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Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1864 > Setembro
Setembro
A Revista musical do Siècle de 21 de junho de 1864 trazia o artigo seguinte:
“Sob o título de Um órfão sob ferrolhos, o Sr. de Pontécoulant acaba de publicar excelente notícia em favor de uma boa causa. Parece que o diretor de uma casa de detenção concebeu a engenhosa ideia de fazer a música penetrar nas celas dos condenados. Ele compreendeu que seu dever não era apenas punir, mas corrigir.
“Para agir com certeza sobre o caráter do prisioneiro, magoado pelo castigo, ele foi direto à música. Começou por criar uma escola de canto. Os detentos que se haviam distinguido por sua boa conduta consideraram como uma recompensa fazer parte desse orfeão.
“A penitenciária assim se achava transformada. Entre cerca de mil prisioneiros foram escolhidos cem, que foram chamados a participar dos primeiros ensaios. O efeito foi muito grande sobre o moral desses infelizes. Uma infração dos regulamentos podia afastá-los da escola, então eles se organizaram a fim de respeitar as obrigações, até então desdenhadas.
“Com o propósito de dar melhor a compreender a importância que eles ligam à instituição desses coros, lembrarei que o silêncio lhes é imposto habitualmente. Eles pensam, mas não falam. Eles poderiam esquecer a sua língua, da qual não mais se servem momentaneamente. Nessas condições, compreende-se que essas peças falados e cantados em grupo lhes caem como maná do céu. É o momento de se reunirem, de ouvir vozes, de romper sua solidão, de comover-se, de existir.
“Repito que os resultados são excelentes. De setenta cantores que este ano compunham o orfeão, dezesseis indultos puderam ser concedidas. Não é convincente?
“Esquecia-me de dizer que a experiência foi feita em Melun. É uma prova a encorajar, um exemplo a seguir. Quem sabe esses corações endurecidos talvez sintam derreter o gelo e ainda possam gostar de alguma coisa! Ensinando-lhes a cantar, ensinam-lhes a não mais maldizer. Seu isolamento se povoa, a cabeça se acalma e a tarefa lhes parece menos pesada. Depois, terminada a pena, por vezes reduzida graças à aplicação e à boa conduta, eles sairão, livres da perversão pelo ódio.
“Um dia visitei a casa de saúde do Dr. B..., em companhia de um alienista. No caminho, dizia este:
─ “As duchas! As duchas!... Não conheço senão as duchas e a camisa de força. É a panaceia... Todos os outros paliativos são insuficientes quando se está diante de um louco furioso.
“Nesse momento, gritos no fundo do jardim atraíram a nossa atenção.
─ “Olhai! disse ele, vejo um que vai sofrer um dos dois suplícios, talvez os dois. Quereis que o sigamos? Vereis o efeito.
“O pobre diabo se debatia desesperadamente nas mãos dos guardas. Ele tinha ameaças na boca e fogo nos olhos. Parecia impossível tentar um apaziguamento sem o recurso dos grandes meios.
“De repente ouviu-se uma voz na outra extremidade do jardim. Ela vinha de um pavilhão isolado que se poderia supor que se erguera sozinho, com sua vinha virgem e suas parasitas caindo do telhado, num tufo de espinheiros em flor. A voz cantava o romance de Saulo, da Desdêmona.
“Parei para escutá-la. Não sei se devo a impressão que experimentei à influência da atmosfera e do lugar, mas o que afirmo é que jamais, em tempo algum, me senti tão profundamente comovido. Eu soube, depois, que a cantora era uma dama do mundo, à qual a infelicidade tinha feito perder a razão.
“O louco furioso parou de súbito, cessando de se debater e de blasfemar.
─ “A voz! A voz! disse ele... Psiu!
“E, ouvido à escuta, não experimentava senão o êxtase.
“Ele tinha-se acalmado.
─ “Então! perguntei ao alienista descontrolado, que dizeis do vosso famoso tópico?
“Ele preferia ser feito em pedaços do que retirar sua brutal afirmação. As pessoas sistemáticas são assim. Os fatos nada podem sobre elas. Elas tratam o que as contraria como uma exceção. Não tenteis combatê-las, porque elas têm sua ideia fixa e quando tiverdes esgotado todos os argumentos, elas vos rirão na cara. Nada de concessões! Estão convencidas ou não estão.
“Em vários hospícios de alienados, notadamente em Bicêtre, compreenderam o partido que poderia ser tirado da música e dela se servem vitoriosamente. Aí as missas são cantadas por loucos. Salvo raros incidentes, tudo se realiza conforme o programa, sem que se haja de reprimir o menor desvio.
“Há uma doença mais horrível que a loucura. Refiro-me ao cretinismo. Os loucos têm suas horas de lucidez; às vezes, mesmo, apenas são afetados por uma mania. Conversam razoavelmente sobre todos os assuntos, salvo sobre aquele que os faz divagar. Um se julga de vidro e recomenda que só o toquem com precaução; outro vos aborda e diz, mostrando um de seus vizinhos: ‘Vedes bem aquele moreninho? Ele se julga o filho de Deus, mas o Cristo sou eu!’ Um terceiro vos convida para as suas grandes caçadas, em seu parque esplêndido; ouve a matilha, os criados que o apoiam, as fanfarras que lhe respondem, a presa a gritar; é feliz em seu sonho; é quase sempre um ambicioso caído mais ou menos longe do objetivo visado. Todos os curáveis e incuráveis têm um ponto de referência para a imaginação.
“Mas aos outros, aos idiotas, aos cretinos, o que lhes resta? Eles ficam agachados a um canto de parede, sobre uma pedra, o rosto embrutecido, como horríveis bolas de carne, jamais tendo um lampejo de inteligência e não possuindo nem mesmo o instinto dos animais inferiores. Eles estão completamente perdidos de corpo e alma, não estão? Estão muito rebaixados em sua dignidade humana, muito degradados, muito tolhidos fisicamente e moralmente? Eles têm ouvidos para não ouvir, olhos para não ver, sentidos extintos. Eles são mortos vivos.
“Em vão tentaram algo ressuscitar neles, quer pela dureza, quer pela doçura. Era desesperador.
“Então vocalizaram notas em sua presença, até que as repetissem maquinalmente. Cantarolaram para eles motivos simples e curtos, que eles repetiram. Agora eles cantam. Para eles, cantar é uma festa. Pelo canto, eles são controlados. É sua punição ou sua recompensa; eles obedecem; eles têm consciência de suas ações. Ocupam-nos nos mesmos trabalhos. Ei-los a caminho de uma meia reabilitação intelectual.
“Há regiões em que essa cruel enfermidade se reproduz incessantemente. Será o ar ou a água que a provoca?
“Certa manhã, após uma noite de caça laboriosa, na vertente meridional dos Pireneus, eu tinha entrado na choupana de um pastor, para me refrescar. Aí encontrei o pai debilitado, sua mulher fragilizada e três crianças enfraquecidas, das quais uma enrodilhada sobre um monte de palha podre. Como eu examinasse esse infeliz apatetado, o pai me disse:
─ “Oh! Esse aí jamais viveu; ele nasceu como está. Aqui o cretinismo toma um em três. Eu pago a minha dívida.
─ “Ele vos reconhece? perguntei.
─ “Nem a mim, nem aos irmãos; fica na posição em que o vedes, e só desperta do entorpecimento quando o sol se põe e eu recolho o rebanho esparso; então ele se agita, parece contente, como se acontecesse alguma coisa feliz.
─ “E a que atribuís esse movimento?
─ “Não sei.
─ “De que sinal vos servis?
─ “Do refrão de todos os pastores.
─ “Vejamos. Dizei o refrão, como se os animais fossem ser recolhidos.
“O velho dócil foi para a porta, e, de pé no terreiro, com as mãos em concha, recomeçou o canto de chamada. Um fato estranho ocorreu: o menino doente ergueuse de um salto, soltando gritos inarticulados. Adivinhava-se que ele queria falar. Expliquei que a música agia poderosamente sobre os seus nervos. O pai compreendeu e me disse na sua gíria acentuada:
─ “Eu sei canções; eu lhas direi.
“Dois anos mais tarde tive ocasião de rever essa pobre gente, a quem eu trazia uma camurça ferida.
“O menino se havia tornado dócil.
“Publiquei a história antes que pensassem em servir-se da música como processo curativo em casos semelhantes. Meu relato foi considerado como uma fábula.
“O meio prático depois fez o seu caminho, com os cretinos e com os loucos, o que não impediu o meu alienista de sustentar que nada vale a camisa de força e as duchas. Ele está convicto disso.”
Não sabemos se o autor do artigo, Sr. Chadeuil, é antiespiritualista, mas o que é certo é que é antiespírita de marca maior, a julgar pelos sarcasmos que não poupa à crença nos Espíritos, sempre que achou ocasião em sua Revue musicale. Para negar uma doutrina baseada nos fatos e aceita por milhões de indivíduos ele viu, observou e estudou? Informou-se escrupulosamente em todas as fontes? Seus próprios artigos testemunham ignorância daquilo de que ele fala. Em que, então, ele se apoia para afirmar que é uma crença ridícula? Em sua opinião pessoal, que acha ridícula a ideia de Espíritos comunicando-se com os homens, exatamente como todas as ideias novas de alguma importância foram julgadas ridículas pelos homens, mesmo os mais capazes. É assim, sem dúvida, a aplicação dessas notáveis e verídicas palavras de seu artigo:
“As pessoas sistemáticas são assim. Os fatos nada podem sobre elas. Elas tratam o que as contraria como uma exceção. Não tenteis combatê-las, porque elas têm sua ideia fixa e quando tiverdes esgotado todos os argumentos, elas vos rirão na cara.”
Não é mais uma vez a história da trave e do argueiro no olho? É verdade que não sabemos se esta reflexão é dele ou do Sr. Pontécoulant. Seja como for, ele a cita como um elogio, portanto a aceita. Mas deixemos de lado a opinião do Sr. Chadeuil, que pouco nos importa, e vejamos o artigo em si mesmo, que constata um fato importante: A influência da música sobre os criminosos, os loucos e os idiotas.
Em todos os tempos tem-se reconhecido a influência salutar da música para o abrandamento dos costumes. Sua introdução entre os criminosos seria um progresso incontestável e só poderia ter resultados satisfatórios. Ela excita as fibras entorpecidas da sensibilidade e as predispõe a receber as impressões morais. Mas isso é suficiente? Não. É um trabalho em terra inculta, que necessita da semeadura de ideias próprias a provocar uma profunda impressão sobre essas naturezas desviadas. É preciso falar à alma, depois de haver amolecido o coração. O que lhes falta é a fé em Deus, em sua alma e no futuro; não uma fé vaga, incerta, incessantemente combatida pela dúvida, mas uma fé baseada na certeza, a única que pode torná-la inabalável. Sem dúvida a música pode predispor a isso, mas não a dá. Nem por isto deixa de ser uma auxiliar que não se pode negligenciar. Esta tentativa, e muitas outras que a Humanidade e a civilização não podem senão aplaudir, testemunham uma louvável solicitude pelo moral dos condenados. Resta, porém, atingir o mal na sua raiz. Um dia será reconhecida toda a extensão do socorro que pode ser haurido nas ideias espíritas, cuja influência já está provada pelas numerosas transformações que elas operam nas naturezas aparentemente mais rebeldes. Os que aprofundaram esta doutrina e meditaram sobre as suas tendências e as suas consequências inevitáveis são os únicos a compreender a força do freio que ela opõe aos arrastamentos perniciosos. A razão desse poder é que ele se dirige à própria causa desses arrastamentos, que é a imperfeição do Espírito, ao passo que a maior parte do tempo só a buscam na imperfeição da matéria. O Espiritismo, atualmente, como doutrina moral, não mais se acha no estado de simples teoria. Ele entrou na prática, ao menos para um grande número dos que admitem os seus princípios. Ora, conforme o que se passa, e em presença dos resultados produzidos, pode-se afirmar sem medo que a diminuição dos crimes e delitos será proporcional à sua divulgação. É o que um futuro próximo encarregar-se-á de demonstrar. Esperando que a experiência se faça em mais larga escala, ela se faz todos os dias individualmente. Disto a Revista já forneceu numerosos exemplos; limitar-nos-emos a lembrar as cartas de dois prisioneiros, publicadas nos números de novembro de 1863 e fevereiro de 1864.
Deixamos aos leitores o cuidado de apreciar o fato acima, relativo à loucura. Sem a menor dúvida é a mais amarga crítica aos alienistas que só conhecem as duchas e a camisa de força. O Espiritismo vem lançar uma luz completamente nova sobre as doenças mentais, demonstrando a dualidade do ser humano, e a possibilidade de agir isoladamente sobre o ser espiritual e sobre o ser material. O número incessantemente crescente dos médicos que entram nessa nova ordem de ideias necessariamente trará grandes modificações no tratamento dessas espécies de afecções. Abstração feita da ideia espírita propriamente dita, a constatação dos efeitos da música em semelhantes casos é um passo na via espiritualista, da qual os alienistas em geral se afastaram até hoje, com grande prejuízo para os doentes.
O efeito produzido sobre os idiotas e os cretinos é ainda mais característico. Quase sempre os loucos foram homens inteligentes; entretanto, isso não se dá com os idiotas e os cretinos, que parecem votados pela própria natureza a uma nulidade moral absoluta. O Espiritismo experimental vem também aqui lançar a luz, provando, pelo isolamento do Espírito e do corpo, que se trata geralmente de Espíritos desenvolvidos e não atrasados, como se poderia supor, mas unidos a corpos imperfeitos. Pela igualdade de inteligência, a diferença entre o louco e o cretino é que o primeiro, no nascimento do corpo, é provido de órgãos cerebrais constituídos normalmente, mas que mais tarde se desorganizam, ao passo que o segundo é um Espírito encarnado num corpo cujos órgãos, atrofiados desde o princípio, jamais lhe permitiram manifestar livremente o pensamento. Ele está na situação de um homem forte e vigoroso a quem tivessem tirado a liberdade de movimentos. Tal constrangimento é para o Espírito um verdadeiro suplício, porque ele não deixa de ter a faculdade de pensar, e sente, como Espírito, a abjeção em que o coloca sua enfermidade. Suponhamos, então, que em dado momento, por um tratamento qualquer, se possam desligar os órgãos: o Espírito recobraria a liberdade e o maior cretino tornar-se-ia um homem inteligente. Seria como um prisioneiro saindo da prisão, ou como um bom músico diante de um instrumento completo, ou, ainda, como um mudo recuperando a palavra.
O que falta ao idiota não são, pois, as faculdades, mas as cordas cerebrais correspondentes a essas faculdades, para a sua manifestação. Na criança normalmente constituída, o exercício das faculdades do Espírito leva ao desenvolvimento dos órgãos correspondentes, que nenhuma resistência oferecem. No idiota, a ação do Espírito é impotente para provocar um desenvolvimento que ficou em estado rudimentar, como um fruto abortado. A cura radical do idiota é, pois, impossível; tudo quanto se pode esperar é uma ligeira melhora. Por isto não se conhece nenhum tratamento aplicável aos órgãos; é ao Espírito que se tem de dirigir. Estudando as faculdades cujo germe se descobre, há que provocar o seu exercício da parte do Espírito, e então, se ele superar a resistência, poder-se-á obter uma manifestação, senão completa, ao menos parcial. Se há um meio externo de agir sobre os órgãos, é, sem dúvida, a música. Ela consegue abalar essas fibras entorpecidas, como um grande ruído que chega aos ouvidos de um surdo. O Espírito com isto se abala, como numa lembrança, e sua atividade, provocada, redobra os esforços para vencer os obstáculos.
Para aquele que no homem vê apenas uma máquina organizada, sem levar em conta a inteligência que preside a atividade desse organismo, tudo é obscuridade e problema nas funções vitais, tudo é incerteza no tratamento das afecções. Eis por que, o mais das vezes, não se ataca de frente o mal; mais do que isto: tudo são trevas nas evoluções da Humanidade, tudo é tateamento nas instituições sociais, por isso tantas vezes se toma o caminho errado. Admiti, apenas a título de hipótese, a dualidade do homem, a presença de um ser inteligente independente da matéria, preexistente e sobrevivente ao corpo, que para este é apenas envoltório temporário, e tudo se explica. Por experiências positivas, o Espiritismo faz desta hipótese uma realidade, revelando-nos a lei que rege as relações do Espírito e da matéria.
Então ride, ó céticos, da Doutrina dos Espíritos, saída do fenômeno vulgar das mesas girantes, como a telegrafia elétrica saiu das rãs dançarinas de Galvani, mas pensai que negando os Espíritos, vos negais a vós mesmos, e que riram das maiores descobertas.
“Sob o título de Um órfão sob ferrolhos, o Sr. de Pontécoulant acaba de publicar excelente notícia em favor de uma boa causa. Parece que o diretor de uma casa de detenção concebeu a engenhosa ideia de fazer a música penetrar nas celas dos condenados. Ele compreendeu que seu dever não era apenas punir, mas corrigir.
“Para agir com certeza sobre o caráter do prisioneiro, magoado pelo castigo, ele foi direto à música. Começou por criar uma escola de canto. Os detentos que se haviam distinguido por sua boa conduta consideraram como uma recompensa fazer parte desse orfeão.
“A penitenciária assim se achava transformada. Entre cerca de mil prisioneiros foram escolhidos cem, que foram chamados a participar dos primeiros ensaios. O efeito foi muito grande sobre o moral desses infelizes. Uma infração dos regulamentos podia afastá-los da escola, então eles se organizaram a fim de respeitar as obrigações, até então desdenhadas.
“Com o propósito de dar melhor a compreender a importância que eles ligam à instituição desses coros, lembrarei que o silêncio lhes é imposto habitualmente. Eles pensam, mas não falam. Eles poderiam esquecer a sua língua, da qual não mais se servem momentaneamente. Nessas condições, compreende-se que essas peças falados e cantados em grupo lhes caem como maná do céu. É o momento de se reunirem, de ouvir vozes, de romper sua solidão, de comover-se, de existir.
“Repito que os resultados são excelentes. De setenta cantores que este ano compunham o orfeão, dezesseis indultos puderam ser concedidas. Não é convincente?
“Esquecia-me de dizer que a experiência foi feita em Melun. É uma prova a encorajar, um exemplo a seguir. Quem sabe esses corações endurecidos talvez sintam derreter o gelo e ainda possam gostar de alguma coisa! Ensinando-lhes a cantar, ensinam-lhes a não mais maldizer. Seu isolamento se povoa, a cabeça se acalma e a tarefa lhes parece menos pesada. Depois, terminada a pena, por vezes reduzida graças à aplicação e à boa conduta, eles sairão, livres da perversão pelo ódio.
“Um dia visitei a casa de saúde do Dr. B..., em companhia de um alienista. No caminho, dizia este:
─ “As duchas! As duchas!... Não conheço senão as duchas e a camisa de força. É a panaceia... Todos os outros paliativos são insuficientes quando se está diante de um louco furioso.
“Nesse momento, gritos no fundo do jardim atraíram a nossa atenção.
─ “Olhai! disse ele, vejo um que vai sofrer um dos dois suplícios, talvez os dois. Quereis que o sigamos? Vereis o efeito.
“O pobre diabo se debatia desesperadamente nas mãos dos guardas. Ele tinha ameaças na boca e fogo nos olhos. Parecia impossível tentar um apaziguamento sem o recurso dos grandes meios.
“De repente ouviu-se uma voz na outra extremidade do jardim. Ela vinha de um pavilhão isolado que se poderia supor que se erguera sozinho, com sua vinha virgem e suas parasitas caindo do telhado, num tufo de espinheiros em flor. A voz cantava o romance de Saulo, da Desdêmona.
“Parei para escutá-la. Não sei se devo a impressão que experimentei à influência da atmosfera e do lugar, mas o que afirmo é que jamais, em tempo algum, me senti tão profundamente comovido. Eu soube, depois, que a cantora era uma dama do mundo, à qual a infelicidade tinha feito perder a razão.
“O louco furioso parou de súbito, cessando de se debater e de blasfemar.
─ “A voz! A voz! disse ele... Psiu!
“E, ouvido à escuta, não experimentava senão o êxtase.
“Ele tinha-se acalmado.
─ “Então! perguntei ao alienista descontrolado, que dizeis do vosso famoso tópico?
“Ele preferia ser feito em pedaços do que retirar sua brutal afirmação. As pessoas sistemáticas são assim. Os fatos nada podem sobre elas. Elas tratam o que as contraria como uma exceção. Não tenteis combatê-las, porque elas têm sua ideia fixa e quando tiverdes esgotado todos os argumentos, elas vos rirão na cara. Nada de concessões! Estão convencidas ou não estão.
“Em vários hospícios de alienados, notadamente em Bicêtre, compreenderam o partido que poderia ser tirado da música e dela se servem vitoriosamente. Aí as missas são cantadas por loucos. Salvo raros incidentes, tudo se realiza conforme o programa, sem que se haja de reprimir o menor desvio.
“Há uma doença mais horrível que a loucura. Refiro-me ao cretinismo. Os loucos têm suas horas de lucidez; às vezes, mesmo, apenas são afetados por uma mania. Conversam razoavelmente sobre todos os assuntos, salvo sobre aquele que os faz divagar. Um se julga de vidro e recomenda que só o toquem com precaução; outro vos aborda e diz, mostrando um de seus vizinhos: ‘Vedes bem aquele moreninho? Ele se julga o filho de Deus, mas o Cristo sou eu!’ Um terceiro vos convida para as suas grandes caçadas, em seu parque esplêndido; ouve a matilha, os criados que o apoiam, as fanfarras que lhe respondem, a presa a gritar; é feliz em seu sonho; é quase sempre um ambicioso caído mais ou menos longe do objetivo visado. Todos os curáveis e incuráveis têm um ponto de referência para a imaginação.
“Mas aos outros, aos idiotas, aos cretinos, o que lhes resta? Eles ficam agachados a um canto de parede, sobre uma pedra, o rosto embrutecido, como horríveis bolas de carne, jamais tendo um lampejo de inteligência e não possuindo nem mesmo o instinto dos animais inferiores. Eles estão completamente perdidos de corpo e alma, não estão? Estão muito rebaixados em sua dignidade humana, muito degradados, muito tolhidos fisicamente e moralmente? Eles têm ouvidos para não ouvir, olhos para não ver, sentidos extintos. Eles são mortos vivos.
“Em vão tentaram algo ressuscitar neles, quer pela dureza, quer pela doçura. Era desesperador.
“Então vocalizaram notas em sua presença, até que as repetissem maquinalmente. Cantarolaram para eles motivos simples e curtos, que eles repetiram. Agora eles cantam. Para eles, cantar é uma festa. Pelo canto, eles são controlados. É sua punição ou sua recompensa; eles obedecem; eles têm consciência de suas ações. Ocupam-nos nos mesmos trabalhos. Ei-los a caminho de uma meia reabilitação intelectual.
“Há regiões em que essa cruel enfermidade se reproduz incessantemente. Será o ar ou a água que a provoca?
“Certa manhã, após uma noite de caça laboriosa, na vertente meridional dos Pireneus, eu tinha entrado na choupana de um pastor, para me refrescar. Aí encontrei o pai debilitado, sua mulher fragilizada e três crianças enfraquecidas, das quais uma enrodilhada sobre um monte de palha podre. Como eu examinasse esse infeliz apatetado, o pai me disse:
─ “Oh! Esse aí jamais viveu; ele nasceu como está. Aqui o cretinismo toma um em três. Eu pago a minha dívida.
─ “Ele vos reconhece? perguntei.
─ “Nem a mim, nem aos irmãos; fica na posição em que o vedes, e só desperta do entorpecimento quando o sol se põe e eu recolho o rebanho esparso; então ele se agita, parece contente, como se acontecesse alguma coisa feliz.
─ “E a que atribuís esse movimento?
─ “Não sei.
─ “De que sinal vos servis?
─ “Do refrão de todos os pastores.
─ “Vejamos. Dizei o refrão, como se os animais fossem ser recolhidos.
“O velho dócil foi para a porta, e, de pé no terreiro, com as mãos em concha, recomeçou o canto de chamada. Um fato estranho ocorreu: o menino doente ergueuse de um salto, soltando gritos inarticulados. Adivinhava-se que ele queria falar. Expliquei que a música agia poderosamente sobre os seus nervos. O pai compreendeu e me disse na sua gíria acentuada:
─ “Eu sei canções; eu lhas direi.
“Dois anos mais tarde tive ocasião de rever essa pobre gente, a quem eu trazia uma camurça ferida.
“O menino se havia tornado dócil.
“Publiquei a história antes que pensassem em servir-se da música como processo curativo em casos semelhantes. Meu relato foi considerado como uma fábula.
“O meio prático depois fez o seu caminho, com os cretinos e com os loucos, o que não impediu o meu alienista de sustentar que nada vale a camisa de força e as duchas. Ele está convicto disso.”
Não sabemos se o autor do artigo, Sr. Chadeuil, é antiespiritualista, mas o que é certo é que é antiespírita de marca maior, a julgar pelos sarcasmos que não poupa à crença nos Espíritos, sempre que achou ocasião em sua Revue musicale. Para negar uma doutrina baseada nos fatos e aceita por milhões de indivíduos ele viu, observou e estudou? Informou-se escrupulosamente em todas as fontes? Seus próprios artigos testemunham ignorância daquilo de que ele fala. Em que, então, ele se apoia para afirmar que é uma crença ridícula? Em sua opinião pessoal, que acha ridícula a ideia de Espíritos comunicando-se com os homens, exatamente como todas as ideias novas de alguma importância foram julgadas ridículas pelos homens, mesmo os mais capazes. É assim, sem dúvida, a aplicação dessas notáveis e verídicas palavras de seu artigo:
“As pessoas sistemáticas são assim. Os fatos nada podem sobre elas. Elas tratam o que as contraria como uma exceção. Não tenteis combatê-las, porque elas têm sua ideia fixa e quando tiverdes esgotado todos os argumentos, elas vos rirão na cara.”
Não é mais uma vez a história da trave e do argueiro no olho? É verdade que não sabemos se esta reflexão é dele ou do Sr. Pontécoulant. Seja como for, ele a cita como um elogio, portanto a aceita. Mas deixemos de lado a opinião do Sr. Chadeuil, que pouco nos importa, e vejamos o artigo em si mesmo, que constata um fato importante: A influência da música sobre os criminosos, os loucos e os idiotas.
Em todos os tempos tem-se reconhecido a influência salutar da música para o abrandamento dos costumes. Sua introdução entre os criminosos seria um progresso incontestável e só poderia ter resultados satisfatórios. Ela excita as fibras entorpecidas da sensibilidade e as predispõe a receber as impressões morais. Mas isso é suficiente? Não. É um trabalho em terra inculta, que necessita da semeadura de ideias próprias a provocar uma profunda impressão sobre essas naturezas desviadas. É preciso falar à alma, depois de haver amolecido o coração. O que lhes falta é a fé em Deus, em sua alma e no futuro; não uma fé vaga, incerta, incessantemente combatida pela dúvida, mas uma fé baseada na certeza, a única que pode torná-la inabalável. Sem dúvida a música pode predispor a isso, mas não a dá. Nem por isto deixa de ser uma auxiliar que não se pode negligenciar. Esta tentativa, e muitas outras que a Humanidade e a civilização não podem senão aplaudir, testemunham uma louvável solicitude pelo moral dos condenados. Resta, porém, atingir o mal na sua raiz. Um dia será reconhecida toda a extensão do socorro que pode ser haurido nas ideias espíritas, cuja influência já está provada pelas numerosas transformações que elas operam nas naturezas aparentemente mais rebeldes. Os que aprofundaram esta doutrina e meditaram sobre as suas tendências e as suas consequências inevitáveis são os únicos a compreender a força do freio que ela opõe aos arrastamentos perniciosos. A razão desse poder é que ele se dirige à própria causa desses arrastamentos, que é a imperfeição do Espírito, ao passo que a maior parte do tempo só a buscam na imperfeição da matéria. O Espiritismo, atualmente, como doutrina moral, não mais se acha no estado de simples teoria. Ele entrou na prática, ao menos para um grande número dos que admitem os seus princípios. Ora, conforme o que se passa, e em presença dos resultados produzidos, pode-se afirmar sem medo que a diminuição dos crimes e delitos será proporcional à sua divulgação. É o que um futuro próximo encarregar-se-á de demonstrar. Esperando que a experiência se faça em mais larga escala, ela se faz todos os dias individualmente. Disto a Revista já forneceu numerosos exemplos; limitar-nos-emos a lembrar as cartas de dois prisioneiros, publicadas nos números de novembro de 1863 e fevereiro de 1864.
Deixamos aos leitores o cuidado de apreciar o fato acima, relativo à loucura. Sem a menor dúvida é a mais amarga crítica aos alienistas que só conhecem as duchas e a camisa de força. O Espiritismo vem lançar uma luz completamente nova sobre as doenças mentais, demonstrando a dualidade do ser humano, e a possibilidade de agir isoladamente sobre o ser espiritual e sobre o ser material. O número incessantemente crescente dos médicos que entram nessa nova ordem de ideias necessariamente trará grandes modificações no tratamento dessas espécies de afecções. Abstração feita da ideia espírita propriamente dita, a constatação dos efeitos da música em semelhantes casos é um passo na via espiritualista, da qual os alienistas em geral se afastaram até hoje, com grande prejuízo para os doentes.
O efeito produzido sobre os idiotas e os cretinos é ainda mais característico. Quase sempre os loucos foram homens inteligentes; entretanto, isso não se dá com os idiotas e os cretinos, que parecem votados pela própria natureza a uma nulidade moral absoluta. O Espiritismo experimental vem também aqui lançar a luz, provando, pelo isolamento do Espírito e do corpo, que se trata geralmente de Espíritos desenvolvidos e não atrasados, como se poderia supor, mas unidos a corpos imperfeitos. Pela igualdade de inteligência, a diferença entre o louco e o cretino é que o primeiro, no nascimento do corpo, é provido de órgãos cerebrais constituídos normalmente, mas que mais tarde se desorganizam, ao passo que o segundo é um Espírito encarnado num corpo cujos órgãos, atrofiados desde o princípio, jamais lhe permitiram manifestar livremente o pensamento. Ele está na situação de um homem forte e vigoroso a quem tivessem tirado a liberdade de movimentos. Tal constrangimento é para o Espírito um verdadeiro suplício, porque ele não deixa de ter a faculdade de pensar, e sente, como Espírito, a abjeção em que o coloca sua enfermidade. Suponhamos, então, que em dado momento, por um tratamento qualquer, se possam desligar os órgãos: o Espírito recobraria a liberdade e o maior cretino tornar-se-ia um homem inteligente. Seria como um prisioneiro saindo da prisão, ou como um bom músico diante de um instrumento completo, ou, ainda, como um mudo recuperando a palavra.
O que falta ao idiota não são, pois, as faculdades, mas as cordas cerebrais correspondentes a essas faculdades, para a sua manifestação. Na criança normalmente constituída, o exercício das faculdades do Espírito leva ao desenvolvimento dos órgãos correspondentes, que nenhuma resistência oferecem. No idiota, a ação do Espírito é impotente para provocar um desenvolvimento que ficou em estado rudimentar, como um fruto abortado. A cura radical do idiota é, pois, impossível; tudo quanto se pode esperar é uma ligeira melhora. Por isto não se conhece nenhum tratamento aplicável aos órgãos; é ao Espírito que se tem de dirigir. Estudando as faculdades cujo germe se descobre, há que provocar o seu exercício da parte do Espírito, e então, se ele superar a resistência, poder-se-á obter uma manifestação, senão completa, ao menos parcial. Se há um meio externo de agir sobre os órgãos, é, sem dúvida, a música. Ela consegue abalar essas fibras entorpecidas, como um grande ruído que chega aos ouvidos de um surdo. O Espírito com isto se abala, como numa lembrança, e sua atividade, provocada, redobra os esforços para vencer os obstáculos.
Para aquele que no homem vê apenas uma máquina organizada, sem levar em conta a inteligência que preside a atividade desse organismo, tudo é obscuridade e problema nas funções vitais, tudo é incerteza no tratamento das afecções. Eis por que, o mais das vezes, não se ataca de frente o mal; mais do que isto: tudo são trevas nas evoluções da Humanidade, tudo é tateamento nas instituições sociais, por isso tantas vezes se toma o caminho errado. Admiti, apenas a título de hipótese, a dualidade do homem, a presença de um ser inteligente independente da matéria, preexistente e sobrevivente ao corpo, que para este é apenas envoltório temporário, e tudo se explica. Por experiências positivas, o Espiritismo faz desta hipótese uma realidade, revelando-nos a lei que rege as relações do Espírito e da matéria.
Então ride, ó céticos, da Doutrina dos Espíritos, saída do fenômeno vulgar das mesas girantes, como a telegrafia elétrica saiu das rãs dançarinas de Galvani, mas pensai que negando os Espíritos, vos negais a vós mesmos, e que riram das maiores descobertas.
Escrevem-nos da Espanha, a 1.º de agosto de 1864:
“Caro mestre,
“Tomo a liberdade de vos enviar a nova ordenação que Monsenhor Pantaleão, Bispo de Barcelona, acaba de publicar no jornal El Diario de Barcelona, de 31 de julho. Como podeis notar, ele quis marchar sobre o rastro de seu predecessor. Para mim, espírita sincero, perdoo os palavrões que nos dirige, mas não me posso impedir de pensar que ele poderia empregar a ciência que possui de maneira mais aproveitável para o bem da fé e de seus semelhantes. Para citar apenas um exemplo. temos a cada instante o espetáculo dessas abomináveis touradas, nas quais os pobres animais, depois de ter passado a vida a serviço do homem, vêm morrer estripados nessas tristes arenas, para maior alegria de uma população ávida de sangue, e cujos maus instintos são desenvolvidos por esses jogos bárbaros.
“Eis o que deveríeis fulminar, Monsenhor, e não o Espiritismo, que diariamente vos trás ao aprisco ovelhas que havíeis perdido, pois eu, que cria sinceramente em Deus e que reconhecia a sua grandeza nos mínimos detalhes da Natureza, antes de ser espírita não me podia aproximar de uma igreja, tanta discordância os meus olhos viam entre os que se dizem os representantes de Deus na Terra e essa grande figura do Cristo, que o Evangelho nos mostra todo amor e abnegação. Sim, dizia de mim para mim, Jesus se sacrifica por nós; faz sua entrada triunfal em Jerusalém vestindo um burel e montado num jumento, e vós, que vos dizes seus representantes, vos cobris de seda, ouro e diamantes. É esse o desprezo das riquezas que o Divino Messias pregava aos seus apóstolos? Não. Entretanto, Monsenhor, eu vos confesso que a partir do momento em que me tornei espírita, pude voltar a frequentar as vossas igrejas; pude aí orar a Deus com fervor, a despeito da música mundana que aí se veste de ópera; pude orar, pensando que entre todas essas pessoas reunidas provavelmente havia algumas para as quais a pompa teatral era útil para elevar suas almas a Deus; pude então perdoar o vosso luxo e compreendê-lo num certo sentido. Assim, bem vedes, Monsenhor, que não é sobre os espíritas que deveríeis trovejar, e se, como não duvido, tendes em vista apenas o bem do vosso rebanho, reconsiderai vossa maneira de ver o Espiritismo, que só nos prega o amor ao próximo, o perdão das injúrias, a doçura, a caridade e o amor aos nossos inimigos.
“Caro mestre, perdoai-me estas linhas, que foram sugeridas por essa nova ordenação. O Espiritismo veio reavivar a minha fé, explicando-me todas as misérias da vida que até agora minha inteligência não tinha podido compreender. Sinceramente persuadido de que trabalhamos para o nosso adiantamento e para o da Humanidade, não cessarei de propagar esta doutrina no meu círculo de relações, para tanto empregando uma convicção profunda e os meios que Deus me deu.
“Dignai-vos receber, caro mestre, etc.”
Damos a seguir a tradução da ordenação do senhor bispo. Reproduzimo-la in extenso para não enfraquecer o seu alcance. O senhor bispo de Barcelona é considerado, com razão, como um homem de mérito; ele deve, pois, ter reunido os mais poderosos argumentos contra o Espiritismo. Os nossos leitores julgarão se ele é mais feliz que os seus confrades, e se o golpe de misericórdia nos será dado do outro lado dos Pireneus. Limitamo-nos a intercalar algumas observações.
“Nós, D. D. Pantaleón Monserra y Navarro, pela graça de Deus e da Santa Sé apostólica, bispo de Barcelona, cavaleiro da grã-cruz da Ordem Americana de Izabel a Católica, do Conselho de Sua Majestade, etc.
“Aos nossos amados e fiéis diocesanos,
“Colocado na Terra como num lugar de trevas, que lhe impede de ver as coisas colocadas numa ordem superior, o homem não pode dar um passo para buscá-las se não for esclarecido pela chama da fé. Se ele se separa desse guia, apenas tropeçará, caindo hoje no extremo da incredulidade, que tudo nega, e amanhã na superstição, que em tudo crê. Nossa época, que pretende conduzir-se pela razão e pelo senso, não admitindo como verdadeiro senão o que lhe mostram essas testemunhas falaciosas, vê-se atravessada por uma imensa corrente de ideias, arrastando, em consequência, a negação do sobrenatural e uma excessiva credulidade. Uma e outra são o produto do orgulho da inteligência humana, que se recusa a prestar razoável atenção à palavra revelada de Deus. A geração atual se vê obrigada a assistir a esse triste espetáculo que hoje nos dão os povos mais adiantados em ciência e em civilização. Os Estados Unidos da América, essa nação chamada modelo, e algumas partes da França, aí compreendida a colônia de Argel, empenham-se, há algum tempo, no estudo ridículo e na aplicação do Espiritismo, que vem, sob esse nome, ressuscitar as antigas práticas da necromancia, pela evocação dos Espíritos invisíveis que repousam no lugar de seu destino, situado além da sepultura, e os consultam para descobrir segredos ocultos sob o véu por Deus estendido entre o tempo e a eternidade.”
“Caro mestre,
“Tomo a liberdade de vos enviar a nova ordenação que Monsenhor Pantaleão, Bispo de Barcelona, acaba de publicar no jornal El Diario de Barcelona, de 31 de julho. Como podeis notar, ele quis marchar sobre o rastro de seu predecessor. Para mim, espírita sincero, perdoo os palavrões que nos dirige, mas não me posso impedir de pensar que ele poderia empregar a ciência que possui de maneira mais aproveitável para o bem da fé e de seus semelhantes. Para citar apenas um exemplo. temos a cada instante o espetáculo dessas abomináveis touradas, nas quais os pobres animais, depois de ter passado a vida a serviço do homem, vêm morrer estripados nessas tristes arenas, para maior alegria de uma população ávida de sangue, e cujos maus instintos são desenvolvidos por esses jogos bárbaros.
“Eis o que deveríeis fulminar, Monsenhor, e não o Espiritismo, que diariamente vos trás ao aprisco ovelhas que havíeis perdido, pois eu, que cria sinceramente em Deus e que reconhecia a sua grandeza nos mínimos detalhes da Natureza, antes de ser espírita não me podia aproximar de uma igreja, tanta discordância os meus olhos viam entre os que se dizem os representantes de Deus na Terra e essa grande figura do Cristo, que o Evangelho nos mostra todo amor e abnegação. Sim, dizia de mim para mim, Jesus se sacrifica por nós; faz sua entrada triunfal em Jerusalém vestindo um burel e montado num jumento, e vós, que vos dizes seus representantes, vos cobris de seda, ouro e diamantes. É esse o desprezo das riquezas que o Divino Messias pregava aos seus apóstolos? Não. Entretanto, Monsenhor, eu vos confesso que a partir do momento em que me tornei espírita, pude voltar a frequentar as vossas igrejas; pude aí orar a Deus com fervor, a despeito da música mundana que aí se veste de ópera; pude orar, pensando que entre todas essas pessoas reunidas provavelmente havia algumas para as quais a pompa teatral era útil para elevar suas almas a Deus; pude então perdoar o vosso luxo e compreendê-lo num certo sentido. Assim, bem vedes, Monsenhor, que não é sobre os espíritas que deveríeis trovejar, e se, como não duvido, tendes em vista apenas o bem do vosso rebanho, reconsiderai vossa maneira de ver o Espiritismo, que só nos prega o amor ao próximo, o perdão das injúrias, a doçura, a caridade e o amor aos nossos inimigos.
“Caro mestre, perdoai-me estas linhas, que foram sugeridas por essa nova ordenação. O Espiritismo veio reavivar a minha fé, explicando-me todas as misérias da vida que até agora minha inteligência não tinha podido compreender. Sinceramente persuadido de que trabalhamos para o nosso adiantamento e para o da Humanidade, não cessarei de propagar esta doutrina no meu círculo de relações, para tanto empregando uma convicção profunda e os meios que Deus me deu.
“Dignai-vos receber, caro mestre, etc.”
Damos a seguir a tradução da ordenação do senhor bispo. Reproduzimo-la in extenso para não enfraquecer o seu alcance. O senhor bispo de Barcelona é considerado, com razão, como um homem de mérito; ele deve, pois, ter reunido os mais poderosos argumentos contra o Espiritismo. Os nossos leitores julgarão se ele é mais feliz que os seus confrades, e se o golpe de misericórdia nos será dado do outro lado dos Pireneus. Limitamo-nos a intercalar algumas observações.
“Nós, D. D. Pantaleón Monserra y Navarro, pela graça de Deus e da Santa Sé apostólica, bispo de Barcelona, cavaleiro da grã-cruz da Ordem Americana de Izabel a Católica, do Conselho de Sua Majestade, etc.
“Aos nossos amados e fiéis diocesanos,
“Colocado na Terra como num lugar de trevas, que lhe impede de ver as coisas colocadas numa ordem superior, o homem não pode dar um passo para buscá-las se não for esclarecido pela chama da fé. Se ele se separa desse guia, apenas tropeçará, caindo hoje no extremo da incredulidade, que tudo nega, e amanhã na superstição, que em tudo crê. Nossa época, que pretende conduzir-se pela razão e pelo senso, não admitindo como verdadeiro senão o que lhe mostram essas testemunhas falaciosas, vê-se atravessada por uma imensa corrente de ideias, arrastando, em consequência, a negação do sobrenatural e uma excessiva credulidade. Uma e outra são o produto do orgulho da inteligência humana, que se recusa a prestar razoável atenção à palavra revelada de Deus. A geração atual se vê obrigada a assistir a esse triste espetáculo que hoje nos dão os povos mais adiantados em ciência e em civilização. Os Estados Unidos da América, essa nação chamada modelo, e algumas partes da França, aí compreendida a colônia de Argel, empenham-se, há algum tempo, no estudo ridículo e na aplicação do Espiritismo, que vem, sob esse nome, ressuscitar as antigas práticas da necromancia, pela evocação dos Espíritos invisíveis que repousam no lugar de seu destino, situado além da sepultura, e os consultam para descobrir segredos ocultos sob o véu por Deus estendido entre o tempo e a eternidade.”
OBSERVAÇÃO: Se somos repreensíveis por termos relações com os Espíritos, seria preciso que a Igreja os impedisse de vir sem serem chamados, pois é notório que há uma porção de manifestações espontâneas, mesmo em pessoas que jamais ouviram falar de Espiritismo. Como as irmãs Fox, nos Estados Unidos, as primeiras que revelaram sua presença naquele país, foram postas no caminho das evocações, senão pelos Espíritos que a elas vieram manifestar-se, quando nem sequer sonhavam com isso? Por que aqueles Espíritos deixaram o lugar que lhes era designado além da sepultura? Com ou sem a permissão de Deus?
O Espiritismo não saiu do cérebro de um homem como um sistema filosófico criado pela imaginação. Se os Espíritos não se tivessem manifestado por si mesmos, não teria havido Espiritismo. Se não se pode impedir que se manifestem, não se pode deter o Espiritismo, como não se pode impedir um rio de correr, a menos que se suprima a sua fonte. Pretender que os Espíritos não se manifestem é uma questão de fato, e não de opinião. Contra a evidência não há denegação possível.
“Esse desejo exagerado de tudo conhecer por meios ridículos e reprovados não é senão o fruto dessa necessidade, desse vazio que experimenta o homem, quando rejeitou tudo o que lhe é proposto como verdade pela sua soberana legítima e infalível: a Igreja.”
O Espiritismo não saiu do cérebro de um homem como um sistema filosófico criado pela imaginação. Se os Espíritos não se tivessem manifestado por si mesmos, não teria havido Espiritismo. Se não se pode impedir que se manifestem, não se pode deter o Espiritismo, como não se pode impedir um rio de correr, a menos que se suprima a sua fonte. Pretender que os Espíritos não se manifestem é uma questão de fato, e não de opinião. Contra a evidência não há denegação possível.
“Esse desejo exagerado de tudo conhecer por meios ridículos e reprovados não é senão o fruto dessa necessidade, desse vazio que experimenta o homem, quando rejeitou tudo o que lhe é proposto como verdade pela sua soberana legítima e infalível: a Igreja.”
OBSERVAÇÃO: Se o que essa soberana infalível propõe como verdade fica demonstrado como erro pelas observações da Ciência, é culpa do homem se ele o repele? A Igreja era infalível, quando condenava às penas eternas os que acreditavam no movimento da Terra e nos antípodas? Quando ainda hoje condena os que creem que a Terra não foi formada em seis vezes vinte e quatro horas? Para que a Igreja fosse crida sob palavra, seria necessário que não ensinasse nada que pudesse ser desmentido pelos fatos.
“Num momento de ardor para tudo conhecer por si mesmo, ele repeliu esta verdade como superstição, porque seu entendimento não a compreendia ou não estava em concordância com as noções a respeito recebidas. Mais tarde, porém, ele julgou necessário o que havia desprezado; ele quis reabilitar-se na sua fé; ele a examinou novamente, e conforme tal exame tenha sido feito por pessoas de imaginação viva, ou por outras de temperamento nervoso e irritável, admitiram, no seu sistema de crença, tudo quanto aquelas julgaram ver e ouvir dos Espíritos evocados num momento de exaltação melancólica.”
“Num momento de ardor para tudo conhecer por si mesmo, ele repeliu esta verdade como superstição, porque seu entendimento não a compreendia ou não estava em concordância com as noções a respeito recebidas. Mais tarde, porém, ele julgou necessário o que havia desprezado; ele quis reabilitar-se na sua fé; ele a examinou novamente, e conforme tal exame tenha sido feito por pessoas de imaginação viva, ou por outras de temperamento nervoso e irritável, admitiram, no seu sistema de crença, tudo quanto aquelas julgaram ver e ouvir dos Espíritos evocados num momento de exaltação melancólica.”
OBSERVAÇÃO: Jamais havíamos pensado que a Fé, isto é, a adoção ou rejeição das verdades ensinadas pela Igreja, conforme o exame feito por aquele que sinceramente a elas queira voltar, fosse uma questão de temperamento. Se, para lhes dar preferência em relação a outras crenças, ele não deve ser nervoso ou irritável, nem ter uma imaginação viva, há muita gente que será fatalmente excluída por força de sua compleição. Nós acreditamos que, neste século de desenvolvimento intelectual, a Fé é uma questão de compreensão.
“Foi assim que se chegou a criar uma religião que, renovando os desvios e as aberrações do paganismo, ameaça conduzir a Sociedade ávida de maravilhoso à loucura, à extravagância e ao mais imundo cinismo (y al cinismo más inmundo).”
“Foi assim que se chegou a criar uma religião que, renovando os desvios e as aberrações do paganismo, ameaça conduzir a Sociedade ávida de maravilhoso à loucura, à extravagância e ao mais imundo cinismo (y al cinismo más inmundo).”
OBSERVAÇÃO: Eis mais uma vez um príncipe da Igreja que proclama, num ato oficial, que o Espiritismo é uma religião que se cria. É aqui o caso de repetir o que já dissemos a respeito: Se jamais o Espiritismo se tornar uma religião, a Igreja terá sido a primeira a dar tal ideia. Em todo caso, essa religião nova, caso venha a sê-lo, afastar-se-á do paganismo pelo fato capital de que ela não admite um inferno localizado, com penas materiais, ao passo que o inferno da Igreja, com suas chamas, seus tridentes, suas caldeiras, suas lâminas de navalhas, seus pregos pontiagudos que estraçalham os danados, e seus diabos que atiçam o fogo, é uma cópia amplificada do Tártaro.
“O grande propagador dessa seita de modernos iluminados, o próprio Allan Kardec, o confessa em seu Livro dos Espíritos, dizendo que ‘Por vezes estes se comprazem em responder ironicamente e de maneira equívoca, que desconcerta os infelizes que os consultam.’ E, posto ele advirta da necessidade que há de discernir os Espíritos sérios dos superficiais, ele não nos pode dar as regras necessárias a esse discernimento, confissão que revela toda a vaidade e a falsidade do Espiritismo, com suas deploráveis consequências.”
“O grande propagador dessa seita de modernos iluminados, o próprio Allan Kardec, o confessa em seu Livro dos Espíritos, dizendo que ‘Por vezes estes se comprazem em responder ironicamente e de maneira equívoca, que desconcerta os infelizes que os consultam.’ E, posto ele advirta da necessidade que há de discernir os Espíritos sérios dos superficiais, ele não nos pode dar as regras necessárias a esse discernimento, confissão que revela toda a vaidade e a falsidade do Espiritismo, com suas deploráveis consequências.”
OBSERVAÇÃO: Remetemos o senhor bispo de Barcelona ao Livro dos médiuns, cap. XXIV).
“Se esse sistema, que estabelece um monstruoso comércio entre a luz e as trevas, entre a verdade e o erro, entre o bem e o mal, numa palavra, entre Deus e Belial, não tem prosélitos na Espanha, há, sem dúvida, ardorosos propagadores, e a metrópole de nossa diocese é o teatro escolhido para pôr em ação todos os meios que pode sugerir o Espírito de mentira e de perdição. A prova disto está na introdução fraudulenta que se opera, malgrado o zelo desenvolvido pelas autoridades locais, de milhares de exemplares do Livro dos Espíritos, escrito pelo primeiro pregador dessas mentiras, Allan Kardec, e traduzido para o espanhol.”
“Se esse sistema, que estabelece um monstruoso comércio entre a luz e as trevas, entre a verdade e o erro, entre o bem e o mal, numa palavra, entre Deus e Belial, não tem prosélitos na Espanha, há, sem dúvida, ardorosos propagadores, e a metrópole de nossa diocese é o teatro escolhido para pôr em ação todos os meios que pode sugerir o Espírito de mentira e de perdição. A prova disto está na introdução fraudulenta que se opera, malgrado o zelo desenvolvido pelas autoridades locais, de milhares de exemplares do Livro dos Espíritos, escrito pelo primeiro pregador dessas mentiras, Allan Kardec, e traduzido para o espanhol.”
OBSERVAÇÃO: É muito difícil conciliar estas duas asserções, a saber: que o Espiritismo não tem prosélitos na Espanha, e que há, sem dúvida, ardorosos propagadores. Também não se compreende que num país onde não há espíritas haja um derramamento do Livro dos Espíritos aos milhares.
“Lendo essa produção original, dissemos de nós para nós: Cada século tem as suas preocupações, seus erros favoritos, e as do nosso são uma tendência para negar o que é invisível e a não procurar a certeza senão na matéria sensível. Não seria, pois, coisa incrível se não a tivéssemos visto, que o século dezenove, tão rico em descobertas sobre as leis da Natureza, tão rico em observações e experiências, tenha vindo a adotar os sonhos da magia e aparições de Espíritos pela simples evocação de um simples mortal? Contudo, é isto! E essa nova heresia, importada, ao que parece, dos países idólatras para os povos do novo mundo, tenha invadido o antigo, e nesse encontrado adeptos e partidários, malgrado o facho do Cristianismo que o ilumina há dezoito séculos, e condena semelhantes ridicularias, a despeito do brilho que ele espalhou em toda a sua superfície e particularmente sobre a Europa.”
“Lendo essa produção original, dissemos de nós para nós: Cada século tem as suas preocupações, seus erros favoritos, e as do nosso são uma tendência para negar o que é invisível e a não procurar a certeza senão na matéria sensível. Não seria, pois, coisa incrível se não a tivéssemos visto, que o século dezenove, tão rico em descobertas sobre as leis da Natureza, tão rico em observações e experiências, tenha vindo a adotar os sonhos da magia e aparições de Espíritos pela simples evocação de um simples mortal? Contudo, é isto! E essa nova heresia, importada, ao que parece, dos países idólatras para os povos do novo mundo, tenha invadido o antigo, e nesse encontrado adeptos e partidários, malgrado o facho do Cristianismo que o ilumina há dezoito séculos, e condena semelhantes ridicularias, a despeito do brilho que ele espalhou em toda a sua superfície e particularmente sobre a Europa.”
OBSERVAÇÃO: Já que o senhor bispo de Barcelona se admira que o século dezenove aceite o Espiritismo tão facilmente, malgrado suas tendências positivas e a riqueza de suas descobertas tocantes à leis da Natureza, dir-lhe-emos que é precisamente a aptidão para essas descobertas que produz tal resultado. As relações do mundo visível com o invisível são uma das grandes leis naturais, que ao século dezenove estava reservado revelar ao mundo, bem como tantas outras leis. Fruto da experiência e da observação, baseado em fatos positivos até agora incompreendidos, mal estudados e ainda pior explicados, o Espiritismo é a expressão dessa lei, e por isto mesmo vem destruir o fantástico, o maravilhoso e o sobrenatural falsamente atribuído a esses fatos, fazendo-os entrar na categoria dos fenômenos naturais. Como ele vem explicar o que era inexplicável; como ele demonstra o que afirma e lhe dá a razão; como não quer ser acreditado sob palavra; como provoca o exame e só quer ser aceito com conhecimento de causa; por estes motivos ele corresponde às ideias e às tendências positivas do século. Sua fácil aceitação, longe de ser uma anomalia, é uma consequência de sua natureza, que lhe dá posição entre as ciências de observação. Se se tivesse cercado de mistérios e se tivesse exigido a fé cega, têlo-iam repelido como um anacronismo.
Jovem ainda, encontra oposição, como todas as ideias de certa importância. Ele tem contra si:
1.º ─ Os que creem apenas na matéria tangível e negam todo poder intelectual fora do homem;
2.º ─ Certos sábios que pensam que a Natureza não tem mais segredos para eles, ou que só a eles cabe descobrir o que ainda está oculto;
3.º ─ Aqueles que, em todos os tempos, se esforçaram por deter a marcha ascendente do espírito humano, porque temem que o desenvolvimento das ideias, fazendo ver com muita clareza, não lhes prejudique o seu poder e os seus interesses;
4.º ─ Enfim, aqueles que, sem ideia preconcebida e não o conhecendo, julgamno pelas deturpações com que o apresentam seus adversários, visando desacreditálo.
Esta categoria constitui a grande maioria dos opositores, mas ela diminui dia a dia, porque dia a dia aumenta o número dos que estudam; as prevenções caem ante um exame sério, e se ligam tanto mais à coisa sobre a qual reconhecem haverem sido enganados. A julgar pelo caminho feito pelo Espiritismo em tão curto prazo, fácil é prever que em pouco tempo só terá contra si os antagonistas de ideias preconcebidas, e como estes formam uma pequena minoria, sua influência será nula. Eles próprios sofrerão a influência da massa, e serão forçados a seguir a corrente.
A manifestação dos Espíritos não é apenas uma crença: é um fato. Ora, diante de um fato, a negação não tem valor, a não ser que se prove que ele não existe, coisa que ninguém ainda demonstrou. Como em todos os pontos do globo a realidade do fato é diariamente constatada, crê-se no que se vê. É o que explica a impotência dos negadores para deter o movimento da ideia. Uma crença só é ridícula quando é falsa; não o é mais, desde que repouse sobre uma coisa positiva. O ridículo é apanágio daquele que se obstina em negar a evidência.
“Isto vos deve convencer, meus caros filhos e irmãos, da necessidade que tem o homem de crer e que quando ele despreza as verdadeiras crenças, abraça sem entusiasmo até mesmo as falsas. Eis por que diz o profundo Pascal, num de seus pensamentos: ‘Os incrédulos são os homens mais levados a crer em tudo.’ O Espírito das trevas toma os homens como joguete e instrumento de seus maus propósitos, servindo-se de sua vaidade, de sua credulidade, de sua presunção, para deles próprios fazer os propagadores e os apóstolos daquilo de que se riam na véspera, do que qualificavam de invenção quimérica e de espantalho para as almas fracas.
“Não, meus irmãos, a verdadeira fé, a doutrina do Cristianismo, o ensino constante da Igreja, sempre reprovaram a prática dessas evocações que levam a crer tenha o homem sobre os Espíritos um poder que só a Deus pertence. ‘Não está no poder de um mortal que as almas separadas dos corpos após a morte lhe revelem os segredos cobertos pelo véu do futuro.’ (Mat. XVI, 4).
Jovem ainda, encontra oposição, como todas as ideias de certa importância. Ele tem contra si:
1.º ─ Os que creem apenas na matéria tangível e negam todo poder intelectual fora do homem;
2.º ─ Certos sábios que pensam que a Natureza não tem mais segredos para eles, ou que só a eles cabe descobrir o que ainda está oculto;
3.º ─ Aqueles que, em todos os tempos, se esforçaram por deter a marcha ascendente do espírito humano, porque temem que o desenvolvimento das ideias, fazendo ver com muita clareza, não lhes prejudique o seu poder e os seus interesses;
4.º ─ Enfim, aqueles que, sem ideia preconcebida e não o conhecendo, julgamno pelas deturpações com que o apresentam seus adversários, visando desacreditálo.
Esta categoria constitui a grande maioria dos opositores, mas ela diminui dia a dia, porque dia a dia aumenta o número dos que estudam; as prevenções caem ante um exame sério, e se ligam tanto mais à coisa sobre a qual reconhecem haverem sido enganados. A julgar pelo caminho feito pelo Espiritismo em tão curto prazo, fácil é prever que em pouco tempo só terá contra si os antagonistas de ideias preconcebidas, e como estes formam uma pequena minoria, sua influência será nula. Eles próprios sofrerão a influência da massa, e serão forçados a seguir a corrente.
A manifestação dos Espíritos não é apenas uma crença: é um fato. Ora, diante de um fato, a negação não tem valor, a não ser que se prove que ele não existe, coisa que ninguém ainda demonstrou. Como em todos os pontos do globo a realidade do fato é diariamente constatada, crê-se no que se vê. É o que explica a impotência dos negadores para deter o movimento da ideia. Uma crença só é ridícula quando é falsa; não o é mais, desde que repouse sobre uma coisa positiva. O ridículo é apanágio daquele que se obstina em negar a evidência.
“Isto vos deve convencer, meus caros filhos e irmãos, da necessidade que tem o homem de crer e que quando ele despreza as verdadeiras crenças, abraça sem entusiasmo até mesmo as falsas. Eis por que diz o profundo Pascal, num de seus pensamentos: ‘Os incrédulos são os homens mais levados a crer em tudo.’ O Espírito das trevas toma os homens como joguete e instrumento de seus maus propósitos, servindo-se de sua vaidade, de sua credulidade, de sua presunção, para deles próprios fazer os propagadores e os apóstolos daquilo de que se riam na véspera, do que qualificavam de invenção quimérica e de espantalho para as almas fracas.
“Não, meus irmãos, a verdadeira fé, a doutrina do Cristianismo, o ensino constante da Igreja, sempre reprovaram a prática dessas evocações que levam a crer tenha o homem sobre os Espíritos um poder que só a Deus pertence. ‘Não está no poder de um mortal que as almas separadas dos corpos após a morte lhe revelem os segredos cobertos pelo véu do futuro.’ (Mat. XVI, 4).
OBSERVAÇÃO: O Espiritismo também diz que aos Espíritos não é dado revelar o futuro, e condena formalmente o emprego de comunicações do alémtúmulo como meio de adivinhação. Ele diz que os Espíritos vêm para nos instruir e nos melhorar, e não para nos ler a buena-dicha. Além disto, ele diz que ninguém pode obrigar os Espíritos a virem falar quando eles não querem. É desnaturar maldosamente o seu objetivo, pretender que ele faça a necromancia. (Livro dos médiuns, Cap. XXVI).
“Se a sabedoria divina tivesse julgado útil à felicidade e ao repouso do gênero humano instruí-lo sobre as relações entre o mundo dos Espíritos e o dos seres corpóreos, ela no-lo teria revelado de tal maneira que nenhum mortal pudesse ser enganado em suas comunicações; ela nos teria ensinado um meio para reconhecer quando nos tivessem dito a verdade, ou insinuado o erro, e ela não nos teria abandonado para tal discernimento à luz da razão, que é uma luz muito fraca para descobrir essas regiões que se estendem para além da morte.”
“Se a sabedoria divina tivesse julgado útil à felicidade e ao repouso do gênero humano instruí-lo sobre as relações entre o mundo dos Espíritos e o dos seres corpóreos, ela no-lo teria revelado de tal maneira que nenhum mortal pudesse ser enganado em suas comunicações; ela nos teria ensinado um meio para reconhecer quando nos tivessem dito a verdade, ou insinuado o erro, e ela não nos teria abandonado para tal discernimento à luz da razão, que é uma luz muito fraca para descobrir essas regiões que se estendem para além da morte.”
OBSERVAÇÃO: Se Deus permite que hoje existam tais relações ─ pois há que admitir-se que nada ocorre sem a permissão de Deus ─ é que ele julga útil à felicidade dos homens, a fim de lhes dar a prova da vida futura, na qual muitos não acreditam mais, e porque o número sempre crescente dos incrédulos prova que a Igreja sozinha é impotente para mantê-los no aprisco. Deus lhe envia auxiliares, nos Espíritos que se manifestam. Repeli-los não é dar prova de submissão à sua vontade; renegá-los é desconhecer o seu poder; injuriá-los e maltratar seus intérpretes é agir como os judeus em relações aos profetas, o que fez com que Jesus derramasse lágrimas pela sorte de Jerusalém.
“Assim, pois, quando um miserável mortal, desviado por sua imaginação, pretende nos dar notícias sobre a sorte das almas no outro mundo; quando homens de curta visão têm a audácia de querer revelar à Humanidade e ao indivíduo o seu destino indefectível no futuro, eles usurpam um poder que pertence a Deus, e do qual não renuncia, a não ser para o bem da própria Humanidade e dos povos, advertindo-os ou os admoestando por intermédio de enviados que, como os profetas, levam consigo a prova de sua missão, nos milagres que operam, e na realização constante do que eles anunciaram.”
“Assim, pois, quando um miserável mortal, desviado por sua imaginação, pretende nos dar notícias sobre a sorte das almas no outro mundo; quando homens de curta visão têm a audácia de querer revelar à Humanidade e ao indivíduo o seu destino indefectível no futuro, eles usurpam um poder que pertence a Deus, e do qual não renuncia, a não ser para o bem da própria Humanidade e dos povos, advertindo-os ou os admoestando por intermédio de enviados que, como os profetas, levam consigo a prova de sua missão, nos milagres que operam, e na realização constante do que eles anunciaram.”
OBSERVAÇÃO: Então renegais as predições de Jesus, porquanto não reconheceis no que acontece a realização do que ele anunciou. O que significam estas palavras? “Eu espalharei o Espírito sobre toda a carne; vossas mulheres e vossas filhas profetizarão, vossos filhos terão visões e os velhos terão sonhos”
“Podemos considerar como visionários aqueles que, abandonando a verdade e dando ouvidos a fábulas, querem que sejam escutados como revelações os caprichos, os sonhos fantásticos de sua imaginação delirante. Escrevendo a Timóteo, São Paulo o põe em guarda contra tudo isto, a ele e às gerações futuras (I Tim., IV: 7). O apóstolo já pressentia, há dezoito séculos, aquilo que em nossa época a incredulidade deveria oferecer para encher com alguma coisa o vazio que deixa na alma a falta de fé.”
“Podemos considerar como visionários aqueles que, abandonando a verdade e dando ouvidos a fábulas, querem que sejam escutados como revelações os caprichos, os sonhos fantásticos de sua imaginação delirante. Escrevendo a Timóteo, São Paulo o põe em guarda contra tudo isto, a ele e às gerações futuras (I Tim., IV: 7). O apóstolo já pressentia, há dezoito séculos, aquilo que em nossa época a incredulidade deveria oferecer para encher com alguma coisa o vazio que deixa na alma a falta de fé.”
OBSERVAÇÃO: Com efeito, a incredulidade é a chaga de nossa época. Ela deixa na alma um imenso vazio. Por que, então, a Igreja não a combate? Por que não pode ela manter os fiéis na fé? Os meios materiais e espirituais, contudo, não lhe faltam. Não tem ela imensas riquezas, um inumerável exército de pregadores, a instrução religiosa da juventude? Se seus argumentos não triunfam sobre a incredulidade, é que não são suficientemente peremptórios. O Espiritismo não lhe segue os passos. Ele faz o que ela não faz. Ele se dirige àqueles aos quais ela não consegue reconduzir, e consegue dar-lhes a fé em Deus, na sua alma e na vida futura. Que dizer de um médico que, não podendo curar um doente, se opusesse a que este aceitasse os cuidados de outro médico que pudesse salvá-lo?
É verdade que o Espiritismo não preconiza um culto às custas do outro; que não lança anátema a nenhum, e que sem isto ele seria considerado bem-vindo por aquele cuja causa exclusiva tivesse abraçado, mas é precisamente porque é portador de uma palavra de soerguimento: “Fora da caridade não há salvação” à qual todos podem responder, que ele vem fazer cessar os antagonismos religiosos que fizeram derramar mais sangue que as guerras de conquista.
“Depois de haver ensaiado a adivinhação, o sonambulismo pelo magnetismo animal, sem ter podido obter qualquer coisa além da reprovação de todo homem sensato; depois de haver visto caírem em descrédito as mesas girantes, eles desenterraram o cadáver infecto desse Espiritismo com os absurdos da transmigração das almas, desprezando os artigos do nosso símbolo, como a Igreja os ensina, quiseram substituí-los por outros que os anulam, admitindo uma imortalidade da alma, um purgatório e um inferno muito diferentes daqueles que nos ensina nossa fé católica.”
É verdade que o Espiritismo não preconiza um culto às custas do outro; que não lança anátema a nenhum, e que sem isto ele seria considerado bem-vindo por aquele cuja causa exclusiva tivesse abraçado, mas é precisamente porque é portador de uma palavra de soerguimento: “Fora da caridade não há salvação” à qual todos podem responder, que ele vem fazer cessar os antagonismos religiosos que fizeram derramar mais sangue que as guerras de conquista.
“Depois de haver ensaiado a adivinhação, o sonambulismo pelo magnetismo animal, sem ter podido obter qualquer coisa além da reprovação de todo homem sensato; depois de haver visto caírem em descrédito as mesas girantes, eles desenterraram o cadáver infecto desse Espiritismo com os absurdos da transmigração das almas, desprezando os artigos do nosso símbolo, como a Igreja os ensina, quiseram substituí-los por outros que os anulam, admitindo uma imortalidade da alma, um purgatório e um inferno muito diferentes daqueles que nos ensina nossa fé católica.”
OBSERVAÇÃO: Isto é muito justo. O Espiritismo não admite um inferno onde há chamas, tridentes, caldeiras e lâminas de navalhas; ele também não admite que seja uma felicidade para os eleitos levantar as tampas das caldeiras para aí ver fervendo os danados, talvez um pai, uma mãe ou um filho; ele não admite que Deus se compraza em escutar, por toda a eternidade, os gritos de desespero de suas criaturas, sem ser tocado pelas lágrimas dos que se arrependem, nisto mais cruel que aquele tirano que mandou construir um respiradouro pondo em comunicação os calabouços de seu palácio com seu quarto de dormir, para ter o prazer de ouvir os gemidos de suas vítimas; ele não admite, enfim, que a suprema felicidade consista numa contemplação perpétua, que seria uma perpétua inutilidade, nem que Deus tenha criado as almas para lhes dar apenas alguns anos, ou alguns dias de existência ativa e, em seguida, as mergulhar, pela eternidade, nas torturas ou na inútil beatitude. Se esta é a pedra angular do edifício, tem razão a Igreja de temer as ideias novas. Não é com tais crenças que ela entupirá o enorme abismo da incredulidade.
“Com isto, como disse muito a propósito o sábio bispo de Argel, tudo quanto os incrédulos puderam fazer foi mudar de lado, para arrastar essa porção de crentes cuja fé simples e pouco esclarecida facilmente se presta a tudo o que é extraordinário, e, ao mesmo tempo, conseguir opor um novo obstáculo à conversão dessas almas sepultadas na indiferença religiosa que, vendo que querem reduzir o Cristianismo a um tecido de superstições, acabaram blasfemando contra ele e o seu autor.”
“Com isto, como disse muito a propósito o sábio bispo de Argel, tudo quanto os incrédulos puderam fazer foi mudar de lado, para arrastar essa porção de crentes cuja fé simples e pouco esclarecida facilmente se presta a tudo o que é extraordinário, e, ao mesmo tempo, conseguir opor um novo obstáculo à conversão dessas almas sepultadas na indiferença religiosa que, vendo que querem reduzir o Cristianismo a um tecido de superstições, acabaram blasfemando contra ele e o seu autor.”
OBSERVAÇÃO: Eis uma coisa muito singular! É o Espiritismo que impede a Igreja de converter as almas sepultadas na indiferença religiosa. Mas, então, por que não as converteu antes do aparecimento do Espiritismo? Então é ele mais poderoso que a Igreja? Se os indiferentes se ligam a ele de preferência, é que, aparentemente, o que ele dá lhes convém mais.
“Para que os homens de pouca fé não se escandalizem lendo as doutrinas do Livro dos Espíritos, e não creiam, um só instante, que elas estejam em harmonia com todos os cultos e crenças, inclusive a fé católica, como pretende Allan Kardec, nós lhes lembraremos que as Escrituras Santas as condenam como loucura, dizendo pela boca do Eclesiastes: “As adivinhações, os augures e os sonhos são coisas vãs, e o coração sofre essas quimeras; todas as vezes que não forem enviados pelo Altíssimo, desconfiai deles, porque os sonhos entristecem os homens e os que neles se apoiam são abatidos.” (Ecles, XXXVI: 5,7).
“Jesus Cristo censura os seus discípulos por terem acreditado na visão de um fantasma, ao vê-lo andar sobre as águas, e não quer que disto se assegurem senão pelos sinais que lhes dá da realidade de sua pessoa. (Luc. XXIV: 39).
“A Igreja e os santos Pais, como intérpretes da palavra divina, têm repelido constantemente esses meios enganadores pelos quais se crê que os Espíritos se comuniquem com os homens, e a razão esclarecida também os repele, pois compreende que por si só e sem o auxílio da fé, ela não pode abarcar as coisas nem as verdades que se referem ao passado na ordem sobrenatural. Como pode ela pretender atingir, por si mesma, num estado de transporte, ou arrastada por uma imaginação ardente, aquilo que só se pode verificar de uma maneira, num lugar e em circunstâncias imprevistas?
“Se, pois, em outras ocasiões, elevamos a voz contra esse materialismo ímpio, e essa incredulidade sistemática que nega a imortalidade da alma separada do corpo nos diferentes estados aos quais a destina a divina justiça para a eternidade, hoje nos vemos obrigados a protestar contra essa comunicação ativa atribuída à evocação dos mortos, e que pretende revelar o que só é perceptível à infinita penetração de Deus.
“Meus irmãos, meus amados filhos, não vos deixeis arrastar por essas fábulas vãs que contêm os erros e as preocupações dos povos bárbaros e ignorantes, e todas as invenções absurdas das criaturas cujo espírito, enfraquecido pela ausência da verdadeira fé e pela superstição, abjura a religião revelada pelo filho de Deus, degrada a razão humana e expulsa a pureza da alma. Longe de nossos bem-amados diocesanos, e sobretudo desses leitores com razão tidos como esclarecidos e civilizados, de acreditar nesses contos de sonhadores, tais como Allan Kardec, homens de imaginação exaltada e em delírio! Longe de vós, pois, essa crença anticristã que faz saírem dos túmulos os fantasmas, os Espíritos errantes; longe de vós essa superstição importada em nossa religião pelos pagãos convertidos ao Cristianismo, e que os escritos de seus sábios apologistas logo expulsaram.”
“Para que os homens de pouca fé não se escandalizem lendo as doutrinas do Livro dos Espíritos, e não creiam, um só instante, que elas estejam em harmonia com todos os cultos e crenças, inclusive a fé católica, como pretende Allan Kardec, nós lhes lembraremos que as Escrituras Santas as condenam como loucura, dizendo pela boca do Eclesiastes: “As adivinhações, os augures e os sonhos são coisas vãs, e o coração sofre essas quimeras; todas as vezes que não forem enviados pelo Altíssimo, desconfiai deles, porque os sonhos entristecem os homens e os que neles se apoiam são abatidos.” (Ecles, XXXVI: 5,7).
“Jesus Cristo censura os seus discípulos por terem acreditado na visão de um fantasma, ao vê-lo andar sobre as águas, e não quer que disto se assegurem senão pelos sinais que lhes dá da realidade de sua pessoa. (Luc. XXIV: 39).
“A Igreja e os santos Pais, como intérpretes da palavra divina, têm repelido constantemente esses meios enganadores pelos quais se crê que os Espíritos se comuniquem com os homens, e a razão esclarecida também os repele, pois compreende que por si só e sem o auxílio da fé, ela não pode abarcar as coisas nem as verdades que se referem ao passado na ordem sobrenatural. Como pode ela pretender atingir, por si mesma, num estado de transporte, ou arrastada por uma imaginação ardente, aquilo que só se pode verificar de uma maneira, num lugar e em circunstâncias imprevistas?
“Se, pois, em outras ocasiões, elevamos a voz contra esse materialismo ímpio, e essa incredulidade sistemática que nega a imortalidade da alma separada do corpo nos diferentes estados aos quais a destina a divina justiça para a eternidade, hoje nos vemos obrigados a protestar contra essa comunicação ativa atribuída à evocação dos mortos, e que pretende revelar o que só é perceptível à infinita penetração de Deus.
“Meus irmãos, meus amados filhos, não vos deixeis arrastar por essas fábulas vãs que contêm os erros e as preocupações dos povos bárbaros e ignorantes, e todas as invenções absurdas das criaturas cujo espírito, enfraquecido pela ausência da verdadeira fé e pela superstição, abjura a religião revelada pelo filho de Deus, degrada a razão humana e expulsa a pureza da alma. Longe de nossos bem-amados diocesanos, e sobretudo desses leitores com razão tidos como esclarecidos e civilizados, de acreditar nesses contos de sonhadores, tais como Allan Kardec, homens de imaginação exaltada e em delírio! Longe de vós, pois, essa crença anticristã que faz saírem dos túmulos os fantasmas, os Espíritos errantes; longe de vós essa superstição importada em nossa religião pelos pagãos convertidos ao Cristianismo, e que os escritos de seus sábios apologistas logo expulsaram.”
OBSERVAÇÃO: Os espíritas jamais fizeram os fantasmas saírem dos túmulos, pela razão muito simples que nos túmulos só estão os despojos mortais, que se destroem e não ressuscitam. Os Espíritos estão por toda parte no espaço, felizes por estarem livres e desembaraçados do corpo que os fazia sofrer. É por isto que não se prendem aos seus restos, e mais deles se afastam do que os buscam. O Espiritismo sempre repeliu a ideia de que as evocações seriam mais fáceis junto aos túmulos, de onde não se pode fazer sair o que lá não está. Só no teatro se veem essas coisas.
“Tende cuidado para que vossos filhos, levados pela curiosidade da juventude, não leiam semelhantes produções e não se impressionem com as suas figuras, que têm feito perder o bom-senso grande número de pessoas que hoje gemem nos hospícios de alienados, vítimas do Espiritismo.
“Fazei todo esforço, meus filhos e meus irmãos, para conservar pura a doutrina que nos ensina o divino Mestre. Detende-vos e apoiai-vos unicamente na sua santa palavra relativamente ao vosso futuro. E, sabendo que é à Providência Divina, sempre sábia, que cabe conduzir o homem através das vicissitudes desta vida, para experimentar a sua fé e avivar a sua esperança, sem querer sondar vossa sorte futura, buscai assegurá-la por meio das boas obras, por elas tornando certa a vossa vocação de filhos de Deus, chamados à herança do Pai Celeste.”
“Tende cuidado para que vossos filhos, levados pela curiosidade da juventude, não leiam semelhantes produções e não se impressionem com as suas figuras, que têm feito perder o bom-senso grande número de pessoas que hoje gemem nos hospícios de alienados, vítimas do Espiritismo.
“Fazei todo esforço, meus filhos e meus irmãos, para conservar pura a doutrina que nos ensina o divino Mestre. Detende-vos e apoiai-vos unicamente na sua santa palavra relativamente ao vosso futuro. E, sabendo que é à Providência Divina, sempre sábia, que cabe conduzir o homem através das vicissitudes desta vida, para experimentar a sua fé e avivar a sua esperança, sem querer sondar vossa sorte futura, buscai assegurá-la por meio das boas obras, por elas tornando certa a vossa vocação de filhos de Deus, chamados à herança do Pai Celeste.”
OBSERVAÇÃO: Antes de cercear a curiosidade dos filhos, não era preciso aguilhoar a dos pais, o que essa ordenação não pode deixar de produzir. Quanto à loucura, é sempre a mesma história, que começa a ficar singularmente gasta, e cujo resultado não tem sido mais feliz que o dos pretensos fantasmas. As experiências sendo feitas por todos os lados, ainda mais na intimidade das famílias do que em público, e encontrando-se os médiuns por toda parte, em todas as camadas da Sociedade e em todas as idades, cada um sabe situar-se em relação ao verdadeiro estado de coisas. É por isso que os esforços feitos para fantasiar o Espiritismo não dão resultado. O número daqueles que falsas alegações chegam a enganar é muito pequeno, e muitos desses, querendo ver por si mesmos, reconhecem a verdade. Como persuadir uma multidão de que é noite, quando todos podem ver que é dia claro? Essa faculdade de controle prático dada a todos é um dos caracteres especiais do Espiritismo, e é o que constitui a sua força. Já é diferente com as doutrinas puramente teóricas, que podem ser combatidas pelo raciocínio. Mas o Espiritismo é baseado em fatos e observações que incessantemente cada um tem à mão.
Toda a argumentação do senhor bispo de Barcelona assim se resume: As manifestações dos Espíritos são fábulas imaginadas pelos incrédulos para destruir a religião. Só se deve crer no que dizemos, porque somente nós estamos de posse da verdade. Não examineis nada além, receando serdes seduzidos.”
“Para prevenir os perigos aos quais poderíeis sucumbir, e tendo em vista a autoridade divina que nos foi dada para vo-los assinalar e deles vos afastar, conforme a faculdade que nos é reconhecida pelo Artigo 3ª da última concordata, e de acordo com o que foi previsto pelos sagrados cânones e as leis do reino relativas aos erros que temos assinalado e combatido, condenamos o Livro dos Espíritos, traduzido para o espanhol com o título de Libro de los Espíritus, por Allan Kardec, como compreendido nos artigos 8º e 9º do catálogo promulgado em virtude da prescrição para esse efeito, pelo concílio de Trento. Nós proibimos a sua leitura a todos os nossos diocesanos, sem exceção, e lhes ordenamos que entreguem a seus curas os respectivos exemplares que poderão cair em suas mãos, para que nos sejam enviados com toda segurança possível.
“Dado em nossa santa visita de Mataro, a 27 de julho de 1864.”
PANTALEÓN, Bispo de Barcelona
Por ordem de S. E. S. Monsenhor Bispo Don Lazaro Bauluz, secretário.
A proibição feita pelo bispo de Barcelona a todos os seus diocesanos, sem exceção, de se ocuparem do Espiritismo, é calcada na do bispo de Argel. Duvidamos muito que ela tenha mais sucesso, posto seja na Espanha, porque nesse país as ideias fermentam como alhures, mesmo sob o abafador, e talvez por causa do abafador, que as mantém como em estufa quente. O auto-de-fé de Barcelona apressou o seu desabrochar. O efeito visado por essa solenidade aparentemente não correspondeu à expectativa, pois não o repetiram, entretanto, a execução que não mais ousam fazer de público, querem fazê-la em particular. Convidando os seus administrados a lhe remeter todos os livros espíritas que lhes caírem às mãos, Monsenhor Pantaleón certamente não tem em vista colecioná-los. Ele lhes proíbe de evocar os Espíritos, o que é um direito seu, mas em sua ordenação esqueceu uma coisa essencial: proibir que os Espíritos entrem na Espanha.
Ele se admira que o Espiritismo crie raízes tão facilmente no século dezenove. Devem admirar-se ainda mais de ver neste século a ressurreição de usos e costumes da Idade Média. E, o que é mais surpreendente ainda, é que se encontrem pessoas, aliás instruídas, que compreendam tão pouco a natureza e a força da ideia, para crer que se lhe possa barrar o caminho, como se barra um volume de mercadorias na fronteira.
Vós vos lamentais, monsenhor, de que os incrédulos e os indiferentes fiquem surdos à voz dos pastores da Igreja, ao passo que escutam a do Espiritismo. É que eles são mais tocados pelas palavras de caridade, de encorajamento e de consolação do que pelos anátemas. Creem reconduzi-los por imprecações, como as pronunciadas ultimamente pelo cura de Villemayor-de-Ladre contra um pobre mestre-escola que tinha cometido o erro de desagradá-lo? Eis esta fórmula canônica publicada pela Correspondência de Madrid, de junho de 1864, junto à qual a famosa imprecação de Camille é quase doçura. O poeta pôde pô-la na boca de uma pagã; não ousou pô-la na de uma cristã.
“Maldito seja Auguste Vincent; malditas sejam as roupas que o cobrem, a terra em que ele pisa, a cama onde ele dorme e a mesa em que ele come; malditos sejam o pão e todos os outros alimentos de que ele se nutre, a fonte onde ele bebe e todos os líquidos que ele toma.
“Que a terra se abra e ele seja enterrado nesse momento; que Lúcifer esteja à sua direita. Ninguém possa falar com ele, sob pena de serem todos excomungados, só por lhe dizerem adeus; malditos sejam também seus campos, sobre os quais não cairá mais água, para que nada lhe produzam; maldita seja a égua que ele monta, a casa em que ele mora e as propriedades que ele possui.
“Malditos sejam também seus pais, filhos que ele tem ou que terá, que serão em pequeno número e malvados; estes irão mendigar e ninguém lhes dará esmola, e se lhes derem, que não a possam comer. Ainda mais, que sua mulher neste instante fique viúva, e seus filhos órfãos e sem pai.”
É realmente num templo cristão que ressoaram essas horríveis palavras? É de fato um ministro do Evangelho, um representante de Jesus Cristo que as pronunciou? Quem, por uma injúria pessoal, vota um homem à execração de seus semelhantes, à danação eterna e a todas as misérias da vida, ele, seu pai, sua mãe, seus filhos presentes e futuros, e tudo o que lhe pertence? Jesus jamais usou de semelhante linguagem, ele que orava por seus carrascos e que disse: “Perdoai aos vossos inimigos”; que diariamente nos faz repetir, na oração dominical: “Senhor, perdoai nossas ofensas, como nós perdoamos aos que nos ofenderam.” Quando ele pronuncia a maldição contra os escribas e fariseus, chama sobre eles a cólera de Deus? Não. Ele lhes prediz as desgraças que os atingem.
E vós vos admirais, monsenhor, dos progressos da incredulidade! Admirai-vos de preferência que no século dezenove a religião do Cristo seja tão mal compreendida pelos que são encarregados de ensiná-la. Não fiqueis, pois, surpreendido se Deus envia seus bons Espíritos para lembrar o sentido verdadeiro de sua lei. Eles não vêm para destruir o Cristianismo, mas para libertá-lo das falsas interpretações e dos abusos que nele introduziram os homens.
Toda a argumentação do senhor bispo de Barcelona assim se resume: As manifestações dos Espíritos são fábulas imaginadas pelos incrédulos para destruir a religião. Só se deve crer no que dizemos, porque somente nós estamos de posse da verdade. Não examineis nada além, receando serdes seduzidos.”
“Para prevenir os perigos aos quais poderíeis sucumbir, e tendo em vista a autoridade divina que nos foi dada para vo-los assinalar e deles vos afastar, conforme a faculdade que nos é reconhecida pelo Artigo 3ª da última concordata, e de acordo com o que foi previsto pelos sagrados cânones e as leis do reino relativas aos erros que temos assinalado e combatido, condenamos o Livro dos Espíritos, traduzido para o espanhol com o título de Libro de los Espíritus, por Allan Kardec, como compreendido nos artigos 8º e 9º do catálogo promulgado em virtude da prescrição para esse efeito, pelo concílio de Trento. Nós proibimos a sua leitura a todos os nossos diocesanos, sem exceção, e lhes ordenamos que entreguem a seus curas os respectivos exemplares que poderão cair em suas mãos, para que nos sejam enviados com toda segurança possível.
“Dado em nossa santa visita de Mataro, a 27 de julho de 1864.”
PANTALEÓN, Bispo de Barcelona
Por ordem de S. E. S. Monsenhor Bispo Don Lazaro Bauluz, secretário.
A proibição feita pelo bispo de Barcelona a todos os seus diocesanos, sem exceção, de se ocuparem do Espiritismo, é calcada na do bispo de Argel. Duvidamos muito que ela tenha mais sucesso, posto seja na Espanha, porque nesse país as ideias fermentam como alhures, mesmo sob o abafador, e talvez por causa do abafador, que as mantém como em estufa quente. O auto-de-fé de Barcelona apressou o seu desabrochar. O efeito visado por essa solenidade aparentemente não correspondeu à expectativa, pois não o repetiram, entretanto, a execução que não mais ousam fazer de público, querem fazê-la em particular. Convidando os seus administrados a lhe remeter todos os livros espíritas que lhes caírem às mãos, Monsenhor Pantaleón certamente não tem em vista colecioná-los. Ele lhes proíbe de evocar os Espíritos, o que é um direito seu, mas em sua ordenação esqueceu uma coisa essencial: proibir que os Espíritos entrem na Espanha.
Ele se admira que o Espiritismo crie raízes tão facilmente no século dezenove. Devem admirar-se ainda mais de ver neste século a ressurreição de usos e costumes da Idade Média. E, o que é mais surpreendente ainda, é que se encontrem pessoas, aliás instruídas, que compreendam tão pouco a natureza e a força da ideia, para crer que se lhe possa barrar o caminho, como se barra um volume de mercadorias na fronteira.
Vós vos lamentais, monsenhor, de que os incrédulos e os indiferentes fiquem surdos à voz dos pastores da Igreja, ao passo que escutam a do Espiritismo. É que eles são mais tocados pelas palavras de caridade, de encorajamento e de consolação do que pelos anátemas. Creem reconduzi-los por imprecações, como as pronunciadas ultimamente pelo cura de Villemayor-de-Ladre contra um pobre mestre-escola que tinha cometido o erro de desagradá-lo? Eis esta fórmula canônica publicada pela Correspondência de Madrid, de junho de 1864, junto à qual a famosa imprecação de Camille é quase doçura. O poeta pôde pô-la na boca de uma pagã; não ousou pô-la na de uma cristã.
“Maldito seja Auguste Vincent; malditas sejam as roupas que o cobrem, a terra em que ele pisa, a cama onde ele dorme e a mesa em que ele come; malditos sejam o pão e todos os outros alimentos de que ele se nutre, a fonte onde ele bebe e todos os líquidos que ele toma.
“Que a terra se abra e ele seja enterrado nesse momento; que Lúcifer esteja à sua direita. Ninguém possa falar com ele, sob pena de serem todos excomungados, só por lhe dizerem adeus; malditos sejam também seus campos, sobre os quais não cairá mais água, para que nada lhe produzam; maldita seja a égua que ele monta, a casa em que ele mora e as propriedades que ele possui.
“Malditos sejam também seus pais, filhos que ele tem ou que terá, que serão em pequeno número e malvados; estes irão mendigar e ninguém lhes dará esmola, e se lhes derem, que não a possam comer. Ainda mais, que sua mulher neste instante fique viúva, e seus filhos órfãos e sem pai.”
É realmente num templo cristão que ressoaram essas horríveis palavras? É de fato um ministro do Evangelho, um representante de Jesus Cristo que as pronunciou? Quem, por uma injúria pessoal, vota um homem à execração de seus semelhantes, à danação eterna e a todas as misérias da vida, ele, seu pai, sua mãe, seus filhos presentes e futuros, e tudo o que lhe pertence? Jesus jamais usou de semelhante linguagem, ele que orava por seus carrascos e que disse: “Perdoai aos vossos inimigos”; que diariamente nos faz repetir, na oração dominical: “Senhor, perdoai nossas ofensas, como nós perdoamos aos que nos ofenderam.” Quando ele pronuncia a maldição contra os escribas e fariseus, chama sobre eles a cólera de Deus? Não. Ele lhes prediz as desgraças que os atingem.
E vós vos admirais, monsenhor, dos progressos da incredulidade! Admirai-vos de preferência que no século dezenove a religião do Cristo seja tão mal compreendida pelos que são encarregados de ensiná-la. Não fiqueis, pois, surpreendido se Deus envia seus bons Espíritos para lembrar o sentido verdadeiro de sua lei. Eles não vêm para destruir o Cristianismo, mas para libertá-lo das falsas interpretações e dos abusos que nele introduziram os homens.
Os Espíritos na Espanha (Barcelona, 13 de junho de 1864 - Médium: Sra J.)
Venho a vós para que tenhais a bondade de me recomendar a Deus em vossas preces, porque sofro e desejo que as caridosas almas encarnadas tenham compaixão de um pobre Espírito que pede perdão a Deus. Vivi muito tempo no mal, mas hoje venho dizer aos Espíritos que o fazem: Cessai, almas impuras em vossas iniquidades, cessai de ser incrédulos e de levar uma vida errante tal qual a vossa; cessai, portanto, de fazer o mal, porque Deus diz aos seus bons Espíritos: “Ide e purificai essas almas perversas que jamais conheceram o bem; é preciso que cesse o mal, porque estão próximos os tempos em que a Terra deve ser melhorada. Para que ela seja melhor, é necessário que as almas maculadas que diariamente vêm povoá-la se purifiquem, a fim de habitarem novamente a Terra, porém boas e caridosas.”
É o que Deus disse a seus bons Espíritos. E eu, que era um dos mais cruéis na obsessão, hoje venho dizer aos que fazem o que eu fazia: Almas transviadas, seguime; pedi perdão a Deus e a essas almas puras que vos estendem a mão; implorai, e Deus vos perdoará; mas perdoai também vós, e arrependei-vos. O perdão é tão suave! Ah! Se o conhecêsseis, não demoraríeis um instante em vos retirardes do pântano do mal onde vos atolais, e voaríeis imediatamente para os braços dos anjos que estão junto de vós. Cessai, cessai, irmãos, eu vos peço; cessai e segui-me; arrependei-vos.
É o que Deus disse a seus bons Espíritos. E eu, que era um dos mais cruéis na obsessão, hoje venho dizer aos que fazem o que eu fazia: Almas transviadas, seguime; pedi perdão a Deus e a essas almas puras que vos estendem a mão; implorai, e Deus vos perdoará; mas perdoai também vós, e arrependei-vos. O perdão é tão suave! Ah! Se o conhecêsseis, não demoraríeis um instante em vos retirardes do pântano do mal onde vos atolais, e voaríeis imediatamente para os braços dos anjos que estão junto de vós. Cessai, cessai, irmãos, eu vos peço; cessai e segui-me; arrependei-vos.
Meus amigos, ─ permiti que vos dê este nome, ainda que não me conheçais, ─ sou um desses Espíritos que tudo fizeram, menos o bem; mas a cada pecado, misericórdia, e visto que Deus me concede perdão e que os anjos quiseram chamarme irmão, espero que vós, que praticais a caridade, oreis por mim, porque tenho provas muito duras a passar. Mas elas são merecidas.
─ Faz muito tempo que tomastes o caminho do bem?
─ Não, meus amigos, faz pouco tempo, pois sou o Espírito obsessor da menina de Marmande; sou Júlio, e venho às almas caridosas para lhes pedir que orem por mim e para dizer aos meus antigos companheiros: “Parai! Não façais mais o mal, porque Deus perdoa aos pecadores arrependidos. Arrependei-vos e sereis absolvidos. Venho trazer-vos as palavras de paz. Recebei do anjo aqui presente o santo batismo, como eu o recebi.
Caros amigos, eu vos deixo, recomendando não me esqueçais em vossas preces.
Adeus.
JÚLIO
─ Faz muito tempo que tomastes o caminho do bem?
─ Não, meus amigos, faz pouco tempo, pois sou o Espírito obsessor da menina de Marmande; sou Júlio, e venho às almas caridosas para lhes pedir que orem por mim e para dizer aos meus antigos companheiros: “Parai! Não façais mais o mal, porque Deus perdoa aos pecadores arrependidos. Arrependei-vos e sereis absolvidos. Venho trazer-vos as palavras de paz. Recebei do anjo aqui presente o santo batismo, como eu o recebi.
Caros amigos, eu vos deixo, recomendando não me esqueçais em vossas preces.
Adeus.
JÚLIO
Tendo perguntando ao Espírito se o da Pequena Cárita, sua protetora, o acompanhava, ele respondeu afirmativamente. Pedimos a esse bom Espírito algumas palavras relativamente às obsessões que há tanto tempo combatemos. Eis o que disse:
“Meus amigos, as obsessões, que constituem o tormento dessas pobres almas encarnadas, são muito dolorosas, sobretudo para os médiuns que desejam servir-se de suas faculdades para fazer o bem e não podem, porque Espíritos malévolos se abateram sobre eles e não lhes deixam tranquilidade; mas é necessário esperar que essas obsessões cheguem a seu fim. Orai muito, pedi a Deus, a própria bondade, que ele se digne abreviar vossos sofrimentos e provações. Almas queridas, evocai esses Espíritos transviados; orai por eles; moralizai-os; pedi conselhos aos bons Espíritos. Vós estais bem rodeados. Não tendes perto de vós diversas dessas almas etéreas que velam por vós e vos protegem? Que procuram fazer-vos progredir, para que chegueis perto de Deus? Nisto está a sua tarefa. Elas trabalham incessantemente para vos preparar o caminho que jamais acaba. Se não estais libertos, meus caros amigos, sem dúvida é porque ainda não estais bastante purificados para a tarefa que vos impusestes. Escolhestes livremente a vossa provação e deveis esforçar-vos por levá-la a bom termo, porque os Espíritos vos guiam e vos sustentam para ajudar-vos a terminar a vida terrena santamente, depurando-vos pela expiação pelo sofrimento e pela caridade.
“Adeus, caros amigos. Deixo-vos, pedindo a Deus por vós e por esses pobres obsedados, e lhe peço que sejais sempre protegidos pelos Espíritos purificados do vosso grupo. (Vide a Revista de fevereiro, março e junho de 1864: Cura da jovem obsedada de Marmande).
“Meus amigos, as obsessões, que constituem o tormento dessas pobres almas encarnadas, são muito dolorosas, sobretudo para os médiuns que desejam servir-se de suas faculdades para fazer o bem e não podem, porque Espíritos malévolos se abateram sobre eles e não lhes deixam tranquilidade; mas é necessário esperar que essas obsessões cheguem a seu fim. Orai muito, pedi a Deus, a própria bondade, que ele se digne abreviar vossos sofrimentos e provações. Almas queridas, evocai esses Espíritos transviados; orai por eles; moralizai-os; pedi conselhos aos bons Espíritos. Vós estais bem rodeados. Não tendes perto de vós diversas dessas almas etéreas que velam por vós e vos protegem? Que procuram fazer-vos progredir, para que chegueis perto de Deus? Nisto está a sua tarefa. Elas trabalham incessantemente para vos preparar o caminho que jamais acaba. Se não estais libertos, meus caros amigos, sem dúvida é porque ainda não estais bastante purificados para a tarefa que vos impusestes. Escolhestes livremente a vossa provação e deveis esforçar-vos por levá-la a bom termo, porque os Espíritos vos guiam e vos sustentam para ajudar-vos a terminar a vida terrena santamente, depurando-vos pela expiação pelo sofrimento e pela caridade.
“Adeus, caros amigos. Deixo-vos, pedindo a Deus por vós e por esses pobres obsedados, e lhe peço que sejais sempre protegidos pelos Espíritos purificados do vosso grupo. (Vide a Revista de fevereiro, março e junho de 1864: Cura da jovem obsedada de Marmande).
PEQUENA CÁRITA.”
Eis dois Espíritos que violaram a ordem e transpuseram os Pirineus sem permissão, sem levar em conta a ordenação do Monsenhor Pantaleón e, o que é pior, sem terem sido chamados ou evocados. É verdade que a ordenação ainda não tinha aparecido. Agora veremos se eles serão menos ousados. Poder-se-ia dizer que se nessa reunião não os chamaram, estavam habituados a chamar outros e que, encontrando a porta aberta, eles aproveitaram para entrar, mas não tardarão, se isto já não aconteceu, a vê-los se introduzirem, lá como alhures, como em Poitiers, por exemplo, entre pessoas que jamais ouviram falar de Espiritismo, e mesmo entre os que, escrupulosos observadores da ordenação, lhes fecharão a entrada de suas casas, malgrado os aguazis.
Considerando-se que os Espíritos aqui referidos se permitiram essa afronta, perguntaremos ao Sr. Bispo o que há de ridículo nesse fato, e onde está o cinismo imundo que, em sua opinião, é fruto do Espiritismo: Uma jovem de Marmande, que nem ela nem os pais pensavam nos Espíritos, que talvez nem neles acreditassem, é atingida, há aproximadamente um ano, por uma doença terrível, bizarra, ante a qual falha a Ciência. Alguns espíritas pensam reconhecer nesse fato a ação de um Espírito mau. Eles tentam a sua cura sem medicamentos, pela prece e pela evocação desse mau Espírito, e em cinco dias, não só lhe devolvem a saúde, mas conduzem o mau Espírito ao bem. Onde está o mal? Onde está o absurdo? Depois, esse mesmo Espírito vem a Barcelona, sem que o chamem, pedir preces de que necessita para completar sua purificação. Ele se coloca como exemplo e concita seus antigos companheiros a renunciarem ao mal. O bom Espírito que o acompanha prega a moral evangélica. Que há nisso de ridículo e de imundo? O que é ridículo, dizeis vós, é acreditar na manifestação dos Espíritos. Mas, que são esses dois seres que acabam de se comunicar? Um efeito da imaginação? Não, pois não pensavam neles, nem no fato de que acabam de falar. Quando tiverdes morrido, Monsenhor, vereis as coisas de outro modo, e nós rogamos a Deus que vos esclareça, como fez com o vosso predecessor, hoje um dos protetores do Espiritismo em Barcelona.
Entre as comunicações por ele dadas na Sociedade Espírita de Paris, eis a primeira, já publicada nesta Revista. Nada obstante, reproduzimo-la para edificação dos que não a conhecem. (Vide a Revista de agosto de 1862: Morte do bispo de Barcelona, e, quanto aos detalhes do auto-de-fé, os números de novembro e dezembro de 1861).
“Ajudado por vosso chefe espiritual (São Luís) pude vir ensinar-vos por meu exemplo e vos dizer: Não repilais nenhuma das ideias anunciadas, porque um dia, dia que durará e pesará como um século, essas ideias amontoadas gritarão como a voz do anjo: Caim, que fizeste de teu irmão? Que fizeste do nosso poder, que deveria consolar e elevar a Humanidade? O homem que voluntariamente vive cego e surdo de espírito, como outros o são de corpo, sofrerá, expiará e renascerá para recomeçar o labor intelectual que sua preguiça e seu orgulho lhe fizeram evitar. Essa voz terrível me disse: Tu queimaste as ideias e as ideias te queimarão. Orai por mim. Orai, porque é agradável a Deus a prece que lhe dirige o perseguido pelo perseguidor.
“Aquele que foi bispo e não é mais que um penitente.”
Os Espíritos não param em Barcelona, Madrid, Cadiz, Sevilha, Múrcia e muitas outras cidades recebem suas comunicações, às quais o auto-de-fé imprimiu um novo impulso, aumentando o número dos adeptos. Sem ter o dom profético, podemos dizer com certeza que meio século não passará sem que toda a Espanha seja espírita.
Considerando-se que os Espíritos aqui referidos se permitiram essa afronta, perguntaremos ao Sr. Bispo o que há de ridículo nesse fato, e onde está o cinismo imundo que, em sua opinião, é fruto do Espiritismo: Uma jovem de Marmande, que nem ela nem os pais pensavam nos Espíritos, que talvez nem neles acreditassem, é atingida, há aproximadamente um ano, por uma doença terrível, bizarra, ante a qual falha a Ciência. Alguns espíritas pensam reconhecer nesse fato a ação de um Espírito mau. Eles tentam a sua cura sem medicamentos, pela prece e pela evocação desse mau Espírito, e em cinco dias, não só lhe devolvem a saúde, mas conduzem o mau Espírito ao bem. Onde está o mal? Onde está o absurdo? Depois, esse mesmo Espírito vem a Barcelona, sem que o chamem, pedir preces de que necessita para completar sua purificação. Ele se coloca como exemplo e concita seus antigos companheiros a renunciarem ao mal. O bom Espírito que o acompanha prega a moral evangélica. Que há nisso de ridículo e de imundo? O que é ridículo, dizeis vós, é acreditar na manifestação dos Espíritos. Mas, que são esses dois seres que acabam de se comunicar? Um efeito da imaginação? Não, pois não pensavam neles, nem no fato de que acabam de falar. Quando tiverdes morrido, Monsenhor, vereis as coisas de outro modo, e nós rogamos a Deus que vos esclareça, como fez com o vosso predecessor, hoje um dos protetores do Espiritismo em Barcelona.
Entre as comunicações por ele dadas na Sociedade Espírita de Paris, eis a primeira, já publicada nesta Revista. Nada obstante, reproduzimo-la para edificação dos que não a conhecem. (Vide a Revista de agosto de 1862: Morte do bispo de Barcelona, e, quanto aos detalhes do auto-de-fé, os números de novembro e dezembro de 1861).
“Ajudado por vosso chefe espiritual (São Luís) pude vir ensinar-vos por meu exemplo e vos dizer: Não repilais nenhuma das ideias anunciadas, porque um dia, dia que durará e pesará como um século, essas ideias amontoadas gritarão como a voz do anjo: Caim, que fizeste de teu irmão? Que fizeste do nosso poder, que deveria consolar e elevar a Humanidade? O homem que voluntariamente vive cego e surdo de espírito, como outros o são de corpo, sofrerá, expiará e renascerá para recomeçar o labor intelectual que sua preguiça e seu orgulho lhe fizeram evitar. Essa voz terrível me disse: Tu queimaste as ideias e as ideias te queimarão. Orai por mim. Orai, porque é agradável a Deus a prece que lhe dirige o perseguido pelo perseguidor.
“Aquele que foi bispo e não é mais que um penitente.”
Os Espíritos não param em Barcelona, Madrid, Cadiz, Sevilha, Múrcia e muitas outras cidades recebem suas comunicações, às quais o auto-de-fé imprimiu um novo impulso, aumentando o número dos adeptos. Sem ter o dom profético, podemos dizer com certeza que meio século não passará sem que toda a Espanha seja espírita.
MÚRCIA, ESPANHA, 28 DE JUNHO DE 1864
Pergunta a um Espírito protetor. ─ Poderíeis falar do estado das almas encarnadas em mundos superiores ao nosso?
Resposta. ─ Tomo, em comparação com o vosso, um mundo sensivelmente mais adiantado, onde a crença em Deus, na imortalidade da alma, na sucessão das existências para chegar à perfeição são tantas verdades reconhecidas e compreendidas por todos, e onde a comunicação dos seres corpóreos com o mundo oculto é, por isso mesmo, muito fácil. Os seres ali são menos materiais que em vossa Terra e não estão sujeitos a todas as necessidades que vos pesam. Eles formam a transição entre os corpóreos e os incorpóreos. Lá não há barreiras separando povos, nem guerras; todos vivem em paz, praticando entre si a caridade e a verdadeira fraternidade; as leis humanas ali são inúteis; cada um leva consigo a consciência, que é o seu tribunal. Ali o mal é raro, e até mesmo esse mal seria quase o bem, para vós. Em relação a vós eles seriam perfeitos, mas ainda estão longe da perfeição de Deus; ainda lhes são necessárias várias encarnações em diversas terras para completarem a purificação. Aquele que na Terra vos parece perfeito seria considerado como um revoltado e um criminoso no mundo de que vos falo. Vossos maiores sábios ali seriam os últimos ignorantes.
Nos mundos superiores as produções da Natureza nada têm em comum com as do vosso globo. Tudo ali é apropriado à organização menos material dos habitantes. Não é pelo suor do rosto e pelo trabalho material que tiram o alimento. O solo produz naturalmente o que lhes é necessário. Contudo, eles não estão inativos, mas suas ocupações são muito diferentes das vossas. Não tendo que prover às necessidades do corpo, eles proveem à do Espírito; compreendendo cada um por que foi criado, está positivamente seguro de seu futuro e trabalha sem desânimo o seu próprio melhoramento e a purificação de sua alma.
A morte ali é considerada um benefício. O dia em que uma alma deixa o seu envoltório é um dia feliz. Sabe-se para onde se vai. Passa-se primeiro, para ir mais longe esperar os pais, os amigos e os Espíritos simpáticos que foram deixados para trás.
Terra de paz, morada feliz, onde as vicissitudes da vida material são desconhecidas, onde a tranquilidade da alma não é perturbada pela ambição nem pela sede de riquezas, onde são felizes os que a habitam! Eles atingem o objetivo perseguido há tantos séculos; eles veem, eles sabem, eles compreendem; eles se alegram em pensar no futuro que os espera, e trabalham com mais ardor para chegarem mais prontamente.
UM ESPÍRITO PROTETOR
Resposta. ─ Tomo, em comparação com o vosso, um mundo sensivelmente mais adiantado, onde a crença em Deus, na imortalidade da alma, na sucessão das existências para chegar à perfeição são tantas verdades reconhecidas e compreendidas por todos, e onde a comunicação dos seres corpóreos com o mundo oculto é, por isso mesmo, muito fácil. Os seres ali são menos materiais que em vossa Terra e não estão sujeitos a todas as necessidades que vos pesam. Eles formam a transição entre os corpóreos e os incorpóreos. Lá não há barreiras separando povos, nem guerras; todos vivem em paz, praticando entre si a caridade e a verdadeira fraternidade; as leis humanas ali são inúteis; cada um leva consigo a consciência, que é o seu tribunal. Ali o mal é raro, e até mesmo esse mal seria quase o bem, para vós. Em relação a vós eles seriam perfeitos, mas ainda estão longe da perfeição de Deus; ainda lhes são necessárias várias encarnações em diversas terras para completarem a purificação. Aquele que na Terra vos parece perfeito seria considerado como um revoltado e um criminoso no mundo de que vos falo. Vossos maiores sábios ali seriam os últimos ignorantes.
Nos mundos superiores as produções da Natureza nada têm em comum com as do vosso globo. Tudo ali é apropriado à organização menos material dos habitantes. Não é pelo suor do rosto e pelo trabalho material que tiram o alimento. O solo produz naturalmente o que lhes é necessário. Contudo, eles não estão inativos, mas suas ocupações são muito diferentes das vossas. Não tendo que prover às necessidades do corpo, eles proveem à do Espírito; compreendendo cada um por que foi criado, está positivamente seguro de seu futuro e trabalha sem desânimo o seu próprio melhoramento e a purificação de sua alma.
A morte ali é considerada um benefício. O dia em que uma alma deixa o seu envoltório é um dia feliz. Sabe-se para onde se vai. Passa-se primeiro, para ir mais longe esperar os pais, os amigos e os Espíritos simpáticos que foram deixados para trás.
Terra de paz, morada feliz, onde as vicissitudes da vida material são desconhecidas, onde a tranquilidade da alma não é perturbada pela ambição nem pela sede de riquezas, onde são felizes os que a habitam! Eles atingem o objetivo perseguido há tantos séculos; eles veem, eles sabem, eles compreendem; eles se alegram em pensar no futuro que os espera, e trabalham com mais ardor para chegarem mais prontamente.
UM ESPÍRITO PROTETOR
Esta comunicação nada oferece que já não tenha sido dito sobre os mundos adiantados, mas não é menos interessante ver a concordância que se estabelece no ensino dos Espíritos nos os diversos pontos do globo. Com tais elementos, como não haveria unidade de doutrina?
Até agora, estando estabelecidos os pontos fundamentais da doutrina, os Espíritos têm poucas coisas novas a dizer. Eles não podem muito mais que repetir em outros termos, desenvolver e comentar os mesmos assuntos, o que estabelece uma certa uniformidade em seu ensino. Antes de abordar novas questões, eles deixam às que estão resolvidas o tempo de se identificarem com o pensamento. Mas, à medida que o momento é propício para avançar um passo, vemo-los abordarem novos assuntos que, mais cedo, teriam sido prematuros.
Até agora, estando estabelecidos os pontos fundamentais da doutrina, os Espíritos têm poucas coisas novas a dizer. Eles não podem muito mais que repetir em outros termos, desenvolver e comentar os mesmos assuntos, o que estabelece uma certa uniformidade em seu ensino. Antes de abordar novas questões, eles deixam às que estão resolvidas o tempo de se identificarem com o pensamento. Mas, à medida que o momento é propício para avançar um passo, vemo-los abordarem novos assuntos que, mais cedo, teriam sido prematuros.
Um Espírito que se julga médium
A Sra. Gaspard, amiga da Sra. Delanne, era uma fervorosa espírita; seu pesar era não ser médium; ela teria desejado sobretudo ser médium vidente. Há muito tempo ela sofria muito de um aneurisma. A 2 de julho último, à noite, a ruptura desse aneurisma a levou a morte súbita. A Sra. Delanne ainda não tinha sido avisada do evento quando, de dia, ouviu pancadas em diversas parte do quarto; a princípio não prestou grande atenção, mas a persistência dos golpes a fizeram pensar que algum Espírito queria comunicar-se. Como ela é muito boa médium, tomou do lápis e escreveu o seguinte:
“Oh! Boa Sra. Delanne, como me fizestes esperar! Acorri para vos contar sobre minha nova faculdade: sou médium vidente. Vi meu caro Emílio, minhas crianças, todos, minha mãe, a mãe do Sr. Gaspard. Oh! Como ele vai sentir-se feliz quando souber! Obrigado, meu Deus por tão grande favor!
P. ─ Sois vós mesma, Sra. Gaspard, que me falais agora?
R. ─ Como! Não me vedes? Estou há muito junto de vós. Estava impaciente porque não me respondíeis. Vamos! Vós vireis, não? Agora é a vossa vez. E depois, isto vos fará bem. Iremos passear, agora que estou bem. Oh! Como a gente se sente feliz ao rever aqueles a quem amamos! Contudo, foi o que me curou. Como o bom Deus é bom, e como cumpre suas promessas, quando se é fiel aos seus mandamentos! ─ Hein! Meu Emílio! E dizer que meu pobre pai ainda vai me dizer que estou louca! Isto não tem importância, mesmo assim lho direi. ─ Vamos, partiremos? É preciso levar vossa mãe, isto lhe fará bem. Pobre mulher! Ela tem um ar tão bom!
P. ─ Vejamos, boa Sra. Gaspard, nós vamos partir, eu vos sigo. Vamos mesmo à vossa casa em Châtillon? Dizei-me o que vedes, ou melhor, o que acontece aí neste momento.
R. ─ Coisas singulares!
A estas palavras o Espírito se vai e a Sra. Delanne nada mais obtém.
Para a compreensão desta última parte da comunicação, diremos que, há algum tempo, um passeio ao campo, em Châtillon, havia sido planejado pelas duas senhoras. Surpreendida por uma morte súbita, a Sra. Gaspard não se dá conta de sua situação e ainda se julga viva. Como ela vê os Espíritos daqueles que lhe são caros, julga haver-se tornado médium vidente. É uma particularidade notável da transição da vida corpórea à espiritual. Além disso, a Sra. Gaspard, achando-se livre do sofrimento, crê-se curada e vem renovar seu convite à Sra. Delanne. Contudo, nela as ideias são confusas, pois vem avisar dando pancadas perto dela, sem compreender que não seria reconhecida deste modo se estivesse viva.
A Sra. Delanne compreende logo a singularidade da situação, mas, não querendo confundi-la, a convida a observar o que se passa em Châtillon. Sem dúvida o Espírito para ali se transporta e é chamado à realidade por uma circunstância imprevista, porquanto ela escreve: “Coisas singulares!” e interrompe sua comunicação.
Aliás, a ilusão não teve longa duração. A partir do dia seguinte, a Sra. Gaspard estava completamente desprendida e ditou uma excelente comunicação, dirigida a seu marido e a seus amigos, felicitando-se por haver conhecido o Espiritismo, que lhe tinha proporcionado uma morte isenta das angústias da separação.
“Oh! Boa Sra. Delanne, como me fizestes esperar! Acorri para vos contar sobre minha nova faculdade: sou médium vidente. Vi meu caro Emílio, minhas crianças, todos, minha mãe, a mãe do Sr. Gaspard. Oh! Como ele vai sentir-se feliz quando souber! Obrigado, meu Deus por tão grande favor!
P. ─ Sois vós mesma, Sra. Gaspard, que me falais agora?
R. ─ Como! Não me vedes? Estou há muito junto de vós. Estava impaciente porque não me respondíeis. Vamos! Vós vireis, não? Agora é a vossa vez. E depois, isto vos fará bem. Iremos passear, agora que estou bem. Oh! Como a gente se sente feliz ao rever aqueles a quem amamos! Contudo, foi o que me curou. Como o bom Deus é bom, e como cumpre suas promessas, quando se é fiel aos seus mandamentos! ─ Hein! Meu Emílio! E dizer que meu pobre pai ainda vai me dizer que estou louca! Isto não tem importância, mesmo assim lho direi. ─ Vamos, partiremos? É preciso levar vossa mãe, isto lhe fará bem. Pobre mulher! Ela tem um ar tão bom!
P. ─ Vejamos, boa Sra. Gaspard, nós vamos partir, eu vos sigo. Vamos mesmo à vossa casa em Châtillon? Dizei-me o que vedes, ou melhor, o que acontece aí neste momento.
R. ─ Coisas singulares!
A estas palavras o Espírito se vai e a Sra. Delanne nada mais obtém.
Para a compreensão desta última parte da comunicação, diremos que, há algum tempo, um passeio ao campo, em Châtillon, havia sido planejado pelas duas senhoras. Surpreendida por uma morte súbita, a Sra. Gaspard não se dá conta de sua situação e ainda se julga viva. Como ela vê os Espíritos daqueles que lhe são caros, julga haver-se tornado médium vidente. É uma particularidade notável da transição da vida corpórea à espiritual. Além disso, a Sra. Gaspard, achando-se livre do sofrimento, crê-se curada e vem renovar seu convite à Sra. Delanne. Contudo, nela as ideias são confusas, pois vem avisar dando pancadas perto dela, sem compreender que não seria reconhecida deste modo se estivesse viva.
A Sra. Delanne compreende logo a singularidade da situação, mas, não querendo confundi-la, a convida a observar o que se passa em Châtillon. Sem dúvida o Espírito para ali se transporta e é chamado à realidade por uma circunstância imprevista, porquanto ela escreve: “Coisas singulares!” e interrompe sua comunicação.
Aliás, a ilusão não teve longa duração. A partir do dia seguinte, a Sra. Gaspard estava completamente desprendida e ditou uma excelente comunicação, dirigida a seu marido e a seus amigos, felicitando-se por haver conhecido o Espiritismo, que lhe tinha proporcionado uma morte isenta das angústias da separação.
Escrevem de Brunswick para o Pays:
“Uma camponesa dos arredores de Lutter acaba de dar à luz uma criança com todas as aparências de um macaco, pois o corpo é quase inteiramente coberto de pelos negros e em tufos, e nem o rosto está isento dessa estranha vegetação.
“Casada há doze anos e, posto que admiravelmente conformada, essa infeliz senhora ainda não deu à luz um só filho que não fosse acometido por enfermidades mais ou menos horríveis.
“Sua filha mais velha, de dez anos, é completamente corcunda, e seu rosto parece copiado, traço por traço, do rosto de Polichinelo. Seu segundo filho é um garoto de sete anos; ele tem as pernas aleijadas. A terceira, que vai completar cinco anos, é surda-muda e idiota. Enfim a quarta, de dois anos e meio, é completamente cega.
“Qual pode ser a causa desse estranho fenômeno? Eis um ponto que a Ciência deve esclarecer.
“O pai é um homem perfeitamente constituído e tem todas as aparências da mais robusta saúde e nada pode explicar a espécie de fatalidade que pesa sobre a sua raça.
(Moniteur, 29 de julho de 1864).
“Uma camponesa dos arredores de Lutter acaba de dar à luz uma criança com todas as aparências de um macaco, pois o corpo é quase inteiramente coberto de pelos negros e em tufos, e nem o rosto está isento dessa estranha vegetação.
“Casada há doze anos e, posto que admiravelmente conformada, essa infeliz senhora ainda não deu à luz um só filho que não fosse acometido por enfermidades mais ou menos horríveis.
“Sua filha mais velha, de dez anos, é completamente corcunda, e seu rosto parece copiado, traço por traço, do rosto de Polichinelo. Seu segundo filho é um garoto de sete anos; ele tem as pernas aleijadas. A terceira, que vai completar cinco anos, é surda-muda e idiota. Enfim a quarta, de dois anos e meio, é completamente cega.
“Qual pode ser a causa desse estranho fenômeno? Eis um ponto que a Ciência deve esclarecer.
“O pai é um homem perfeitamente constituído e tem todas as aparências da mais robusta saúde e nada pode explicar a espécie de fatalidade que pesa sobre a sua raça.
(Moniteur, 29 de julho de 1864).
“Eis um ponto que a Ciência deve esclarecer”, diz o jornal. Há muitos outros fatos ante os quais a Ciência fica impotente, sem contar os de Morzine e de Poitiers. A razão disto é muito simples. É que ela se obstina em não procurar as causas senão na matéria, e não leva em conta senão as leis que ela conhece.
A respeito de certos fenômenos, ela está na posição em que se encontraria se não tivesse saído da física de Aristóteles; se tivesse desconhecido a lei da gravitação ou a da eletricidade; onde se achou a religião, enquanto desconheceu a lei do movimento dos astros; onde estão ainda hoje os que desconhecem a lei geológica da formação do globo.
Duas forças partilham o mundo: o espírito e a matéria. O espírito tem as suas leis, como a matéria tem as dela. Ora, reagindo essas duas forças incessantemente uma sobre a outra, disso resulta que certos fenômenos materiais têm como causa a ação do espírito e que umas não podem ser perfeitamente compreendidas se as outras não forem levadas em conta. Fora das leis tangíveis, portanto, há uma outra que desempenha no mundo um papel capital, é a das relações entre os mundos visível e invisível. Quando a Ciência reconhecer a existência dessa lei, aí encontrará a solução de uma infinidade de problemas contra os quais se choca inutilmente.
As monstruosidades, como todas as enfermidades congênitas, sem dúvida têm uma causa fisiológica, que é da alçada da Ciência material. Mas, supondo que esta venha a surpreender o segredo desses desvios da Natureza, restará sempre o problema da causa primeira e a conciliação do fato com a justiça divina. Se a Ciência disser que isto não é da sua alçada, o mesmo não poderá dizer a religião. Quando a Ciência demonstra a existência de um fato, incumbe à religião o dever de aí procurar a prova da soberana sabedoria. Jamais sondou ela, do ponto de vista da divina equidade, o mistério dessas existências anormais? Dessas fatalidades que parecem perseguir certas famílias, sem causas atuais conhecidas? Não, porque ela sente sua própria impotência e se apavora com essas questões terríveis para seus dogmas absolutos. Até hoje haviam aceito o fato sem ir mais longe, mas hoje pensam, refletem, querem saber; interrogam a Ciência, que procura nas fibras e fica muda; interrogam a religião, que responde: Mistério impenetrável!
Pois bem! O Espiritismo vem rasgar esse mistério e dele fazer sair a deslumbrante justiça de Deus. Ele prova que essas almas deserdadas desde o nascimento neste mundo já viveram e que elas expiam, em corpos disformes, suas faltas passadas. Demonstra a observação, e a razão o diz, porque não se poderia admitir que sejam castigadas ao sair das mãos do Criador, quando ainda nada fizeram.
Tudo bem, dirão, para o ser que nasce assim. Mas, os pais? Mas essa mãe que dá à luz apenas seres desgraçados; que é privada da alegria de ter um só filho que lhe faça honra e que possa mostrar com orgulho? A isso responde o Espiritismo: Justiça de Deus, expiação, provação para sua ternura materna, porque é uma provação, e bem grande, só ver em torno de si pequenos monstros em vez de crianças graciosas. E ele acrescenta: Não há uma única infração das leis de Deus que mais cedo ou mais tarde não tenha suas funestas consequências, na Terra ou no mundo dos Espíritos, nesta vida ou na seguinte. Pela mesma razão, não há uma só vicissitude da vida que não seja consequência e punição de uma falta passada, e assim será para cada um, enquanto não se tiver arrependido, enquanto não houver expiado e reparado o mal que ele fez. Ele volta à Terra para expiar e reparar. Cabe a ele melhorar-se bastante aqui em baixo para não mais voltar como condenado. Muitas vezes Deus se serve daquele que é punido para punir outros. É assim que os Espíritos dessas crianças, devendo, como punição, encarnar-se em corpos disformes, são, independentemente de sua vontade, instrumentos de expiação para a mãe que os deu à luz. Essa justiça distributiva, proporcional à duração do mal, vale bem a das penas eternas, irremissíveis, que encerram para sempre a via do arrependimento e da reparação.
O fato acima foi lido na Sociedade Espírita de Paris, como assunto de estudo filosófico, e um Espírito deu a seguinte explicação:
A respeito de certos fenômenos, ela está na posição em que se encontraria se não tivesse saído da física de Aristóteles; se tivesse desconhecido a lei da gravitação ou a da eletricidade; onde se achou a religião, enquanto desconheceu a lei do movimento dos astros; onde estão ainda hoje os que desconhecem a lei geológica da formação do globo.
Duas forças partilham o mundo: o espírito e a matéria. O espírito tem as suas leis, como a matéria tem as dela. Ora, reagindo essas duas forças incessantemente uma sobre a outra, disso resulta que certos fenômenos materiais têm como causa a ação do espírito e que umas não podem ser perfeitamente compreendidas se as outras não forem levadas em conta. Fora das leis tangíveis, portanto, há uma outra que desempenha no mundo um papel capital, é a das relações entre os mundos visível e invisível. Quando a Ciência reconhecer a existência dessa lei, aí encontrará a solução de uma infinidade de problemas contra os quais se choca inutilmente.
As monstruosidades, como todas as enfermidades congênitas, sem dúvida têm uma causa fisiológica, que é da alçada da Ciência material. Mas, supondo que esta venha a surpreender o segredo desses desvios da Natureza, restará sempre o problema da causa primeira e a conciliação do fato com a justiça divina. Se a Ciência disser que isto não é da sua alçada, o mesmo não poderá dizer a religião. Quando a Ciência demonstra a existência de um fato, incumbe à religião o dever de aí procurar a prova da soberana sabedoria. Jamais sondou ela, do ponto de vista da divina equidade, o mistério dessas existências anormais? Dessas fatalidades que parecem perseguir certas famílias, sem causas atuais conhecidas? Não, porque ela sente sua própria impotência e se apavora com essas questões terríveis para seus dogmas absolutos. Até hoje haviam aceito o fato sem ir mais longe, mas hoje pensam, refletem, querem saber; interrogam a Ciência, que procura nas fibras e fica muda; interrogam a religião, que responde: Mistério impenetrável!
Pois bem! O Espiritismo vem rasgar esse mistério e dele fazer sair a deslumbrante justiça de Deus. Ele prova que essas almas deserdadas desde o nascimento neste mundo já viveram e que elas expiam, em corpos disformes, suas faltas passadas. Demonstra a observação, e a razão o diz, porque não se poderia admitir que sejam castigadas ao sair das mãos do Criador, quando ainda nada fizeram.
Tudo bem, dirão, para o ser que nasce assim. Mas, os pais? Mas essa mãe que dá à luz apenas seres desgraçados; que é privada da alegria de ter um só filho que lhe faça honra e que possa mostrar com orgulho? A isso responde o Espiritismo: Justiça de Deus, expiação, provação para sua ternura materna, porque é uma provação, e bem grande, só ver em torno de si pequenos monstros em vez de crianças graciosas. E ele acrescenta: Não há uma única infração das leis de Deus que mais cedo ou mais tarde não tenha suas funestas consequências, na Terra ou no mundo dos Espíritos, nesta vida ou na seguinte. Pela mesma razão, não há uma só vicissitude da vida que não seja consequência e punição de uma falta passada, e assim será para cada um, enquanto não se tiver arrependido, enquanto não houver expiado e reparado o mal que ele fez. Ele volta à Terra para expiar e reparar. Cabe a ele melhorar-se bastante aqui em baixo para não mais voltar como condenado. Muitas vezes Deus se serve daquele que é punido para punir outros. É assim que os Espíritos dessas crianças, devendo, como punição, encarnar-se em corpos disformes, são, independentemente de sua vontade, instrumentos de expiação para a mãe que os deu à luz. Essa justiça distributiva, proporcional à duração do mal, vale bem a das penas eternas, irremissíveis, que encerram para sempre a via do arrependimento e da reparação.
O fato acima foi lido na Sociedade Espírita de Paris, como assunto de estudo filosófico, e um Espírito deu a seguinte explicação:
(SOCIEDADE DE PARIS, 29 DE JULHO DE 1864)
Se pudésseis ver os dispositivos ocultos que movem o vosso mundo, compreenderíeis como tudo se encadeia, desde as menores coisas às maiores; compreenderíeis, sobretudo, a ligação íntima existente entre o mundo físico e o mundo moral, essa grande lei da Natureza; veríeis a multidão de inteligências que presidem a todos os fatos e os utilizam para que sirvam à realização dos desígnios do Criador. Suponde-vos um instante ante uma colmeia cujas abelhas fossem invisíveis. O trabalho que veríeis realizar-se diariamente vos causaria admiração, e talvez exclamásseis: Singular efeito do acaso! Pois bem! Realmente estais em presença de um atelier imenso, conduzido por inumeráveis legiões de operários para vós invisíveis, dos quais uns são trabalhadores manuais, que obedecem e executam, ao passo que outros comandam e dirigem, cada um na sua esfera de atividade proporcional ao seu desenvolvimento e ao seu adiantamento e, assim, de degrau em degrau, até a vontade suprema, que tudo impulsiona.
Assim se explica a ação da Divindade nos mais ínfimos detalhes. Como os soberanos temporais, Deus tem os ministros, e esses têm seus agentes subalternos, engrenagens secundárias do grande governo do Universo. Se, num país bem administrado, a última cabana sente os efeitos da sabedoria e da solicitude do chefe de Estado, quanto não deve a infinita sabedora do Altíssimo estender-se aos menores detalhes da criação!
Não creiais, pois, que essa mulher de que acabais de falar seja vítima do acaso ou de uma cega fatalidade. Não. O que lhe acontece tem sua razão de ser, ficai bem convencidos. Ela é castigada no seu orgulho; ela desprezou os fracos e os enfermos; ela foi dura para com os seres infelizes, dos quais desviava os olhos com repugnância, em vez de envolvê-los com um olhar de comiseração; ela envaideceuse da beleza física de seus filhos, à custa de mães menos favorecidas; ela mostravaos com orgulho, porque a seus olhos a beleza do corpo valia mais que a da alma; assim, ela neles desenvolveu vícios que lhes retardaram o avanço, em vez de desenvolver as qualidades de coração. Deus permitiu que em sua existência atual ela só tivesse filhos disformes, para que a ternura materna a ajudasse a vencer sua repugnância pelos infelizes. Para ela, portanto, é uma punição e um meio de adiantamento. Entretanto, nessa punição, brilham, ao mesmo tempo, a justiça e a bondade de Deus, que castiga com uma mão e com a outra incessantemente dá ao culpado os meios de se resgatar.
UM ESPÍRITO PROTETOR
Assim se explica a ação da Divindade nos mais ínfimos detalhes. Como os soberanos temporais, Deus tem os ministros, e esses têm seus agentes subalternos, engrenagens secundárias do grande governo do Universo. Se, num país bem administrado, a última cabana sente os efeitos da sabedoria e da solicitude do chefe de Estado, quanto não deve a infinita sabedora do Altíssimo estender-se aos menores detalhes da criação!
Não creiais, pois, que essa mulher de que acabais de falar seja vítima do acaso ou de uma cega fatalidade. Não. O que lhe acontece tem sua razão de ser, ficai bem convencidos. Ela é castigada no seu orgulho; ela desprezou os fracos e os enfermos; ela foi dura para com os seres infelizes, dos quais desviava os olhos com repugnância, em vez de envolvê-los com um olhar de comiseração; ela envaideceuse da beleza física de seus filhos, à custa de mães menos favorecidas; ela mostravaos com orgulho, porque a seus olhos a beleza do corpo valia mais que a da alma; assim, ela neles desenvolveu vícios que lhes retardaram o avanço, em vez de desenvolver as qualidades de coração. Deus permitiu que em sua existência atual ela só tivesse filhos disformes, para que a ternura materna a ajudasse a vencer sua repugnância pelos infelizes. Para ela, portanto, é uma punição e um meio de adiantamento. Entretanto, nessa punição, brilham, ao mesmo tempo, a justiça e a bondade de Deus, que castiga com uma mão e com a outra incessantemente dá ao culpado os meios de se resgatar.
UM ESPÍRITO PROTETOR
O Moniteur de 6 de agosto contém o seguinte artigo, que o Siècle reproduziu no dia imediato:
“Ontem, quinta-feira, às duas da tarde, um jovem de apenas dezenove anos, filho de um médico, suicidou-se em sua casa, na chaussée des Martyrs, com um tiro de pistola na boca.
“A bala arrebentou-lhe a cabeça e, não obstante, a morte não foi instantânea. Ele conservou a razão por uns instantes, e respondendo às perguntas que lhe faziam, disse que, salvo o pesar que ia causar ao pai, não tinha nenhum remorso pelo que havia feito. Depois foi tomado de delírio e, a despeito dos cuidados de que foi rodeado, morreu ao anoitecer, após uma agonia de cinco horas.
“Diz-se que há algum tempo esse infeliz moço nutria ideias de suicídio e presume-se, com ou sem razão, que o estudo do Espiritismo a que se entregava com ardor, não tenha sido estranho à sua fatal resolução.”
Sem dúvida esta notícia fará o giro da imprensa, como antes a dos quatro supostos loucos de Lyon, repetida a cada vez com o acréscimo de um zero, tal a avidez com que os nossos adversários procuram as ocasiões de atacar o Espiritismo. A verdade não tarda a ser conhecida, mas, que importa! Espera-se que de uma boa caluniazinha sempre reste alguma coisa. Sim, dela algo resta: uma mancha sobre os caluniadores. Quanto à doutrina, não se nota que tenha sofrido por isto, pois ela prossegue sua marcha ascendente.
Felicitamos o diretor do Avenir, Sr. d’Ambel, por seu cuidado em obter informação sobre a verdadeira causa do acontecimento. Eis o que diz ele a respeito, no número de 11 de agosto de 1864:
“Confessamos que a leitura dessa notícia nos mergulhou na mais profunda estupefação. É impossível não protestar contra a leviandade com que o órgão oficial acolheu semelhante acusação. O Espiritismo é completamente estranho ao ato desse moço infeliz. Nós, que somos vizinhos do local do sinistro, sabemos perfeitamente que tal não foi a causa desse espantoso suicídio. É com a maior reserva que devemos indicar a causa verdadeira da catástrofe. Mas, enfim, a verdade é a verdade, e nossa doutrina não pode permanecer sob o golpe de uma tal imputação.
“Há muito esse jovem, que apresentam como entregue com ardor ao estudo de nossa doutrina, tinha fracassado em várias tentativas nos exames de bacharelato. O estudo lhe era tão desagradável quanto a profissão paterna. Em breve ele iria submeter-se a novo exame, e foi em consequência de uma viva discussão com seu pai que, temendo ser reprovado mais uma vez, tomou a fatal decisão e a executou.
“Acrescentemos que se realmente tivesse conhecido o Espiritismo, nossa doutrina tê-lo-ia detido na rampa fatal, mostrando-lhe todo o horror que nos inspira o suicídio e todas as consequências terríveis que tal crime arrasta consigo. (Vide o Livro dos Espíritos, itens 943 a 957.”
“Ontem, quinta-feira, às duas da tarde, um jovem de apenas dezenove anos, filho de um médico, suicidou-se em sua casa, na chaussée des Martyrs, com um tiro de pistola na boca.
“A bala arrebentou-lhe a cabeça e, não obstante, a morte não foi instantânea. Ele conservou a razão por uns instantes, e respondendo às perguntas que lhe faziam, disse que, salvo o pesar que ia causar ao pai, não tinha nenhum remorso pelo que havia feito. Depois foi tomado de delírio e, a despeito dos cuidados de que foi rodeado, morreu ao anoitecer, após uma agonia de cinco horas.
“Diz-se que há algum tempo esse infeliz moço nutria ideias de suicídio e presume-se, com ou sem razão, que o estudo do Espiritismo a que se entregava com ardor, não tenha sido estranho à sua fatal resolução.”
Sem dúvida esta notícia fará o giro da imprensa, como antes a dos quatro supostos loucos de Lyon, repetida a cada vez com o acréscimo de um zero, tal a avidez com que os nossos adversários procuram as ocasiões de atacar o Espiritismo. A verdade não tarda a ser conhecida, mas, que importa! Espera-se que de uma boa caluniazinha sempre reste alguma coisa. Sim, dela algo resta: uma mancha sobre os caluniadores. Quanto à doutrina, não se nota que tenha sofrido por isto, pois ela prossegue sua marcha ascendente.
Felicitamos o diretor do Avenir, Sr. d’Ambel, por seu cuidado em obter informação sobre a verdadeira causa do acontecimento. Eis o que diz ele a respeito, no número de 11 de agosto de 1864:
“Confessamos que a leitura dessa notícia nos mergulhou na mais profunda estupefação. É impossível não protestar contra a leviandade com que o órgão oficial acolheu semelhante acusação. O Espiritismo é completamente estranho ao ato desse moço infeliz. Nós, que somos vizinhos do local do sinistro, sabemos perfeitamente que tal não foi a causa desse espantoso suicídio. É com a maior reserva que devemos indicar a causa verdadeira da catástrofe. Mas, enfim, a verdade é a verdade, e nossa doutrina não pode permanecer sob o golpe de uma tal imputação.
“Há muito esse jovem, que apresentam como entregue com ardor ao estudo de nossa doutrina, tinha fracassado em várias tentativas nos exames de bacharelato. O estudo lhe era tão desagradável quanto a profissão paterna. Em breve ele iria submeter-se a novo exame, e foi em consequência de uma viva discussão com seu pai que, temendo ser reprovado mais uma vez, tomou a fatal decisão e a executou.
“Acrescentemos que se realmente tivesse conhecido o Espiritismo, nossa doutrina tê-lo-ia detido na rampa fatal, mostrando-lhe todo o horror que nos inspira o suicídio e todas as consequências terríveis que tal crime arrasta consigo. (Vide o Livro dos Espíritos, itens 943 a 957.”
Nossos leitores se lembram de uma brochura, sob o mesmo título, publicada pelo Sr. Flammarion, da qual demos notícia, com o merecido elogio, na Revista Espírita de janeiro de 1863. O sucesso do opúsculo levou o autor a desenvolver a mesma tese em obra mais completa, na qual a questão é tratada em todos os desenvolvimentos que comporta, do ponto de vista da Astronomia, da Física e da Filosofia natural.
Nessa obra é feita abstração do Espiritismo, do qual não se fala, e, por isto mesmo, tanto ele se dirige aos incrédulos quanto aos crentes. Mas, como a teoria da pluralidade dos mundos habitados se liga intimamente à Doutrina Espírita, é muito importante vê-la consagrada pela Ciência e pela Filosofia. Sob tal aspecto, a notável obra de ciência tem seu lugar garantido na biblioteca dos espíritas.
É sob o mesmo ponto de vista, a saber, fora da revelação dos Espíritos, que será tratada a importante questão da pluralidade das existências, numa obra ora no prelo, editada pelos senhores Didier & Cia. O nome do autor, conhecido no mundo científico, é uma garantia de que o seu livro estará à altura do assunto.
Nessa obra é feita abstração do Espiritismo, do qual não se fala, e, por isto mesmo, tanto ele se dirige aos incrédulos quanto aos crentes. Mas, como a teoria da pluralidade dos mundos habitados se liga intimamente à Doutrina Espírita, é muito importante vê-la consagrada pela Ciência e pela Filosofia. Sob tal aspecto, a notável obra de ciência tem seu lugar garantido na biblioteca dos espíritas.
É sob o mesmo ponto de vista, a saber, fora da revelação dos Espíritos, que será tratada a importante questão da pluralidade das existências, numa obra ora no prelo, editada pelos senhores Didier & Cia. O nome do autor, conhecido no mundo científico, é uma garantia de que o seu livro estará à altura do assunto.
Eis a quarta publicação periódica espírita que aparece em Bordeaux, e que temos a satisfação de incluir nas reflexões que fizemos em nosso último número sobre as publicações do mesmo gênero. De longa data conhecemos o Sr. Bez como um dos firmes sustentáculos da causa. Sua bandeira é a mesma que a nossa e temos fé em sua prudência e moderação. É, pois, um órgão a mais, que vem juntar sua voz às que defendem os verdadeiros princípios da doutrina. Que seja bem-vindo!
Informam-nos que em breve Marselha também terá seu jornal espírita.
A multiplicação desses jornais especiais sugeriu-nos importantes reflexões em seu interesse, que a falta de espaço nos obriga a adiar para um próximo número.
ALLAN KARDEC
Informam-nos que em breve Marselha também terá seu jornal espírita.
A multiplicação desses jornais especiais sugeriu-nos importantes reflexões em seu interesse, que a falta de espaço nos obriga a adiar para um próximo número.
ALLAN KARDEC