetas que jamais tinha visto.”
“Os santos se veem uns aos outros, como o exigem a unidade do reino e a unidade da cidade onde vivem, em companhia do próprio Deus. Eles revelam espontaneamente uns aos outros os seus pensamentos e afeições, como as pessoas da mesma casa que são unidas por um sincero amor. Entre os seus concidadãos do Céu, conhecem até os que não conheceram aqui em baixo, e o conhecimento das belas ações os leva a um conhecimento mais completo dos que as realizaram. (Berti, De theologicis disciplinis).
“Perdestes um filho ou uma filha? Recebei as consolações que um Patriarca de Constantinopla dirigia a um pai desolado. Esse patriarca não pode mais ser contado entre os grandes homens, nem entre os santos: É Fócio, o autor do cisma cruel que separa o Oriente e o Ocidente, mas suas palavras apenas provam que, sobre este ponto, os gregos pensam como os latinos. Ei-las: ‘Se vossa filha vos aparecesse; se, pondo as suas mãos nas vossas e sua fronte feliz em vossa fronte ela vos falasse, não seria a descrição do Céu que ela vos faria?’ Depois ela acrescentaria: ‘Por que vos afligir, ó meu pai? Eu estou no paraíso, onde a felicidade não tem limites. Vireis um dia com minha querida mãe, e então constatareis que eu não disse demais deste lugar de delícias, pois a realidade ultrapassa as minhas palavras.’”
Os bons Espíritos podem, assim, manifestar-se, ser vistos, tocar os vivos, falarlhes, descrever sua própria situação, vir consolar e fortalecer os que eles amaram. Se podem falar e tomar a mão, por que não poderiam fazer escrever? Diz o Pe. Blot: “Sobre este ponto, os gregos pensam como os latinos.” Por que, então, hoje os latinos dizem que esse poder só é dado aos demônios para enganar os homens?
A passagem seguinte é ainda mais explícita:
“Numa de suas homilias sobre São Mateus, dizia São João Crisóstomo a cada um de seus ouvintes: ‘Desejais ver aquele que a morte levou? Levai a mesma vida que ele no caminho da virtude, e em breve fruireis essa santa visão. Mas quereis vêlo aqui mesmo? Ora! O que vo-lo impede? Isto vos é permitido e é fácil vê-lo, se fordes prudentes, porque a esperança dos bens futuros é mais clara que a própria vista.’”
O homem carnal não pode ver o que é puramente espiritual. Se, pois, pode ver os Espíritos, é que eles têm uma parte material acessível aos nossos sentidos. É o envoltório fluídico, que o Espiritismo designa sob o nome de perispírito.
Após uma citação de Dante sobre o estado dos bem-aventurados, acrescenta o Pe. Blot:
“Eis pois o princípio de solução para as objeções: No céu, que é menos um lugar do que um estado, tudo é luz, tudo é amor.”
Assim, o Céu não é um lugar circunscrito. É o estado das almas felizes. Em toda parte onde elas forem felizes, elas estarão no Céu, isto é, para elas tudo é luz, amor e inteligência. É o que dizem os Espíritos.
Fénelon, por ocasião da morte do Duque de Beauvilliers, seu amigo, escreveu à duquesa: “Não, só os sentidos e a imaginação perderam seu objetivo. Aquele que não mais podemos ver está conosco mais do que nunca. Encontramo-lo sem cessar em nosso centro comum. Ele aí nos vê e nos proporciona verdadeiro socorro. Aí conhece melhor que nós as nossas enfermidades, ele que não mais tem as suas; e pede os remédios necessários à nossa cura. Para mim, que estava privado de vê-lo há tantos anos, eu lhe falo e lhe abro o meu coração.”
Fénelon escrevia também à viúva do Duque de Chevreuse: “Unamo-nos de coração àquele a quem lamentamos. Ele não se afastou de nós ao tornar-se invisível. Ele nos vê, ele nos ama, ele é tocado por nossas necessidades. Chegado felizmente ao porto, ele ora por nós que ainda estamos expostos ao naufrágio. Diz-nos com uma voz secreta: ‘Apressai-vos para virdes ao nosso encontro.’ Os puros Espíritos veem, entendem, amam sempre os verdadeiros amigos no seu centro comum. Sua amizade é imortal como sua fonte. Os incrédulos só amam a si mesmos. Eles deveriam desesperar-se por perderem os amigos para sempre. No entanto, a amizade divina transforma a sociedade visível numa sociedade de pura fé. Ela chora, mas chorando, consola-se pela esperança de juntar-se a seus amigos no país da verdade e no seio do próprio amor.”
Para justificar o título de seu livro: Reconhecemo-nos no Céu, o Pe. Blot cita grande número de passagens de escritores sacros, de aparições e de manifestações diversas que provam a reunião, após a morte, daqueles que se amaram; as relações existentes entre os mortos e os vivos; o auxílio que se prestam mutuamente pela prece e pela inspiração. Em nenhuma parte fala da separação eterna, consequência da danação eterna, nem de diabos, nem do inferno. Ele mostra, ao contrário, as almas mais sofredoras libertadas pela força do arrependimento e da prece, e pela misericórdia de Deus.
Se o Pe. Blot lançasse anátema contra o Espiritismo, seria lançá-lo contra o seu próprio livro e contra todos os santos cujo testemunho ele invoca. Seja qual for sua opinião a esse respeito, nos dirão que se houvessem pregado sempre nesse sentido, haveria menos incrédulos.
(Pelo Sr. Armand Durant)
O Espiritismo conquistou seu status entre as crenças. Se para alguns escritores ele ainda é motivo de pilhérias, nota-se que entre aqueles que outrora o punham a ridículo, a pilhéria baixou de tom, ante o ascendente da opinião das massas, e se limita a citar, sem comentários, ou com restrições mais cuidadas, os fatos que a ele se referem.
Outros, sem nele crer positivamente, e mesmo sem conhecê-lo a fundo, julgam a ideia muito importante para nela buscar assunto para trabalhos de imaginação, ou de fantasia. Tal é, ao que nos parece, o caso da obra de que falamos. É um simples romance, baseado na crença espírita apresentada do ponto de vista sério, mas do qual podemos reprochar alguns erros, sem dúvida provindos de um estudo incompleto da matéria.
O autor, que quer bordar uma ação de fantasia sobre um assunto histórico, deve, antes de tudo, bem penetrar-se da verdade do fato, a fim de não margear a história.
Assim deverão fazer todos os escritores que quiserem tirar proveito da ideia espírita, seja para não serem acusados de ignorância daquilo de que falam, seja para conquistar a simpatia dos adeptos, hoje bastante numerosos para pesar na balança da opinião e concorrer para o sucesso de toda obra que, direta ou indiretamente, diz respeito às suas crenças.
Feita esta reserva do ponto de vista da perfeita ortodoxia, a obra em apreço não será menos lida com muito interesse pelos partidários, como pelos adversários do Espiritismo e agradecemos ao autor a graciosa homenagem que nos fez de seu livro, chamado a popularizar a ideia nova. Citaremos as passagens seguintes, que tratam mais especialmente da doutrina.
“À época em que o Sr. Boursonne (um dos principais personagens do romance) tinha perdido a esposa, uma doutrina mística se espalhava surdamente, lentamente e se propagava na sombra. Ela contava ainda com poucos adeptos, mas não aspirava nada menos que substituir os vários cultos cristãos. Falta-lhe ainda, para tornar-se uma religião poderosa, apenas a perseguição.
“Essa religião é a do Espiritismo, tão eloquentemente exposta pelo Sr. Allan Kardec, em sua notável obra O Livro dos Espíritos. Um de seus mais convictos adeptos era o Conde de Boursonne.
“Não acrescentarei senão algumas palavras sobre essa doutrina, para dar aos incrédulos a compreender que o poder misterioso do conde era inteiramente natural.
“Os espíritas reconhecem Deus e a imortalidade da alma. Eles creem que a Terra é para eles um lugar de transição e de provação. Segundo eles, a alma é inicialmente colocada por Deus num planeta de ordem inferior. Aí ela fica encerrada num corpo mais ou menos grosseiro, até ficar bastante depurada para emigrar para um mundo superior. É assim que, após longas migrações e numerosas provações, as almas chegam, enfim, à perfeição, sendo então admitidas no seio de Deus. Depende, pois, do homem, abreviar suas peregrinações e chegar mais rapidamente junto ao Senhor, melhorando-se rapidamente.
“É uma crença do Espiritismo, crença tocante, que as almas mais perfeitas podem comunicar-se com os Espíritos. Assim, segundo os espíritas, podemos conversar com os seres amados que perdemos, se nossa alma for bastante aperfeiçoada para ouvi-los e saber fazer-se escutar.
“São, pois, as almas melhoradas, os homens mais perfeitos entre nós, que podem servir de intermediários entre o vulgo e os Espíritos. Esses agentes, tão ridicularizados pelo cepticismo quanto admirados e invejados pelos crentes, chamam-se, em linguagem espírita, médiuns.
“Explicado isto, uma vez por todas, notemos de passagem que a Doutrina Espírita, a esta hora, conta seus adeptos por milhares, sobretudo nas grandes cidades, e que o Conde de Boursonne era um dos médiuns mais potentes.”
Aqui há um primeiro erro grave. Se fosse preciso ser perfeito para comunicarse com os Espíritos, muito poucos teriam esse privilégio. Os Espíritos se manifestam mesmo àqueles que muito deixam a desejar, precisamente para motivá-los, por seus conselhos, a melhorar-se, conforme estas palavras do Cristo: “Não são os que têm saúde que precisam do médico.” A mediunidade é uma faculdade que depende do organismo mais ou menos desenvolvido, conforme os indivíduos, mas que pode ser dada ao mais indigno como ao mais digno, sujeitando-se, o primeiro, a ser punido, se dela não tira proveito ou se dela abusa.
A superioridade moral do médium lhe assegura a simpatia dos bons Espíritos e o torna apto a receber instruções de ordem mais elevada, mas a facilidade de comunicar-se com os seres do mundo invisível, quer diretamente, quer por terceiros, é dada a cada um, visando o seu avanço. Eis o que o autor teria sabido se tivesse feito um estudo mais profundo da ciência espírita.
“A Ciência moderna provou que tudo se encadeia. Assim, na ordem material, entre o infusório, último dos animais, e o homem, que é a sua expressão mais elevada, existe uma cadeia de criaturas, melhoradas sucessivamente, como o provam superabundantemente as descobertas dos geólogos. Ora, os espíritas se perguntaram por que não existiria a mesma harmonia no mundo espiritual; se perguntaram por que uma lacuna entre Deus e o homem, como o Sr. Le Verrier se perguntou como podia faltar um planeta em dado lugar no céu, em vista das leis harmoniosas que regem o nosso mundo incompreensível e ainda desconhecido.
“Guiado pelo mesmo raciocínio que conduziu o eminente diretor do Observatório de Paris à sua maravilhosa dedução, foi que os espíritas chegaram a reconhecer seres imateriais entre o homem e Deus, antes de haverem tido a prova palpável, adquirida mais tarde.”
Há aqui, igualmente, outro erro capital. O Espiritismo foi conduzido às suas teorias pela observação dos fatos e não por um sistema preconcebido. O raciocínio de que fala o autor era racional, sem dúvida, mas não foi assim que as coisas se passaram.
Os espíritas concluíram pela existência dos Espíritos porque os Espíritos se manifestaram espontaneamente. Eles indicaram a lei que rege as relações entre o mundo visível e o mundo invisível, porque observaram essas relações. Eles admitiram a hierarquia progressiva dos Espíritos porque os Espíritos se lhes mostraram em todos os graus de adiantamento. Eles adotaram o princípio da pluralidade das existências não só porque os Espíritos lho ensinaram, mas porque esse princípio resulta, como lei da Natureza, da observação dos fatos que temos sob os olhos.
Em resumo, o Espiritismo nada admitiu a título de hipótese prévia. Tudo na sua doutrina é resultado da experiência. Eis tudo o que temos repetido muitas vezes em nossas obras.
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Outros, sem nele crer positivamente, e mesmo sem conhecê-lo a fundo, julgam a ideia muito importante para nela buscar assunto para trabalhos de imaginação, ou de fantasia. Tal é, ao que nos parece, o caso da obra de que falamos. É um simples romance, baseado na crença espírita apresentada do ponto de vista sério, mas do qual podemos reprochar alguns erros, sem dúvida provindos de um estudo incompleto da matéria.
O autor, que quer bordar uma ação de fantasia sobre um assunto histórico, deve, antes de tudo, bem penetrar-se da verdade do fato, a fim de não margear a história.
Assim deverão fazer todos os escritores que quiserem tirar proveito da ideia espírita, seja para não serem acusados de ignorância daquilo de que falam, seja para conquistar a simpatia dos adeptos, hoje bastante numerosos para pesar na balança da opinião e concorrer para o sucesso de toda obra que, direta ou indiretamente, diz respeito às suas crenças.
Feita esta reserva do ponto de vista da perfeita ortodoxia, a obra em apreço não será menos lida com muito interesse pelos partidários, como pelos adversários do Espiritismo e agradecemos ao autor a graciosa homenagem que nos fez de seu livro, chamado a popularizar a ideia nova. Citaremos as passagens seguintes, que tratam mais especialmente da doutrina.
“À época em que o Sr. Boursonne (um dos principais personagens do romance) tinha perdido a esposa, uma doutrina mística se espalhava surdamente, lentamente e se propagava na sombra. Ela contava ainda com poucos adeptos, mas não aspirava nada menos que substituir os vários cultos cristãos. Falta-lhe ainda, para tornar-se uma religião poderosa, apenas a perseguição.
“Essa religião é a do Espiritismo, tão eloquentemente exposta pelo Sr. Allan Kardec, em sua notável obra O Livro dos Espíritos. Um de seus mais convictos adeptos era o Conde de Boursonne.
“Não acrescentarei senão algumas palavras sobre essa doutrina, para dar aos incrédulos a compreender que o poder misterioso do conde era inteiramente natural.
“Os espíritas reconhecem Deus e a imortalidade da alma. Eles creem que a Terra é para eles um lugar de transição e de provação. Segundo eles, a alma é inicialmente colocada por Deus num planeta de ordem inferior. Aí ela fica encerrada num corpo mais ou menos grosseiro, até ficar bastante depurada para emigrar para um mundo superior. É assim que, após longas migrações e numerosas provações, as almas chegam, enfim, à perfeição, sendo então admitidas no seio de Deus. Depende, pois, do homem, abreviar suas peregrinações e chegar mais rapidamente junto ao Senhor, melhorando-se rapidamente.
“É uma crença do Espiritismo, crença tocante, que as almas mais perfeitas podem comunicar-se com os Espíritos. Assim, segundo os espíritas, podemos conversar com os seres amados que perdemos, se nossa alma for bastante aperfeiçoada para ouvi-los e saber fazer-se escutar.
“São, pois, as almas melhoradas, os homens mais perfeitos entre nós, que podem servir de intermediários entre o vulgo e os Espíritos. Esses agentes, tão ridicularizados pelo cepticismo quanto admirados e invejados pelos crentes, chamam-se, em linguagem espírita, médiuns.
“Explicado isto, uma vez por todas, notemos de passagem que a Doutrina Espírita, a esta hora, conta seus adeptos por milhares, sobretudo nas grandes cidades, e que o Conde de Boursonne era um dos médiuns mais potentes.”
Aqui há um primeiro erro grave. Se fosse preciso ser perfeito para comunicarse com os Espíritos, muito poucos teriam esse privilégio. Os Espíritos se manifestam mesmo àqueles que muito deixam a desejar, precisamente para motivá-los, por seus conselhos, a melhorar-se, conforme estas palavras do Cristo: “Não são os que têm saúde que precisam do médico.” A mediunidade é uma faculdade que depende do organismo mais ou menos desenvolvido, conforme os indivíduos, mas que pode ser dada ao mais indigno como ao mais digno, sujeitando-se, o primeiro, a ser punido, se dela não tira proveito ou se dela abusa.
A superioridade moral do médium lhe assegura a simpatia dos bons Espíritos e o torna apto a receber instruções de ordem mais elevada, mas a facilidade de comunicar-se com os seres do mundo invisível, quer diretamente, quer por terceiros, é dada a cada um, visando o seu avanço. Eis o que o autor teria sabido se tivesse feito um estudo mais profundo da ciência espírita.
“A Ciência moderna provou que tudo se encadeia. Assim, na ordem material, entre o infusório, último dos animais, e o homem, que é a sua expressão mais elevada, existe uma cadeia de criaturas, melhoradas sucessivamente, como o provam superabundantemente as descobertas dos geólogos. Ora, os espíritas se perguntaram por que não existiria a mesma harmonia no mundo espiritual; se perguntaram por que uma lacuna entre Deus e o homem, como o Sr. Le Verrier se perguntou como podia faltar um planeta em dado lugar no céu, em vista das leis harmoniosas que regem o nosso mundo incompreensível e ainda desconhecido.
“Guiado pelo mesmo raciocínio que conduziu o eminente diretor do Observatório de Paris à sua maravilhosa dedução, foi que os espíritas chegaram a reconhecer seres imateriais entre o homem e Deus, antes de haverem tido a prova palpável, adquirida mais tarde.”
Há aqui, igualmente, outro erro capital. O Espiritismo foi conduzido às suas teorias pela observação dos fatos e não por um sistema preconcebido. O raciocínio de que fala o autor era racional, sem dúvida, mas não foi assim que as coisas se passaram.
Os espíritas concluíram pela existência dos Espíritos porque os Espíritos se manifestaram espontaneamente. Eles indicaram a lei que rege as relações entre o mundo visível e o mundo invisível, porque observaram essas relações. Eles admitiram a hierarquia progressiva dos Espíritos porque os Espíritos se lhes mostraram em todos os graus de adiantamento. Eles adotaram o princípio da pluralidade das existências não só porque os Espíritos lho ensinaram, mas porque esse princípio resulta, como lei da Natureza, da observação dos fatos que temos sob os olhos.
Em resumo, o Espiritismo nada admitiu a título de hipótese prévia. Tudo na sua doutrina é resultado da experiência. Eis tudo o que temos repetido muitas vezes em nossas obras.
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Julgamos útil publicar o seguinte aviso, para conhecimento das pessoas a quem possa interessar:
Ao receber qualquer carta, o primeiro cuidado é ver a assinatura. Na ausência de assinatura ou de designação suficiente, a carta vai para a cesta, sem ser lida, mesmo que traga a menção: Um dos vossos assinantes; Um espírita, etc. Estes últimos, tendo menos razões que quaisquer outros para se manterem incógnitos em relação a nós, por isso mesmo tornam suspeita a origem de suas cartas, razão pela qual nem mesmo delas tomamos conhecimento, já que a correspondência autêntica é muito numerosa e suficiente para absorver a atenção. A pessoa encarregada de fazer a sua triagem tem instrução formal de rejeitar sem exame toda carta nas condições a que nos referimos.
ALLAN KARDEC
Ao receber qualquer carta, o primeiro cuidado é ver a assinatura. Na ausência de assinatura ou de designação suficiente, a carta vai para a cesta, sem ser lida, mesmo que traga a menção: Um dos vossos assinantes; Um espírita, etc. Estes últimos, tendo menos razões que quaisquer outros para se manterem incógnitos em relação a nós, por isso mesmo tornam suspeita a origem de suas cartas, razão pela qual nem mesmo delas tomamos conhecimento, já que a correspondência autêntica é muito numerosa e suficiente para absorver a atenção. A pessoa encarregada de fazer a sua triagem tem instrução formal de rejeitar sem exame toda carta nas condições a que nos referimos.
ALLAN KARDEC