Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1865

Allan Kardec

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Notícias bibliográficas


A pluralidade das existências da alma


Por André Pezzani, advogado na corte imperial de Lyon


Esta obra, anunciada há algum tempo e esperada com impaciência, acaba de aparecer na casa dos Srs. Didier & Cia.[1] Todos os que conhecem o autor, sua vasta erudição e seu judicioso espírito de análise e investigação, não duvidavam que esta grave questão da pluralidade das existências fosse por ele tratada de acordo com sua importância. Sentimo-nos feliz ao dizer que ele não falhou na tarefa. Contudo, ele ligou-se pouco ao trabalho de demonstrar essa grande lei da Humanidade pelo seu próprio raciocínio, embora devotando-se a ela. Por mais sábio que seja, ele é modesto, mesmo muito modesto, o que raramente é corolário do saber. Diz ele que sua opinião pessoal pouco pesaria na balança, por isto mais se apoia nas alheias que na sua. Ele quis demonstrar que esse princípio tinha sido entrevisto pelos maiores gênios de todos os tempos; que é encontrado em todas as religiões, por vezes clara e categoricamente formulado, mas muitas vezes velado sob a alegoria, que é implicitamente a primeira fonte de uma porção de dogmas. Ele prova, por documentos autênticos, que a teoria da imortalidade e da progressão da alma fazia parte do ensino secreto só reservado aos iniciados nos mistérios. Nesses tempos remotos isto poderia ter utilidade, como ele demonstra, por ocultar do vulgo certas verdades que as massas não estavam maduras para compreender, e que as teriam confundido, sem esclarecê-las. Sua obra é, pois, rica de citações, desde os livros sagrados dos indus, dos persas, dos judeus, dos cristãos, dos filósofos gregos, dos neoplatônicos, das doutrinas druídicas, até os escritores modernos Charles Bonnet, Ballanche, Fourier, Pierre Leroux, Jean Reynaud, Henri Martin, etc., e, como conclusão e última expressão, os livros espíritas.

Nesse vasto panorama, ele passa em revista todas as opiniões, as teorias diversas sobre a origem e os destinos da alma. A doutrina da metempsicose animal aí é tratada largamente e de maneira nova. Ele demonstra que a da pluralidade das existências humanas a precedeu e que a transmigração em corpos de animais é apenas uma derivação alterada e não o princípio. Era a crença reservada ao vulgo, incapaz de compreender as altas verdades abstratas, e como freio às paixões. A encarnação nos animais era uma punição, uma espécie de inferno visível, atual, que devia impressionar mais que o medo de um castigo moral num mundo espiritual. Eis o que a respeito diz Timeu de Locres, que Cícero assegura ter sido o mestre de Platão:

“Se alguém é vicioso e viola as leis do Estado, é preciso que seja punido pelas leis e pelas censuras; deve-se, então, espantá-lo pelo medo do inferno, pela apreensão das penas contínuas, dos castigos, e pelos terrores e punições inevitáveis que são reservadas aos infelizes criminosos em baixo da terra.

“Louvo muito o poeta jônico (Homero) por haver tornado religiosos os homens, por fábulas antigas e úteis, porque, assim como curamos os corpos com remédios malcheirosos, se eles não cedem aos remédios mais agradáveis, assim também reprimimos as almas por discursos falsos, se elas não se deixarem levar pelos verdadeiros. É pela mesma razão que se devem estabelecer penas passageiras baseadas na crença da transmigração das almas, de sorte que as almas dos homens tímidos passem, após a morte, por corpos de mulheres expostas ao desprezo e às injúrias; as almas dos assassinos, por corpos de animais ferozes, para aí receberem sua punição; as dos impudicos pelos dos porcos e javalis; as dos inconstantes e dos levianos pelos dos pássaros que voam nos ares; as dos preguiçosos, dos inativos, dos ignorantes e dos loucos pela forma dos animais aquáticos. É a deusa Nêmesis que julga todas essas coisas, no segundo período, isto é, no círculo da segunda região em torno da Terra, com os demônios, vingadores dos crimes, que são os inquisidores terrestres das ações humanas, e a quem o Deus condutor de todas as coisas conferiu a administração do mundo cheio de deuses, de homens e de outros animais que foram produzidos segundo a imagem excelente da forma improduzida e eterna.”

Ressalta daí e de vários outros documentos que a maioria dos filósofos professavam ostensivamente a metempsicose animal, como meio, pois nela nem eles próprios acreditavam, e que eles tinham uma doutrina secreta mais racional sobre a vida futura. Tal parece ter sido, também, o sentimento de Pitágoras, que não é, como se sabe, o autor da metempsicose, pois ele foi apenas o seu propagador na Grécia, depois de tê-la encontrado entre os indianos. Aliás, a encarnação na animalidade era apenas uma punição temporária de alguns milhares de anos, mais ou menos conforme a culpabilidade, uma espécie de prisão, da qual, ao sair, a alma entrava na Humanidade. A encarnação animal não era, portanto, uma condição absoluta, mas ela se aliava, como se vê, à reencarnação humana. Era uma espécie de espantalho para os simples, muito mais que um artigo de fé nos filósofos. Assim como se diz às crianças: “Se vocês forem más, o lobo vos comerá”, os Antigos diziam aos criminosos: “Tornar-vos-eis lobos.”

A doutrina da pluralidade das existências, saída das fábulas e dos erros dos tempos de ignorância, tende hoje, de maneira evidente, a entrar na filosofia moderna, abstração feita do Espiritismo, porque os pensadores sérios aí encontram a única solução possível dos maiores problemas da moral e da vida humana. A obra do Sr. Pezzani vem, pois, muito a propósito, lançar a luz da história sobre essa importante questão. Ela poupará pesquisas laboriosas, difíceis e muitas vezes impossíveis para muita gente. O autor não a escreveu do ponto de vista do Espiritismo, que só figura de maneira acessória e como ensinamento. Ele a escreveu do ponto de vista filosófico, de maneira a lhe abrir as portas que lhe teriam sido fechadas se lhe tivesse dado a etiqueta de nova crença. É o complemento da Pluralidade dos mundos habitados, do Sr. Flammarion, que, por seu lado, vulgarizou um dos grandes princípios de nossa doutrina, sem dela falar.


Voltaremos a falar sobre a obra do Sr. Pezzani, fazendo-lhe várias citações.



[1] Um vol in 8º, à venda. Preço 6 francos. No prelo, ed. in 12, preço 3 francos.


O médium evangélico

NOVO JORNAL ESPÍRITA DE TOULOUSE *



O último mês do ano findo viu nascer um novo órgão do Espiritismo, o que vem corroborar nossas reflexões contidas no artigo acima sobre o estado do Espiritismo em 1864. Conforme seu início e a carta que seu diretor teve a bondade de nos escrever antes de sua publicação, devemos contar com um novo campeão para a defesa dos verdadeiros princípios da doutrina. Queremos falar dos que hoje são sancionados pelo grande controle da concordância. Que ele seja bem-vindo.

Esperando que tenhamos podido julgá-lo por suas obras, diremos que se o ditado Nobreza obriga for verdadeiro, com mais forte razão pode dizer-se que o título obriga. O de Médium evangélico é todo um programa e um belo programa, que impõe grandes obrigações mas que, entretanto, poderia entender-se de duas maneiras. Poderia significar que o jornal ocupar-se-á principalmente de controvérsias religiosas, do ponto de vista dogmático, ou que, compreendendo o objetivo essencial do Espiritismo, que é a moralização, será redigido conforme o espírito evangélico, que é sinônimo de caridade, tolerância e moderação. No primeiro caso não o seguiremos, porque o próprio interesse da doutrina exige uma extrema reserva no desenvolvimento de suas consequências e porque muitas vezes a gente recua por querer ir muito depressa: “Não adianta correr; deve-se partir na hora.” No segundo, estaremos inteiramente com ele. Aliás, eis um resumo de sua profissão de fé, posta no alto do primeiro número:

“O jornal que empreendemos fundar, sob o título de Médium evangélico, tem por objetivo entrar em caminhos novos com os quais o mundo hoje se preocupa, quero dizer, nas vias do Espiritismo. Este jornal nos pareceu necessário em Toulouse, na hora em que os espíritas já são incontáveis entre nós, na hora em que seus numerosos grupos diariamente engrossam muito. Com efeito, a publicidade será um meio de fazer melhor conhecer o resultado do trabalho desses diversos grupos e de torná-los mais úteis à grande causa do progresso moral ao qual nos convidam todos os nossos destinos.

“Contudo, a fim de não flutuar ao sabor dos ventos da doutrina, nesses caminhos ainda difíceis, julgamos dever arvorar um estandarte sob cujos auspícios queremos sincera e resolutamente marchar, certos de que o grande princípio da renovação moral está onde não mais há gregos nem romanos, isto é, judeus, protestantes, católicos, mas uma grande família, unida pelos laços da fraternidade, e tendendo para um objetivo comum, na sua ardente carreira através das solidões misteriosas da vida. Esse estandarte vós o conheceis. Não é a cruz de ouro, filha do orgulho e dos vãos pensamentos dos homens, mas a cruz de madeira, filha do devotamento e do sacrifício, digamo-lo, filha da verdadeira caridade.”

Lamentamos que a falta de espaço nos impeça de citar por inteiro a profissão de fé. Mas sem dúvida teremos ocasião de a ela voltar.


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* O Médium Evangélico saí aos sábados, desde 15 de dezembro. Preço: Toulouse. 8 f. por ano, 4 fr. 50 por semestre. — Departamentos, 9 ir. e 5 ir. — Assinaturas em Toulouse, rue de la Pomme, 34; em Paris, boulevard St. - Germain, 68.


Alfabeto espírita



Sob este título o nosso mui honrado irmão no Espiritismo, Sr. Delhez, de Viena, Áustria, cujo zelo pela causa da doutrina é infatigável, acaba de publicar um opúsculo em língua alemã, uma parte do qual contém a tradução francesa. É uma interessante coletânea de comunicações mediúnicas em prosa e verso, recebidas na Sociedade Espírita de Viena, sobre diferentes assuntos de moral, colocadas em ordem alfabética. O opúsculo é encontrado em Viena, em casa do autor, Singerstrasse, 7, e em todas as livrarias. Preço: l florim. O Sr. Delhez é o tradutor do Livro dos Espíritos para a língua alemã.

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