Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1864

Allan Kardec

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Outubro

Ensaios teóricos sobre os espelhos mágicos

O nome de espelhos mágicos é dado a objetos de reflexos geralmente brilhantes, tais como o gelo, placas metálicas, garrafas, vidros, etc., nos quais certas pessoas veem imagens que lhes retratam acontecimentos afastados, passados, presentes e às vezes futuros, e as põem em condições de responder às perguntas que lhes são dirigidas. O fenômeno não é extremamente raro. Os espíritos fortes os taxam de crença supersticiosa, efeito da imaginação, charlatanice, como tudo o que não podem explicar pelas leis naturais conhecidas. O mesmo se dá, segundo eles,com todos os efeitos sonambúlicos e mediúnicos. No entanto, se o fato existe, sua opinião não poderia prevalecer contra a realidade, e estamos fortemente propensos a admitir a existência de uma nova lei, ainda não observada.

Até agora não nos estendemos sobre este assunto, malgrado os numerosos fatos que nos foram relatados, porque temos por princípio não afirmar senão aquilo que compreendemos, tendo por princípio dizer, tanto quanto possível, o como e o porquê das coisas, isto é, juntar ao relato uma explicação racional. Mencionamos o fato com o testemunho de pessoas sérias e respeitáveis, mas, admitindo a possibilidade do fenômeno, e mesmo a sua realidade, ainda não tínhamos visto com bastante clareza a que lei ele podia ligar-se para estarmos em condições de lhe dar uma solução. Por isso nos abstivemos. Os relatos que tínhamos à vista, aliás, poderiam estar carregados de exagero; eram necessários, sobretudo, certos detalhes de observação, os únicos que podem ajudar a fixar as ideias. Agora que vimos, observamos e estudamos, podemos falar com conhecimento de causa.

De início relatemos sumariamente os fatos que testemunhamos. Não pretendemos convencer os incrédulos; queremos apenas tentar esclarecer um ponto ainda obscuro da Ciência Espírita.

Durante a excursão espírita que fizemos este ano, tendo ido passar alguns dias em casa do Sr. W..., membro da Sociedade Espírita de Paris, no cantão de Berne, na Suíça, este último nos falou de um camponês das cercanias, torneiro de profissão, que goza da faculdade de descobrir fontes e de ver num copo as respostas às perguntas que lhe dirigem. Para a descoberta das fontes, ele às vezes se transporta aos lugares e se serve da bagueta utilizada em semelhantes casos; outras vezes, sem se deslocar, serve-se de seu copo e dá as indicações necessárias. Eis um notável exemplo de sua lucidez.

Na propriedade do Sr. de W... havia um conduto de águas muito longo, mas, por força de certas causas locais, acharam preferível que a tomada d’água fosse mais próxima. A fim de, se possível, poupar escavações inúteis, o Sr. de W... recorreu ao descobridor de fontes. Este, sem deixar o seu quarto, lhe disse, olhando em seu copo: “No percurso dos tubos existe outra fonte; está a tantos pés de profundidade, abaixo do décimo quarto tubo, a partir de tal ponto.” A coisa foi encontrada tal qual ele havia indicado. A ocasião era muito favorável para deixar de aproveitá-la, no interesse de nossa instrução. Então fomos à casa desse homem, com o Sr. e a Sra. de W... e duas outras pessoas. Não deixam de ser úteis algumas informações sobre essa pessoa.

É um homem de sessenta e quatro anos, bem alto, esguio, de boa saúde, posto que debilitado e andando com dificuldade. É protestante, muito religioso e lê habitualmente a Bíblia e livros de preces. Sua enfermidade, como consequência de uma doença, data da idade de trinta anos. Nessa época é que a faculdade se lhe revelou. Ele diz que foi Deus que lhe quis dar uma compensação. Seu rosto é expressivo e alegre, o olho vivo, inteligente e penetrante. Ele só fala o dialeto alemão da região e não entende uma palavra de francês. É casado e pai de família; vive do produto de alguns lotes de terra e de seu trabalho pessoal, de sorte que, sem estar numa posição fácil, não passa necessidades.

Quando desconhecidos vão à sua casa para consulta, seu primeiro movimento é de desconfiança. Ele sonda de certo modo as suas intenções e, por pouco desfavorável que seja essa impressão, responde que só se ocupa de fontes e recusa qualquer experiência com seu copo. Sobretudo recusa-se a responder às perguntas que poderiam visar a cupidez, como a busca de tesouros, as especulações aventurosas, ou a realização de algum desígnio mau, numa palavra, a todas as que poderiam ferir a lealdade e a delicadeza. Ele diz que se se ocupasse dessas coisas, Deus lhe retiraria a faculdade. Quando alguém lhe é apresentado por pessoa conhecida, e se essa pessoa lhe é simpática, sua fisionomia torna-se aberta e benevolente. Se o motivo pelo qual o interrogam for sério e útil, ele se interessa e se compraz nas pesquisas. Se as perguntas forem fúteis e de pura curiosidade, se se dirigem a ele como a um ledor da sorte, não responde.

Graças à presença e à recomendação do Sr. de W..., tivemos bastante sorte de estar em boas condições em sua presença e só tivemos que nos felicitar por sua cordial acolhida e sua boa vontade.

Esse homem é da mais completa ignorância no que concerne ao Espiritismo; ele não tem a menor ideia dos médiuns, nem das evocações ou da intervenção dos Espíritos, nem da ação fluídica. Para ele, sua faculdade está nos nervos, numa força que ele não compreende, nem jamais procurou compreender porque, quando quisemos fazer com que ele dissesse de que maneira via em seu copo, pareceu-nos que era a primeira vez que sua atenção era chamada para tal ponto. Ora, era para nós uma coisa essencial; só após algumas perguntas sucessivas é que chegamos a compreender, ou melhor, a desembrulhar o seu pensamento.

Seu copo é um copo comum para beber, mas vazio. É, porém, sempre o mesmo, e que só serve para tal fim. Ele não podia usar outro copo para isso. Na previsão de um acidente, foi-lhe indicado onde podia encontrar outro para substituí-lo. Tendo-o obtido, guarda-o de reserva. Quando o interroga, segura-o no côncavo das mãos e olha dentro dele; se o copo estiver sobre a mesa, ele nada vê. Quando fixa o olhar no fundo, parece que os olhos se velam por um instante, logo tomando seu brilho habitual; então, olhando alternativamente para o copo e para os interlocutores, fala como de costume, dizendo o que vê e respondendo às perguntas de maneira simples, natural e sem ênfase. Em suas experiências ele não faz qualquer invocação, não emprega nenhum sinal cabalístico, não pronuncia fórmulas nem palavras sacramentais. Quando lhe fazem uma pergunta, diz ele, concentra a atenção e a vontade no assunto proposto, olhando no fundo do copo, onde se formam imediatamente as imagens das pessoas e das coisas relativas ao objeto de que se trata. Quanto às pessoas, descreve-as física e moralmente, como o faria um sonâmbulo lúcido, de maneira a não deixar nenhuma dúvida quanto à sua identidade. Também descreve, com maior ou menor precisão, lugares que não conhece. Isto destrói a ideia de que o que vê é um jogo da sua imaginação. Quando ele disse ao Sr. de W... que a fonte estava a tantos pés abaixo do décimo quarto tubo, certamente não podia obter a informação de seu próprio cérebro. Para se tornar mais inteligível, ele se serve, se necessário, de um pedaço de giz, com o qual traça na mesa pontos, círculos, linhas de vários tamanhos, indicando as pessoas e os lugares de que fala, sua posição relativa, etc., de maneira a não ter que mostrá-las quando para ali retorna, dizendo: É este que faz tal coisa ou é em tal ponto que tal coisa se passa.

Um dia uma senhora o interrogava sobre a sorte de uma mocinha roubada por boêmios há mais de quinze anos, sem que jamais tivessem tido notícias suas. Partindo, à maneira dos sonâmbulos, do local onde a coisa se havia dado, ele seguia os traços da menina que dizia ver no copo, e que tinha, segundo ele, seguido pelas bordas de uma grande água, isto é, o mar. Afirmou que ela vivia, descreveu sua situação, sem contudo poder precisar o lugar de sua residência porque, disse ele, ainda não havia chegado o momento de ser devolvida à sua mãe; que antes deveriam realizar-se certas coisas que especificou e que então uma circunstância fortuita faria com que a mãe reconhecesse sua filha. A fim de melhor precisar a direção a seguir para encontrá-la, ele pediu que de outra vez lhe trouxessem uma carta geográfica. Esse mapa lhe foi mostrado em nossa presença, no dia de nossa visita; mas, como ele não tem qualquer noção de geografia, foi preciso explicar-lhe o que representava o mar, os rios, as cidades, as estradas e as montanhas. Então, pondo o dedo sobre o ponto de partida, ele indicou o caminho que levava ao lugar em questão. Posto se tivesse passado algum tempo depois da primeira consulta, ele se recordou perfeitamente de tudo quanto havia dito e foi o primeiro a falar da menina, antes que o interrogassem.

Como o assunto ainda não foi solucionado, nada podemos prejulgar quanto aos resultados de suas previsões. Diremos apenas que, em relação às circunstâncias passadas e conhecidas, ele tinha visto com muita exatidão. Citamos o caso apenas como amostra de sua maneira de ver.

Quanto ao que pessoalmente nos concerne, pudemos igualmente constatar a sua lucidez. Sem pergunta prévia, e mesmo sem que pensássemos no caso, ele nos falou espontaneamente de uma afecção de que sofremos há algum tempo, cujo termo assinalou. E, coisa notável, esse termo é o mesmo assinalado pela sonâmbula Sra. Roger, que tínhamos consultado sobre o assunto, seis meses antes.

Ele não nos conhecia nem de vista nem de nome, e posto que, na sua ignorância, lhe fosse difícil compreender a natureza dos nossos trabalhos, por meio de circunlóquios, imagens e expressão à sua maneira, ele indicou, sem equívocos, o objetivo, as tendências e os resultados inevitáveis. Este último ponto, sobretudo, parecia interessá-lo vivamente, pois repetia incessantemente que a coisa deveria realizar-se, que a isto estávamos destinado desde o nascimento e que nada se lhe poderia opor. Por sua própria iniciativa, falou da pessoa chamada a continuar a obra após a nossa morte, dos obstáculos que certos indivíduos procuravam lançar em nosso caminho, das rivalidades ciumentas e das ambições pessoais; designou de maneira inequívoca aqueles que utilmente nos poderiam secundar e aqueles dos quais devíamos desconfiar, voltando sempre sobre uns e outros com uma espécie de encarniçamento; por fim entrou em detalhes circunstanciados de perfeita justeza, tanto mais notáveis quanto a maioria deles não eram provocados por qualquer pergunta, e que em todos os pontos coincidiam com as revelações feitas muitas vezes por nossos guias espirituais, para o nosso governo.

Este gênero de pesquisas nada tinha a ver com os hábitos e os conhecimentos desse homem, como ele próprio dizia. Várias vezes ele repetiu: “Digo aqui muitas coisas que não diria a outros, porque eles não me compreenderiam, mas ele (designando-nos) me compreende perfeitamente.” Com efeito, havia coisas propositadamente ditas em meias palavras, só inteligíveis para nós. Vimos no fato uma marca especial da benevolência dos bons Espíritos, que nos quiseram confirmar, por este meio novo e inesperado, as instruções que nos haviam dado em outras circunstâncias, ao mesmo tempo que para nós era assunto de observação e de estudo.

Assim, constatamos que esse homem é dotado de uma faculdade especial e que ele realmente vê. Vê sempre certo? Aí não está a questão. Basta que tenha visto muitas vezes para constatar a existência do fenômeno. A ninguém na Terra é dada a infalibilidade, pela simples razão que aqui ninguém goza da perfeição absoluta. Como vê ele? Eis o ponto essencial que se não pode deduzir senão pela observação.

Em consequência de sua falta de instrução e dos preconceitos do meio em que sempre viveu, ele está imbuído de certas ideias supersticiosas, que mistura com os seus relatos. Assim, por exemplo, ele acredita de boa-fé na influência dos planetas sobre os destinos dos indivíduos, e na dos dias felizes e nefastos. Conforme o que ele tinha visto de nós, deveríamos ter nascido sob não sabemos que signo; deveríamos abster-nos de empreender coisas importantes em certo dia da lua. Não tentamos dissuadi-lo, o que certamente não teríamos conseguido e só teria servido para perturbá-lo. Mas, pelo fato de ter ele algumas ideias falsas, não há motivo para negar a faculdade que possui. Pelo fato de haver grãos ruins num monte de trigo, não significa que não haja trigo bom; e porque um homem nem sempre vê com justeza, não se segue que nada veja.

Quando mais ou menos se deu conta da finalidade e dos resultados de nossos trabalhos, perguntou muito seriamente e com uma espécie de ansiedade ao ouvido do Sr. de W... se por acaso teríamos encontrado o sexto livro de Moisés. Ora, segundo uma tradição popular em certas localidades, Moisés teria escrito um sexto livro, contendo novas revelações e a explicação de tudo o que há de obscuro nos cinco primeiros. Conforme a mesma tradição, o livro deverá ser descoberto um dia. Se alguma coisa deve dar a chave de todas as alegorias das Escrituras é seguramente o Espiritismo, que assim realizaria a ideia ligada ao pretenso sexto livro de Moisés. É muito singular que esse homem haja concebido tal ideia.

Um exame atento dos fatos acima demonstra uma completa analogia entre esta faculdade e o fenômeno designado sob o nome de segunda vista, dupla vista ou sonambulismo desperto, e que é descrito no Livro dos Espíritos, Cap. VIII: Emancipação da alma, e no Livro dos médiuns, Cap. XIV. Ela tem, pois, o seu princípio na propriedade radiante do fluído perispiritual, que permite à alma, em certos casos, perceber as coisas à distância, isto é, na emancipação da alma, que é uma lei da Natureza. Não são os olhos que veem, é a alma que, por seus raios, atingindo um ponto dado, exerce sua ação fora e sem o concurso dos órgãos do corpo. Essa faculdade, muito mais comum do que se pensa, apresenta-se com graus de intensidade e aspectos muito diversos, conforme os indivíduos: nuns ela se manifesta pela percepção permanente ou acidental, mais ou menos clara, das coisas afastadas; noutros, pela simples intuição dessas mesmas coisas; noutros, enfim, pela transmissão do pensamento. É notável que muitos a possuem sem suspeitá-lo, e sobretudo sem se darem conta, pois ela é inerente ao seu ser, e lhes parece tão natural como ver pelos olhos; muitas vezes, mesmo, confundem essas duas percepções. Se se lhes pergunta como veem, a maior parte do tempo não sabem explicar melhor do que explicariam o mecanismo da visão ordinária.

O número de pessoas que espontaneamente gozam dessa faculdade é muito considerável, do que resulta que ela independe de um aparelho qualquer. O copo de que esse homem se serve é um acessório que só lhe é útil por hábito, pois constatamos que em várias circunstâncias ele descrevia as coisas sem o olhar. Pelo que nos concerne, notadamente falando de indivíduos, ele os indicava com o seu giz, por sinais característicos de suas qualidades e de sua posição. Era sobretudo acerca desses sinais que ele falava olhando para a sua mesa, sobre a qual ele parecia ver tão bem quanto no copo, que mal olhava. No entanto, para ele, o copo é necessário e eis como isto pode ser explicado.

A imagem que ele observa se forma nos raios do fluido perispiritual que lhe transmitem a sensação. Concentrando sua atenção no fundo de seu copo, para aí dirige ele os raios fluídicos, e muito naturalmente a imagem aí se concentra, como se concentraria sobre um objeto qualquer: um copo d’água, uma garrafa, uma folha de papel, um mapa ou um ponto vago no espaço. É um meio de fixar o pensamento e de circunscrevê-lo, e estamos convencidos de que quem quer que exerça tal faculdade com auxílio de um objeto material, com um pouco de exercício e com a firme vontade de prescindir dele, veria igualmente bem.

Admitindo-se, contudo, o que ainda não está provado, que o objeto age sobre certas organizações, à maneira de excitantes, de modo a provocar o desprendimento fluídico, e, em consequência, o isolamento do Espírito, há um fato capital adquirido pela experiência: é que não existe nenhuma substância especial que tenha, a tal respeito, uma propriedade exclusiva. O homem em questão só vê num copo vazio, sustido na concha da mão, e não pode ver no primeiro copo que vier, nem em seu copo colocado de outro modo. Se a propriedade fosse inerente à substância e à forma do objeto, por que dois objetos da mesma natureza e da mesma forma não a possuiriam para o mesmo indivíduo? Por que o que tem efeito sobre um não o teria sobre outro? Por que, enfim, tantas pessoas possuem essa faculdade sem auxílio de qualquer aparelho? Como dissemos, é que a faculdade é inerente ao indivíduo e não ao copo. A imagem se forma em si mesmo, ou melhor, nos raios fluídicos que dele emanam. O copo não oferece, por assim dizer, senão o reflexo dessa imagem: é um efeito, e não uma causa. Tal a razão por que nem todos veem no que se convencionou chamar espelhos mágicos. Para isto não basta a visão corporal, mas é necessário ser dotado da faculdade chamada dupla vista, que mais exatamente seria chamada visão espiritual. E isto é tão verdadeiro que certas pessoas veem perfeitamente com os olhos fechados.

A visão espiritual é, na realidade, o sexto sentido ou sentido espiritual, de que tanto se falou e que, como os outros sentidos, pode ser mais ou menos obtuso ou sutil. Ele tem como agente o fluído perispiritual, como a visão física tem por agente o fluído luminoso. Assim como a irradiação do fluído luminoso leva a imagem dos objetos à retina, a irradiação do fluido perispiritual traz à alma certas imagens e certas impressões. Esse fluido, como todos os outros, tem seus efeitos próprios, suas propriedades sui generis.

Sendo o homem composto de Espírito, perispírito e corpo, durante a vida as percepções e sensações se produzem simultaneamente pelos sentidos orgânicos e pelo sentido espiritual; depois da morte, os sentidos orgânicos são destruídos mas, restando o perispírito, o Espírito continua a perceber pelo sentido espiritual, cuja sutileza aumenta em razão do desprendimento da matéria. O homem em quem tal sentido é desenvolvido goza, assim, por antecipação, de uma parte das sensações do Espírito livre. Posto que amortecido pela predominância da matéria, o sentido espiritual não deixa de produzir sobre todas as criaturas uma porção de efeitos reputados maravilhosos, por falta de conhecimento do princípio.

Estando em a Natureza, pois depende da constituição do Espírito, essa faculdade existiu, portanto, em todos os tempos; mas, como todos os efeitos cuja causa é desconhecida, a ignorância o atribuía a causas sobrenaturais. Os que a possuíam em grau eminente e podiam dizer, saber e fazer coisas acima do alcance vulgar, ou eram acusados de pactuar com o diabo, qualificados de feiticeiros e queimados vivos, ou foram beatificados, como tendo o dom dos milagres, quando, na realidade, tudo se reduzia à aplicação de uma lei natural.

Voltemos aos espelhos mágicos. A palavra magia, que outrora significava ciência dos sábios, pelo abuso que dela fizeram a superstição e o charlatanismo, perdeu seu significado primitivo. Está hoje desacreditada com razão e cremos difícil reabilitá-la, por estar, desde então, ligada à ideia das operações cabalísticas, dos grimórios, dos talismãs e de uma porção de práticas supersticiosas condenadas pela razão sadia. Declinando de toda solidariedade com essas pretensas ciências, o Espiritismo deve evitar apropriar-se de termos que pudessem falsear a opinião no que lhe concerne. No caso de que se trata, a qualificação de mágico é tão imprópria quanto seria a de feiticeiros atribuída aos médiuns. A designação desses objetos pelo nome de espelhos espirituais nos parece mais exata, porque ela lembra o princípio em virtude do qual se produzem os efeitos. À nomenclatura espírita, portanto, podese acrescentar as expressões: visão espiritual, sentido espiritual e espelhos espirituais.

Tendo em vista que a natureza, a forma e a substância desses objetos são indiferentes, compreende-se que indivíduos dotados da visão espiritual vejam na borra de café, na clara de ovo, no côncavo das mãos e nas cartas, o que outros veem num copo d’água, e que por vezes digam coisas certas. Para eles, esses objetos e suas combinações não têm qualquer significação; é apenas um meio de fixar a atenção, um pretexto para falar, um suporte, por assim dizer, pois é importante observar que, nesse caso, o indivíduo apenas os olha, no entanto, se não os tivesse diante de si, ele acreditaria faltar-lhe alguma coisa; ficaria desorientado, como o ficaria o nosso homem, se não tivesse o seu copo na mão; teria dificuldade para falar, como certos oradores, que nada sabem dizer se não estiverem em seu lugar habitual, ou se não tiverem na mão um caderno que eles não leem.

Mas se há pessoas sobre as quais esses objetos produzem o efeito dos espelhos espirituais, há também uma quantidade muito grande de criaturas que, não tendo outra faculdade senão a de ver pelos olhos e de possuir a linguagem convencional afeta a esses signos, abusam dos outros e de si mesmas; depois a igualmente numerosa dos charlatões, que exploram a credulidade. Somente a superstição pôde consagrar o uso de tais processos, como meio de adivinhação, e de uma porção de outros que não têm mais valor, atribuindo uma virtude às palavras, uma significação aos sinais materiais, às combinações fortuitas, que não têm qualquer ligação necessária com o objeto da pergunta ou do pensamento.

Dizendo que com a ajuda de tais processos certas pessoas por vezes podem dizer verdades, não é, entretanto, para reabilitá-las na opinião, mas para mostrar que as ideias supersticiosas às vezes têm sua origem num princípio verdadeiro, desnaturado pelo abuso e pela ignorância. Dando a conhecer a lei que rege as relações entre o mundo visível e o mundo invisível, o Espiritismo destrói, por isso mesmo, as ideias falsas que se tinham feito a respeito disso, como a lei da eletricidade destruiu, não o raio, mas as superstições engendradas pela ignorância das verdadeiras causas do raio.

Em resumo, a visão espiritual é um dos atributos do Espírito e constitui uma das percepções do sentido espiritual. É, pois, uma lei da Natureza.

Sendo o homem um Espírito encarnado, possui os atributos de Espírito e, consequentemente, as percepções do sentido espiritual.

No estado de vigília, tais percepções geralmente são vagas, difusas e, por vezes, mesmo, insensíveis e inapreciáveis, porque amortecidas pela atividade preponderante dos sentidos materiais. Não obstante, pode-se dizer que toda percepção extracorpórea é devida à ação do sentido espiritual que, nesse caso, supera a resistência da matéria.

No estado de sonambulismo natural ou magnético, de hipnotismo, de catalepsia, de letargia, de êxtase, e até mesmo no sono ordinário, estando os sentidos corporais momentaneamente entorpecidos, o sentido espiritual se desenvolve com mais liberdade.

Toda causa exterior tendente a entorpecer os sentidos corpóreos provoca, por isto mesmo, a expansão e a atividade do sentido espiritual.

As percepções pelo sentido espiritual não estão isentas de erro, pela razão que o Espírito encarnado pode ser mais ou menos adiantado e, consequentemente, mais ou menos apto a julgar as coisas corretamente e a compreendê-las, e porque ele ainda está sob a influência da matéria.

Uma comparação dará melhor a compreender o que se passa nesta circunstância. Na Terra, aquele que tem a melhor visão pode ser enganado pelas aparências. Por muito tempo o homem acreditou no movimento do sol. Foram-lhe necessárias a experiência e as luzes da Ciência para lhe mostrar que era vítima de uma ilusão. Assim acontece aos Espíritos pouco adiantados, encarnados ou desencarnados; eles ignoram muitas coisas do mundo invisível, como certos homens inteligentes, aliás, ignoram muitas coisas da Terra; a visão espiritual só lhes mostra o que sabem, e não basta para lhes dar os conhecimentos que lhes faltam; daí as aberrações e as excentricidades tão frequentemente notadas nos videntes e nos extáticos, sem contar que a sua ignorância os põe, mais que outros, à mercê dos Espíritos enganadores que exploram a sua credulidade e, mais ainda, o seu orgulho. Eis por que seria imprudente aceitar suas revelações sem controle. Não se deve perder de vista que estamos na Terra, num mundo de expiação, onde abundam os Espíritos inferiores e onde os Espíritos realmente superiores são exceções. Nos mundos adiantados é o contrário que se verifica.

As pessoas dotadas de visão espiritual podem ser consideradas médiuns? Sim e não, conforme as circunstâncias. A mediunidade consiste na intervenção dos Espíritos. O que se faz por si mesmo não é um ato mediúnico. Aquele que possui a visão espiritual vê por seu próprio Espírito e nada implica a necessidade do concurso de um Espírito estranho. Ele não é médium porque vê, mas por suas relações com outros Espíritos. Conforme sua natureza boa ou má, os Espíritos que o assistem podem facilitar ou entravar sua lucidez, fazer-lhe ver coisas justas ou falsas, o que também depende do objetivo a que se propõe e da utilidade que possam apresentar certas revelações. Aqui, como em todos os outros gêneros de mediunidade, as questões fúteis e de curiosidade, as intenções não sérias, os pontos de vista cúpidos e interesseiros, atraem os Espíritos levianos, que se divertem à custa das pessoas muito crédulas e se alegram por mistificá-las. Os Espíritos sérios só intervêm nas coisas sérias, e o vidente melhor dotado pode nada ver se lhe não for permitido responder ao que perguntam, ou ser perturbado por visões ilusórias, a fim de punir os curiosas indiscretos. Posto possua ele sua própria faculdade, e por mais transcendente que ela seja, ele nem sempre tem a liberdade de usá-la à vontade. Muitas vezes os Espíritos dirigem o seu emprego, e se ele dela abusa, será o primeiro punido pela ingerência dos maus Espíritos.

Resta um ponto importante a esclarecer: o da previsão de acontecimentos futuros. Compreende-se a visão das coisas presentes, a visão retrospectiva do passado, mas como pode a visão espiritual dar a certos indivíduos o conhecimento do que ainda não existe? Para não nos repetirmos, remetemos ao nosso artigo de maio de 1864, sobre a teoria da presciência, no qual a questão é tratada de maneira completa. Apenas acrescentamos algumas palavras.

Em princípio, o futuro é oculto ao homem pelos motivos que tantas vezes já foram expostos. Só excepcionalmente ele lhe é revelado, além do mais, ele é mais pressentido do que predito. Para conhecê-lo, Deus não deu ao homem nenhum meio certo. É, pois, em vão que este emprega, para tanto, toda a imensidão de processos inventados pela superstição, e que o charlatanismo explora em seu proveito. Se entre os ledores da sorte, profissionais ou não, alguns por vezes se encontram dotados da visão espiritual, é de notar que eles veem muito mais vezes no passado e no presente do que no futuro. Por isto seria imprudente confiar-se de maneira absoluta nas predições e com base nelas regular sua conduta.


Sob este último título, lê-se na Presse Littéraire de 15 de março de 1854, o artigo seguinte, assinado por Émile Deschamps:


“Se o homem só acreditasse no que compreende, não acreditaria em Deus, nem em si mesmo, nem nos astros que rolam sobre sua cabeça, nem na erva que cresce sob seus pés.

“Milagres, profecias, visões, fantasmas, prognósticos, pressentimentos, coincidências sobrenaturais, etc., que pensar de tudo isto? Os espíritos fortes se saem com duas palavras: mentira ou acaso. Nada de mais cômodo. As almas supersticiosas se saem bem, ou não se saem. Prefiro mais estas almas que aqueles espíritos. Com efeito, é preciso ter imaginação para que ela seja doente, ao passo que basta ser eleitor e assinante de dois ou três jornais industriais para saber muito sobre isso e crer tão pouco quanto Voltaire. E depois, prefiro a loucura à tolice, a superstição à incredulidade; mas o que prefiro acima de tudo é a verdade, a luz, a razão; busco-as com uma fé viva e um coração sincero; examino todas as coisas e tomo o partido de não tomar partido por coisa alguma.

“Vejamos. Que! O mundo material e visível está cheio de impenetráveis mistérios, de fenômenos inexplicáveis, e não se quereria que o mundo intelectual, que a vida da alma, que já é um milagre, também tivesse os seus milagres e os seus mistérios! Por que tal bom pensamento, tal fervorosa prece, tal outro desejo não teriam o poder de produzir ou atrair certos acontecimentos, bênçãos ou catástrofes? Por que não existiriam causas morais, como existem causas físicas, das quais não nos damos conta? E por que os germes de todas as coisas não seriam depostos e fecundados na terra do coração e da alma, para desabrochar mais tarde, sob a forma palpável de fatos? Ora, quando Deus, em raras circunstâncias, e para alguns de seus filhos, se dignou levantar a ponta do véu eterno e espalhar sobre sua fronte um raio fugidio da chama da presciência, guardemo-nos de gritar que é absurdo e assim blasfemar contra a luz e a própria verdade.

“Eis uma reflexão que tenho feito muitas vezes: Foi dado às aves e a certos animais prever e anunciar a tempestade, as inundações, os terremotos. Diariamente os barômetros nos dizem o tempo que fará amanhã; e o homem não poderia, por um sonho, uma visão, um sinal qualquer da Providência, ser advertido algumas vezes de algum acontecimento futuro que interessa à sua alma, à sua vida, à sua eternidade? Não tem pois também o Espírito a sua atmosfera, cujas variações possa pressentir? Enfim, seja qual for a miséria do maravilhoso neste século muito positivo, haveria ainda encanto e utilidade em retirá-lo, se todos aqueles que lhe refletem fracos clarões levassem a um foco comum todos esse raios divergentes; se cada um, depois de haver conscientemente interrogado suas recordações, redigisse de boa-fé e depositasse nos arquivos uma ata circunstanciada do que experimentou, do que lhe adveio de sobrenatural e de miraculoso. Talvez um dia se encontrasse alguém que, analisando os sintomas e os acontecimentos, chegasse a recompor, em parte, uma ciência perdida. Em todo caso, ele comporia um livro que valeria muitos outros.

“Quanto a mim, sou aparentemente o que se chama um sujeito, porque tive de tudo isto em minha vida, aliás tão obscura; e sou o primeiro a depositar aqui o meu tributo, persuadido de que essa visão interior tem sempre uma espécie de interesse. Por menor que seja o maravilhoso que vos dou, leitores, isso passou-se em minha vida real. Desde quando aprendi a ler, tudo o que acontece de sobrenatural eu registro no papel. São memórias de um gênero singular.

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“Em fevereiro de 1846, eu viajava pela França. Chegando a uma rica e grande cidade, fui passear na frente dos seus abundantes e belos magazines. Começou a chover; abriguei-me numa elegante galeria; de repente fiquei imóvel; meus olhos não se podiam desviar da figura de uma jovem, sozinha atrás de uma vitrina de joias. A moça era muito bela, mas não era a sua beleza que me atraía. Não sei que interesse misterioso, que laço inexplicável dominava e prendia todo o meu ser. Era uma simpatia súbita e profunda, desligada de qualquer mistura sensual, mas de uma força irresistível, como o desconhecido em todas as coisas. Fui empurrado como uma máquina para a loja, por um poder sobrenatural. Comprei alguns pequenos objetos e paguei, dizendo:

“─ Obrigado, senhorita Sara. A jovem olhou-me com um ar um pouco surpreendido.

“─ Admirai-vos, continuei, que um estranho saiba o vosso nome, um dos vossos nomes; mas se quiserdes pensar atentamente em todos os vossos nomes, eu os direi sem hesitar. Pensareis?

“─ Sim, senhor, respondeu ela, meio risonha, meio trêmula.

“─ Pois bem! continuei, olhando-a fixamente no rosto, chamais-vos Sara, Adèle, Benjamine N...

“─ Está certo, replicou ela, e depois de alguns segundos de estupor, começou a rir francamente, e eu vi que ela pensava que eu tivesse tido informações na vizinhança, o que me divertiu.

“Mas eu, que sabia bem que disso não sabia uma palavra, fiquei chocado com essa adivinhação instantânea.

“No outro dia, e nos seguintes, corri à bela loja. Minha adivinhação se renovava a cada momento. Eu lhe pedia que pensasse em algo, sem mo dizer e quase que imediatamente lia em sua fronte esse pensamento não verbalizado. Eu lhe pedia que escrevesse com um lápis, algumas palavras que me ocultava e, depois de olhá-la um minuto, eu escrevia as mesmas palavras, na mesma ordem. Eu lia no seu pensamento como num livro aberto, e ela não lia no meu, eis a minha superioridade, mas ela me impunha suas ideias e emoções. Se ela pensasse seriamente num objeto; se ela repetisse intimamente as palavras de um escrito, de súbito eu adivinhava tudo. O mistério estava entre o seu cérebro e o meu, e não entre minhas faculdades de intuição e as coisas materiais. Seja como for, havia-se estabelecido entre nós uma relação tanto mais íntima quanto mais pura.

“Uma noite escutei no ouvido uma voz forte que me gritava: Sara está doente, muito doente! Corri à sua casa; um médico a velava e esperava uma crise. Na véspera, à noite, Sara tinha voltado com febre ardente; o delírio tinha continuado durante toda a noite. O médico chamou-me à parte e me disse que temia muito. Dessa peça eu via em cheio o rosto de Sara, e com minha intuição superando a própria inquietude, eu lhe disse baixinho: Doutor, quer saber de que imagens está povoado o seu sono febril? Neste momento ela se julga na grande Ópera de Paris, onde jamais esteve, e uma dançarina corta, entre outras ervas, uma planta de cicuta e lha atira dizendo: É para ti. O médico julgou-me em delírio. Alguns minutos depois a doente despertou pesadamente, e suas primeiras palavras foram: ‘Oh! Como a Ópera é bonita! Mas, por que essa cicuta que me atira aquela bela ninfa?’ O médico ficou estupefato. Foi administrada a Sara uma poção em que entrava a cicuta e ela ficou curada nalguns dias.”

Os exemplos de transmissão do pensamento são muito frequentes, não talvez de maneira tão característica quanto no fato acima, mas sob formas diversas. Quantos fenômenos assim se passam diariamente aos nossos olhos, que são como os fios condutores da vida espiritual, e aos quais, contudo, a Ciência não se digna conceder a menor atenção! Certamente os que os repelem não são todos materialistas; muitos admitem uma vida espiritual, mas sem relação direta com a vida orgânica. No dia em que essas relações forem reconhecidas como lei fisiológica, ver-se-á realizar-se um imenso progresso, porque só então a Ciência terá a chave de uma porção de efeitos aparentemente misteriosos, que prefere negar, por não poder explicá-los à sua maneira e com os seus meios limitados às leis da matéria bruta.

Ligação íntima entre a vida espiritual e a vida orgânica durante a vida terrena; destruição da vida orgânica e persistência da vida espiritual após a morte; ação do fluido perispiritual sobre o organismo; reação incessante do mundo invisível sobre o mundo visível e reciprocamente, tal é a lei que o Espiritismo vem demonstrar, e que abre à Ciência e ao homem moral horizontes completamente novos.

Por que lei da fisiologia puramente material poder-se-iam explicar os fenômenos do gênero do acima referido? Para que o Sr. Deschamps pudesse ler tão claramente no pensamento da moça, era preciso um intermediário entre ambos, um elo qualquer. Medite-se bem o artigo precedente e reconhecer-se-á que esse elo não passa da radiação fluídica, que dá a visão espiritual, visão que não é barrada pelos corpos materiais.

Sabe-se que os Espíritos não necessitam da linguagem articulada. Eles se entendem sem o recurso da palavra, pela só transmissão do pensamento, que é a linguagem universal. Assim acontece por vezes entre os homens, porque os homens são Espíritos encarnados e, por essa razão, gozam, em maior ou menor grau, dos atributos e faculdades do Espírito.

Mas, então, por que a moça não lia o pensamento do Sr. Deschamps? Porque num a visão espiritual era desenvolvida, no outro, não. Segue-se que ele poderia tudo ver, ler nos espelhos espirituais, por exemplo, ou ver à distância, à maneira dos sonâmbulos? Não, porque sua faculdade podia ser desenvolvida apenas num sentido especial e parcialmente. Poderia ele ler com a mesma facilidade o pensamento de todo mundo? Ele não o diz, mas é provável que não, porque podem existir relações fluídicas que facilitem essa transmissão de indivíduo a indivíduo e não existir do próprio indivíduo para uma outra pessoa. Ainda não conhecemos senão imperfeitamente as propriedades desse fluido universal, agente tão poderoso e que desempenha tão importante papel nos fenômenos da Natureza. Conhecemos o princípio, e já é muito para nos darmos conta de muitas coisas; os detalhes virão a seu tempo.

Comunicado o fato acima à Sociedade de Paris, um Espírito deu a respeito a instrução seguinte:


(SOCIEDADE ESPÍRITA DE PARIS, 8 DE JULHO DE 1864 MÉDIUM: SR. A. DIDIER)

Os ignorantes ─ e os há muitos ─ ficam cheios de dúvidas e de inquietude quando ouvem falar de fenômenos espíritas. Segundo eles, a face do mundo está derrubada, a intimidade do coração, dos sentimentos, a virgindade do pensamento são lançadas através do mundo e entregues à mercê do primeiro que vier. Com efeito, o mundo estaria singularmente mudado, e a vida privada não mais ficaria oculta por trás da personalidade de cada um, se todos os homens pudessem ler no espírito uns dos outros.

Um ignorante nos diz com muita ingenuidade: Mas a justiça, as perseguições da polícia, as operações comerciais, governamentais, poderiam ser consideravelmente revistas, corrigidas, esclarecidas, etc., com o auxílio desses processos. Os erros estão muito difundidos. A ignorância tem a particularidade de esquecer completamente o objetivo das coisas para lançar o espírito inculto numa série de incoerências.

Jesus tinha razão de dizer: “Meu reino não é deste mundo”, o que também significava que neste mundo as coisas não se passam como no seu reino. O Espiritismo, que em tudo e por tudo é o espiritualismo do Cristianismo, pode igualmente dizer às ambiciosas e terroristas ignorâncias, que o seu grande objetivo não é de dar montanhas de ouro a um; de deixar a consciência de um ser fraco à vontade de um ser forte e de reunir a força e a fraqueza num duelo eternamente inevitável e iminente. Não. Se o Espiritismo proporciona satisfações, são as da calma, da esperança e da fé. Se às vezes ele adverte por pressentimentos, ou pela visão adormecida ou desperta, é que os Espíritos sabem perfeitamente que um fato caritativo e particular não transtornará a superfície do globo. Ademais, se observarmos a marcha dos fenômenos, o mal aí tem uma parte mínima. A ciência funesta parece relegada aos alfarrábios dos velhos alquimistas, e se Cagliostro voltasse, certamente não viria armado com a varinha mágica ou o frasco encantado, mas com sua força elétrica, comunicativa, espiritualista e sonambúlica, força que todo ser superior possui em si mesmo, e que toca ao mesmo tempo o cérebro e o coração.

A adivinhação era o maior dom de Jesus, como eu dizia ultimamente. (O Espírito alude a outra comunicação). Destinados a nos tornarmos superiores, como Espíritos, peçamos a Deus uma parte das luzes que ele concedeu a certos seres privilegiados, que a mim próprio concedeu, e que eu poderia ter espalhado mais santamente.

MESMER


OBSERVAÇÃO: Não há uma só das faculdades concedidas ao homem da qual ele não possa abusar, em virtude de seu livro arbítrio. Não é a faculdade que é má em si mesma, mas o uso que dela se faz. Se os homens fossem bons, nenhuma delas seria temível, porque ninguém as usaria para o mal. No estado de inferioridade em que ainda se acham os homens na Terra, a penetração do pensamento, se fosse geral, sem dúvida seria uma das mais perigosas, porque se tem muito a ocultar, e muitos podem abusar. Mas, sejam quais forem os inconvenientes, se ela existe, é um fato que deve ser aceito, de bom grado ou de mau grado, pois não se pode suprimir um efeito natural. Mas Deus, que é soberanamente bom, mede a extensão dessa faculdade pela nossa fraqueza. Ele no-la mostra de vez em quando, para melhor nos fazer compreender nossa essência espiritual, e nos advertir a trabalhar a nossa depuração para não termos que temê-la.


Cedendo às insistentes solicitações de nossos irmãos espíritas de Bruxelas e de Antuérpia, fomos fazer-lhes uma curta visita este ano, e temos o prazer de dizer que trouxemos a mais favorável impressão do desenvolvimento da doutrina naquele país. Ali encontramos maior número do que esperávamos de adeptos sinceros, devotados e esclarecidos. A simpática acolhida que nos foi feita naquelas duas cidades deixounos uma lembrança que não se apagará jamais, e contamos os momentos ali passados entre os mais satisfatórios para nós. Considerando que não podemos enviar nossos agradecimentos a cada um em particular, pedimos a bondade de recebê-los aqui coletivamente.

Voltando a Paris, encontramos uma mensagem dos membros da Sociedade Espírita de Bruxelas, cujos termos nos sensibilizaram profundamente. Conservamola preciosamente, como um testemunho de sua simpatia, mas eles compreenderão facilmente os motivos que nos impedem de publicá-la na Revista. Há, entretanto, uma passagem dessa mensagem que nos impomos o dever de levar ao conhecimento de nossos leitores, porque o fato que ela revela nos diz, mais que longas frases, sobre a maneira pela qual certas pessoas compreendem o Espiritismo. Ei-la:

“Em comemoração à vossa viagem à Bélgica, nosso grupo decidiu fundar um leito de criança na creche de Saint Josse Tennoode.”

Nada podia ser mais lisonjeiro para nós do que semelhante testemunho. É darnos a maior prova de estima considerar-nos mais honrado com a fundação de uma obra de beneficência em memória de nossa visita, do que com as mais brilhantes recepções, que podem lisonjear o amor-próprio de quem lhe é objeto, mas que não beneficiam a ninguém e não deixam qualquer traço útil.

Antuérpia se distingue por um maior número de adeptos e de grupos. Mas aí, como em Bruxelas, e aliás em toda parte, os que fazem parte das reuniões de certo modo oficiais e regularmente constituídas, estão em minoria. As relações sociais e as opiniões emitidas nas conversas provam que a simpatia pela doutrina se estende além dos grupos propriamente ditos. Se nem todos os habitantes são espíritas, a ideia ali não encontra oposição sistemática. Dela se fala como coisa muito natural e não riem. Em geral, pertencendo os adeptos ao alto comércio, nossa chegada foi a novidade da bolsa e desencadeou a conversação, sem mais importância do que se se tratasse da chegada de um cargueiro.

Vários grupos são compostos de número limitado de sócios e se designam por um título especial e característico; assim, um se intitula A Fraternidade, outro Amor e Caridade, etc. Acrescentemos que esses títulos não são para eles insígnias banais, mas divisas que se esforçam por justificar.

O grupo Amor e Caridade, por exemplo, tem por objetivo especial a caridade material, sem prejuízo das instruções dos Espíritos, que, de certo modo, constituem a parte acessória. Sua organização é muito simples e dá excelentes resultados. Um dos membros tem o título de esmoler, nome que corresponde perfeitamente à função de distribuir socorros a domicílio, e muitas vezes os Espíritos indicaram nomes e endereços de pessoas necessitadas. O nome esmoler voltou, assim, à sua significação primitiva, da qual se havia singularmente desviado.

Esse grupo possui um médium tiptólogo excepcional, e julgamo-nos no dever de fazê-lo objeto de um artigo especial.

Queremos apenas consignar aqui os ótimos elementos que nos permitem bons augúrios do Espiritismo nesse país, onde há pouco tempo ele lançou raízes, o que não quer dizer que certos grupos não tenham tido, ali como alhures, perplexidades e enganos inevitáveis quando se trata do estabelecimento de uma ideia nova. É impossível que no começo de uma doutrina, sobretudo tão importante quanto o Espiritismo, todos os que se declaram seus partidários lhe compreendam o alcance, a seriedade e as consequências. Há, pois, que esperar desvios da rota em pessoas que só lhe veem a superfície, ambições pessoais, aqueles para quem é antes um meio que uma convicção do coração, sem falar das pessoas que afivelam todas as máscaras para se insinuarem, visando servir os interesses dos adversários, porque, assim como o hábito não faz o monge, o nome de espírita não faz o verdadeiro espírita. Mais cedo ou mais tarde, esses espíritas frustrados, cujo orgulho permaneceu vivo, causam nos grupos atritos penosos e suscitam entraves, dos quais sempre se triunfa com perseverança e firmeza. São provações para a fé dos espíritas sinceros.

A homogeneidade, a comunhão dos pensamentos e dos sentimentos são, para os grupos espíritas, como para quaisquer outras reuniões, a condição sine qua non de estabilidade e de vitalidade. É para tal objetivo que devem tender todos os esforços, e compreende-se que é tanto mais fácil atingi-lo quanto menos numerosas as reuniões. Nas grandes reuniões é quase impossível evitar a ingerência dos elementos heterogêneos que mais cedo ou mais tarde aí semeiam a cizânia; nas pequenas reuniões, onde todos se conhecem e se apreciam, se está como em família, o recolhimento é maior e a intrusão dos mal-intencionados mais difícil. A diversidade de elementos de que se compõem as grandes reuniões as torna, por isso mesmo, mais vulneráveis à ação surda dos adversários.

Melhor será, numa cidade, haver cem grupos de dez a vinte adeptos, dos quais nenhum pretende a supremacia sobre os outros, do que uma sociedade única, que reúna todos. Esse fracionamento em nada prejudicará a unidade dos princípios, levando-se em consideração que a bandeira é única e todos marcham para um mesmo objetivo. Isto parece ter sido perfeitamente compreendido por nossos irmãos de Antuérpia e de Bruxelas.

Em resumo, nossa viagem à Bélgica foi fértil em ensinamentos no interesse do Espiritismo, pelos documentos que recolhemos, e que oportunamente serão postos em proveito de todos.

Não esqueçamos uma das mais honrosas menções ao grupo espírita de Douai, que visitamos de passagem, e um particular testemunho de gratidão pelo acolhimento que ali nos dispensaram. É um grupo familiar, onde a Doutrina Espírita evangélica é praticada em toda a sua pureza. Ali reinam a mais perfeita harmonia, a benevolência recíproca, a caridade em pensamento, palavras e ações; ali se respira uma atmosfera de fraternidade patriarcal, isenta de eflúvios daninhos, onde os bons Espíritos devem comprazer-se tanto quanto os homens. Também as comunicações ali ressentem a influência do meio simpático. Ele deve à sua homogeneidade e aos escrupulosos cuidados nas admissões, o fato de jamais haver sido perturbado por dissensões e dificuldades que outros tiveram que sofrer. É que todos os que dele fazem parte são espíritas de coração e nenhum procura fazer prevalecer sua personalidade. Os médiuns aí são relativamente muito numerosos; todos se consideram simples instrumentos da Providência; não têm orgulho nem pretensões pessoais e se submetem humildemente e sem se sentirem magoados, ao julgamento das comunicações que recebem, prontos a destruí-las se forem consideradas más.

Um encantador poema foi recebido em nossa intenção, após a nossa partida. Agradecemos ao Espírito que o ditou e ao seu intérprete. Conservamo-lo como preciosa lembrança, mas são desses documentos que não podemos publicar, e que só aceitamos a título de encorajamento.

Temos a satisfação de dizer que esse grupo não é o único nessas condições favoráveis e de ter podido constatar que as reuniões realmente sérias onde cada um procura melhorar-se, de onde a curiosidade foi banida, as únicas que merecem a qualificação de espíritas, multiplicam-se diariamente. Elas oferecem, em escala menor, uma pálida imagem do que poderá ser a Sociedade quando o Espiritismo, bem compreendido e universalizado, formar a base das relações mútuas. Então os homens nada mais terão a temer uns dos outros. A caridade fará entre eles reinar a paz e a justiça. Tal será o resultado da transformação que se opera e cujos efeitos a geração futura começará a sentir.


Dissemos que um dos grupos espíritas de Antuérpia possui um médium tiptólogo dotado de uma faculdade especial. Eis em que ela consiste.

A indicação das letras é feita por batidas do pé da mesinha, mas com uma rapidez que quase atinge a da escrita, de tal forma que os que escrevem por vezes têm dificuldade de acompanhar. Os golpes se sucedem como os do telégrafo elétrico em ação. Vimos fazer um ditado de vinte linhas em menos de quinze minutos. Mas, sobretudo, o que é particular é que o Espírito dita quase sempre ao avesso, começando pela última letra. Pelo mesmo processo o médium recebe respostas a perguntas mentais, e em línguas estrangeiras. Esse médium também psicografa e, nesse caso, escreve igualmente pelo avesso, com a mesma facilidade. A primeira vez que se produziu o fenômeno, os assistentes, não encontrando sentido nas letras obtidas, pensaram numa mistificação, e só após uma observação atenta é que descobriram o sistema usado pelo Espírito. Sem dúvida não passa de uma fantasia deste último, mas como todas as suas manifestações são muito sérias, é de concluir que, no caso, haja uma intenção séria.

Independentemente da rapidez com que os golpes se sucedem, a maneira de proceder ainda abrevia muito a operação. Eles se servem de uma mesinha de três pés; o alfabeto é dividido em três séries, a 1ª do a ao h;a 2ª do i ao p; a 3ª do q ao z. Cada pé da mesinha corresponde a uma série de letras e bate o número de golpes necessários para designar a letra desejada, começando pela primeira da série, de sorte que para indicar o t, por exemplo, em vez de 20 batidas, o pé encarregado da 3ª série apenas bate 4. Três pessoas se postam à mesinha, uma para cada pé, enunciando a letra indicada em sua série, que para ela é um pequeno alfabeto, sem que tenha de se preocupar com as outras. Várias pessoas escrevem as letras à medida que são proferidas, a fim de poder controlar, em caso de erro. O hábito de ler pelo avesso muitas vezes lhes permite adivinhar o fim de uma palavra ou de uma frase começada, como se faz no processo ordinário. O Espírito confirma, se for o caso, e passa adiante.

Esta divisão das letras, aliada à cooperação de três pessoas que não se podem entender, à rapidez do movimento e à indicação das letras em sentido inverso, tornam a fraude materialmente impossível, bem como a reprodução do pensamento individual. A palavra reproduction, por exemplo, será, então, escrita desta maneira: noitcudorper, e terá sido deletrada por três pessoas diferentes, em alguns segundos, a saber: n o i pela 2ª; t pela 3ª; c pela 1ª; u pela 3ª; d pela 1ª; o pela 2ª; r pela 3ª; p pela 2ª; e pela 1ª; r pela 3ª.

De todos os aparelhos imaginados para constatar a independência do pensamento do médium, nenhum se compara com esse processo. É verdade que para isto é necessária a influência de um médium especial, porque as duas pessoas que o assistem não influenciam na rapidez do movimento.

Este processo, em definitivo, não tem utilidade real senão para a convicção de certas pessoas, e como constatação de um fenômeno mediúnico notável, porque nada pode substituir a facilidade das comunicações escritas.


Durante a visita que fizemos aos espíritas de Bruxelas, produziu-se em nossa presença o fato seguinte, numa reunião íntima de sete ou oito pessoas, a 13 de setembro.

Uma senhora médium foi solicitada a escrever, mas nenhuma evocação especial fora feita. Ela começa a escrever com uma agitação extraordinária, em caracteres graúdos, e depois de haver violentamente rabiscado o papel, escreveu estas palavras:

“Arrependo-me, arrependo-me. Latour.”

Surpreendidos por essa comunicação inesperada, que ninguém tinha provocado, pois ninguém pensava nesse infeliz, de quem até mesmo a morte a maioria ignorava, foram dirigidas ao Espírito algumas palavras de comiseração e de encorajamento. Depois lhe fizeram esta pergunta:

─ Que o motivo vos levou a vir manifestar-se entre nós, e não alhures, pois não vos chamamos?

O médium, que é também médium falante, respondeu de viva voz:

─ Vi que éreis almas compassivas e que teríeis piedade de mim, ao passo que outros me evocam mais por curiosidade que por verdadeira caridade, ou de mim se afastam com horror.

Então começou uma cena indescritível, que não durou menos de meia hora. O médium, juntando à palavra os gestos e a expressão da fisionomia, deixava evidente que o Espírito identificou-se com sua pessoa; por vezes seus tons de desespero são tão dilacerantes, ele pinta suas angústias e seus sofrimentos com um tom tão pungente, suas súplicas são tão veementes, que todos os assistentes ficam profundamente comovidos.

Alguns estavam até apavorados com a superexcitação do médium, mas pensamos que um Espírito que se arrepende e que implora piedade não ofereceria qualquer perigo. Se ele tomou os órgãos da médium, foi para melhor pintar a sua situação e provocar maior interesse por sua sorte, mas não como os Espíritos obsessores e possessores, visando dele apoderar-se para dominá-lo. Sem dúvida isto lhe foi permitido em seu próprio interesse, e talvez também para instrução das pessoas presentes.

Ele exclama:

─ Oh! sim, piedade! Eu necessito de piedade, porque não sabeis o que sofro!... Não, não sabeis; não podeis compreender... É horrível!... A guilhotina! O que é a guilhotina em comparação com o que sofro agora? Não é nada; é um instante. Este fogo que me devora é pior, é uma morte contínua, é um sofrimento que não dá trégua nem repouso... que não tem fim!...

“E minhas vítimas que estão aqui ao meu redor... que me mostram as suas feridas... que me perseguem com o seu olhar!... Elas estão aqui, diante de mim... Eu as vejo a todas... sim, todas,... eu vejo todas; não posso evitar!... E este mar de sangue!... e este ouro manchado de sangue!... tudo está aqui! sempre na minha frente... Sentis o cheiro do sangue?... do sangue, sempre do sangue!... Olhem só, estas pobres vítimas; elas me imploram... e eu, sem piedade, firo... eu firo... eu firo sem parar!... O sangue me embriaga!

“Eu acreditava que depois da minha morte tudo estaria acabado, por isso enfrentei o suplício; desafiei Deus, reneguei-o!... E eis que quando me acreditava aniquilado para sempre, um terrível despertar acontece; oh! sim, terrível!... Estou cercado de cadáveres, de figuras ameaçadoras... Eu caminho sobre o sangue... Eu acreditava que estava morto, mas estou vivo!... Eu vivo para rever tudo isto! Para ver incessantemente!... É horroroso!... É horrível! Mais horrível que todos os suplícios da Terra!

“Oh! Se todos os homens pudessem saber o que há além da vida! Eles saberiam quanto custa fazer o mal; não haveria mais assassinos, nem criminosos, nem malfeitores!... Eu queria que todos os assassinos pudessem ver o que vejo e o que sofro... Oh! não, não haveria mais... É horrível demais sofrer o que sofro!

“Eu sei muito bem que mereci, ó meu Deus, porque não tive piedade de minhas vítimas. Eu repeli suas mãos em súplica quando me pediam que as poupasse. Sim, eu fui cruel; matei-as covardemente para tomar o seu ouro!... Eu fui ímpio; eu vos reneguei; eu blasfemei contra o vosso santo nome... Eu quis me atordoar, porque eu queria me persuadir de que vós não existíeis... Oh! Meu Deus! Eu sou um grande criminoso! Agora eu compreendo. Mas não tereis piedade de mim?... Vós sois Deus, isto é, a misericórdia, a bondade! Vós sois todo-poderoso!

“Piedade, Senhor! Oh! Piedade! Piedade! Eu vos peço, não sejais inflexível; livrai-me desta visão odiosa, destas imagens horríveis... deste sangue... de minhas vítimas, de seus olhares que me atravessam o coração como golpes de punhal.

“Vós que estais aqui, que me escutais, sois boas almas, almas caridosas; sim, eu o vejo, tereis piedade de mim, não? Orareis por mim... Oh! Eu vos suplico! Não me repilais. Pedireis a Deus que tire este horrível espetáculo da frente dos meus olhos. Ele vos escutará, porque sois bons... Eu vos peço, não me repilais como eu repeli os outros... Orai por mim!”

Tocados por seus lamentos, os assistentes lhe dirigiram palavras de encorajamento e de consolo.

─ Deus, disseram-lhe eles, não é inflexível. O que ele pede ao culpado é um arrependimento sincero e o desejo de reparar o mal que fez. Considerando-se que o vosso coração não está endurecido e que lhe pedis o perdão de vossos crimes, ele sobre vós estenderá a sua misericórdia, se perseverardes nas boas resoluções para reparar o mal que fizestes. Sem dúvida não podeis devolver às vossas vítimas a vida que lhes tirastes, mas se lhe pedirdes com fervor, Deus permitirá que com elas vos encontreis em nova existência, na qual lhes podereis mostrar tanto devotamento quanta foi a vossa crueldade. E quando ele julgar suficiente a reparação, achareis graça diante dele. A duração de vosso castigo está, assim, em vossas mãos; de vós depende abreviá-lo. Nós vos prometemos ajudar-vos com nossas preces e chamar sobre vós a assistência dos bons Espíritos. Em vossa intenção vamos dizer a prece contida na Imitação do Evangelho pelos Espíritos sofredores e arrependidos. Não diremos aquela destinada aos maus Espíritos, porque, como vos arrependeis, implorais a misericórdia de Deus e renunciais à prática do mal, aos nossos olhos não sois mais que um Espírito infeliz, mas não malévolo.

Feita a prece, depois de uns instantes de calma, o Espírito continuou:

─ Obrigado, meu Deus!... Oh, obrigado! Tivestes piedade de mim. Essas horríveis figuras se afastam... Não me abandoneis... Enviai-me bons Espíritos para me amparar... Obrigado!

Depois desta cena, durante algum tempo o médium ficou prostrado e abatido; seus membros estavam fatigados. Ele tem a lembrança, a princípio confusa, do que acaba de passar-se; depois, pouco a pouco, lembra-se de algumas palavras que pronunciou e que dizia malgrado seu. Sentia que não era ele que falava.

No dia seguinte, em nova reunião, o Espírito se manifesta novamente, e recomeça, apenas por alguns minutos, a cena da véspera, com a mesma pantomima, porém, menos violenta. Depois ele escreve, por intermédio da mesma médium, com uma agitação febril, as palavras seguintes:

“Obrigado por vossas preces. Uma sensível melhora já se opera em mim. Orei a Deus com tanto fervor, que ele permitiu que por um momento meus sofrimentos sejam aliviados. Mas eu verei ainda as minhas vítimas... Ei-las... Ei-las... Vedes este sangue?...”

Repetida a prece da véspera, o Espírito continua, dirigindo-se à médium:

“Perdão por me apoderar de vós. Obrigado pelo alívio que trazeis aos meus sofrimentos. Peço perdão a vós, pelo mal que vos ocasionei, mas eu necessito manifestar-me. Somente vós podeis...

“Obrigado! Obrigado! Um pouco de alívio se produz, mas não estou no fim das provas. Em breve minhas vítimas voltarão. Eis a punição. Eu a mereci, meu Deus!

mas, sede indulgente.

“Vós todos, orai por mim. Tende piedade de mim.

“LATOUR”


OBSERVAÇÃO: Posto não tenhamos prova material da identidade do Espírito que se manifestou, também não temos motivos para dúvidas. Em todo caso, evidentemente é um Espírito muito culpado, mas arrependido, horrivelmente infeliz e torturado pelo remorso. Sob este ponto de vista, a comunicação é muito instrutiva, porque não se pode ignorar a profundeza e o alto alcance de algumas palavras que ela encerra; além disso, ela oferece um dos aspectos do mundo dos Espíritos castigados, acima do qual, entretanto, se entrevê a misericórdia de Deus. A alegoria mitológica das Eumênides não é, assim, tão ridícula quanto se pensa, e os demônios, carrascos oficiais do mundo invisível, que os substituem na crença moderna, são menos racionais, com seus cornos e seus tridentes, do que essas vítimas, elas próprias servindo para o castigo do culpado.

Admitindo a identidade desse Espírito, talvez se admirem da mudança tão pronta em seu estado moral. É que, como fizemos notar em outra ocasião, muitas vezes há mais recursos num Espírito brutalmente mau do que em outro que é dominado pelo orgulho, ou que esconde os seus vícios sob o manto da hipocrisia. Esse rápido retorno a melhores sentimentos indica uma natureza mais selvagem do que perversa, à qual só faltou uma boa direção. Comparando sua linguagem com a de outro criminoso citado na Revista de julho de 1864 sob o título de Castigo pela luz, é fácil verificar qual dos dois é moralmente mais adiantado, malgrado a diferença de instrução e de posição social: um obedecia a um instinto natural de ferocidade, a uma espécie de superexcitação, enquanto o outro trazia na perpetração dos crimes a calma e o sangue frio de uma lenta e perseverante combinação e, após sua morte, ainda enfrentava o castigo com orgulho; ele sofre mas não quer submeterse. O outro é domado imediatamente. Assim, pode-se prever qual dos dois sofrerá por mais tempo.




Estudos morais

Lê-se no Siècle, de 5 de junho de 1864:

“Um berlinense, Sr. X..., possuía uma grande fortuna. Seu pai, ao contrário, em consequência de revezes, tinha caído numa pobreza absoluta e tinha sido forçado a recorrer à generosidade de seu filho. Este repeliu duramente a solicitação do velho que, para não morrer de fome, teve que recorrer à justiça. O Sr. X... foi condenado a fornecer ao pai uma pensão alimentícia. Mas o Sr. X... tinha tomado suas precauções. Pressentindo que se se recusasse a pagá-la, seria feita uma investigação em seus rendimentos, tomou a decisão de ceder sua fortuna a um tio paterno.

“Assim, o infeliz pai viu fugir-lhe a última esperança. Protestou que a cessão era fictícia e que seu filho tinha recorrido a ela para se furtar à execução da sentença. Mas ele teria que prová-lo; o velho, entretanto, não tinha condições para intentar um processo custoso, pois lhe faltavam as coisas mais necessárias à subsistência.

“Um acontecimento imprevisto veio tudo mudar. O tio morreu subitamente, sem testamento. Como ele não tinha família, a fortuna coube, de direito, ao parente mais próximo, isto é, ao seu irmão.

“Compreende-se o resto. Hoje, os papéis estão invertidos. O pai está rico e seu filho, pobre. O que, sobretudo, deve aumentar o desespero deste último é que ele não pode invocar o fato de uma cessão fictícia, pois a lei interdita formalmente esse gênero de transações.”

Dir-se-ia que se sempre fosse assim com o mal, melhor seria compreendida a justiça do castigo; sabendo o culpado por que é punido, saberia do que se deve corrigir.

Os exemplos de castigos imediatos são menos raros do que se pensa. Se se remontasse à fonte de todas as vicissitudes da vida, ver-se-ia aí, quase sempre, a consciência natural de alguma falta cometida. A cada instante recebe o homem terríveis lições, das quais, infelizmente, tira pouco proveito. Enceguecido pela paixão, ele não vê a mão de Deus que o fere. Longe de reconhecer-se culpado por seus próprios infortúnios, ele os atribui à fatalidade, à sua má sorte; irrita-se muito mais frequentemente do que se arrepende, e não nos surpreenderíamos se o filho do qual se fala acima, em vez de ter reconhecido seus erros para com o pai; em vez de voltar a ter melhores sentimentos para com ele, não tivesse concebido contra ele mais animosidade. Ora, o que é que Deus pede ao culpado? O arrependimento e a reparação voluntária.

Para motivá-lo a isso, ele multiplica em seu redor os avisos sob todas as formas, durante sua vida: desgraças, decepções, perigos iminentes, numa palavra, tudo o que é próprio a fazê-lo refletir. Se, a despeito disto, seu orgulho resiste, não é justo seja punido mais tarde? Grave erro é pensar que o mal fique algumas vezes completamente impune na vida atual. Se soubéssemos tudo quanto acontece ao mau, aparentemente o mais próspero, ficaríamos convencidos da verdade de que não há uma única falta nesta vida, uma só inclinação má, digamos mais, um só mau pensamento que não tenha sua contrapartida. Deduz-se daí que, consequentemente, se o homem aproveitasse os avisos que recebe; se ele se arrependesse e reparasse suas faltas ainda nesta vida, teria satisfeito à justiça de Deus e não teria mais que expiar e reparar, quer no mundo dos Espíritos, quer em nova existência. Se há, portanto, aqueles que nesta vida sofrem as consequências de sua existência anterior, é que eles têm a pagar uma dívida que não saldaram. Se o filho em questão morrer na impenitência, sofrerá, a princípio, no mundo dos Espíritos, o castigo do remorso; sofrerá moralmente o que fez sofrer materialmente; será um Espírito infeliz, porque terá violado a lei que lhe dizia: Honra teu pai e tua mãe. Mas Deus, que é soberanamente bom e, ao mesmo tempo, soberanamente justo, permitir-lhe-á reencarnar-se para reparar; talvez lhe dê o mesmo pai, e, em sua bondade, lhe poupe a humilhante lembrança do passado. Entretanto, o culpado trará consigo a intuição das resoluções que tiver tomado e a vontade de fazer o bem, em vez do mal. Será a voz da consciência que lhe ditará a conduta. Depois, quando voltar ao mundo dos Espíritos, Deus lhe dirá: Vem a mim, meu filho, tuas faltas estão apagadas. Mas, se ele falhar nessa nova prova, terá que recomeçar, até que se tenha despojado inteiramente do homem velho.

Cessemos, portanto, de ver nas misérias que sofremos por faltas de uma existência anterior um mistério inexplicável, e digamos que de nós depende evitálas, merecendo o perdão desde esta vida. Saldadas nossas dívidas, Deus não nos fará pagá-las segunda vez. Mas, se ficarmos surdos a seus avisos, então ele exigirá até o último ceitil, ainda que após séculos ou milhares de anos. Para isto ele não exige vãos simulacros, mas a reforma radical do coração. A morada dos eleitos só é aberta aos Espíritos purificados. Qualquer mancha interdita o seu acesso. Todos podem pretendê-lo, mas a cada um cabe fazer o que é necessário para lá chegar, mais cedo ou mais tarde, conforme seus esforços e sua vontade. No entanto, Deus a ninguém diz: Não te purificarás!


Escrevem de Marselha:

“Um dos mais honrados negociantes de nossa cidade, cercado pela estima geral, o Sr. X..., acaba de dar um tiro de pistola no vigário de Saint-Barnabé. Segunda-feira última, o Sr. X... ficou sabendo, por uma carta anônima, que sua esposa mantinha relações íntimas com aquele padre. Deram-lhe os mais circunstanciados detalhes, que não deixavam dúvidas quanto à extensão de sua infelicidade. Ele chegou em casa e fez um inquérito junto aos empregados: arrumadeira, criados, jardineiro, cocheiro, etc., e todos confessaram o que sabiam. Essa intriga já tinha quinze meses de duração. O Sr. X... era objeto de zombaria em todo o bairro, e só ele não suspeitava. Foi após esse inquérito que atirou no padre.” (Siècle de 7 de junho de 1864).

Quem é o mais culpado neste triste caso? A mulher, o marido ou o padre? A mulher, que, iludida por piedosos sofismas, provavelmente julgava-se desculpada pela qualidade do cúmplice, e tranquilizou-se pela esperança de uma absolvição fácil? O marido, que cedendo a um movimento de indignação não pôde dominar a sua cólera? Ou o padre, que, de sangue frio, com premeditação, violou os seus votos, abusou de seu caráter, enganou a confiança para lançar a desordem, o desespero e a desunião numa família honrada? A consciência pública pronunciou o seu veredicto. Mas, fora do fato material, há considerações da mais alta gravidade.

Uma filosofia de consciência elástica poderá, talvez, achar uma desculpa no arrastamento das paixões e se limitará a censurar os votos imprudentes. Admitamos, se quiserem, não uma desculpa, mas uma circunstância atenuante aos olhos dos homens carnais, e não ficará menos um abuso de confiança e do ascendente que o culpado tirava de sua qualidade; o fascínio que ele exercia sobre sua vítima, ao abrigo de seu hábito sagrado. Aí está a falta, aí está o crime que, se não fosse punido pela justiça dos homens, sê-lo-ia certamente pela de Deus.

Ora, quinze meses eram mais do que suficientes para lhe dar tempo para reflexão e para a volta do sentimento de seus deveres. Que fazia ele no entretempo? Ensinava à juventude as verdades da religião; pregava as virtudes do Cristo, a castidade de Maria, a eternidade das penas contra os pecadores; absolvia ou retinha as faltas alheias, conforme seu próprio julgamento. E ele, o refratário aos mandamentos de Deus que condenam o que ele fazia, era o dispensador infalível da inflexível severidade ou da misericórdia de Deus! É um caso isolado? Ah! A história de todos os tempos infelizmente aí está a provar o contrário. Aqui fazemos abstração do indivíduo, para não ver senão um princípio que dá lugar à incredulidade e mina surdamente o elemento religioso. O poder absoluto do sacerdote, dizem, é independente de sua conduta pessoal. Que seja! Não discutiremos este ponto, posto pareça estranho que um homem que, por suas infâmias, merece o inferno, possa abrir ou fechar as portas do paraíso a quem lhe parecer, quando muitas vezes os excessos lhe tiram a inteira lucidez das ideias. Se o medo das penas eternas não detém na via do mal e na violação dos mandamentos de Deus aqueles que os preconizam, é que eles próprios neles não acreditam. A primeira condição para inspirar confiança seria pregar pelo exemplo.



Em vários jornais franceses e estrangeiros lê-se o artigo seguinte:

“Os espíritas acabam de recrutar novos adeptos na Alemanha. Um certo médico de Zittau, chamado Berthelen, autor de um opúsculo sobre as mesas girantes, organizou uma sociedade que se intitula: Associação dos caçadores de tesouros, e que tem por objetivo cavar o solo das localidades onde se pressupõe haver tesouros enterrados. As operações da empresa são conduzidas por uma sonâmbula das mais lúcidas, a Sra. Louise Ebermann, e começaram por escavações cotidianas executadas em hora determinada, em meio a uma plantação de fumo, onde se acharia oculta a soma de 400.000 thalers (1.500.000 francos). A sociedade tem apenas sete ou oito membros que participam dos trabalhos, e até agora suas operações se limitam a dizer preces em comum e a remover, com certo cerimonial, a terra retirada do solo onde esperam descobrir os bem-vindos tesouros.”

É realmente curioso ver o entusiasmo de certos jornais em reproduzir tudo o que, em sua opinião, possa lançar o descrédito sobre o Espiritismo. O menor acontecimento, infeliz ou ridículo, ao qual, com ou sem razão, se acha associada a palavra espírita, é imediatamente repetido por toda parte, com variantes mais ou menos engenhosas, sem preocupação com a verdade. Os disparates, mesmo os mais inverossímeis, são aceitos com uma seriedade verdadeiramente cômica. Com a aparição dos espectros nos teatros, todos repetem satisfeitos que o Espiritismo naufragou, e que os seus mais importantes cordões foram enfim descobertos. Um charlatão, um saltimbanco, um ledor da buena-dicha julga dever apropriar-se do nome de espírita, e logo os adversários o assinalam como um dos representantes da doutrina. Que resultou de tudo isto? Repercussão do nome, e daí o desejo de conhecer a coisa; o ridículo para os trocistas, que falam esturdiamente do que não sabem; o ódio caído sobre os caluniadores e, em consequência, aumento do número dos adeptos sérios, os únicos que são contados entre os espíritas.

O artigo acima pertence à categoria de que acabamos de falar. A si próprio o autor se dá um desmentido, dizendo que as pesquisas são feitas com o auxílio de uma sonâmbula das mais lúcidas. Não é, pois, com o auxílio dos Espíritos. Em que se baseia ele para dizer que é uma associação de espíritas? Do fato do fundador ter escrito um opúsculo sobre as mesas girantes. Disso se conclui que ele é espírita? De modo algum, porque à época das mesas girantes ainda se estava no abc da ciência. Aliás, se ele conhecesse o Espiritismo, saberia que os Espíritos não podem favorecer nenhuma pesquisa de tal natureza.

Desde que o sonambulismo passou a ser conhecido, ele tem sido empregado na busca de tesouros, e até agora ninguém conseguiu senão gastar dinheiro em escavações inúteis, como sucedeu outrora com aqueles que procuravam a pedra filosofal. Predizemos a mesma sorte à nova empresa!

Quando se soube que os Espíritos podiam comunicar-se, um primeiro pensamento, aliás muito natural, também foi que eles pudessem servir utilmente às especulações de toda a natureza, mas não tardou a se reconhecer que, nesse ponto, só se obtinham mistificações. Para isto havia uma causa, e foram os próprios Espíritos que a indicaram. Assim, não há hoje um só espírita esclarecido que perca tempo em perseguir tais quimeras, pois todos sabem que Deus não dá aos homens semelhantes meios de enriquecer, e que por esta razão não permite aos Espíritos revelações desse gênero.

É, pois, abusivamente que o autor do artigo colocou a associação alemã dos caçadores de ouro sob o patrocínio do Espiritismo. Não é entre os que não veem nos Espíritos senão servos da ambição, da cupidez e dos interesses materiais que a doutrina recruta os seus adeptos, mas entre os que a consideram como uma causa do melhoramento moral.

Para mais ampla instrução a respeito, remetemos ao Livro dos médiuns, Cap. XXVI, Perguntas que podem ser dirigidas aos Espíritos; nº. 291, Perguntas sobre os interesses morais e materiais; nº. 294, Perguntas sobre as invenções e descobertas e nº. 295, Perguntas sobre tesouros ocultos.


Durante nossa estada em Antuérpia, fomos visitar a exposição de pintura, onde admiramos obras verdadeiramente notáveis de pintores nacionais; ali vimos, com extremo prazer, figurar com muita honra dois quadros de nosso colega da Sociedade de Paris, Sr. Wintz, Rua de Clichy, 63: A volta das vacas e um luar. Mas o que particularmente nos chamou a atenção foi um estudo indicado no folheto sob o título de Cena de interior de camponeses espíritas. Num interior de fazenda, três indivíduos em costume flamengo, estão sentados em volta de um enorme cepo, sobre o qual põem as mãos, na atitude dos que fazem mover as mesas. Pela fisionomia atenta e concentrada, reconhece-se que levam a coisa a sério. Outras pessoas, homens, mulheres e crianças, estão diversamente grupadas, uns olhando com ansiedade o primeiro movimento da enorme massa, outros sorrindo com um ar de ceticismo. Essa pintura, que não deixa de ter mérito em sua execução, é original e verdadeira. Se excetuarmos o quadro mediúnico que figurava como tal na exposição das artes de Constantinopla (Vide Revista de julho de 1863), é a primeira vez que o Espiritismo figura tão claramente confessado nas obras de arte. É um começo.

ALLAN KARDEC


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